Capítulo 010
Dois lugares nas tão disputadas classes do Constance Billard School encontravam-se vazios naquele final de dia letivo: a de Ísis e a de Jessye. Depois de muita insistência a garota um ano mais velha convencera Ísis a matar o último período de Literatura e ir com ela no apartamento onde morava no Queens.
Ísis ja ouvira falar que o Queens era um bairro super perigoso, basicamente habitado por imigrantes e realmente custava a entender o que uma garota que estudava no mais renomado colégio da cidade e vestia-se com marcas famosas fazia morando ali. Mas a idéia era só buscar um livro de física aplicada que Ísis havia esquecido em Orange County é Jessye se oferecera gentilmente a emprestar.
Para Ísis aquela realidade era um pouco diferente da elite de Manhattan com muitos parques e lojas de grife na qual ela estava acostumada. Ali o ambiente era hostil, não pela situação econômica evidentemente inferior mas sim pela atmosfera pesada e violenta que se instaurada ao redor.
As duas então pararam de fronte a um prédio pequeno com uma escadaria antiga. Jessye atirou uma carteira de cigarros à Ísis e pediu que ela lhe esperasse ali.
- Ok - soltou a fumaça pelas narinas - Não demora!
Enquanto fumava um cigarro escorada no corrimão da escada Ísis se pôs a observar aquele lugar tão peculiar e exótico. Crianças brincando pelas vielas sujas, as roupas estendidas nas fachadas como se fossem especies de cortiços, foi inevitável perguntar novamente que diabos Jessye fazia ali.
- Pronto - ela disse ajeitando a mochila no ombro enquanto descia as escadas.
- Tá e o livro? - Ísis perguntou ao ver que ela não carregava nada.
- Minha avó acabou doando sem querer - fez uma careta - Você vai ficar chateada?
- Imagina - deu de ombros - Eu falo pro meu pai comprar quando ele chegar em casa.
- O que acha de me mostrar a sua casa? - pediu de supetão e Ísis pensou um pouco, mas que mal teria?
- Tudo bem, mas antes tenho que passar na Barneys trocar um jeans.
- Claro, vamos fazer isso juntas - abraçou Ísis animada e as duas pegaram o metrô voltando a parte nobre de Nova York.
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- Eu não acredito que você ta usando tamanho 38 - Jessye disse enquanto observava-se no espelho com uma camiseta da Calvin Klein.
- Qual é o problema?
- 38 é tipo o novo 40! Minha tia de 40 anos usa jeans 38 - disse como se fosse óbvio.
- Você prometeu que ia me ajudar - deu-lhe a língua.
- E vou, tenho algo pra te mostrar, la na sua casa.
- Conta logo - Ísis riu e ela se negou - Você é muito má.
- Esse é o espírito do negócio.
Ísis então saiu do provador e foi até o caixa afim de pagar a diferença de valor da calça, esperou Jessye se vestir e as duas andaram duas ou três quadra até chegarem ao apartamento dos Herrera.
Jessye demonstrara certo deslumbre o que Ísis deduziu ser normal para uma garota vinda do vulnerável Queens. As duas foram para o quarto de Ísis e Jessy logo se esparramou na cama arrancando risos de Ísis.
- Será que o seu pai não quer me adotar? Acho que posso entrar em um cesto daqueles bem bagaceiros e pedir pra alguém me deixar aqui na frente - brincou abraçando um travesseiro. Ísis riu.
- Acredite, acho que ele já tem problemas o suficiente comigo.
- Você fez uma cara hoje quando fomos ao Queens, agora da pra entender o motivo.
- Não vou ser hipócrita, pra mim foi estranho, não é um ambiente n qual estou acostumada - Jessye ouviu - Meus avós são donos de boa parte de Orange County, meu presente de aniversário aos dez anos foi um pônei de 60 mil dólares. A culpa não é minha, fui criada dessa maneira.
- Acho que nem juntando todos os presentes que eu ganhei até hoje eu chego a 60 mil dólares - Jessye riu com a própria brincadeira.
- Porque você estuda no Constance?
- Porque é a melhor escola de Nova York - ela brincou - Mas você quer saber como eu estudo em uma escola tão cara morando no Queens.
- Não foi isso que eu quis dizer eu só - Jessye a interrompeu.
- Relaxa, você não é a primeira a perguntar isso - ela riu - O Constance tem um programa de incentivo para os menos afortunados.
- Você é bolsista?
- Quem me dera ter essa inteligência toda - ela riu novamente - Esse incentivo é pra jovens filhos de digamos, "país problemáticos" - ela explicou.
- Hmmm - as duas silenciaram.
- Minha mãe é alcoólatra - contou - Meu pai não, ele até que é bem de vida e mora no Brooklin com a outra família dele.
- E você não quis morar com eles? - pediu a loira curiosa enquanto pegava o gato que vinha em sua direção.
- Meu pai disse que se eu morasse com ele iria para um colégio público - ela alisou o pelo do gato mudando de assunto - Que gracinha!
- O nome dele é Salem - sorriu - Diga olá para a Jessye - Agora que eu lembrei! Quero saber o que você tinha pra me mostrar.
- Tudo bem - ela disse apanhando a mochila que havia sido jogada ali quando as duas chegaram - Mas isso tem que ser um segredo entre nós duas.
- É claro que eu não vou dizer nada - Ísis rolou os olhos.
- Tchanã! - Jessy tirou um pacote plástico com pó branco de dentro da mochila.
- O que é isso? - Ísis franziu o cenho.
- O passaporte da boa forma.
- Não é o que eu estou pensando né? - tirou o pacote da mão dela vendo mais de perto - Jessye, isso é cocaína.
- E?
- E que eu não vou cheirar cocaína, fora de cogitação.
- Ai gata, não pensei que você fosse tão careta assim - deu um peteleco no nariz dela quando as duas ouviram a porta se abrir. Alfonso havia acabado de chegar e Ísis tinha um pacote de cocaína no quarto.
- Joga isso no vaso, meu pai chegou - ela apontou o banheiro.
- Eu não vou jogar 80 dólares fora.
- Entra ali e tenta esconder, mas vai logo.
- Oi - Alfonso foi até o quanto dela percebendo a presença de outra mochila - Visitas?
- Uma colega da escola - deu de ombros - Ela não estava se sentindo muito bem - sussurrou para que ele ouvisse.
- Ah sim! Tudo bem, vou deixar vocês duas a vontade - saiu e logo atrás dele foi Salem abanando o longo rabo de pelo branco e esbarrando na mochila de Jessye mostrando a blusa que ela havia provado antes na Barneys.
- Ufa, essa foi por pouco - ela saiu do banheiro suspirando aliviada.
- Você comprou a blusa da Calvin? - Ísis perguntou intrigada, como quem não quer nada.
- Ah sim - ela respondeu nervosa - Eu demorei porque a vendedora me levou pro caixa interno, aquele perto da escada rolante.
- Ficou linda em você, era um pecado mesmo não levar - Ísis ficou aliviada por suas suspeitas não se concretizarem.
- Escuta, eu tenho que ir, mas fica com isso aqui - entregou uma caixa de remédios a Ísis que olhou-a confusa.
- Era a opção dois pro caso de você recusar a primeira - fez uma careta e Ísis riu - São diuréticos, você tem que tomar três por dia. Quando acabar me avisa, serve pra por pra fora aquilo que você comeu, vai secar uns três quilos logo de cara.
- Isso funciona mesmo?
- Manera na alimentação, toma isso é me conta depois, mas não dá bobeira porque se o teu pai ver vai dar problema - ajeitou a mochila nas costas - Agora tenho mesmo que ir, você abre pra mim?
- Claro - ela disse escondendo a caixa dentro da fronha do travesseiro.
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- Sua amiga já foi? - Alfonso pediu sentando no sofá vendo o noticiário e ela assentiu - Que tal pedirmos pizza?
- Sabe o que é pai, eu não tô com muita fome não - mentiu - E eu e a minha colega comemos na Barneys faz pouco.
- Já vi que perdi a companheira hoje - ele riu - Ah, sabe quem pediu por você hoje?
- Quem? - ela disse pegando Salem no colo.
- A Dr.Portilla - Ísis sorriu - Ela deixou isso aqui - alcançou o papel - Pediu pra você ligar pra ela para marcarem algo.
- É sério?
- Claro, ela disse que adorou te conhecer.
- Que bom, vou ligar pra ela sim - sorriu e ele sorriu de volta. Era bom ver que algo ainda era capaz de fazer a filha se animar mesmo que fosse um pouco.
Naquela noite Ísis sentiu os efeitos da busca pelo corpo perfeito, Jessye lhe dera a fórmula mas esquecer que com ela viria algumas noites terríveis de intermináveis idas ao banheiro.
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Escrevi mais um pra vocês gatasss! Deliciem-se! Besosss