Flashback 001
Assim que Ísis fora embora, Anahí sentou-se sobre a cama enquanto arrumava seus desenhos antes bagunçados. Lembrou das palavras da garota referentes a sua mãe, e aquilo fizera tanto sentido dentro da cabeça ocupada e cheia que tinha. Ela também gostaria de saber como seria ter uma mãe. Não que o trabalho feito por Marichello não fosse excelente, a questão verdadeiramente não era essa. Qualquer um que tenha crescido os primeiros anos em um lugar frio e impessoal como um orfanato entenderia a que ponto ela queria chegar.
Anahí lembrava-se como se fosse hoje. Ela com os cabelos soltou, lateralmente presos por presilhas cor-de-rosa que combinavam com o vestido branco com flores e corações pequenininhos. Os sapatos brancos limpissimos como sempre, já que do eram usados em ocasiões especiais. E aquela era a ocasião mais especial que uma criança abandonada poderia ter, e ela sabia muito bem disso.
Sentada sobre a cama alinhada enquanto balançava os pés impacientemente, ela, apesar da pouca idade, entendia perfeitamente tudo o que se passava: ela iria para uma casa, teria um pai, uma mãe e uma irmã um pouco mais velha do que ela, sardenta, de olhos azuis como os dela e voz estridente.
Assim que a irmã foi até ela Anahí levou o dedo a boca em sinal de timidez. Tudo seria novo, e para uma criança da sua idade, um tanto quanto assustador. Ela não tinha certeza se aquilo seria bom, mas possivelmente seria melhor do que dividir um quarto pequeno com mais oito meninas. Será que ela teria um quarto pra ela? Será que seus novos pais lhe dariam bonecas? Ela poderia ter um cachorrinho se eles deixassem, ou ainda, poderiam comprar doces. Ela gostava tanto de chocolates.
- Anahí querida - a irmã sorriu ternamente para ela - Sua nova família já está a esperando. Vamos? - estendeu a mão para ela que agarrou-a, mesmo que nitidamente nervosa.
Assim que os Portilla a avistaram vindo pelo corredor de mãos dadas com a irmã, Marichello imediatamente abriu os braços abraçando-a com carinho. Ela afagou os lisos cabelos castanhos dela enquanto arrumava sua franja visivelmente emocionada.
- Porque você está chorando? - a menina pediu baixinho, tímida.
- Porque eu estou muito feliz de você ir morar conosco - a mulher de olhos azuis e cabelos escuros sorriu ternamente para ela - Algumas vezes nos choramos quando estamos felizes querida.
Anahí fez uma cara confusa, mas preferiu ficar em silêncio. Enrique então aproximou-se das duas.
- Olá Anahi, eu me chamo Enrique lembra? - ela sorriu assentindo com a cabeça. Era ele quem havia brincado de cavalinho com ela no outro dia - Eu estou muito feliz em poder te levar para morar conosco, aliás eu e sua irmã Mac preparamos uma surpresa bem linda pra você - ela abriu ainda mais o sorriso.
- Surpresa? O que é? Você pode me contar? - ela pediu anciosa e os dois riram cúmplices.
- Assim que chegarmos em casa você poderá ver, sim? - ela concordou com a mãe adotiva.
- Então vamos - Enrique disse apanhando a mala enquanto Anahí e Marichello caminhavam de mãos dadas rumo a pik up da família - Sua irmã ja está nos esperando.
Enrique então a colocou na cadeirinha, a outra garota, de voz estridente lembrou ela, estava quieta. Empurrada, provavelmente com ciúme. Apertava a boneca contra o peito enquanto tinha os dois braços cruzados e a cara enfesada. Anahí pouco ligou, estava anciosa demais com a surpresa que lhe fora prometida.
A viagem foi curta porém muito bem aproveitada por ela. Observou as flores lá fora, era primavera no Texas. Era tudo muito colorido, como nos livros de história em que ela estava acostumada a ver.
Assim que chegaram ela pode observar uma grande casa, com cercas brancas e um belo jardim na frente. A irmã desceu na frente, dessa feita mais emburrada ainda devido às canções que a mãe ensinara a Anahí durante a viagem. Então Enrique desceu a mala pequena dela, enquanto Marichello a levou pra dentro daquela enorme casa.
- Você está pronta para a sua surpresa? - sorriu enquanto as duas subiam alguns degraus de escada.
- Aonde está? - pediu com os olhos aflitos de ansiedade.
- Esta aqui - apontou uma porta branca de maçaneta marrom - Você pode abrir se quiser.
Anahí então mais que rapidamente levou a pequenina mão até a maçaneta girando-a com certa pressa. Assim que a porta se abriu, fora revelado um quarto de menina. Ele era todo cor-de-rosa, da cor que Anahí adorava. Haviam muitas bonecas, ursinhos de pelúcia, livros e até uma pequena mesa com vários lápis de colorir. Os olhos dela chegavam a brilhar, nem em seus maiores sonhos imaginava ter aquilo tudo pra ela.
- Você gostou querida? - Enrique sorriu atrás dela que se virou para olhá-lo.
- Eu posso - pediu envergonhada com um dedo na boca - Posso brincar?
- Claro que você pode - Marichello sorriu - Você pode brincar do que quiser meu amor. Esse será os seu quarto e os seus brinquedos a partir de agora.
- Eu posso dividir com a Mac? - ela pediu ingenuamente enquanto sentava no tapete felpudo que havia ali - Se ela quiser eu deixo ela brincar comigo - Marichello se emocionou.
- Oh querida - acariciou-lhe os cabelos - A Mac tem muitos brinquedos, estes são seus, mas se ela quiser, vocês podem brincar muito juntas.
Anahí pareceu adorar a idéia. Quem não gostou muito foi a garota mais velha. Ao longo dos seus onze anos de idade Marichello sempre fora uma criança bastante mimada e egoísta, incapaz de se sentir piedade por uma criança órfã como Anahí. Aos olhos dela, a vinda da pequena para casa mudaria tudo e ela não estava disposta a abrir mão dos seus grande caprichos.
- Ou você pode brincar com a sua mamãe Anahí - a menina disse com certo desdém do vão da porta - Já que agora ela irá gostar mais de você do que de mim.
- Mac - Enrique interviu - Você está agindo como uma menina mimada. Já chega!
- Você também - olhou para o pai com os olhos mareados - Pode admitir que já arranjou uma nova filha. Não precisa mais de mim agora.
- Marichello! - a mãe chamou sua atenção ao ver a cara assustada de Anahí - Nós já conversamos sobre isso e já deixamos claro que temos que ser gentis e amorosos com Anahí. Pare de ser egoísta.
- Anahí, Anahí, Anahí - ela bufou chorosa - Só sabem falar dessa agora. Pois por mim Anahí seria melhor se você continuasse pro resto da vida naquele orfanato sujo. Os seus pais não te quiseram e você não tem o direito de tirar os meus de mim - e antes que os pais pudessem falar qualquer coisa ela saiu correndo para o quintal da casa.
Ao que a situação indicava, nem Enrique nem Machiello esperariam que as coisas fossem fáceis por ali tão cedo.