Capítulo 023
Lá estava ela novamente acompanhada de Christian aquele ambiente escuro e frio que um orfanato representava para Anahí. Depois de dirigir uma hora e quarenta e cinco minutos, os dois chegaram ao lar de Nova Jersey no qual ela fazia doações mensais em dinheiro. Não tinha um motivo para ela ter escolhido aquela instituição em particular, ela apenas decidira aleatoriamente dentre uma lista que sua mãe adotiva montara de instituições confiáveis.
Assim que desceram do carro, o desconforto de Anahí se tornou evidente, inclusive aos olhos de Christian. Qualquer pessoa que soubesse do seu passado entenderia os motivos para ela estar assim, o grande detalhe era que Christian não sabia, não dessa parte.
Ele preferiu ignorar aquela postura por parte dela e focar em observar as crianças que corriam pelo extenso pátio de concreto que havia ali, com duas cestas de basquete, uma em casa extremidade. Havia também ali, observaram os dois, algumas meninas com vestidos simples sentadas sobre o pequeno degrau que dava acesso aos dormitórios. Elas brincavam de bonecas animadamente, porém uma delas estava quieta, alheia a tudo o que acontecia ali. Anahí logo tratou de por os olhos nela. Lembrava tão ela mesma quando vivia naquele orfanato do Texas.
Ela nunca fora muito extrovertida, nem muito simpática. Não tinha amigos, e se não fosse o Seu Joaquim, jardineiro do lar com quem Anahí passava horas e horas tagarelando sobre suas bonecas e seus desenhos, ela poderia dizer que havia tido uma infância completamente solitária.
Assim que viu Anahí, a menina instintivamente abaixou o olhar. Acuada, deduziu a médica. Ela também era assim quando haviam visitas. Talvez fora um dos motivos pelos quais os Portilla a escolheram. Deviam ter deduzido que por ser quieta ela daria menos trabalho, e não deixava de ser uma verdade. Desde que fora morar com eles, ela sempre se limitava a boas notas e poucas palavras. Era a filha ideal, uma escolha certeira, provavelmente.
Christian conversava com um menino baixinho, de cabelos negros que parecia ter a calça do uniforme rasgada, bem abaixo do joelho, ela observou. Logo seus olhos se voltaram novamente para a menina sentada no canto daquele degrau. Dessa vez ela também lhe observava. Anahí pode ver seus olhos castanhos amendoados, mesmo com aquela distância razoável que as separava. Ela estava com medo, e Anahí tinha de admitir que já estava envolvida. Sob os olhares de Christian, ela se aproximou, sentando-se com perna de índio ao lado da menina.
- Oi - disse simpática, porém a menina não a olhou. Olhava para a boneca de pano em seu colo.
- Oi - ela respondeu simplesmente.
- Posso te fazer uma pergunta? - ela finalmente a olhou e Anahí pode confirmar de perto o que havia visto em seu olhar de longe. A menina maneou a cabeça em concordância - Porque não está brincando com as outras meninas? - ela levou o indicador a boca, parecendo pensar em uma resposta.
- Porque elas não gostam de mim! - comentou chateada. Anahí sentiu o coração apertar, sabia exatamente o que ela estava sentindo.
- Qual é o seu nome? - a pequena olhou-a em dúvida quando percebeu que Christian a observava de longe - Você pode ficar tranquila, ele é meu amigo.
- Alice - ela respondeu tímida.
- Que nome bonito - Anahí sorriu para ela que esboçou um sorriso fraquinho.
- Você acha mesmo? - pediu animada.
- Eu tenho certeza que sim, aliás acho que combina muito com você - Alice então abriu mais o sorriso.
- E o seu nome como é? - ela pediu ainda com o dedo na boca.
- Anahí - Ela olhou-a com uma careta e Anahí se limitou a rir.
- Seu nome é esquesito - confessou.
- Você pode me chamar de Annie se quiser - sugeriu e piscou pra ela que pareceu adorar a idéia - Quantos anos Você tem? - ela então tirou o dedo da boca estendendo uma mão com quatro dedos - Ual, você já é quase uma mocinha.
- Quantos anos você tem tia Annie? - ela achou fofo vet Alice chamá-la assim.
- Vinte e seis.
- Isso é mais do que uma mão? - ela riu da confusão da menina que parecia querer contar até vinte seis.
- É bem mais do que uma mão - então ela fez um sinal para Christian - Alice, eu quero te apresentar um amigo muito especial, tudo bem? - ela aceitou, ainda meio insegura - Anahí pediu que Christian viesse até elas. Ele olhou para Alice e esboçou um sorriso.
- Olá princesa, como você está? - ela mais uma vez levou o dedo a boca, com timidez. Anahí deduziu que se tratava de uma mania que ela havia adquirido e qua repetia todas as vezes em que se sentia envergonhada.
- Bem - ela respondeu baixinho.
- Ele é o Christian, meu amigo - sussurrou em seu ouvido - Você não precisa ter medo dele, Christian é muito legal, você sabia que ele sabe imitar o Pato Donald?
- É? - ela pareceu animada e Christian fez algumas gracinhas. Em questão de segundos ja estavam íntimos.
Os três brincaram de casinha ali mesmo, com os poucos brinquedos que encontraram. Anahí era a mamãe, Christian o pai e ela a filhinha. Sua boneca Olive, como ela havia apelidado era a netinha dos dois. A brincadeira só foi interrompida quando Alice precisou ir ao banheiro, mas não sem antes fazer os dois prometerem que tomariam conta de Olive. Assim de que se assegurou de que poderia confiar nos dois, ela deu a mão a madre, seguindo até o lavabo.
- Eu ja estou decidido - ele disse a Anahí - Quero adotar Alice.
- Você tem certeza Chris? Se não tiver não a fira com falsas promessas! - ela disse com propriedade, e ele achou aquilo muito estranho, mas preferiu ficar quieto.
- Eu tenho certeza absoluta. Alice é perfeita e BJ vai amá-la assim que a conhecer.
- Eu também achei ela uma graça - Anahí sorriu confessando - Desde a hora que eu a vi, com aqueles olhinhos assustados.
- Devo agradecer a você por ter nos apresentado.
- Você não precisa agradecer, soube desde o primeiro momento que ela era o ideal pra vocês - respondeu convicta.
- Eu não sei o que se passa, mas você fala com tanta convicção sobre isso que parece até que já viveu essa história - ele disse brincando e Anahí suspirou incerta.
- É que eu realmente ja a vivi, Christian.
- Como é? - ele piscou os olhos exacerbado - Você foi adotada?
- Sabe quando você disse que não sabia como eu e Marichello podíamos ser filhas dos mesmos pais e sermos tão diferentes? - ele assentiu - Eu quase ri de você por isso - ela respondeu com tom de brincadeira - Os Portilla me adotaram quando eu tinha cinco anos, não foi nem um pouco fácil sofrer com a rejeição de Marichello. Ela contumava ter palavras bem crueis quando queria.
- Oh Annie - ele disse quase que se desculpando - Eu não poderia imaginar! Jurei que aquela sua resistência toda em vir comigo era apenas um capricho bobo.
- Mas tudo isso ja passou, e estamos aqui não é? - sorriu tentando mudar o foco da conversa - E aliás, já encontramos a nova menina dos seus olhos, agora - brincou com ele. Chris a chamava assim as vezes, quando os dois se encontravam.
- Você nunca vai deixar de ser - ele lhe sorriu e ela o abraçou, apertada e demoradamente - Eu estou tão feliz.
- E eu estou realmente feliz por você - os dois se afastaram e então Christian pode ver Alice andando pelo corredor extenso ao lado da madre superiora. Parece que a brincadeira recomeçaria.
Os três tiveram uma trade extremamente agradável, brincaram, conversaram sobre tudo e Alice parecia confiar muito naqueles dois que a pouco conhecia. A única parte triste fora a despedida. Ir embora é deixá-la ali cortou o coração dos sóis, mas principalmente o de Anahí, que sabia muito bem o que a sensação de solidão era capaz de causar.
- Eu prometo princesa - Chris respondeu enxugando uma lágrima pequena que caia do olho dela - Prometo que eu virei te buscar. Você vai ter um quarto lindo, todo colorido como você me contou que gosta, nos vamos conhecer todas as princesas das suas histórias e também podemos comer muita pipoca e muito chocolate, na minha casa tem muita você gosta? - ela assentiu chorosa, Christian se segurava para deixa-la tranquila - Então, não precisa ficar assim, precisa? - ela voltou seus olhos para Anahí que fungou, discretamente, não tão discreta para o olhar atento de Alice.
- Porque você está chorando tia Annie?
E a mesma pergunta que ela fizera a Marichello a vinte um anos atrás de repetia, só que agora ela sabia perfeitamente a resposta.