Era o primeiro exame de Maite desde que descobrira que estava grávida. Ela estava uma pilha de nervos, já havia devorado uma caixa de chocolates, e ainda eram onze e meia da manhã. Anahí acabara de entrar em uma cirurgia complicada com Christopher, já que Muhaad estava de licença. Ela ficará extremamente sentida por não poder acompanhar a amiga naquele momento, e Maite não estava diferente, mas não havia outra opção, ela precisava operar imediatamente antes que colocasse a vida do paciente em risco. Sem falar que ela ainda se comprometera a tomar conta de Ísis pela parte da noite, ja que a mãe de Alfonso tivera que ir a Orange County para um evento e ele estava em Seattle em um congresso de Neurologia Cirúrgica.
Dulce então se dispôs a acompanhá-la, e assim que o relógio marcou exatas duas da tarde Maite ja a esperava anciosa na sala da equipe médica.
- Você está atrasada - ela apontou o relógio que marcava duas e cinco. Dulce riu do desespero dela.
- Calma Mai, são apenas alguns minutos - largou três pastas sobre o escaninho dela.
- Não me peça para ficar calma - mordeu os lábios - Vou ouvir meu bebê pela primeira vez - explicou - Estou uma pilha de nervos.
- Eu posso imaginar - Dulce confessou - Melhor irmos porque o Chris ja estar nos esperando.
Assim que as duas chegaram a sala de Christian, Maite seguiu ao lavabo a fim de se trocar. Christian logo colocou o gel pela pequena barriga que começava a querer aparecer.
- Vejamos - Christian voltou os olhos atentos para a tela por alguns longos minutos.
- O que foi Chris? O que você viu de errado ai? - ela quase gritava. Christian tratou de acalma-la.
- Está tudo bem com seu bebê Mai, você pode ficar tranquila - ele posicionou melhor o aparelho de ultrassonografia - Você quer ouvir o bebê?
- É claro que ela quer - Dulce respondeu como se fosse óbvio e eles riram. Maite de nervoso, Christian do comentário de Dulce.
Ele então ligou o som do aparelho e em poucos minutos Maite pode ouvir o pequeno coração de seu filho bater. Se ela pudesse eleger uma legenda para aquele momento, sem dúvidas seria o momento mais incrível que já tivera na vida.
- Mai vou te passar alguns exames, completamente rotina - ele explicou - Glicemia, um hemograma completo, reação para toxoplasmose e rubéola, bem você sabe.
- Tudo bem - ela pegou a requisição que ele lhe entregara.
- Quanto aos outros cuidados não custa relembrar, nada de esforço físico exagerado, nada de fortes emoções, álcool ou cigarros - ela fez uma careta e ele completou - É para o bem do seu filho.
- Entendido, cumprirei suas recomendações doutor - ela brincou - Pra quando vai ser a próxima ultra?
- Daqui umas duas semanas, eu aviso a você. Acho que talvez dessa vez se ele colaborar vamos conseguir ver o sexo - comentou.
- Acho que eu estou mais nervosa que você - Dulce comentou brincando e Christian riu.
- Mais que a Maite? Impossível.
- Ok, vocês dois já podem voltar ao trabalho e me deixar curtir meu filho em paz, sim? - Anahí logo entrou na sala de Christian, apressada.
- Eu perdi não é mesmo? - com cara triste.
- Não fica assim - Maite pediu - Daqui a duas semanas tem outra e Chris disse que poderemos descobrir o sexo.
- Eu disse talvez - Christian corrigiu atrás delas enquanto andava ao lado de Dulce.
- Eu tenho certeza de que vai acontecer - Maite disse decidida.
xxxxxxx
Assim que chegou em casa, Anahí tomou um banho, vestiu algo leve e seguiu até o apartamento dos Herrera que ficava a uma quadra do seu. Isis logo abriu para ela, a avó havia acabado de sair e deixará um bilhete de recomendações a Anahí, completamente desnecessário segundo Ísis.
- E então, o que você quer fazer? - perguntou enquanto estavam sentadas no sofá da sala. Ísis passava os canais da televisão com total desinteresse.
- Podíamos sei lá, ver um filme? - sugeriu.
- Eu vou preparar um sanduíche, você está com fome? - ela acentiu - Do que é que você gosta?
- Atum - respondeu enquanto Anahí já até a cozinha - Alfonso guarda os enlatados na prateleira de cima ao lado da coifa.
Não foi muito difícil para Anahí encontrar o necessário com as orientações de Ísis. Ela então preparou dois sanduíches de atum, e um suco de morango. Ficou feliz ao ver que Ísis comera todo o seu.
- Você é muito boa na cozinha - ela observou e Anahí quase riu.
- Digamos que eu me viro - confessou - Mas as panelas não são muito minha praia.
- Pensando por esse lado, você não tem mesmo cara de quem goste de cozinhar.
- E assim o assunto proseguiu ate que Ísis resolveu ir dormir, a deixando a sozinha. Então ela resolveu aproveitar pra dar uma olhada no conteúdo pra prova final da residência, aproveitando o silêncio do prédio de Alfonso e o fato de não ter ninguém para atrapalá-la.
Anahí até que conseguiu estudar por umas duas horas e meia. Eram três e quinze da manhã quando ouviu alguns barulhos estranhos vindo do quarto de Ísis. Ela então calçou os chinelos e percorreu o caminho até lá. Ísis estava assustada e murmurava coisas inaudiveis aos ouvidos dela. Ela então acendeu a luz rapidamente e pode imediatamente perceber do que se tratava. Ela estava tendo uma hemorragia nasal, ao julgar pelas cobertas e o pijama que ela vestia cobertos de sangue.
Anahí então foi até o banheiro afim de buscar uma toalha. Apertou-a contra o nariz de Ísis a fazendo segurar enquanto telefonava.
- Vai ficar tudo bem ok? Isso é bastante comum, já atendi vários casos assim. Você precisa pressionar a toalha, vou pedir para Christian vir nos buscar para irmos ao hospital - e foi isso que ela pediu a ele por telefone.
- Ai meu Deus - Anahí constatou que ela ardia em febre, então a levou até o chuveiro dando-lhe um banho de água fria. A hemorragia não parecia querer parar tão cedo.
Ela então tirou a roupa molhada pelo sangue e pelo banho de Ísis. Ajudou-a a se vestir enquanto fazia a compressa no nariz dela. Era a segunda toalha que usava e nada. Estava começando a ficar preocupada.
Pediu para que Christian subisse e a ajudasse a carregar até o carro. Ele estava confuso mas assim que chegou ao quarto da garota percebeu imediatamente do que se tratava tanta preocupação por parte da amiga. Ele tomou Ísis nos braços enquanto Anahí fechava a casa e pegava alguns pertences de Ísis. Christian a colocou no banco traseiro e Anahí sentou com ela, acariciando seus cabelos e segurando a compressa sobre suas narinas com firmeza.
Foram quinze minutos até o New York Hospital e a essa altura a roupa de Anahí ja estava manchada de sangue, assim como a roupa nova que colocara em Ísis.
- Vamos precisar cauterizar Chris - ela disse entre dentes.
- Tudo bem, eu vou preenchendo a ficha na recepção e fico com ela.
- Eu vou procurar Christopher, tente deixá-la tranquila, por favor - praticamente suplicou.
- Qualquer coisa envio um bip pra você - ela assentiu enquanto buscava Christopher pela emergência lotada. Assim que avistou Mandie resolveu perguntar, ela vivia atrás dele mesmo devia saber onde ele estava.
- Mandie, você viu o Dr.Uckermann? - ela olhou pra mim impressionada. Provavelmente pelo sangue na minha roupa.
- Aconteceu alguma coisa? - pediu com o cenho franzido.
- Eu só preciso falar com o Uckermann, você sabe me dizer onde ele está? - ela assentiu - Ótimo e onde o encontro?
- O Dr.Uckemann acabou de entrar em uma cirurgia na hemodinâmica.
- Droga - ela murmurou levando as mãos a cintura - E quem mais esta no plantão hoje?
- Olha doutora - ela disse meio irônica - Se conseguir encontrar alguém livre aqui hoje, depois do enorme engavetamento perto da Times Square, vai ser um verdadeiro milagre - eu mordi os lábios olhando em volta. Nunca havia visto a emergência naquele estado.
Ela então voltou a recepção vendo que o sangramento de Ísis não diminuía de jeito algum.
- Eu vou ter que caurerizá-la - disse a Christian que arregalou os olhos - Eu sei mas não vou deixa-la esperar. A emergência está um caos, só iriam atendê-lo daqui a umas duas horas. Ela já perdeu muito sangue, seria irracional deixá-la perder ainda mais. Ela tem leucemia.
- Mas você sabe as consequências que isso pode te causar não sabe?
- Não importa. Eu não me importo, não vou deixá-la aqui nesse estado.
- Tudo bem - ele suspirou derrotado - O que vamos fazer?
- Você vai atrás do prontuário dela e vai tentar descobrir qual é o tipo sanguíneo, vamos precisar de uma transfusão provavelmente - disse segura - Deve estar no sistema, Max pediu exames fazem umas duas semanas. Vai ser fácil de você encontrar! Assim que conseguir falar com o banco de sangue me avise por favor Chris, eu vou estar na sala de procedimentos.
- Mas você precisa de um auxiliar e - ela o interrompeu.
- Faça o que eu te pedi por favor, posso conseguir alguém da enfermagem pra me auxiliar, mas eles não vão ter acesso aos dados que precisamos. Por Deus Christian, ela está com uma epestaxe terrível.
- Jura que vai ficar bem? - ele pediu uma última vez. Por mais que não se tratasse de um procedimento tão difícil ele via nervosismo em seus olhos.
- Sim eu ficarei, e Ísis também - ele assentiu seguindo pelo corredor a passos largos.
Anahí seguiu com Ísis em uma cadeira de rodas até a sala de procedimentos. Sentou Ísis sobre a maca e endireitou sua cabeça de maneira ereta. Deixando-a ainda com a compressa improvisada. Então saiu em busca do que precisava na sala de medicamentos. Lá havia um garoto, provavelmente estagiário de enfermagem, Anahí deduziu.
- Eu preciso da sua ajuda - chamou-o rapidamente - É um procedimento simples, mas preciso de um auxiliar e parece que todos estão ocupados.
- Ficarei feliz em ajudá-la Dr.Portilla.
- Está bem - ela ordenou - Necessito de nitrato de prata, aplicadores, spray nasal e algumas espátulas - tentou lembrar - Ah e gelo, bastante gelo.
Anahí higienizou as mãos, vestiu o jaleco e segiu até a sala de procedimentos novamente vestindo as luvas, a toca e a máscara. Logo Diego como ele havia se identificado chegou com o pedido por ela.
- Coloque as luvas, a máscara e venha até aqui - ela pediu e ele o fez rapidamente - É uma cauterização nasal - explicou - Eu vou fazer uma espécie de grampo com essas espátulas e aplicar o spray nasal, depois disso você irá pressionar o gelo sobre o sangramento, entendeu? - ele assentiu - Precisamos interromper o sangramento ativo senão o cautério não vai funcionar.
E assim eles fizeram, o auxiliar precisonou o gelo conforme orientado por Anahí. Nada do sangramento parar, nada de Christian chegar. Ela estava começando a ficar terrivelmente preocupada.
- Escuta Ísis, você está bem? - ela assentiu com um balançar de cabeça - Ótimo, nós vamos tentar mais uma vez - disse a Diego - Vou aplicar o spray e você preciosa o gelo - ela explicou novamente torcendo mentalmente pra que desse certo dessa vez. E de fato deu. O sangramento diminuiu o fluxo, deixando-a mais relaxada - Ótimo! Agora preciso que você mire a lanterna dentro da narina dela. Preciso encontrar o ponto do sangramento - ele assim o fez e Anahí logo identificou. Ela tinha experiência com cauterização nasal - Maravilha, já encontrei - dirigiu-se a Ísis - Você vai sentir um leve desconforto tudo bem? - ela concordou - Se passar disso você me avisa sim? - ela balançou a cabeça novamente em sinal de positivo. Então Anahí pegou o aplicador com o nitrato de prata e precisonou sobre o ponto de sangramento no nariz de Ísis. Era uma pequeno vaso que parecia ter se rompido. Alguns segundos após o sangramento parecia ter sido magicamente interrompido.
- Christian - ela exclamou assim que o viu entrar no quarto para onde Ísis havia sido levada e já dormia - Você demorou!
- Desculpa mas foi impossível ir ao banco de sangue, eu juro que tentei o máximo que pude - ele suspirou derrotado - Esse acidente parece que tomou conta do hospital todo.
- Tudo bem, não será mais necessário. Eu consegui fazer a cauterização - sorriu para ele que acariciou seus cabelos em um meio abraço.
Anahí havia se arriscado muito quando tomara aquela atitude, os dois sabiam, mas para ela, so por ver Ísis ali deitada em um sono profundo, qualquer consequência que estivesse por vir não teria importância alguma.
Assim que chegaram a recepção novamente Anahí pode observar um homem, provavelmente da sua idade, olhos azuis como os seus e um semblante verdadeiramente amedrontador. Ela teve a leve impressão de que ele não tirava os olhos dela. O olhar dele era sombrio, distante. Será que estava ficando maluca com todo aquele lance de flores e telefonemas? Só podia ser paranoia da sua cabeça, of cause!