Era dia de visita ao New York Hospital e Ísis estava nervosa. A alguns dias atrás Dr.Max havia solicitado exames afim de verificar a eficácia do tratamento intravenoso que ela iniciara a poucos dias. Ela até já havia acostumado com o catéter, e havia cortado os cabelos em um cumprimento mais curto, por sugestão de Anahí, afim de evitar um choque maior assim que ele começasse a cair de maneira mais significativa.
Ísis aguardava com a avó na sala de procedimentos enquanto a enfermeira preparava a seringa para aplicação do medicamento. A aplicação fora feita e ela ficaria por uma hora em observação com o objetivo de evitar alguma reação por conta dos medicamentos.
A avó estava sentada na enorme poltrona de couro folheando uma revista enquanto Ísis assistia um desenho animado que passava na televisão do quarto para o qual ela havia sido levada. Ouviram então batidas na porta e logo ela se abriu.
- Posso entrar? - Anahí pediu carinhosamente.
- Claro querida - Ruth levantou cumprimentando-a - Esta melhor?
Anahí havia passado mal na noite anterior quando Ruth resolvera fazer vieiras para o jantar e acabou a convidando.
- Sim, está tudo bem - lhe sorriu - Deve ter sido meu paladar que não estava acostumado com pratos sofisticados - brincou - E como você está? - se dirigiu a Ísis que cumprimentou-a com um beijo.
- Meio enjoada - com uma careta.
- Você quer que eu busque um copo de água gelada? Ajuda bastante com as náuseas - a médica sugeriu. Ísis negou.
- Já estou acostumada, daqui a pouco passa.
- Estive falando com Max e ele já teve acesso aos seus exames, ao que tudo indica a notícia é boa - ela sorriu - Ele ficou de vir aqui, mas como Poncho está em uma cirurgia, acho que vai aguardar mais um pouco - explicou.
- E como está a emergência hoje? Muitos pacientes? - Ruth pediu assim que viu Ísis voltar sua atenção novamente para a televisão.
- Tranqüila perto do que estamos acostumados - ela riu - Mas com o afastamento de Mai no próximo mês provavelmente teremos um aumento no trabalho.
- As vezes fico preocupada com Poncho - confessou - Vocês tem uma profissão desgastante demais. Mal conseguem se alimentar. Lembro de quando ele estava na residência, teve um dia em que fomos visitá-lo e em que abri a geladeira pra preparar o café da manhã e encontrei uma jarra de água gelada, um iogurte fora da validade e uma maçã quase estragando - Anahí achou graça. Ela sabia que ele era muito desligado em relação às compras.
- Realmente Poncho não tem muita vocação com supermercado - as duas riram - Sorte dele ter você aqui.
- Ísis precisa comer melhor e Poncho tem que melhorar esse hábitos dos dois. Encontrei mais de quinze folhetos de restaurantes na gaveta do aparador, acho que os dois passam a semana toda com junk food.
- Por mim você podia ficar morando com a gente pra sempre - Ísis se meteu na conversa - Alfonso mal sabe fritar um ovo, sem falar da vez em que ele conseguiu queimar o macarrão instantâneo - Anahí riu.
- É brincadeira não é? - pediu ela.
- Agora você pode ter um pouco de noção do quanto eu sofro dividindo apartamento com ele.
- Mas eu te ensinei várias coisas - a avó disse se referindo a ela - Você sabe se virar muito bem.
- Pra variar você defendendo o Alfonso - rolou os olhos.
- Eu ouvi meu nome? - ele disse brincalhão enquanto entrava no quarto.
- Sua mãe e sua filha estavam aqui, denunciando seus dotes culinários - ela riu e ele franziu o cenho.
- Posso ter certeza de qua acabaram com a minha moral - ele brincou.
- Não é possível que queira conquistar a Anahí sem saber nada de cozinha - Ruth disparou, o que fez Anahí ruborizar.
- Só não vou queimar o filme da Annie porque ela faz um sanduíche de Atum ótimo - Ísis comentou - Mas não se empolga não. Ela já confessou que é péssima com as panelas.
- Ísis! - Anahí ralhou com ela enquanto ria.
- Pelo visto vou ter que arranjar mais uns folhetos de restaurantes pra não repetirmos os mesmos - ele sussurrou pra que só ela ouvisse e ela achou graça, soltando uma risada discreta - Como você está Ísis?
- Como se estivesse saindo de um chapéu mexicano - os três riram do drama feito por ela - Mas eu superarei.
- Já deu pra ver que nem doente você para de fazer graça - a avó constatou.
- Com licença? - o garoto alto, de cabelos castanhos entrou no quarto com um aparelho de pressão, um termômetro e um estetoscópio - Dr.Max me pediu que verificasse os sinais vitais - explicou - Você consegue erguer um pouco a manga da blusa?
- Sim - Ísis assim o fez o observando, era o mesmo garoto que ajudar Anahí na cauterização no dia em que o nariz dela sangrava sem parar.
Ele então tocou o braço dela com todo cuidado, Ísis o observou o tempo todo. Se fosse em outra situação ela diria que ele estava interessado nela pela forma como lhe dirigia as palavras e os olhares intensos que lhe lançara. Ele então focou as atenções ao termômetro, verificando que os sinais dela encontravam-se perfeitamente normais.
Ele anotou tudo precisamente em uma prancheta. Enquanto ela o analisava, Dr.Max chamou Alfonso e Ruth para uma conversa no lado de fora do quarto. Anahí permaneceu ali, mas não ousaria interromper aquele clima que já havia percebido existir entre os dois, então se pôs a mirar para o Jardim coberto de neve, pela vidraça que havia ali.
Diego então voltou o olhar novamente sobre ela. Estava muito diferente da última vez que os dois haviam se encontrado. O cabelo era bem mais curto, com alguns fios bagunçados, ela não usava mais o piercing que antes tinha no nariz, nem a maquiagem estava tão forte, estava linda. Não que antes não fosse, mas era como se a aura dela houvesse modificado.
- Ótimo - ele disse recolhendo os utensílios para uma bandeja - Esta tudo perfeitamente bem com você.
- Que bom - foi o que ela conseguiu proferir com toda aquela proximidade. Ele tinha um perfume muito bom, e ela estava quase viciando nele, esquecendo até mesmo o maldito enjoo que a atormentava alguns segundos atrás.
- Acho que ja nos vimos algumas vezes - ele brincou.
- É bem provável - ela sorriu tímida e ele adorou aquilo. A presença dele trazia efeitos desconhecidos ao corpo de Ísis.
- Então eu já vou, ainda tenho algumas visitas a fazer - sorriu ajeitando a bandeja ente o braço e o antebraço.
- Um bom trabalho pra você - acenou delicadamente e ele retribuiu.
- Tenha um bom dia Ísis.
Depois disso é óbvio que terei, ela quase disse, mas se limitou a pensar. Anahí a olhou com um sorrisinho misterioso e ela quase ficou sem graça. Então o pai, a avó e o Dr.Max adentraram a sala, ambos com feições animadoras. O oncologista carregava um envelope pequeno e um sorriso confiante nos lábios.
- Então Ísis, como está se sentindo? - Pediu Dr.Max.
- Agora, melhor - respondeu e pode ver Anahí rindo para ela como se insinuasse os motivos reais para ela se sentir melhor. Fechou a cara para ela.
- Excelente, isso é realmente muito bom - ele disse dirigindo-se a ela - Você sabe que já fazem quase dois meses que iniciamos com o tratamento intravenoso e que solicitei alguns exames - ela acentiu - Então, sua leucemia, quando descobrimos, estava no começo então as chances de cura são realmente bem maiores do que as de um estágio mais avançado. Estive analisando os exames e tivemos um grande e significativo avanço no seu tratamento. Sua contagem de plaquetas foi quase normal e confesso que fiquei muito surpreso, pois resultados costumam demorar mais no tratamento como o que estamos fazendo.
- Quer dizer que estou curada? - ela pediu de supetão.
- Ainda não - ele disse sincero - Mas podemos dizer que 70% do percurso já foi concluído. Nós vamos dar prosseguimento ao tratamento intravenoso por mais dois meses - ele viu a careta que ela fez - Calma, é so por precaução. Se nesses meses os exames continuarem a apontar melhora podemos suspender a medicação e retirar o cateter. Ai depois continuaremos com o acompanhamento normal, os exames de rotina, a alimentação. Mas isso fica pra depois, vamos com calma, está bem?
- Melhor do que nada não é? - ele disse de cara fechada.
- Pensei que você ficaria feliz com a notícia Ísis - Alfonso comentou achando graça.
- Feliz eu ficaria se pudesse arrancar logo isso do meu braço, mas sei que é algo bom. Vou tentar ficar mais animada com a ideia - disse com um meio sorriso.
- E você vai ver - Anahí se pronunciou - Dois meses passam voando - se aproximou dela sorrindo - Além do mais, acho que não vai ser bem um sacrifício pra você não é? - sussurrou fazendo Ísis ruborizar.
- Eu vou matar você Anahí - sussurrou como ela e Anahí riu entregando a ela um pequeno papel enquanto os outros três conversavam sobre os cuidados que viriam a partir de agora - Toma.
- O que é isso? - Ísis franziu o cenho abrindo o pequeno bilhete. Havia um número de telefone la.
- Diego me entregou quando estava saindo sem que o seu pai visse. Ele ainda é estagiário e o seu pai o Diretor Chefe do Hospital - rolou os olhos e Ísis esboçou um sorriso.
- Annie, você é o máximo - Anahí riu enquanto recebia o abraço.
- O que é que eu não faço por você heim? - brincou.
E assim as coisas finalmente pareciam estar se ajeitando e a sorte estava ali, sorrindo pra Ísis bem na frente dos seus olhos. Depois de pregar algumas peças o destino parecia querer recompensa-la. Era aquela história, só se dava uma cruz a quem pudesse carragá-la e parece que a dela estava definitivamente ficando mais leve.
Gente o próximo é o último capítulo da primeira fase! Por favor não percaaaaaaam *-*
Provavelmente vou posta-lo amanhã de tarde. Então fiquem atentooooss.
Tô me desdobrando pra postar bastante, não deixem de comentar.