Capítulo 045
Anahi precisava contar a verdade a Ísis. Ela precisava saber de tudo o que acontecera e já tinha idade o suficiente para compreender. Ruth pareceu perceber isso pelo olhar que a ex-nora lhe lançara, então sugeriu a neta mais nova que fossem até a cantina, afim de tomar um sorvete de chocolate. Isadora prontamente aceitou, e seguiu tagarelando pelo corredor baixinho já que a avó havia lhe explicado que no hospital era necessário que se fisesse silêncio. Assim que se viram a sós, Anahí se voltou a Ísis. Ela tinha um aspecto cansado, olheiras fundas. Olhou então para a mesa de mogno que havia ali, uma pilha de livros predominava sobre ela.
- Vejo que está aproveitando o tempo para atualizar suas leituras - disse ela sinalizando a pilha de livros.
-Ah, sim -murmurou - Na verdade eu estava pensando.
- Posso saber em que? - com certo tom de curiosidade e ela maneou a cabeça em reprovação.
- No que vai ser quando você ou eu nos cansarmos - disse simplesmente.
- Isso não vai acontecer - afirmou precisa.
- Como você pode ter tanta certeza disso? - ela soltou um suspiro frustrado.
- É simples, eu já estive aí, do outro lado da história.
- O que você quer dizer com isso? - franziu o cenho.
- Podemos não falar sobre isso agora? - ela concordou cedendo e Anahí agradeceu mentalmente por isso - Eu preciso te contar uma coisa.
- É algo com o bebê?
- Não - suspirou - É algo com o seu pai - Ísis sentiu o pesar no olhar dela.
- O que houve com ele?
- Olha, eu quero que você escute com muita atenção - suspirou novamente - Não quero que você se exalte, não é seguro no seu estado de saúde.
- Desembucha logo Anahí - ela rolou os olhos exasperada.
Anahi então contou-lhe tudo o que acontecera nos últimos meses. Contou da tortura sofrida, da descoberta de seu parentesco com Christopher, da ida de Poncho até o cativeiro onde ela estava e do tiro que Manuel havia proferido a ele. Ísis ouvia tudo chocada. Não conseguia compreender como Manuel fora capaz de uma barbárie como aquela.
- Como meu pai está? - pediu preocupada.
- Ele está estável - sorriu - Christopher e Johan tiveram um trabalho intenso, mas graças a Deus deu tudo certo. Eu quis te contar pra que você soubesse o motivo para ele não estar vindo te visitar - explicou.
- Sinceramente, eu nem faço questão de tantas visitas - suspirou.
- Você não tem que ficar assim - acariciou as mãos dela - Eu estou aqui agora, tudo vai ficar bem.
- Eu não quero que ninguém sinta pena de mim - olhou o nada - Não quero que Diego sinta que está perdendo a vida dele por minha causa.
- Ísis - Anahí a repreendeu - Diego ama você, não diga bobagens.
- Eu também o amo, mas não é justo - enxugou os olhos que já estavam úmidos - Olha como eu estou? Prestes a ficar careca, com o rosto envelhecido, presa a essa cama de hospital - Anahí a olhou de coração partido - Sabe-se lá quando eu vou sair daqui, se é que um dia eu vou sair.
- Eu não posso acreditar que você esteja dizendo todas essas besteiras - suspirou levemente zangada - É claro que você vai sair dai, que coisa! Quem você acha que vai me ajudar a trocar as fraldas desse bebê? - levou a mão dela sobre sua barriga e pela primeira vez desde que iniciaram aquela conversa ela sorriu.
- Eu não vou trocar fraldas, de forma alguma. Fora de cogitação! - negou entre risos. Agora foi a vez de Anahí sorrir. Era bom vê-la com um sorriso nos lábios, mesmo que fosse momentâneo.
Assim que Ísis e a avó chegaram ao quarto, Anahí as deixou com Ísis mais alguns minutos enquanto ia tentar ver Alfonso. Sabia que seria difícil e sentia saudade dos tempos em que era médica do hospita e isso lhe dava passe livre. Mas Christian estava ali, talvez pudesse ajudá-la.
- Chris - ela choramingou pela décima vez - Você tem que me ajudar, eu preciso ver o Poncho - Christian suspirou.
- Eu ja disse que sou gi.ne.co.lo.gis.ta - soletrou pausadamente - Não vão me deixar entrar no setor de trauma.
- Poncho é paciente da emergência - O lembrou - Você é médico da emergência, é claro que vão deixar você entrar. Eu cansei de fazer isso - ele a olhou com as mãos na cintura e depois soltou um suspiro longo.
- Eu vou tentar.
- Eu sabia que você não iria dizer não, ainda mais a uma mulher grávida - brincou animada.
- Eu disse que vou tentar. É melhor você não se empolgar muito - ela rolou os olhos. Christian e aquela eterna mania de achar que as coisas não dariam certo.
Anahi o aguardou na recepção, não demorou muito para que ele voltasse.
- Olha só você tem dez minutos - ela deu um sorriso vitorioso - Nada mais que isso, não estou afim de me me ter em problemas.
- Obrigada Christian - lhe deu um beijo na buchecha - Prometo cumprir o tempo combinado.
Assim que chegou até Poncho observou que ele dormia. Ainda estava com a ajuda do respirador e com inúmeros aparelhos ligados ao corpo, mas segundo informações da enfermeira ele já havia comido no café-da-manha e estava se mostrando disposto. Se tudo continuasse assim, teria alta antes do previsto.
Anahi seguiu até ele, acariciando-lhe os pequenos cachos que começavam a aparecer devido ao cabelo estar mais comprido. A barba também estava um pouco maior do que o normal, o que ela particularmente achou um charme. Passeou as unhas suavemente pelos cabelos até que os belos olhos cor de oliva se abriram em sua frente. Olhos esses que ela por um momento pensou não poder ver outra vez.
- Eu morri e cheguei ao céu? - ele brincou - Porque estou sendo observado por um anjo lindo de olhos azuis.
Ela lhe sorriu, definitivamente Poncho estava de volta.
- Você não perde a chance de me deixar com vergonha - corou tocando o rosto dele com carinho - Como você está?
- Um pouco cansado - admitiu - Mas estou vivo, e é isso que importa.
- Christopher e Johan fizeram um ótimo trabalho - sorriu e ele beijou a mão dela que estava próxima a sua boca.
- E o nosso bebê? Como está? - alisou a barriga dela sobre a blusa. Estava enorme.
- Esta tudo ótimo - sorriu - A Dra.Fox fez o pré-natal ontem, enquanto você estava no centro cirúrgico.
- E você já sabe o sexo não é? - ela riu.
- Já.
- O que está esperando pra me contar? - ele a olhou fingindo indignação. Anahi soltou uma gargalhada.
- Olha eu prometi a Christian que não iria demorar e que não te faria sentir emoções fortes - ele bufou.
- Você não vai me deixar sem saber, vai? - ela foi até o ouvido dele e sussurrou com voz de bebê.
- Nós vamos jogar muito futebol juntos papai.
Os olhos de Poncho brilharam de emoção. Ela só podia estar de brincadeira. Eles teriam um menino? O menino que ele tanto quis.
- Annie você quer dizer que - ela enxugou os próprios olhos após enxugar os dele, sorrindo.
- Sim Poncho, nos vamos ter um garotinho.
- Anahí! - ouviram a voz de Christian no corredor - Venha já aqui, se Johan pegar você ai vai dar problema pra mim.
- Poncho, eu tenho que ir está bem? Suas filhas estão morrendo de saudades de você é eu também - confessou de cabeça baixa - Amanhã se tudo der certo você estará em casa.
- ANAHÍ! - o tom de voz de Christian ficou mais alto - Johan acabou de sair do intervalo, anda logo - exasperado. Anahi riu.
- Eu vou lá, amanhã eu venho ver você está bem? - ele assentiu. Ela beijou sua face com carinho e ele fechou os olhos saboreando a sensação dos lábios dela sobre sua pele. Assim que ela se virou para sair ouviu a voz dele a chamar.
- Annie.
- O que foi? - virou-se para ele.
- Obrigada, obrigada por ser essa mulher incrível.
- Você é aí em foi incrível - lhe sorriu - E é melhor ficar bom logo! Temos dois bandidos para pôr na cadeia e três filhos que precisam de você.
