Capítulo 005
Anahí estava atônita. Era a primeira vez que teria que operar sem a supervisão do Dr. Muhaad, chefe da cardiologia. Mas tratava-se de uma emergência, se ela não realizasse o paciente viria a óbito em poucas horas. Era uma Revascularização do Miocárdio onde o coração do paciente seria parado. Anahí sabia dos riscos, incluindo o de um acidente vascular cerebral, porém não tinha opções. A vida daquele homem estava em suas mãos, era uma emergência, não era o momento para ser negligente.
Ela então foi até o vestiário, colocou a roupa específica, a touca e a máscara, seguiu até o lavatório enquanto o anestesista Chad Muller preparava o paciente com bastante cuidado. Quando ela terminara de lavar as mãos e a enfermeira lhe ajudava a colocar as luvas Alfonso surgiu igualmente uniformizado.
- O que você está fazendo aqui? - ela pediu logo de cara. Como se não fosse suficiente o fato de ela já estar nervosa o bastante.
- Vou ser o auxiliar, Muraad não está e não posso deixar uma residente simplesmente operar sozinha - ele disse enquanto lavava as mãos e se preparava para colocar as luvas.
- Christopher seria o mais indicado, aliás você não tem experiência com cirurgia cardíaca - ela suspirou irritada.
- Entre os riscos da Revascularização do Miocárdio é o de um AVC, uma boa cirurgiã deveria saber - ele sinalisou - Tente manter a calma Dr.Portilla, a vida do paciente está em suas mãos, confio em seu trabalho.
Ela soltou o ar pelas narinas lentamente, fez sua oração mental e seguiu até a sala de cirurgia. O paciente já estava sedado e ela então começou o procedimento. O grande problema de uma Revascularização tradicional, com o coração parado, é que o tempo de cirurgia tem que ser curto e preciso. A artéria aorta teria que ser desobistruída de pressa, e ela ainda teria que realizar o enxerto da artéria mamária interna.
Anahí deu procedimento sempre sobre supervisão, e para sua surpresa, palavras de incentivo do Dr. Herrera. Ela era delicada e precisa ele pode observar, fundamental para quem trabalha com um órgão tão fundamental como o coração. Era assim como se sentia quando necessitava abrir um crânio com a mesma perfeição.
Anahí havia acabado de costurar o peito do paciente e já se preparava para fazer os curativos. Simples preciso e de extrema competência. A cirurgia havia sido um sucesso e no fim, até que fora boa presença de Alfonso durante o procedimento. Assim de uma vez por todas ele entenderia o quanto ela era profissional e dedicada.
Os dois saíram da sala praticamente juntos, enquanto se encaminhavam para o vestiário pelo longo corredor branco. Agora já sem as máscaras.
- Parabéns doutora, devo dizer que estou surpreso com sua calma e competência - ele se rendeu parabenizando-a.
- Eu não sou de brincar no trabalho Dr. Herrera, sei o quanto a vida das pessoas depende de mim e principalmente lembro o juramento que fiz antes de sair da faculdade - ela disse um tanto quanto ríspida.
- Isso é fundamental - os dois silenciaram - Quero parabenizá-la novamente pela coragem. Na condição de residente muitos recuado - ela riu fazendo o jogo dele.
- É meu último ano de residência doutor, logo serei cardiologista e seremos colegas, não há porque se preocupar - debochou e ele riu.
- Será uma ótima profissional.
- Tenho certeza que sim.
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Dulce folheava um livro de anatomia na sala da equipe médica, estava com um caso, talvez o mais complicado e difícil desde que assumirá o posto se residente da pediatria. A menina de 6 anos tinha eritemas nas pernas e nos braços, mas não tinha no tronco, o que descartava a possibilidade de tuberculose como levantada por ela no início da etapa de diagnóstico. Talvez Anahí pudesse ajudá-la já que tratava-se de capilares cutâneos e ela era mais focada na área de cardiologia.
Dulce então apanhou o livro e tratou de procurar por Anahí. Foi até a sala dela e não a encontrou, então deduziu que ela estaria em cirurgia, mas já faziam mais de três horas e era impossível fazer uma revascularização de miocárdio por tanto tempo. Então foi até a lanchonete, assim aproveitaria pra comer algo já que na hora do almoço teve que acompanhar Maite em uma endoscopia em um menino de 4 anos que havia engolido uma moeda de um dólar.
Assim que chegou a lanchonete Dulce avistou Anahí sentada ao fundo, acompanhada de Maite. As duas conversavam e pela cara de irritação de Anahí não era a hora mais propicia para de falar de eritemas.
Dulce pegou um café, um bolo de nozes e ia juntar-se a elas quando do lado oposto da lanchonete percebeu Christopher aos beijos com a garota da recepção. Ele se quer disfarçava, nem mesmo quando a viu ali parada observando a cena como um dois de paus. Como podia ser tão canalha?
- Parece que Ucker arranjou uma amiguinha - ironizou - Talvez agora para de me perseguir e me deixe realizar o meu trabalho em paz.
- Como se você não gostasse dessa brincadeira de gato e rato - Maite rolou os olhos.
- Se você espera ter algo sério com ele Dulce, pode tirar seu cavalinho da chuva - Anahí acrescentou - Ao que consta Christopher ja pegou mais da metade do hospital e as que não pegou algum dia vai tentar pegar.
Dulce suspirou chateada.
- Eu sei que é difícil, eles fazem promessas bonitinhas e caímos como um patinho - Maite brincou.
- Sabe o que eu acho? Acho que tá na hora de você arrumar um bonitão e esfregar na cara dele. Ele não adora fazer isso com você? - Dulce e Maite se entreolharam - Pode ter certeza de que isso sempre funciona.
- Mas que bonitão? Tirando o Herrera digamos que aqui não se tenham muitos homens pegáveis - constatou Dulce.
- O Muhaad está solteiro, e eu acho ele gato - Maite disse simplesmente.
- Ah eu não vou pegar o chefe da Anahí, não mesmo - negou com a cabeça.
- Então fica esperando o Uckermann vir te salvar da solidão em um cavalo branco enquanto ele passa o rodo no hospital inteiro - Dulce fechou a cara para Anahí.
- Com quem você aprendeu a ser tão malvadinha? - Maite riu.
- Acho que tenho que aproveitar algo da convivência com o Herrera. Acredita que ele se enfiou na sala de cirurgia hoje enquanto eu fazia a revascularizaçao do paciente? - Maite riu.
- Tô começando a achar que toda essa implicância no fundo é interesse.
- Se você não parar de graça eu vou dar na sua cara - bufou.
- Quer dizer que só você pode fazer graça? - Dulce cutucou - Pois eu não dou dois meses pra esse cara começar a dar encima de você.
- Olha aqui Maria, melhor ir cuidar do seu bonequinho de plástico pegador - Dulce e Maite riam da irritação dela.
- Isso tudo é saudade do Dr. Herrera? Olha ele entrando na lanchonete ali? - Maite apontou com a cabeça e Anahí bufou.
- Quer saber, melhor tomar um café na Starbucks com o Christian do que ouvir tanta besteira, tchau - pegou a bolsa saindo da lanchonete como um furacão.
Dulce e Maite apenas riram. Deixar Anahí possessa era um passatempo e tanto.
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- É simples Anahí, BJ quer morar junto. Eu não estou preparado pra abrir mão da minha liberdade.
- Ai Chris porque você não arrisca? Você nem ao menos tentou! BJ nem para em casa com essa turnê da banda - ponderou ela.
- Definitivamente não é o momento. E não foi isso que planejei a vida toda, você sabe muito bem.
- Mas você não esperava conhecer alguém, se apaixonar - bebeu um pouco do cappuccino.
- E é por isso mesmo que eu não quero esta vendo? Não quero fazer isso e estragar o que temos.
- Olha eu conheço o BJ a mais tempo que você e te digo pra reavaliar essa idéia - Christian fez cara feia - Não estou pedindo pra você aceitar ok? É apenas pensar na hipótese de - ela pausou - Espera aí!
- O que houve? - ele franziu o cenho voltando a atenção pra onde ela olhava.
- Aquele ali - apontou discretamente - De camisa rosa - Christian olhou tentando localizar - Estou louca ou é o Levy?
- É ele sim é muito bem acompanhado por sinal - alfinetou - Muito carinhoso pra bons amigos e muito insosso pra um casal de amantes - ele analisou.
- A Mai vai querer morrer quando souber disso - suspirou enquanto observava os dois se despedindo com um abraço.