Capítulo 006
Assim que Alfonso pegou Ísis na escola os dois foram até o supermercado da Barneys reabastecer a geladeira. Ísis parecia indiferente enquanto teclava freneticamente no IPhone Novo que ganhara de aniversário no mês anterior. Então ele resolveu sugerir algo. Chamando por ela duas vezes sem resposta resolveu arrancar os fones de ouvido que ela usava.
- Será que você consegue me ouvir? - murmurou tentando não se dançar e ela bufou.
- Eu não sei se você conseguiu perceber, mas não estou interessada em comprar sabão em pó e legumes - rolou os olhos.
- Eu estava sugerindo que fizéssemos algo hoje a noite - explicou - Podíamos ver algum filme ou série que você gosta, fazemos pipoca. O que acha? - disse em frente ao freezer de congelados.
- Qual é pai, sem essa de programa pai e filha - fez uma careta.
- Ah Ísis qual é? Nunca mãos fizemos nada e você vive reclamando que eu - ela o interrompeu.
- Se eu aceitar você vai parar com o drama? - ele acentuou rindo - Tudo bem, eu faço esse sacrifício, mas tem uma condição.
- Lá vem você querendo algo em troca, eu sabia que não seria tão fácil.
- Eu escolho a série e você vai pedir nachos.
- Tudo bem alteza, como desejar - voltou a atenção para as compras.
A verdade é que para ele era muito difícil impor-se sobre Ísis. O gênio dos dois era muito difícil e forçando as coisas Alfonso tinha medo de afasta-la ainda mais e quebrar o pouco vínculo familiar que eles ainda tinham.
Assim que terminaram as compras os dois foram pra casa. Isis abriu a porta enquanto Alfonso entrava com as sacolas. Ela logo fora surpreendida pelo gato branco persa que insistia em rondar suas pernas.
- Como você se comportou hoje Salém? - pegou-o no colo alisando seu pelo e ele ronronou para ela - Eu também estava com saudades - ela sorriu e o pai observou toda a cena do batente da porta da cozinha.
- Vou tomar banho primeiro e ai enquanto você toma eu encomendo a comida e arrumo tudo por aqui, tudo bem? - ela riu concordando.
- Vai la pai.
Alfonso tomou um banho demorado tentando relaxar do dia difícil que tivera, ser responsável pela equipe médica de um hospital como aquele tirava noventa por cento de suas energias.
Assim que terminou e vestiu uma calça de moletom e uma camiseta simples ligou para o restaurante mexicano e sentou no sofá vendo o noticiário sem muito interesse e acabou cochilando. Acordou com Ísis tocando seu ombro.
- Pai, vai pra cama - ele abriu os olhos - Podemos fazer isso outro dia, você está cansado.
- Não eu só cochilei com o barulho da chuva, quero passar esse momento com você.
- Tem certeza?
- Claro querida - ele insistiu e a campainha soou - Devem ser os nachos, pedi bastante soul cream que eu sei que é o seu preferido.
Ela se jogou no sofá enquanto ele recebia o entregador.
- O que vamos ver? - disparou ela enquanto ele colocava os nachos sobre a mesa de centro.
- Já disse que você é quem escolhe - ela concordou escolhendo um filme um tanto quanto sanguinário de zumbis e outros seres que Alfonso não consegui distinguir.
- Você não tem medo de filmes assim? - ele perguntou levando um macho à boca e ela riu.
- Fala sério Alfonso - rolou os olhos - Acho que já to bem grandinha pra isso.
- As vezes eu esqueço do quanto você foi precoce em tudo - riu sozinho.
- E nos momentos mais importantes você não estava lá - ela riu magoada - Sempre havia um plantão, uma cirurgia de emergência...
- Mas você sabe que isso foi preciso, não pense que em algum momento foi fácil pra mim abrir mão de estar com você - olhou-a e ela abaixou o olhar enquanto encarava as mãos.
- Eu não julgo você. Hoje vendo essa história com outros olhos não posso te julgar porque eu no seu lugar teria feito a mesma coisa - os dois silenciaram - Você chegou aonde queria e por mais que tenha sido difícil, e foi, tenho orgulho de você porque muitos no seu lugar teriam desistido.
- Eu só segui em frente porque sabia que a sua avó nunca deixaria te faltar nada e te dedicaria com todo amor e carinho com o que ela me tratou - É o silêncio pairou novamente.
- Como ela era?
- Quem?
- A minha mãe! Você nunca fala dela pra mim porque nunca temos esse tipo de conversa. As vezes eu queria saber como ela era, se era boa, cozinhava bem, gostava de animais...
- Sua mãe era encantadora - fechou os olhos com um meio sorriso ao lembrar-se de Pamela - Ela era muito parecida com você, sem muitas papas na língua - Ísis riu - Mas ela tinha uma capacidade de cativar e envolver qualquer pessoa. Você puxou os olhos e o cabelo dela, mas não posso reclamar do gênio porque sempre fui assim quando era mais novo.
- Da próxima vez que você reclamar vou lembrar de jogar isso na sua cara - ela riu.
- E se você fizer isso vou te deixar de castigo por um mês - os dois riram voltando a atenção para o filme.
Alfonso deitado com as pernas esticadas e Ísis com a cabeça no colo dele, quem os visse diriam que eram pai e filha amáveis e carinhos mas os dois sabiam que estava muito longe disso. O dia de hoje era apenas uma espécie de trégua.
- Você não teve mais nenhuma mulher depois dela? - ele a olhou.
- Alguns namoros mas nada que me fizesse querer levar a diante.
- Muitos dizem que só amamos uma vez na vida, será que é verdade?
- Ué falando desse jeito até parece que você está apaixonada. Não está não é? - ele arregalou os olhos e ela riu.
- Cala a boca - brincou - Estou preocupada com você beirando aos quarenta. Não quero você solteirão empatando meus rolos.
Foi impossível não rir.
- Olha garota você merece uma boa surra - brincou com ela.
- Não, sabe o que eu mereço? Ir no show incrível do Metalica mês que vem - brilhou os olhos - Fala sério pai, todo mundo da Constance vai, se duvidar até o cara da cantina.
- Você não vai me convencer, eu já disse que você não vai.
- Alfonso - fez drama - Você sabe o quanto eu esperei, não seja cruel! Olha só eu deixo você cortar minha mesada por uma semana. Ou melhor, Eu arrumo a casa por uma semana sozinha - ele riu daquelas propostas absurdas que ele sabia bem que ela não cumpriria.
- Eu já disse que não - firme - Mas se de repente - ela o interrompeu.
- O que você quiser! Eu lavo a estátua da liberdade, vou a pé até o Brooklyn, ando pelada no Central Park, o que você quiser.
- O que eu quero é muito simples. Quero que você comece a me tratar com um pouco mais de cordialidade e respeito e ai, até lá eu posso pensar na possibilidade de te deixar ir - ela bufou.
- Não da mesmo pra trocar por uma ida a pé até o Brooklyn? - ele negou com a cabeça - Fazer o que, que comecem os jogos então Dr. Herrera - brincou fazendo uma arma com a mão e apontando pra própria cabeça.
Parece que Alfonso havia enfim ganhado uma batalha, e Ísis vai precisar manter a língua afiada sob controle se quiser reverter a situação a seu favor. Um brinde a harmonia da casa!