Fanfic: Gelo Negro- Adaptação vondy | Tema: Vondy
CAPÍTULO TRÊS
A chuva não deu trégua. Uma hora mais tarde, a água continuava a correr pelo para-brisa, engrossando e se transformando em uma neve semiderretida. Ainda não era exatamente neve. No entanto, alguns graus a menos e isso iria mudar. Ainda estávamos paradas na estrada, e eu deixei o motor ligado praticamente o tempo inteiro. Toda vez que desligava para economizar gasolina, eu e Korbie começávamos a tremer violentamente. Vestimos calças jeans e colocamos as botas e nossos casacos, mas a roupa extra não conseguia deter o frio. Para o bem ou para o mal, ninguém tinha vindo na estrada atrás de nós. — Está ficando mais frio — falei, mordendo o lábio, nervosa. — Talvez seja melhor voltar. — A cabana não deve estar a mais de uma hora de distância. Não podemos voltar agora. — A chuva está tão forte que não consigo ver as placas. Eu me curvei sobre o volante, estreitando os olhos para enxergar pelo para-brisa a placa em forma de losango amarelo à frente. As inscrições em preto estavam completamente ilegíveis. Tinha escurecido muito rápido. O relógio mostrava que passava das cinco, mas podia muito bem já ter anoitecido. — Pensei que o seu jipe fosse off-road. Tenho certeza de que ele funciona bem na chuva. Pise fundo no acelerador e a gente sobe a montanha. — Vamos esperar mais dez minutos, para ver se a chuva para. Eu não estava acostumada a dirigir em meio a temporais, muito menos um tão forte como aquele, e com rajadas de vento violentas. O anoitecer só piorava as coisas, pois mal conseguíamos ver o que estava do lado de fora. Naquele momento, dirigir, ainda que praticamente me arrastando, parecia perigoso. — Olhe para o céu. Não vai parar. Precisamos continuar. Você acha que os limpadores de para-brisa vão aguentar por muito mais tempo? Era uma boa pergunta. A borracha estava se soltando da armação de metal, que raspava o vidro com um ruído suave. — Seria melhor se você tivesse visto isso antes da viagem — continuou Korbie. Que maravilha ela me falar isso agora. — Pensando bem, acho que estamos forçando seu carro um pouco demais — insistiu Korbie, com a voz levemente preocupada. Fiquei calada, com medo de dizer algo de que pudesse me arrepender. As alfinetadas de Korbie eram sempre assim: veladas. Ela dominava a arte de minar as pessoas ingenuamente.
— Os veículos off-road melhoraram muito ao longo dos anos, né? — acrescentou, da mesma forma falsamente educada. — Quer dizer, a diferença entre seu jipe e o meu utilitário é imensa. Senti o sangue ferver. Ela estava transformando aquilo em uma competição, como sempre. Eu nunca contaria isto a Korbie, mas no verão anterior, quando dormi uma noite na casa dela, dei uma olhada no seu diário. Pensei que encontraria segredos a respeito de Calvin, informações que eu poderia usar para provocá-lo de brincadeira depois. Imagine minha surpresa quando encontrei duas listas, lado a lado, em que Korbie se comparava a mim. Segundo ela, eu tinha pernas mais bonitas e uma cintura mais definida, mas meus lábios eram muito finos e eu tinha muitas sardas, e portanto era apenas genericamente bonita. Korbie ganhava no tamanho do sutiã, tinha as sobrancelhas mais certinhas e pesava quatro quilos a menos do que eu — é claro que ela se esqueceu de mencionar que era oito centímetros mais baixa! A lista ocupava duas páginas, e dava para perceber, pelas diferentes cores de caneta, que continuava sendo atualizada. Korbie dera a cada atributo uma pontuação, e havia somado os totais. Na época, ela me ganhava por uns dez pontos. O que era ridículo, já que se dera cinco pontos a mais pelas unhas e fazíamos a mesma coisa no mesmo salão. Pensei na lista secreta dela agora, e me senti mais determinada do que nunca a defender meu jipe. Eu iria chegar até o alto daquela montanha de qualquer jeito. Tudo para não dar a ela mais uma vitória para incluir em sua lista estúpida (melhor carro? check). Eu sabia que não deveria me importar com esse jogo, pois era tudo uma grande idiotice, e sabia que Korbie nunca me deixaria vencê-la, mas eu queria mostrar para ela que conseguia. Queria muito. Curiosamente, eu tinha passado pela mesma coisa na minha relação com Calvin, me esforçando excessivamente para convencer todos a minha volta, principalmente Korbie, de que Calvin e eu éramos um casal perfeito. Para toda a vida. Eu nunca tinha pensado nisso de forma tão consciente, mas sentia uma necessidade avassaladora de mostrar a Korbie como minha vida era ótima. Talvez por causa da lista. Talvez porque me irritasse pensar que ela mantinha uma contagem de pontos, quando esse deveria ser o tipo de coisa que acontece entre inimigas, e não entre melhores amigas. — Você colocou pneus de neve neste troço antes de sairmos? — perguntou Korbie. Neste troço? Era em momentos como aquele que eu tinha que me esforçar para lembrar por que Korbie e eu éramos amigas. Éramos inseparáveis desde pequenas, e, mesmo tendo começado a seguir direções diferentes, principalmente no ano anterior, era difícil desistir de um relacionamento que levara anos para ser construído. Além disso, quando parava para refletir, eu perdia a conta de tudo que Korbie fizera por mim. E isso não só agora, mas desde que éramos crianças, quando ela me comprava coisas que eu não tinha como pagar e choramingava até seus pais me deixarem ir junto nas férias de família. Ela fazia de tudo para que eu nunca fosse deixada de lado. Frutos de sua personalidade forte ou não, os pequenos atos de gentileza de Korbie tinham me conquistado. E ainda era assim.
Estávamos definitivamente mais para irmãs do que amigas: amávamos uma a outra, embora nem sempre gostássemos uma da outra. E estávamos sempre juntas. Rachel e Emilie não haviam desistido de viajar para a praia para fazer trilha nas montanhas, mesmo sabendo que eu precisava disso. Mas Korbie não pensara duas vezes. Bem, quase isso. — Não era para nevar — retruquei. — Seus pais disseram que as estradas até Idlewilde estariam limpas. Korbie soltou um longo suspiro, fazendo beicinho, e cruzou as pernas, impaciente. — Bem, agora que estamos presas aqui, acho que vamos ter que esperar o Urso vir nos resgatar. — Você está insinuando que é culpa minha estarmos presas aqui? Não posso controlar o tempo. Ela se virou para mim. — Tudo o que eu disse é que estamos presas… você é que está exagerando. Mesmo que eu estivesse insinuando que este jipe não foi feito para um tempo como esse, estaria dizendo a verdade, certo? Você está toda estressadinha porque eu tenho razão. Minha respiração acelerou. — Você quer ver o jipe subir a montanha? Ela fez um gesto exagerado com as mãos em direção ao para-brisa. — Só acredito vendo. — Ok, então. — Vá em frente. Fique à vontade. Pisa fundo. Soprei o cabelo para tirá-lo dos meus olhos e agarrei o volante com tanta força que os nós dos meus dedos ficaram brancos. Eu não queria fazer aquilo. Eu não confiava no jipe para nadar rio acima; e isso era praticamente o que eu estaria pedindo que ele fizesse. — Você está blefando — disse Korbie. — Não vai fazer isso. Mas eu tinha que fazer. Não me restava alternativa. Engrenei o jipe, tomando coragem, e, hesitante, virei o carro em direção à estrada, ainda tomada por água. Eu estava com tanto medo que senti uma gota de suor escorrer pela coluna. Não tínhamos nem chegado a Idlewilde e já estávamos com problemas. Se eu estragasse tudo, Korbie nunca me perdoaria por arrastá-la até lá. Pior, ela contaria tudo ao irmão, para quem ficaria claro que eu não deveria tentar fazer uma trilha que exigia tanto se não conseguia controlar meu carro em meio a um temporal. Eu precisava nos tirar dali. Os pneus traseiros derraparam, mas finalmente conseguiram avançar, e começamos a subir. — Está vendo? — falei, com orgulho, mas ainda sentindo um nó no peito. Meu pé estava congelado no acelerador, e eu temia que, se o movesse um pouquinho que fosse, o jipe pudesse escorregar ou deslizar… ou pior, derrapar da beira da montanha. — Você pode se vangloriar quando chegarmos lá em cima. Enormes flocos de neve caíam no para-brisa, então aumentei um pouco a velocidade do limpador, que não servia para quase mais nada. Eu só via alguns metros à frente do jipe. Acendi o farol. Não melhorou muito.
Autor(a): Mill
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Seguimos nesse ritmo arrastado por mais uma hora. Eu já não conseguia mais ver a estrada — apenas vislumbres passageiros de asfalto preto por baixo do branco ofuscante. A intervalos de poucos metros, os pneus derrapavam e travavam. Pisei mais fundo no acelerador, mas eu sabia que não daria para subir lentamente daquele jeito ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 43
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Mill Postado em 29/10/2015 - 16:18:04
É pena que acabou, também irei sentir saudades. Podem deixar assim que eu fizer outra fanfic eu posto aqui pra vocês ler #gelonegro! Lovei!
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 20:43:23
Maravilhosa pena que acabou deixar aqui sua nova web quero ler
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Polivondy16 Postado em 28/10/2015 - 19:19:39
Foi perfeita! Ficaram juntos <3 Ameeei! Obrigada você por compartilhar essa história com a gente, e espero que compartilhe muitas mais! Amei #gelonegro! Lovei! Lovei! Lovei! E infelismente.... num tem como escrever o posta mais...né! Vou sentir saudades *-*
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Mill Postado em 28/10/2015 - 16:48:18
Tá acabando :"(
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:12:54
Tadinha da dul ele não pode fazer isso com ela
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:09:14
Calvin se lasco mane
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:07:32
Essa merda d Calvin não pode morre ele tem que pagar pelo que ele fez
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Polivondy16 Postado em 27/10/2015 - 21:56:53
Acabando? Mas já? Logo agora que o pesadelo acabou... Essa Becca é cruel! Não, Christopher! Você não pode ir embora! Quero muito vê-los juntos! Posta mais *-*
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Mill Postado em 27/10/2015 - 16:44:52
kKKK Calma Korbie não matou ninguém
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juhcunha Postado em 26/10/2015 - 23:07:04
Korbie matou quem? Mdsss posta mais