Fanfic: Gelo Negro- Adaptação vondy | Tema: Vondy
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Na volta para o acampamento, Christopher caminhou um pouco mais perto de mim do que o usual. Era difícil acreditar que apenas dois dias antes eu tinha flertado descaradamente com ele na loja de conveniência, vendo-o como uma espécie de dádiva de Deus para me salvar da humilhação. Em dois dias, eu tinha passado pela adoração, pelo ódio, pelo… Naquele momento, eu não sabia o que sentir. Não sabia o que pensar. Nossas mangas acidentalmente se tocaram. Christopher não se afastou ou pediu desculpas. Na verdade, ele agiu com tanta naturalidade que me perguntei se tinha notado. Eu notei. Sua proximidade despertou um calor estranho e fugidio em mim. Olhei de relance para ele. Mesmo sem se barbear ou dormir ele conseguia ser sexy. Uma mistura de modelo e lenhador. Ele devia passar bastante tempo ao ar livre — sua cor e as pontas do cabelo clareadas pelo sol mostravam isso. Algumas linhas de expressão tênues saíam de seus olhos, do tipo que se formam de tanto estreitar os olhos em um dia ensolarado. E ele tinha uma discreta marca mais clara em volta dos olhos, provavelmente dos óculos de sol. Em vez de brega, era quase sexy. Apesar da exaustão, ele andava com os ombros aprumados — decidido. Por baixo das sobrancelhas escuras, seus olhos observavam o mundo de forma tranquila e demorada. Em parte analisando, em parte tentando entender, concluí. Mas, sob a superfície, eu detectava uma ponta de inquietação. Me perguntava do que ele tinha medo, o que o assustava mais. Quaisquer que fossem seus medos, ele os mantinha bem escondido. Christopher me pegou olhando para ele. Imediatamente, desviei o olhar. Não acreditava que deixara isso acontecer. Mais do que nunca, eu me ressentia de qualquer atração que pudesse estar sentindo por ele. Ele era meu sequestrador. Tinha me mantido presa contra a minha vontade. A gentileza dos últimos dias não mudava isso. Eu tinha que me lembrar de quem ele realmente era. Mas quem ele realmente era? Nunca fez muito sentido que ele e Shaun fossem parceiros. Christopher — Mason — nunca tinha sido cruel. E ele tinha tentado nos alertar quando entramos na cabana. Suspirei, confusa. Nada a respeito dele fazia sentido. — Primeira coisa a fazer: aquecer você — disse ele. — Depois, encontrar comida. Ainda é muito cedo para acharmos frutas silvestres, então vamos ter que caçar. Nos últimos dois dias eu andava vendo com cautela, e até mesmo desconfiança, a aparente preocupação de Christopher com meu bem-estar. Dessa vez, fiquei extremamente curiosa sobre seus motivos. Quando Calvin havia começado a mostrar interesse por mim, ele me enchia de elogios, me provocava carinhosamente e inventava pequenas desculpas para me ver. Tudo isso era ótimo, mas a maior pista de que ele gostava de mim foi seu repentino interesse em cuidar de mim. Quando geava, ele raspava as janelas do meu carro.
No cinema, ele me arrumava um lugar no meio da fileira. Quando meu jipe estava na oficina, ele insistia em me levar de carro para todos os lugares. Talvez eu estivesse vendo coisas demais nos gestos de Christopher, mas me perguntava se a sua preocupação comigo era mais do que simples cavalheirismo. Será que ele sentia algo por mim? Então voltei para a realidade e me lembrei de que isso não importava. Porque eu não ia retribuir seus sentimentos, reais ou imaginários. — Como você sabia que eu dirijo um jipe laranja e que meu pai adora pesca com mosca? — perguntei a ele subitamente, passando por cima de uma árvore caída quase totalmente coberta de neve. — Havia dois carros no estacionamento da loja de conveniência. Um jipe modelo antigo laranja e um BMW X5. Quando entrei na loja, imediatamente associei o BMW ao seu ex, e o jipe, a você — explicou. — Vi que o jipe tinha dois adesivos desbotados e descascando no para-choque: “Meu outro veículo é um barco” e “Eu paro quando vejo corredeiras”. Deduzi que o jipe tinha pertencido a seu pai. O carro não havia sido de meu pai, mas Christopher deu sorte. Na verdade, os adesivos tinham sido um dos motivos que levara meu pai a comprar o jipe. Ele sentia uma conexão com os pescadores, e por alguma razão confiava mais neles do que nos outros homens. — Por que você teve tanta certeza de que o BMW não era meu? — insisti, sem saber se devia me sentir ofendida ou orgulhosa. — Seus óculos de sol eram da Target. Seu ex tinha um Fendi. A maioria das pessoas que gosta de aparecer é assim com tudo. Tentei pensar na última vez que eu tinha sido tão observadora sobre qualquer coisa. — Você sempre associa pessoas a carros em postos de gasolina? — brinquei. Ele deu de ombros. — Era um enigma. Gosto de resolver problemas. — Interessante. Você é um enigma para mim — falei, calmamente. Os olhos de Christopher encontraram os meus, depois desviaram depressa. Para quebrar a sensação estranha zumbindo no ar entre nós, inclinei a cabeça, confusa. — Então você é tipo aqueles gênios? Seu semblante automaticamente se fechou, como se fizesse parte do treinamento não revelar nada diante de um interrogatório. Depois de um instante, sua expressão se suavizou, e ele abriu um sorriso discreto. — Você ficaria impressionada se soubesse que minha professora da terceira série fez um teste para verificar se eu tinha memória fotográfica? Fiz um aceno com o braço, demonstrando indiferença. — Não, não mesmo. Ele coçou a cabeça, abrindo mais o sorriso. — Eu não tinha. Mas cheguei perto o suficiente para ser avaliado. Contei seus pontos fortes nos dedos. — Então você praticamente tem memória fotográfica. E é muito bom em técnicas de sobrevivência. Algo mais que eu deva saber? Como, talvez, onde você estuda… você está
na faculdade, não está? — Larguei ano passado. Por essa eu não esperava. Christopher me parecia uma pessoa séria e estudiosa, não alguém que abandona os estudos. — Por quê? — Tive que cuidar de uma coisa — disse ele, enfiando as mãos nos bolsos e dando de ombros, desconfortável. — Puxa, isso é bem esclarecedor. Sua boca se enrijeceu nos cantos, levando-me a acreditar que eu tinha atingido um ponto sensível. — Todo mundo precisa de segredos. Eles nos mantêm vulneráveis — disse ele. — Por que alguém iria querer ser vulnerável? — Para manter a guarda levantada e, assim, não ficar descuidado. — Não entendo — retruquei. — Se você tem uma fraqueza, precisa se esforçar muito para defendê-la. Não pode tratar como se fosse algo insignificante. — Qual é a sua fraqueza? Ele riu, mas não de uma forma divertida. — Você acha mesmo que vou dizer? — Não custa tentar. — Minha irmã. Eu a amo mais do que qualquer coisa. Sua resposta me pegou completamente de surpresa. De alguma forma, com aquela única resposta, era como se uma camada tivesse sido removida e eu pudesse ver um lado mais sensível de Christopher. Por fora, ele era um homem embrutecido e habilidoso, uma força a ser valorizada. Mas dentro dele parecia haver algo frágil e bondoso. — Eu não esperava por isso — falei depois de um tempo. — Dá para ver que ela é muito importante para você. — Meu pai morreu quando eu era bebê, e minha mãe se casou novamente. Minha irmã nasceu poucos meses antes do meu aniversário de três anos, e me lembro de ter pensado que ela era a pior coisa que poderia acontecer comigo. — Ele sorriu. — Logo deixei isso de lado e percebi como estava errado. — Ela está na Califórnia? — Não a vejo desde que saí de casa. — Você deve sentir falta dela. Christopher riu de novo e, dessa vez, cheio de emoção. — Levei a sério meu papel como irmão e protetor. Jurei que nada de ruim aconteceria a ela. Soltei o ar lentamente. Certa tristeza e saudade se agitaram dentro mim. Christopher não tinha como saber, mas eu achava que entendia como a irmã dele se sentia. Meu pai e Christian sempre me protegeram. Eu contava com eles para tudo. Sentia que era o centro do mundo deles, e não me envergonhava disso. Eles não estavam ali agora, mas Christopher estava.
E, de uma forma estranha e inexplicável, senti ciúme da irmã dele. Ciúme por ele estar pensando nela, quando eu queria que estivesse pensando em mim. — E quanto a você? — perguntou Christopher. — Quais são seus segredos? — Eu não tenho segredos. Mas eu tinha. Estava guardando um segredo enorme de Christopher, e nem me permitia pensar nisso, porque era errado. Muito errado. De repente, eu não conseguia olhar nos olhos dele, com medo de ruborizar. — Como você e Shaun se tornaram amigos? — perguntei. — Amigos não — corrigiu Christopher. — Você estava certa. Só trabalhávamos juntos, é isso. — Então você não gostava dele… nunca gostou? — insisti. — Não tínhamos nada em comum. — Onde você trabalhava? — Eu fazia uns bicos aqui e ali — respondeu vagamente. — Que tipo de bico? — Nada de que particularmente me orgulhasse — disse ele, de um jeito que deixava claro que não queria mais falar sobre o assunto. — Shaun tinha coisas de que eu precisava. E vice-versa. — O que aconteceu no Subway? Era um trabalho… um trabalho que deu errado? Christopher bufou. — Foi um assalto. Pura e simplesmente. Depois que saí da loja de conveniência em que nos vimos pela primeira vez, me encontrei com Shaun — respondeu Christopher, me surpreendendo por ter respondido a minha pergunta. Eu não esperava que ele fosse ser tão receptivo. Talvez também estivesse cansado de construir barreiras. — Tínhamos que tratar de alguns negócios em Blackfoot, e usamos a picape dele para ir até lá. No caminho, Shaun quis parar para fazer um lanche… ou pelo menos foi o que me disse. Ele entrou no Subway, apontou a arma para o caixa, mas entrou em pânico quando um policial apareceu. — Onde você estava quando isso aconteceu? — Na picape — disse Christopher, com um rancor velado. — Ouvi um tiro e saí do carro para verificar. Eu não sabia o que estava acontecendo. Shaun veio correndo e gritou para eu voltar para a picape. Se eu não tivesse voltado para o carro, Shaun teria fugido sem mim, e eu teria sido preso. Além disso, a arma que Shaun usou para atirar no policial era minha. Então entrei no carro e nós fugimos. Subimos as montanhas, na esperança de escapar da polícia, mas então a nevasca começou. Fomos obrigados a esperar a tempestade passar, e foi quando vocês apareceram. — Por que Shaun estava com a sua arma? Christopher gargalhou de raiva. — Na semana passada, antes de virmos para as montanhas, Shaun me fez ir com ele cobrar um homem que lhe devia dinheiro. Era meu trabalho intimidar o cara. Nós não lhe dissemos que iríamos aparecer, mas ele deve ter recebido algum aviso. Estávamos lá fazia poucos minutos quando ouvimos sirenes. Corremos para o beco e os policiais correram atrás da gente. Tive que me livrar da arma, mas Shaun me viu jogá-la em uma
lata de lixo antes de nos separarmos. Conseguimos despistar os policiais, mas, quando voltei para pegar a arma, ela não estava mais lá. Shaun a pegou primeiro, e não me devolveu. Tive algumas ideias para recuperá-la, mas todas tomariam muito tempo. Se soubesse que, alguns dias depois, ele ia atirar em um policial, eu teria agido mais rápido. — Então você se sente mal com o que aconteceu? — É claro que sim. — E espera que eu acredite que você é uma pessoa boa? Christopher jogou a cabeça para trás em uma risada repentina. — Uma pessoa boa? É isso o que você acha? Eu não queria dizer a Christopher o que pensava dele. Ele me fazia sentir um calor e um formigamento por dentro. Ele me dissera — com todas as letras — que era perigoso. E, embora seus olhos escuros escondessem muitos segredos, eu vira além deles. E sabia que, sob aquela superfície, havia doçura, bondade. E isso era cativante e sedutor. Eu me lembrei do corpo definido de Christopher quando o vi tirar a roupa na cabana da Guarda Florestal. Ele fazia Calvin parecer um menino. Olhei disfarçadamente para Christopher, meus olhos correndo automaticamente para sua boca suave e misteriosa, imaginando como seria… Engasguei só de pensar. Christopher me olhou de um jeito peculiar. — O que foi? Toquei o pescoço e disse: — Devo estar ficando gripada. — Seu rosto está muito vermelho. Quer um pouco de água? Por que não? Eu claramente precisava de alguma coisa para me acalmar. Christopher estava prestes a pegar o cantil, mas parou de repente. Sua mão instintivamente agarrou meu braço, para que eu não me mexesse. Ele olhou para a floresta, um brilho de pânico se acendendo nos olhos castanhos. — O que foi? — perguntei em um sussurro, sentindo um aperto no estômago de ansiedade. O corpo de Christopher continuou tenso por vários segundos, até que ele finalmente relaxou a mão em meu braço. — Lobos-cinzentos. Três deles. Segui sua linha de visão, estreitando os olhos para tentar identificar as sombras que adquiriam formas estranhas na neve brilhante, mas não vi movimento algum. — Eles já foram embora — disse Christopher. — Vieram dar uma olhada na gente. — Pensei que os lobos evitassem humanos. — Calvin havia me contado das vezes em que vira lobos em suas trilhas. Era o tempo de pegar a câmera e eles fugirem. — Eles evitam, sim. Não atacam a menos que estejam doentes ou sejam provocados. — Então Christopher olhou para mim com apreensão nos olhos. — O que me preocupa são os ursos-pardos. Eles costumam seguir os lobos; atacam depois que a alcateia caçou algo. Eles são aproveitadores. Principalmente na primavera, depois que hibernaram e estão com fome.
— Em outras palavras, onde há um lobo, há um urso-pardo. — Estremeci, mas dessa vez não de frio.
Autor(a): Mill
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
* * * Meu estômago estava doendo de fome. Eu não conseguia me imaginar matando um animal, mas também estava delirando de fome. O buraco na minha barriga acabou me vencendo, e concordei em me juntar a Christopher na caça pelo café da manhã. Meu corpo já tinha consumido havia muito o milho em conserva que ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 43
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Mill Postado em 29/10/2015 - 16:18:04
É pena que acabou, também irei sentir saudades. Podem deixar assim que eu fizer outra fanfic eu posto aqui pra vocês ler #gelonegro! Lovei!
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 20:43:23
Maravilhosa pena que acabou deixar aqui sua nova web quero ler
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Polivondy16 Postado em 28/10/2015 - 19:19:39
Foi perfeita! Ficaram juntos <3 Ameeei! Obrigada você por compartilhar essa história com a gente, e espero que compartilhe muitas mais! Amei #gelonegro! Lovei! Lovei! Lovei! E infelismente.... num tem como escrever o posta mais...né! Vou sentir saudades *-*
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Mill Postado em 28/10/2015 - 16:48:18
Tá acabando :"(
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:12:54
Tadinha da dul ele não pode fazer isso com ela
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:09:14
Calvin se lasco mane
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:07:32
Essa merda d Calvin não pode morre ele tem que pagar pelo que ele fez
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Polivondy16 Postado em 27/10/2015 - 21:56:53
Acabando? Mas já? Logo agora que o pesadelo acabou... Essa Becca é cruel! Não, Christopher! Você não pode ir embora! Quero muito vê-los juntos! Posta mais *-*
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Mill Postado em 27/10/2015 - 16:44:52
kKKK Calma Korbie não matou ninguém
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juhcunha Postado em 26/10/2015 - 23:07:04
Korbie matou quem? Mdsss posta mais