Fanfic: Gelo Negro- Adaptação vondy | Tema: Vondy
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
— Procurando alguma coisa? — perguntou Calvin. Demorei até encontrar algo para dizer. — Um cobertor. Estou com frio. — Tem um no encosto do sofá. Onde sempre fica. — Tem razão. Olhei bem fundo de seus olhos escuros, tentando obter alguma pista do que se passava em sua cabeça. Será que ele sabia que eu tinha ouvido tudo? Seu olhar correu do meu rosto para as minhas mãos, e depois para o meu rosto outra vez. Ele também me observava atentamente. — Você o beijou? — perguntou Calvin. — Beijei quem? — perguntei. Mas sabia perfeitamente de quem ele estava falando. — Você beijou o Mason? — repetiu Calvin, estranhamente calmo. — Quando estava sozinha com Mason na floresta, você dormiu com ele? Eu não ia deixá-lo me intimidar. Tentei agir da forma mais normal possível, e olhei para ele com um ar confuso. — Do que você está falando? — Você é virgem ou não? Não gostei do brilho obcecado e inquisidor em seus olhos. Tinha que mudar de assunto. — Quer uma xícara de café? Vou ligar a… — Shh. — Ele apoiou o dedo indicador em meus lábios. — A verdade. Seus olhos brilhavam, cheios de uma energia reprimida esperando para ser liberada, e, apesar de estar reunindo minhas forças, senti minha coragem se estilhaçar. Preferi ficar em silêncio, porque sabia que Calvin odiava discutir. Ele queria ter a palavra final, sempre. Calvin balançou a cabeça, desapontado. — Ah, Dulce. Achei que você fosse uma boa menina. Aquele comentário hipócrita me deixou enfurecida. Por um breve instante, o ódio superou o medo. Como ele ousava me julgar? Ele tinha matado três garotas! Tudo o que eu odiava em Calvin de repente ficou mais claro: seus defeitos, sua superioridade, seu charme superficial, sua falta de sinceridade — e, acima de tudo, a maneira insensível e distante como ele havia terminado nosso relacionamento. Indícios perturbadores de seu lado mais sombrio que eu sempre vi, mas que de alguma forma ignorava. Ele feria as pessoas. Eu só nunca imaginaria que era tão bom nisso. — O que eu fiz com Christopher não é da sua conta. A boca de Calvin se curvou para baixo.
— É da minha conta, sim. Ele machucou você e Korbie, e estou tentando fazê-lo pagar por isso. Como você acha que me sinto quando você fica do lado dele? Quando o ajuda pelas minhas costas? Isso dói, Dulce. E me tira do sério. Calvin cerrou os punhos com força, e eu recuei alguns passos. Ele abria e fechava as mãos de uma maneira metódica e ausente. Eu já tinha visto o sr. Versteeg fazer a mesma coisa, e era sempre a deixa para Korbie e eu sairmos correndo e ficarmos juntinhas, no mais absoluto silêncio, no fundo do armário dela, onde ele não poderia nos encontrar. — Enquanto eu estava lá fora na floresta, com frio e fome, procurando sem parar vocês duas, você estava flertando com um cara que nem conhece, deixando-o enfiar a língua na sua boca, mantendo-o aquecido durante a noite, mostrando a ele o meu mapa. — Ele enfatizou a palavra batendo com a mão no peito. — Guiando-o até a minha casa. — Bateu de novo. — Colocando a minha irmã em perigo. — E de novo. — Você sabe o que meu pai teria feito comigo se Korbie tivesse morrido na cabana? Morrido sob os meus cuidados? Você está tão preocupada com Mason, Christopher, sei lá que diabos é o nome dele, mas e quanto a mim? Você o trouxe aqui, você me ferrou, você deu o mapa a ele… Você me ferrou! — gritou Calvin, o rosto em um tom escuro de vermelho, como se estivesse sufocando, os lábios se contorcendo de raiva. Peguei a pistola e a apontei para seu peito. Minhas mãos tremiam, mas, àquela distância, nervosa ou não, seria difícil errar. O rosto de Calvin ficou branco sob a mira da arma. — Não se aproxime. — Mal reconheci minha voz. As palavras saíram com firmeza, mas, afora isso, eu oscilava à beira do desespero. E se Calvin não me obedecesse? Eu nunca tinha disparado uma arma antes. O metal frio causava uma sensação estranha, pesada e assustadora em meus dedos. O suor deixou minhas mãos escorregadias, e eu não conseguia segurar a arma direito. Um sorriso apertou os olhos de Calvin. — Você não vai atirar em mim, Dulce. — Fique de joelhos. Pisquei com força para focar a visão e tentei me concentrar em Calvin. Ele se inclinava para a esquerda, depois para a direita. Ou talvez fosse a sala que estivesse girando. — Não. Não vamos fazer esse teatrinho — disse ele com uma autoridade serena. — Você não sabe usar uma arma, você mesma disse. Olhe… seu polegar não está devidamente protegido, ou seja, o cão da arma vai se mover abruptamente quando você disparar e vai ferir sua mão. Você está nervosa, vai puxar o gatilho de qualquer jeito e perder a mira. O som do tiro vai assustá-la e você vai derrubar a arma. Então nos poupe o trabalho e coloque a arma no chão agora. — Eu vou atirar em você. Juro que vou. — Isso aqui não é Hollywood. Não é fácil acertar um alvo, mesmo a esta distância. Você ficaria surpresa em saber quantas pessoas erram um tiro desses. Se você atirar em mim, acabou. Alguém vai se machucar. Podemos impedir que isso aconteça. Me entregue a arma, e vamos dar um jeito nisso. Você me ama e eu a amo. Lembre-se disso. — Você matou três garotas!
Calvin balançou a cabeça com firmeza, o rosto cada vez mais vermelho. — Você acredita mesmo nisso, Dulce? Pensa tão pouco assim de mim? Eu e você nos conhecemos a vida inteira. Você realmente acha que sou um assassino a sangue-frio? — Eu não sei o que pensar! Por que não me explica? O que essas meninas fizeram para você? Você tinha tudo a seu favor. É inteligente, bonito, atlético, rico, tinha acabado de passar para Stanford… Calvin balançou o dedo na minha direção. Eu via a frustração nas linhas ao redor de sua boca franzida. Seu corpo todo começou a tremer, e seu rosto se anuviou de novo. — Eu não tinha nada! Stanford me rejeitou. Eu não entrei! Você não sabe como é se sentir impotente, Dulce. Eu não tinha nada. Elas tinham tudo. Aquelas garotas… eu devia estar no lugar delas! Devia ser eu — disse ele, já sem forças para negar qualquer acusação. — E foi por isso que você as matou? Porque elas tinham o que você queria? Eu estava horrorizada. Horrorizada e enojada. — Elas eram garotas. Garotas me superando, Dulce. Como eu viveria com isso? Meu pai ia jogar isso na minha cara para sempre. Já era ruim o suficiente em casa, com ele transformando tudo em uma competição entre mim e a Korbie, manipulando as regras a favor dela. Korbie podia ficar sentada sem mexer um fio de cabelo e isso já era o suficiente para me superar. Meu pai não esperava nada da Korbie, porque ela é uma menina. Mas esperava tudo de mim. Não havia remorso algum na voz de Calvin. Queria que ele soasse arrependido e assustado. Queria que admitisse que estava arrasado por ter feito o que fizera. Mas ele se não culpava. Ele se sentia ameaçado pelas garotas que tinha matado. Humilhado. Me lembrei da corda que achara na garagem, com sangue seco. Kimani Yowell tinha sido enforcada. Será que Macie e Anahí também? Calvin não só as matara — ele tornara aquilo pessoal. Tinha usado as próprias mãos. Nunca se tratara delas. Mas dele. — Você matou Anahí enquanto estávamos namorando! Por acaso teria me matado se eu tivesse entrado em uma faculdade melhor? Seus olhos fitaram os meus. — Eu nunca teria machucado você. — Eu confiava em você, Cal! Achava que você era o amor da minha vida. Queria protegê-lo e fazê-lo feliz. Detestava como seu pai o tratava, e, mesmo quando você descontava a raiva que sentia dele em mim, nunca culpei você. Eu achava que podia fazer de você uma pessoa melhor. Achava que você era uma pessoa boa que só precisava ser amada! — Você ainda pode confiar em mim — disse ele, sem entender nem um pouco o que estava em jogo ali. — Sempre serei o seu Cal. — Você está se ouvindo? As pessoas vão descobrir o que aconteceu. Você pode ir para a cadeia. Seu pai… As mãos de Calvin se tensionaram novamente. — Não meta meu pai nessa história. Se quiser mesmo ajudar, deixe-o fora disso. — Acho que não posso mais ajudá-lo! Seus olhos brilharam, mas, por trás da raiva, vi uma tristeza profunda.
— Nunca fui bom o suficiente. Nem para ele, nem para você, mas principalmente para ele. Meu pai teria me matado, Dulce. Se eu tivesse contado que não tinha entrado para a faculdade, ele teria preferido me matar a lidar com a humilhação. Então tive que mentir para todo mundo sobre Stanford e me esconder aqui em Idlewilde. Eu não queria fazer isso, e definitivamente não queria matar Anahí. Não planejei nada. Eu estava fazendo uma trilha à noite e me deparei com Shaun tirando fotos dela. Ela estava usando um boné de beisebol dos Cardinals e eu tive um estalo. Ela estava bêbada, e isso só me irritou mais. Stanford tinha aceitado uma bêbada, mas não a mim. Quis tirar Stanford dela, mas não podia. Então, quando Shaun foi ao barracão de ferramentas, eu tirei… a vida de Anahí. — Meu Deus, Cal — sussurrei, olhando para ele com nojo e pena. Shaun provavelmente tinha voltado do barracão e encontrado Anahí morta. Ele deve ter entrado em pânico e escondido o corpo na caixa de ferramentas. Tirara seu cordão com o pingente, sabendo que era valioso, algo que Cal teria ignorado… dinheiro nunca tinha sido um problema para ele. Era fácil ver por que Christopher pensara que Shaun era o assassino. Mas Cal era o assassino. A repulsa estava estampada em meu rosto. Calvin viu o jeito como o encarei, e algo dentro dele se partiu. Seu rosto se transformou em uma máscara fria e intocável. Naquele instante, ele realmente pareceu se tornar outra pessoa. Eu nunca o vira tão insensível ou cruel. Ele deu um passo na minha direção. — Não se aproxime de mim, Calvin — falei, com a voz estridente. Ele deu outro passo. Meus ombros doíam de segurar a arma por tanto tempo, e percebi que tinha travado meus cotovelos e estava perdendo a sensibilidade nas mãos. Ao me dar conta disso, elas começaram a tremer intensamente. Calvin avançou de novo. Mais um passo e ele estaria perto o suficiente para me derrubar. — Fique onde está, Calvin! Calvin avançou em mim, e, naquele momento de tensão, foi o instinto que me impeliu a agir. Apertei o gatilho, balançando a arma desordenadamente, como Calvin havia previsto. Um clique oco preencheu o ar, e Calvin vacilou ao ouvir o barulho, o branco de seus olhos crescendo em torno da íris verde enquanto ele caía sobre um dos joelhos, em choque. Eu o havia acertado? Onde estava o sangue? Eu tinha errado o tiro? Então ouvi a risada baixa e ameaçadora de Calvin, que ficou de joelhos por mais um instante antes de se levantar. A frieza em seus olhos me deixou sem ar. Não havia mais nada do meu Calvin ali. Ele tinha se transformado no pai. Apertei o gatilho de novo. E de novo. E, a cada vez, um clique surdo e oco afligia meus ouvidos. — Mas que azar o seu — disse ele, arrancando a arma das minhas mãos. Então me agarrou bruscamente pelo cotovelo, me arrastando pela sala em direção à porta. Eu tentava firmar os pés no chão e me debatia. Eu sabia o que ele ia fazer em
seguida, porque era a pior forma possível de me machucar. Eu não estava de casaco. Não estava nem usando botas. — Korbie! — gritei. Será que ela ia me ouvir? Se ela não impedisse o irmão… — Calvin? O que está acontecendo? Calvin se virou de repente, assustado com a voz da irmã vindo das escadas. O olhar sonolento dela se alternava entre mim e Calvin. — Por que você está machucando a Dulce? — perguntou ela. — Korbie. — Lágrimas escorriam pelo meu rosto. — Calvin matou aquelas meninas. As garotas que desapareceram no ano passado. Ele matou o Shaun. E sabe-se lá quem mais. Ele vai me matar também. Você tem que detê-lo. Peça ajuda. — Ela está mentindo, Korb — disse Calvin com calma. — Obviamente está mentindo. Ela está delirando, uma reação completamente normal à hipotermia e à desidratação que sofreu lá na floresta. Volte para a cama. Eu cuido disso. Vou dar a ela um comprimido para dormir e colocá-la na cama. — Korbie. — Eu soluçava. — Estou dizendo a verdade. Verifique os armários da cozinha e a lata de lixo lá atrás. Ele morou aqui o inverno todo. Nunca foi para Stanford. Korbie franziu a testa, me encarando como se eu tivesse enlouquecido. — Sei que está chateada com Calvin por terminar com você, mas isso não faz dele um assassino. Calvin tem razão. Você precisa dormir. Deixei escapar um gemido de irritação e fiz força para me soltar de Calvin. — Me solte! Me solte! — Venha cá, Korbie, e me ajude a levar Dulce para a cama — pediu Calvin, rangendo os dentes enquanto fazia força para me segurar. Então encostou a boca na minha orelha e sussurrou: — Você achou mesmo que minha irmã ficaria contra mim? — Peça ajuda! Chame a polícia! — gritei para Korbie. E, cada vez mais desesperada, eu a vi descer as escadas. — Está tudo bem, Dulce— disse ela. — Sei como você se sente. Eu estava do mesmo jeito quando Calvin me encontrou na cabana. Estava desidratada e via coisas que não eram reais. Pensei que Calvin fosse Shaun. — Chame a polícia! — gritei. — Pelo menos uma vez, apenas faça o que eu digo! Isso não tem nada a ver comigo e com Calvin! — Junte as pernas dela — instruiu Calvin. Korbie se ajoelhou ao meu lado, e então Calvin bateu a coronha da arma na cabeça dela. Sem emitir som algum, Korbie desabou no chão. — Korbie! — gritei. Mas ela estava apagada. — Quando ela acordar, vou dizer que você chutou a cabeça dela — grunhiu Calvin, voltando a me arrastar em direção à porta. — Você não vai fazer isso comigo! — gritei, histericamente, lutando para me libertar. Seus braços, presos em volta de mim, pareciam esmagar meus ossos. — Você não vai me machucar, Calvin! Calvin abriu a porta e me empurrou para a varanda. Tropecei na soleira da porta, caindo com as mãos na neve.
— Fique por perto — disse ele. — Mason não liga para a própria vida, mas talvez se preocupe com a sua. Chamo você de volta depois que ele me contar onde escondeu o mapa. — Cal… — implorei, me atirando aos pés dele. Ele fechou a porta na minha cara. Ainda atordoada, sem conseguir acreditar em tudo aquilo, ouvi a tranca correr.
Autor(a): Mill
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
CAPÍTULO TRINTA E SEIS Fiquei de pé e limpei a neve do pijama. Minha mente tentava assimilar os últimos acontecimentos em meio a uma névoa negra de choque, mas, em um nível mais profundo, comecei a avaliar quais seriam meus próximos e cruciais passos. Eu precisava me manter seca. Precisava encontrar um abrigo. Olhei para as margens ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 43
Para comentar, você deve estar logado no site.
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Mill Postado em 29/10/2015 - 16:18:04
É pena que acabou, também irei sentir saudades. Podem deixar assim que eu fizer outra fanfic eu posto aqui pra vocês ler #gelonegro! Lovei!
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 20:43:23
Maravilhosa pena que acabou deixar aqui sua nova web quero ler
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Polivondy16 Postado em 28/10/2015 - 19:19:39
Foi perfeita! Ficaram juntos <3 Ameeei! Obrigada você por compartilhar essa história com a gente, e espero que compartilhe muitas mais! Amei #gelonegro! Lovei! Lovei! Lovei! E infelismente.... num tem como escrever o posta mais...né! Vou sentir saudades *-*
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Mill Postado em 28/10/2015 - 16:48:18
Tá acabando :"(
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:12:54
Tadinha da dul ele não pode fazer isso com ela
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:09:14
Calvin se lasco mane
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:07:32
Essa merda d Calvin não pode morre ele tem que pagar pelo que ele fez
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Polivondy16 Postado em 27/10/2015 - 21:56:53
Acabando? Mas já? Logo agora que o pesadelo acabou... Essa Becca é cruel! Não, Christopher! Você não pode ir embora! Quero muito vê-los juntos! Posta mais *-*
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Mill Postado em 27/10/2015 - 16:44:52
kKKK Calma Korbie não matou ninguém
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juhcunha Postado em 26/10/2015 - 23:07:04
Korbie matou quem? Mdsss posta mais