Fanfic: Gelo Negro- Adaptação vondy | Tema: Vondy
UM ANO DEPOIS
EPÍLOGO
— Pé na estrada! — gritou Maite, minha colega de quarto na faculdade. Ela jogou os braços no ar, a brisa quente de maio revolvendo seu cabelo negro rebelde. Maite era de Brisbane, na Austrália, e me lembrava Nicole Kidman naquele filme antigo Bicicletas voadoras. Mesmo cabelo de poodle, mesmo sotaque adorável. Chegava ao fim nosso primeiro ano na Pierce College, em Woodland Hills, Califórnia, e estávamos tendo um gostinho de como era ser livre. Eu tinha vendido meus livros, limpado o quarto e feito a última prova final do semestre. Vá com Deus, química avançada. Minha lista de preocupações no momento se resumia a um item: me divertir para valer e no sol da Califórnia derreter. — Vocês nunca cruzaram a estrada da Costa do Pacífico? — perguntou Juanita, nossa outra colega de quarto, do banco de trás do jipe. Ela estava com o nariz enfiado no iPhone, digitando freneticamente mensagens de texto para seu novo namorado, Adolph. Acho que era seu primeiro namorado. Com muito esforço, Maite e eu a havíamos convencido a vir com a gente. Ela estava com medo de que, depois de duas semanas longe, Adolph mudasse de ideia e terminasse tudo com ela. Eu poderia começar a discursar sobre insegurança e independência feminina, mas eu sabia como era encontrar o amor e depois perdê-lo. — Só me digam onde vocês vão querer parar ao longo do caminho, e eu darei informações de importância social ou histórica para cada marco ou destino. O Castelo Hearst, Zuma Beach, Wayfarers Chapel… — Não queremos parar! — exclamou Maite. — Essa é a questão. Queremos ir para o mais longe possível daqui. Queremos dirigir para sempre! Uhul! — Alugamos uma cabana obscenamente cara perto de Van Damme State Beach por duas semanas, e o depósito não é reembolsável, então vocês não podem dirigir para sempre — apontou Juanita, sendo prática e direta. — Foi quem mesmo que teve essa ideia? — Dulce— disse Maite —, ela é de Idaho, e praia para ela é algo do outro mundo. Dá uma folga. Ela costuma passar o verão competindo em concursos de atirar batata na fazenda. — E as pessoas de Brisbane não vivem fazendo rachas? — brinquei. — Os nossos roceiros têm muito mais credibilidade nas ruas do que os seus — disse Maite, sorrindo. — Tem um grande aquário em Monterey — disse Juanita. — Podíamos parar lá para almoçar. Acho que você vai gostar, Dulce. Embora talvez seja acadêmico demais para certos gostos. Que Deus não permita que a gente aprenda alguma coisa.
— Chega de aula! Nada de aprender! — protestou Maite, dando socos entusiasmados no painel. — Ouvi dizer que dá para pegar abalones em Van Damme State Beach — falei, tentando soar indiferente. Eu era muito cínica mesmo. Sabia muito bem que dava para pegar abalones em Van Damme. Tinha guardado o dinheiro que ganhara trabalhando como zeladora do campus no último semestre e agora ia gastar tudo em um aluguel de duas semanas de uma casa na praia. Só porque eu queria comer meu primeiro abalone assado em uma fogueira, do jeito autêntico. É claro que o que eu realmente queria era ver Christopher. — Sim, a colheita de abalone é muito popular lá — disse Juanita. — Mas pode ser muito perigosa, principalmente se você não souber como fazer. Eu não recomendaria. — Acho que devemos tentar — declarou Maite. — Vá em frente — disse Juanita, os olhos grudados no telefone. — Vou ficar sentada na areia, na segurança da minha toalha, vendo vocês se afogarem. — Sabe, isso seria um bom lema para a sua vida — disse Maite, correndo a mão pelo ar como se estivesse prendendo um cartaz imaginário. — Sente-se e assista. — E o seu lema seria “Mergulhe de cabeça no desastre”! — exclamou Juanita. — Principalmente se o desastre for alto, moreno e lindo — disse Maite, estendendo a mão para me cumprimentar. — Gente — falei. — Estamos viajando para nos divertir. Chega de discussão. Fechem os olhos. Respirem fundo. Concentrem-se em pensamentos felizes. E me deem seus telefones… vou guardá-los no porta-luvas. Sem reclamações. Maite, pegue todos. Aqui está o meu. Telefones guardados, Maite e Juanita relaxando em seus lugares e eu dirigindo por aquele trecho de tirar o fôlego da estrada, com suas curvas sinuosas à beira de penhascos e declives acentuados que mergulhavam em direção às ondas brancas e espumosas. Os acostamentos estreitos da estrada me lembravam as montanhas cheias de zigue-zague do Wyoming, mas as semelhanças acabavam aí. Estreitei os olhos, observando através dos óculos escuros as águas turquesa cintilantes ondulando em direção ao infinito. Um sol incandescente iluminava minha pele — que se danem as sardas. E o cheiro do ar! Árvores florescendo, asfalto quente, e o aroma gostoso e penetrante da maresia. Não, definitivamente não era Wyoming. Eu tentava aproveitar tudo aquilo ao máximo, mas não podia ignorar a inevitabilidade de para onde a estrada me levava. A cada quilômetro que passava, eu ficava mais perto dele. Se quisesse vê-lo, aquela era minha chance. Meu coração pulava de emoção, depois se encolhia de pavor. E se ele tivesse uma namorada? E se ela fosse bonita, inteligente e perfeita? Eu poderia ligar para ele. Tinha o número. Eu havia teclado aquele número tantas vezes durante o último ano, mas alguma coisa sempre me impedia no último dígito. O que eu diria? Nós não tínhamos exatamente uma amizade ou relacionamento normal, então “e aí?” nunca me parecia adequado. E “estou com saudade” era desconfortavelmente
revelador. Ou meloso e estranho, como se eu estivesse dando mais valor do que deveria àqueles quatro dias que passamos juntos. Queria que nos esbarrássemos por acaso, acho. Como se o destino estivesse nos dizendo alguma coisa. Alugar uma cabana perto da sua praia preferida provavelmente seria forçar um pouco a barra, mas e se o destino nunca me ajudasse? Eu podia deixar as suposições de lado e ligar logo para ele. Afinal, era só um telefonema. Se ele atendesse, eu sempre tinha a opção de desligar. Meu número tinha mudado. Ele não saberia que era eu do outro lado da linha. A cabeça de Maite caiu para o lado e seus olhos se fecharam. Juanita estava dormindo esticada no banco de trás. Antes que eu me convencesse do contrário, me inclinei e procurei meu telefone no porta-luvas. Disquei o número dele. A cada toque eu sentia o nervosismo se dissipando e outra coisa tomando seu lugar. Alívio? Decepção? Por fim, a ligação caiu na caixa postal. — Ligando para casa? — perguntou Maite, bocejando e esfregando os olhos. — Um amigo em São Francisco. Ele não atendeu. Tranquilo. — Bocejei também, tentando soar indiferente. — Amigo ou namorado? — perguntou Maite, curiosa. — Só um cara que eu conheci. Era estranho falar de Christopher para Maite. No primeiro ano, Maite tinha se tornado muito mais do que uma melhor amiga para mim. Eu lhe contara coisas que nunca contara a ninguém, nem mesmo a Korbie. Tínhamos muitas piadas internas que só a gente entendia. Compartilhávamos nossa comida e não dividíamos a conta do mercado, porque não ficávamos conferindo quanto cada uma tinha gastado. O que era meu era de Maite. Também não guardávamos segredos uma da outra. E, quando brigávamos, nunca íamos dormir com raiva. Ficávamos acordadas até fazermos as pazes, mesmo que isso significasse passar a noite em claro. Por isso me senti culpada por não ter contado a ela sobre Christopher. Mas eu achava que não estava pronta para falar dele com ninguém. Talvez porque não tivéssemos ficado juntos de verdade. Porque eu não estava certa se o que tínhamos era real. E nunca tivéramos a chance de descobrir. — Nós somos jovens, Dulce. — Maite colocou os pés no painel. — Estamos vivas. Deixe a cautela para quando estiver morta. Eu a observei com admiração e inveja. Houve um tempo em que eu era como Maite. Levada pelo vento. Mãos para cima. Mas no último recesso de primavera nas montanhas, tudo tinha mudado. Eu tinha mudado. Maite dirigiu durante a última metade da viagem. Juanita ficou ao lado dela, e eu, esparramada no banco traseiro. Cantei a música que tocava no rádio para manter meus pensamentos no lugar. Se eu não tomasse cuidado, eles me levariam de volta para aquela noite sob a árvore, relembrando os segredos — e outras coisas — que Christopher e eu compartilhamos. Mais ou menos uma hora antes do pôr do sol, vi uma placa para Van Damme State Beach. Senti uma vibração nervosa nas veias. E se ele estivesse na praia naquele momento? É claro que não estava. Mas estaria algum dia… a praia significava muito para Christopher, ele não
ficaria longe dela para sempre. Eu podia escrever os nossos nomes na areia, algo sentimental e totalmente brega, e talvez dali a algumas semanas ou meses ele passasse pelo mesmo local e de repente, inexplicavelmente, pensasse em mim. — Pegue essa saída — falei, sem pensar. Maite me olhou pelo espelho retrovisor. Nossa cabana na praia ficava algumas saídas ao norte dali, junto à baía. Percebi que ela ia me dizer exatamente isso, mas, quando viu meu rosto, pegou a saída. Quando o carro começou a andar mais lentamente, Juanita se sentou e esticou os braços. — Onde estamos? — perguntou, ainda despertando. — Vamos caçar abalones — disse Maite. O que são abalones?, ela me perguntou movimentando os lábios sem emitir som. — Moluscos marinhos — respondi. — Ah — fez Maite, com se tivesse compreendido tudo. — Vamos caçar moluscos marinhos, que podem ou não ser um código para outra coisa. Maite estacionou, e eu saí do jipe e caminhei até os penhascos íngremes que davam para o oceano. Meu coração batia ridiculamente rápido, e fiquei feliz por ter um momento sozinha para me recompor. Christopher não estava lá embaixo. Toda aquela ansiedade era infundada. Os raios de sol deslizavam pela superfície da água, iluminando-a com raios prateados cintilantes. Rochas escarpadas pontilhavam a costa e gaivotas berravam, dando voltas e mais voltas no céu. Enquanto descia para a enseada, tentei imaginar Christopher mergulhando para pegar abalones, à vontade com o fluxo e refluxo das correntes puxando seu corpo. Nunca perguntei a ele por quanto tempo ele conseguia prender a respiração embaixo d’água. Independetemente do seu recorde, eu ganhava. Vinha prendendo a minha por um ano. Alguns minutos depois, Maite se aproximou devagar. — Você o viu? — Quem? — O Abalone. Fiz uma careta. — Você é tão idiota. — Como você o conheceu? — Você não acreditaria. — Ele era o entregador de pizza. O namorado da sua melhor amiga. O cara que carregou o caixão no funeral do seu tio-avô Ernest. Estou chegando perto? A coisa estava mais para: ele me sequestrou, me fez refém, me forçou a guiá-lo pelas montanhas em uma tempestade de neve, depois salvou minha vida, então eu salvei a vida dele, nós fizemos sexo, e, em algum momento ao longo do caminho, eu me apaixonei por ele. É, isso resumia tudo. — Não precisamos falar sobre ele — disse Maite. — Mas se ele magoou você, vou arrancar a alma dele e dar para o Francis Bacon, o porco de estimação da minha família, comer.
Autor(a): Mill
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
— Que reconfortante. — Você faria o mesmo por mim. — Eu não tenho um porco de estimação. — Mas aposto que tem uma batata de estimação — disse Maite, rindo. Passei meu braço pelo seu ombro. — Podemos dar uma volta na praia? Não tiramos os ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 43
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Mill Postado em 29/10/2015 - 16:18:04
É pena que acabou, também irei sentir saudades. Podem deixar assim que eu fizer outra fanfic eu posto aqui pra vocês ler #gelonegro! Lovei!
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 20:43:23
Maravilhosa pena que acabou deixar aqui sua nova web quero ler
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Polivondy16 Postado em 28/10/2015 - 19:19:39
Foi perfeita! Ficaram juntos <3 Ameeei! Obrigada você por compartilhar essa história com a gente, e espero que compartilhe muitas mais! Amei #gelonegro! Lovei! Lovei! Lovei! E infelismente.... num tem como escrever o posta mais...né! Vou sentir saudades *-*
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Mill Postado em 28/10/2015 - 16:48:18
Tá acabando :"(
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:12:54
Tadinha da dul ele não pode fazer isso com ela
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:09:14
Calvin se lasco mane
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juhcunha Postado em 28/10/2015 - 00:07:32
Essa merda d Calvin não pode morre ele tem que pagar pelo que ele fez
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Polivondy16 Postado em 27/10/2015 - 21:56:53
Acabando? Mas já? Logo agora que o pesadelo acabou... Essa Becca é cruel! Não, Christopher! Você não pode ir embora! Quero muito vê-los juntos! Posta mais *-*
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Mill Postado em 27/10/2015 - 16:44:52
kKKK Calma Korbie não matou ninguém
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juhcunha Postado em 26/10/2015 - 23:07:04
Korbie matou quem? Mdsss posta mais