Fanfic: Procura-se uma amante - vondy

Dulce pegou a mensagem que Raul deixara na secretária eletrônica ao entrar no carro. Ele queria que ela voltasse para Grasse para que pudessem conversar melhor.

Ainda influenciada pela conversa com Pierre, ela enviou a Raul uma mensagem de texto dizendo que ela estava a caminho.

Desta vez Raul abriu a porta para ela, abraçando-a carinhosamente e desculpando-se pela discussão que tiveram antes que ela pudesse dizer uma palavra sequer.

— Você havia prometido que conversaríamos a sós antes de nos reunirmos com Christopher — disse Dulce.

— Eu sei, eu sei... — Foi a resposta de Raul.

Era uma pena a casa estar naquele estado, pensou Dulce pela segunda vez naquele mesmo dia. Poderia ser uma casa lindíssima. Ela olhou emocionada para o jardim tentando imaginar sua avó ainda criança brincando naquele lugar. Mas em vez dela, ela viu um menininho de cabelo preto e olhos verdes brincando no jardim entre os raios de sol. E ele se parecia muito com...

Ela sentiu o corpo ficar quente. Por que diabos ela estava imaginando o filho de Christopher ali? E o que era ainda mais grave: por que ela sentiu todo aquele instinto maternal em seu peito ao vê-lo?

— Dulce! Preste atenção! Você não está me escutando.

Dulce virou-se para ele.

— Desculpe-me. O que você estava dizendo?

— Eu estava dizendo que depois que você foi embora eu tive uma longa conversa com Chris. Disse-lhe que se ele queria mesmo comprar a Francine e beneficiar-se dos seus conhecimentos, ele teria que aceitar certas coisas. Sei que nós não temos a mesma opinião com relação a Francine, mas devo admitir que após ouvir suas palavras hoje de manhã, percebi que você tem razão com relação a certas coisas. E eu disse isso a Christopher.

O apoio inesperado de Raul deixou Dulce sem palavras por um momento. Ela mal podia acreditar naquilo.

— Sei... — disse ela. — E o que Chris falou?

— Bem, no começo ele relutou em concordar comigo. Na verdade, demorei muito para fazê-lo entender meu ponto de vista. Depois tive que lembrá-lo de que ele teria que concordar, a não ser que ele quisesse tirar você dos negócios.

— Ele deve ter adorado isso — disse Dulce com sarcasmo.

— Ele é um homem de negócios e viu que teria que aceitar que você criasse os perfumes com ingredientes naturais.

Para sua total surpresa, Raul não só havia resolvido ficar do lado dela como também havia convencido Chris de que ela estava certa.

— Você terá que negociar com ele o quanto você poderá usar de ingredientes naturais ao criar novos perfumes. E, claro, ele vai querer a fórmula do Myrrh.

— Posso até mostrar para ele a fórmula, mas os direitos sobre ela continuarão sendo
meus — disparou Dulce.

— Dulce, não mencionei nada disso. Mas temo não ter sido cem por cento honesto com você. Acho que não mencionei certas coisas...

Dulce esperou por um momento.

— A verdade é que estou em um período financeiro confuso e ruim e se eu não puder
vender a Francine ao Lecon, aí...

— Aí? — perguntou logo Dulce.

— A Francine está praticamente em falência... E eu também. E você sabe, tenho contas a pagar... Dívidas. Estou em suas mãos agora, Dulce, e se você não concordar com esta venda e em colaborar com seus conhecimentos para a Francine, será a minha ruína.

Dulce pôde ouvir um sinal de alerta em sua cabeça. Ela tinha a sensação de que Raul não estava sendo honesto. Mas por ser seu primo, ela preferiu não dar ouvidos à intuição. Mesmo assim, hesitante, ela começou a falar:

— Eu, eu... — e então calou-se.

— Você vai concordar? Oh, Dulce, obrigado! Muito obrigado! — ele a abraçou. — Não tenho palavras para lhe dizer o quanto isso significa para mim.

Ele estava com os olhos cheios d`água.

— Você não sabe o peso que vai tirar dos meus ombros quando assinar este contrato. Você nem imagina. Sem falar no alívio que vai ser deixar este lugar.

Ele olhou a sua volta com desdém.

— Deixar este lugar? — perguntou Dulce.

— É. Este lugar obviamente também é parte do trato. E, para ser sincero, estou aliviado com isso. Mal posso esperar para comprar um apartamento moderno para mim. Mas antes preciso fazer uma pequena viagem por questões familiares. Uma parente muito idosa da minha mãe está mal de vida e eu gostaria de ajudá-la. Ela é a minha madrinha. Se você concordar com a venda da Francine também poderei fazer isso. Você não faz idéia do quanto isso significa para mim, Dulce. Com o dinheiro que eu receberei de Chris poderei fazer com que a tia Amelie receba os cuidados de que tanto necessita. É o mínimo que posso fazer por ela. E acho que você vai querer voltar para sua casa, Dulce. Você vai ter muito a fazer lá antes de começar a trabalhar para a Francine e para o Chris.

Dulce fez uma cara de decepção. Ela não deveria mesmo ter ficado surpresa em saber que a casa de sua avó estava incluída nos negócios. Estava surpresa também com as revelações sobre a madrinha de Raul. E ela teria que voltar para Pembroke, claro, embora ela ainda não tivesse planejado fazer isso.

— Mas Christopher não vai querer conversar comigo sobre os planos dele? — perguntou ela a Raul.

— Ele vai, mas não agora. Acho que ele vai querer esperar até que o contrato seja assinado.

Desconcertada, Dulce percebeu a própria decepção ao constatar que não veria Christopher por algum tempo. Mas ela não queria mesmo vê-lo, queria? Ela mal o conhecia!

Ao ver que Raul não parava de olhar para o relógio, Dulce imaginou que ele tinha outras coisas para fazer e decidiu ir embora.

Ela podia providenciar sua estada na França, pensou enquanto entrava no carro. E se Christopher quisesse conversar com ela nos próximos dias, ela estaria por perto.

Sua decisão estava diretamente ligada ao trabalho e j só ao trabalho, nada mais, pensou ela, determinada.

Raul deixou que Dulce fosse embora para telefonar para Christopher. Seus dedos batiam impacientes na parede enquanto ele esperava ansiosamente que Chris atendesse o telefone. Quando ele finalmente atendeu, Raul pôs-se a falar imediatamente.

— Oi Christopher. Aqui é o Raul. Conversei com Dulce e tudo saiu exatamente como eu imaginava. Agora você j só precisa providenciar os contratos. E por falar nos contratos, eu queria perguntar se há a possibilidade de eu receber um adiantamento. Tenho algumas contas a pagar. Se você pudesse fazer isso por mim, eu agradeceria muito mesmo.

Christopher ergueu as sobrancelhas. Ele sabia tudo sobre as dívidas de Raul, pois havia investigado a vida dele antes das negociações. Para seu espanto, ao mesmo tempo em que gostou de saber que Raul conseguiu convencer Dulce, ficou desapontado. Ele esperava que Dulce fosse ser mais durona, pensou que ela lutaria mais por suas convicções. Estava achando estranho ela ter desistido assim tão facilmente, de uma hora para a outra. Ela parecia tão decidida quando afirmou que não aceitaria trabalhar com ingredientes sintéticos e que não revelaria a fórmula do Myrrh...

— Você não esqueceu de lhe dizer que não mudei de idéia sobre a utilização de ingredientes naturais, esqueceu?

— Claro que não — respondeu Raul de imediato.

— E ela disse por que mudou de idéia? — perguntou Chris.

Raul sentiu-se irritado. Christopher estava fazendo perguntas demais. Por que ele não podia simplesmente aceitar o que ele estava dizendo?

— Ela é uma mulher, Christopher. Mulheres são assim mesmo — disse Raul. — Quem pode entendê-las? E... sobre aquele adiantamento... Eu precisarei sair de Grasse por alguns dias e se você pudesse...

— Farei com que quinhentos mil euros sejam transferidos para a sua conta hoje mesmo, Raul.

— Quinhentos mil euros, só? — comentou Raul desapontado.

Christopher pôde perceber a decepção em sua voz.

— Quinhentos mil euros — confirmou Chris. — É pegar ou largar.

Após desligar o telefone, Chris ficou de frente para a vidraça da janela. No entanto, nem parecia conseguir enxergar a bela vista que tinha da varanda do seu quarto no hotel. Sua mente viajava por paisagens mais interessantes. Ele estava pensando em...

Dulce!

Ele ainda não acreditava que ela havia mudado de idéia e havia concordado não só com a venda da Francine, mas também em trabalhar para ele. Ele ainda estava achando tudo aquilo muito estranho...

Ele resolveu espantar tais pensamentos, lembrando-se de que tinha trabalho a fazer.

Desde que deixara Dulce, ele havia pensado nela mais do que gostaria. E não era apenas devido aos problemas que ela estava causando com relação aos negócios. Não apenas? Na verdade, ele nem chegou a pensar nos negócios. Ele teve que admitir que a desejava, que ela mexia com seus sentidos mais do que o normal.

Ele queria poder voltar no tempo, voltar ao dia em que a viu pela primeira vez, em Cannes, e queria poder fazer tudo aquilo que seus instintos masculinos desejavam. Queria pegá-la nos braços e levá-la para algum lugar...

Christopher nunca gostou de mulheres muito magras e Dulce era magra na medida certa, sua cintura era delgada a ponto dele poder envolvê-la com as mãos. Seus quadris eram sensuais e ela tinha pernas longas, longas o bastante para abraçarem o corpo dele quando ele... e seus seios. Hmmm... seus seios... Só de pensar em tocá-los, acariciá-los e passar a língua...

Ele deu um leve gemido e fechou os olhos, o que foi um grande erro, já que a imagem de Dulce formou-se em sua mente. Ele devia estar ficando louco! Ou então estava ficando completamente apaixonado por ela.