Fanfic: Karma is a b*tch, right? | Tema: Death Note

-- Como os humanos são divertidos... Já falei isso algumas vezes, não? -- Ryuuk falava com algumas risadas entre as frases, sempre exaltando o quanto estava satisfeito com o fato de ter "esquecido" seu Death Note no mundo dos humanos, já que o mundo dos shinigamis era o mesmo mundo podre e chato das eras passadas. Raito havia dado uma diversão sem precedentes e um longo estudo de comportamento dos seres humanos, mostrando suas fraquezas, seus pontos fortes e, principalmente, até onde iriam com seus objetivos. Tudo graças a um caderno.

Um longo silêncio perdurou pela cela extremamente pequena, gélida e apenas com uma pequena fresta com barras de metal postas verticalmente e muito acima da cabeça de Yagami Raito. Faziam dois anos que Raito estava preso. Dois anos que L tinha o colocado atrás das grades em uma penitenciária a kilômetros de distância de Kantou. A cidade em que o presídio se localizava não tinha mais nada além daquele conjunto de prédios envoltos por muros, cercas elétricas e criminosos de alto nível. Perigosíssimos, mas ainda assim não eram páreo para Yagami Raito.

-- Raito?

Raito não estava com a cabeça ali naquela cela. Definitivamente, não. Mais uma vez estava arquitetando um plano. Dessa vez, para escapar dali. Mas como o faria se não tinha como comunicar-se com Misa ou com sua irmã.

-- RAITO!

Calmamente, Raito levantou sua cabeça e observou Ryuuk por um tempo. Estava impaciente e os longos anos de convivência com o Shinigami fizeram com que ele passasse de um parceiro para uma companhia quase que insuportável. Sabia o jeito de livrar-se daquela companhia e os longos anos o ajudariam. Era um exímio manipulador e, bom, não custava tentar.

-- Ryuuk?
-- Vocês humanos... Não me arrependo um segundo sequer de ter deitado o Death Note cair nas suas mãos.
-- Nem eu, Ryuuk. Nem eu.
Pronto. Havia começado e não tinha mais como mudar as coisas. Tinha aprendido aquilo com as mais de 12 mil mortes que tinha em suas costas e que haviam lhe tornado tudo que era naquele momento. Encarceirado, dependendo de um bom comportamento se quisesse sair e se fosse sair. Com todo aquele currículo de mortes, seria complicado.
-- Nem você? O que quer dizer, Raito?
-- Estou dizendo que valeu a pena. Mudei parte do mundo, os crimes reduziram em 70% desde que Kira começou a atuar... Isso no mundo inteiro, Ryuuk. Meu novo mundo começou a nascer. É uma pena que eu não possa ver com meus próprios olhos tudo que eu criei. Não acha?
-- Realmente. São suas últimas horas...
-- Gosto de você, Ryuuk. Vamos ter muito que conversar no mundo dos Shinigamis.
-- Não... Não quero que você vá comigo. -- A voz de Ryuuk carregava um enorme peso por não contar a Raito o que aconteceria quando ele morresse além de que não iria para o céu e muito menos para o inferno.

Raito sabia que perambularia pelo mundo dos shinigamis e pelos abismos entre o céu e o inferno. A sua alma estava condenada a partir do momento que o nome da primeira vítima foi escrito. O que não sabia é que perderia sua alma e sentiria a mesma dor que suas vítimas que morreram através do Death Note. Ryuuk não queria que Raito sofresse doze mil vezes as dores de suicídios, ataques cardíacos e atropelamentos.

As horas passavam em seu ritmo normal, mas cada segundo era precioso para pensar se valia a pena morrer pelo garoto que havia lhe dado tanta diversão ou se deixaria morrer e sentir as dores das vítimas. Sabia que Raito era capaz de suportar tamanho fardo, mas a culpa tomou seus pensamentos e resolveu que não escreveria o nome do rapaz no seu Death Note. Que morresse ele, já que havia se divertido as custas do garoto. Ele era culpado da loucura de Raito por ser um justiceiro, alguém que acabaria com as dores e o sofrimento ou, como o próprio Raito gostava de se chamar, um Deus de um novo mundo.

De repente, Raito estava de joelhos, com os olhos arregalados e sussurrando baixo o nome de Ryuuk enquanto seus olhos começavam a revirar-se até ficar tudo branco, para total desespero de Ryuuk já que queria mantê-lo vivo para que seu sonho se realizasse. Justo agora que estava tão perto disso. Ao mesmo tempo, um guarda passa pelo corredor sem nem demonstrar compaixão com um Raito começando a ser tomado pela morte e que pressentia seu fim cada vez mais próximo de cada célula do seu corpo.

Ryuuk tira seu Death Note debaixo do seu braço e escreve rapidamente o nome do guarda. 40 segundos. 39. 38. 37. O tempo passava muito devagar enquanto seu desespero crescia e Raito parecia não aguentar mais a dor que passava a tomar seu corpo numa rapidez absurda. 15. 14. 13. 12. Aguente mais um pouco, Raito. Era tudo que pensava. 10. 9. 8. 7. 6. Apenas mais um pouco. Resista! Resista pelo seu mundo! 5. 4. 3. 2. O guarda caíra no chão, de olhos arregalados e seu corpo estava rígido.
Aos poucos, os olhos castanhos de Raito voltaram a aparecer e este estava completamente perdido enquanto Ryuuk se deteriorava em questão de segundos, se desintegrando e tranformando-se em apenas poeira ou cinzas. Não daria para precisar.

-- Ryuuk?
O silêncio dizia que Ryuuk se fora. O shinigami estava morto e o plano de Raito, como sempre, havia funcionado perfeitamente. Porém, um certo arrependimento tomou seus pensamentos. Sabia que sentiria falta do shinigami devorador de maçãs. Sentiria falta das risadas irônicas, das reclamações ou da sua eterna paixão pelo fruto que simbolizava o pecado universal e sentiria falta das suas recomendações. O sacrifício de Ryuuk não seria em vão.

O novo mundo que Kira sonhava estava começando a tomar forma. E ele agiria de alguma forma. Ao olhar para o chão, Raito avista o Death Note aberto ao meio, exatamente na primeira página que foi usada por ele e uma risada começa a surgir em seus lábios e cresce por toda a cela.