Fanfic: Serra Dourada | Tema: WebNovela de Época
CENA 1 - GOYAZ. EXTERIOR. DIA.
A câmera aérea passeia pelas montanhas, serras e vales da antiga capital goiana, em especial nos paredões de pedra que envolvem a Serra Dourada, o Morro do Cruzeiro e focalizando a Pedra Goyana. Enormes paragens onde passeava o gado de corte e leiteiro da região, além de pessoas à beira do Rio Vermelho com seus aparelhos rudimentares de mineração, na esperança de extrair um pouco de ouro.
Corta.
CENA 2 - RIO VERMELHO. EXTERIOR. DIA.
A câmera aérea passeia pelo leito do rio até cortar para uma dezena de escravos e negros alforriados a garimpar no leito do rio, sob a supervisão dos feitores das fazendas da região, até que um grito desesperado começa a correr pelas margens.
BENEDITO GONÇALVES ― Oro! Oro! Oro! Eu encontrei oro! Minha virgem santíssima, 'brigado! Eu encontrei oro! Minha Nossa Sinhora do Rusário!
A câmera focaliza a expressão assustada de todos, enquanto o negro começa a chorar, ajoelhado sobre o cascalho do filete de água do rio.
Benedito olha fixamente para o céu.
BENEDITO GONÇALVES ― Com esse oro eu hei de comprá minha liberdade e construí a capela de Nossa Sinhora do Rusário!
A câmera se afasta lentamente até se tornar aérea novamente, mostrando a felicidade do escravo enquanto tremia suas mãos com o saquinho cheio de ouro em pó.
Corta.
CENA 3 - CATEADRAL DE GOYAZ. INTERIOR. DIA.
Frei Domingos entra apressado e afoito na sala do bispo.
DOM ABEL ― Mas que correria é esta, Domingos?
FREI DOMINGOS ― O escravo Benedito Gonçalves está aí fora querendo lhe falar, eminência.
DOM ABEL ― Um escravo? Aqui? O que ele quer? Eles sabem que nós não recebemos esse tipo de gente.
FREI DOMINGOS ― Acho bom vossa eminência receber o preto. Parece que ele quer fazer uma doação para Nossa Senhora do Rosário.
DOM ABEL ― Mande-o entrar, Domingos. Vamos ver o que esse negro trouxe.
O frei obedece.
DOM ABEL ― E então, preto, o que quer aqui?
BENEDITO GONÇALVES ― Eu vim pra mó de pagá uma promessa, dom Abel.
DOM ABEL ― E do que se trata exatamente sua promessa?
BENEDITO GONÇALVES ― Eu prometi pra Nossa Sinhora do Rusário que, se eu conseguisse juntá dinhêro pra mó de me libertá, eu memo ia erguê uma igreja com o nome dela.
DOM ABEL ― Ora... Mas é muita petulância sua. Por isso mesmo é que os pretos não tem alma! Vosmecê sabe de quanto ouro é necessário para se erguer uma igreja, escravo?
BENEDITO GONÇALVES ― Não sinhô santidade. É que eu tava pensano em fazê arguma coisa mais simples, afinar de contas ela é a padroeira dos preto, né não?
DOM ABEL ― Ainda que fosse uma igreja simples, era preciso muito ouro para levantá-la.
BENEDITO GONÇALVES ― O sinhô santidade acha que isso aqui é suficiente?
O escravo tira de dentro dos bolsos seis saquinhos de tamanho médio com mais ou menos um quilo de ouro em pó cada um. O bispo arregala os olhos, incrédulo.
FREI DOMINGOS ― Minha nossa senhora do Rosário...
BENEDITO GONÇALVES ― É pra ela memo esse oro aí, frei. E aí santidade, dá ou num dá?
DOM ABEL ― Bom... E-eu... E-eu não sei. Eu acho que para começar alguma coisa é possível, ma-mas vai ser necessário mais para continuar.
BENEDITO GONÇALVES ― O que num farta por essas terra é escravo, sinhô santidade, eu tenho certeza que os irmão de cor vão juntá tudim pra mó de ajudá eu.
DOM ABEL ― Sendo assim... Domingos, vosmecê vai ficar responsável por fiscalizar as obras e me passar todas as informações. O terreno escolhido vai ser ao lado do antigo convento que, eu espero, seja transformado em residência dos frades franciscanos em breve.
FREI DOMINGOS ― Com muito gosto, eminência, com muito gosto. Nossa Senhora do Rosário vai ficar muito grata a vosmecê, Benedito.
BENEDITO GONÇALVES ― Eu é que já tô 'gradicido com ela, frei. Ela me fez livre! Sinhá dona Terezinha cabô de me libertá lá no cartório. Eu sabia que ela ia cumpri ca promessa qui me fez.
DOM ABEL ― Então continue rezando para Nossa Senhora do Rosário para que vosmecê consiga erguer a casa dela.
O escravo faz o sinal da cruz. Corta.
CENA 4 - ESTRADA REAL. EXTERIOR. DIA.
O coronel Leopoldo Bulhões cavalgava com imponência, rapidamente, pelas suas paragens para entregar uma carta que devia posse ao coronel Eugênio Jardim, futuro novo presidente da província. De repente a expressão do coronel fica séria, sisuda, e o cavalo para de uma vez.
A câmera focaliza a expressão assustada do cavalo que, ao ouvir o barulho de um tiro, empinou sua crina e saiu em disparada, sem rumo.
A câmera mostra o corpo do coronel a cair do lombo do cavalo, rolando pelo cascalho duro do cerrado até sua cabeça colidir com uma enorme pedra.
Close nos olhos parados e mortos do coronel.
Corta.
CENA 5 - CASA DOS JARDIM. INTERIOR. DIA.
O escravo Mota entra correndo, desesperado.
MOTA ― Sinhô Eugêno! Sinhô Eugêno!
Eugênio Jardim levanta-se da cadeira de balanço onde fumava um cachimbo e caminha até o alpendre da casa.
EUGÊNIO ― O que é, Mota?
MOTA ― Sinhô, cabei de vê o cavalo do coroné Leopordo saí desembestado pela cidade, acho que conteceu arguma coisa com ele.
Câmera focaliza a expressão assustada de Eugênio.
EUGÊNIO ― Com Leopoldo? Corra até a casa dele e informe dona Antonieta do acontecido. Estou indo para lá imediatamente.
MOTA ― Sim sinhô!
O escravo sai em disparada enquanto Eugênio entra rapidamente para se trocar, sob o olhar frio da esposa, que continuou a tricotar, sem parecer se abalar com a notícia.
Corta.
CENA 6 - CASA DOS BULHÕES. INTERIOR. DIA.
Dona Antonieta lia um de seus livros de reza calmamente, quando sentiu um aperto no coração. Segurou com firmeza o terço que carregava consigo e rezou para Maria Santíssima pelo marido.
O filho Félix estava de saída para o jornal quando encontrou a mãe com uma expressão preocupada.
FÉLIX ― O que foi, mamãe? Preocupada com meu irmão?
ANTONIETA ― Não é nada, meu filho. Só que me bateu um aperto aqui no peito. É como se eu sentisse que algo está para acontecer.
FÉLIX ― Ora mamãe, não diga isso. Se Frei Nazareno ouve senhora a falar assim vai lhe dizer que está com algo ruim no corpo.
ANTONIETA ― Estou rezando para Nossa Senhora de Sant'Ana para que tire essa aflição do meu peito.
FÉLIX ― Não há de ser nada, minha mãe. Papai está para chegar e irá acalmar a senhora.
ANTONIETA ― Eu espero que sim, meu menino, eu espero que sim.
FÉLIX ― Estou indo para o jornal. Qualquer coisa a senhora peça para Maria me avisar, está bem?
ANTONIETA ― Vá com Deus, meu filho, que a Santíssima Trindade lhe acompanhe.
Félix sai da casa rumo ao jornal. Antonieta continua a rezar.
Corta.
CENA 7 - ALGUM PONTO DA ESTRADA REAL. EXTERIOR. DIA.
A câmera mostra, de longe, dois homens conversando. Ela focaliza a mão de um deles dando uma grande quantia em dinheiro para o outro que logo esconde o maço no bolso. O cavalo do outro sai em disparada.
Algum tempo após a câmera focaliza a comitiva do coronel Eugênio Jardim passando por ali.
EUGÊNIO ― Boas tardes. O senhor sabe o que aconteceu por aqui?
JAGUNÇO ― Não sinhô, coroné. Tava só de passage.
EUGÊNIO ― Pra quem vosmecê trabalha?
JAGUNÇO ― Trabaio pra mim mesmo. Não sirvo a ninguém não.
EUGÊNIO ― Vosmecê é daqui?
JAGUNÇO ― Não sinhô, Tô vindo de Sum Paulo.
EUGÊNIO ― Não encontrou com ninguém pelas suas andanças não, rapaz?
JAGUNÇO ― Ah, sim, isso sim. Encontrei com muita gente, sinhô. Mas ninguém em especiar não.
EUGÊNIO ― Pois bem. Saiba que aqui nesta região tem lei, ouviu? Ande na linha enquanto estiver por aqui, rapaz.
JAGUNÇO ― Podexá, sinhô. Com a sua licença.
O Jagunço monta no seu cavalo e sai a trotes curtos rumo a cidade.
GUARDA ― O que o senhor acha coronel?
EUGÊNIO ― Eu só espero estar errado, mas acho que acabamos de nos encontrar com um criminoso.
GUARDA ― E por que não deu ordem de prisão pra ele, coronel?
EUGÊNIO ― E eu lá tenho como provar? Venha, vamos ver se encontramos o compadre Leopoldo.
A comitiva de Eugênio sai se dividindo pela estrada, em busca de pistas.
CENA 8 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. DIA.
A conversa na sala de estar com a filha era sobre a libertação do escravo Benedito.
MARIA TERESA ― Quando papai chegar em casa vai brigar com a senhora.
TEREZINHA ― Pois se ele brigar comigo mando-o se entender com a virgem.
MARIA TERESA ― Ora, mamãe, a senhora sabe que só o papai tem o direito de alforriar escravos.
TEREZINHA ― Se fosse assim o tabelião não teria me permitido libertá-lo, teria?
MARIA TERESA ― Nem quero saber como a senhora conseguiu que ele o fizesse.
TEREZINHA ― Está insinuando que sua mãe fez algo que a desonre, minha filha?
MARIA TERESA ― Não! Mamãe, por favor, não é isso! Mas a senhora sabe que é o papai quem manda em tudo e em todos por aqui, logo, a senhora conseguiria qualquer coisa que quisesse.
TEREZINHA ― Pois muito bem. O escravo Benedito está livre, mas ele me prometeu que vai continuar suas funções no curral, apartando nossas vacas de leite.
MARIA TERESA ― E em troca de que ele faria isso?
TEREZINHA ― Em troca de nada, ué. Gratidão, minha filha. Gratidão!
Neste momento, o escravo Sebastião chega a soleira da porta da sala de estar, aflito. Maria Teresa o vê.
MARIA TERESA ― Diga, Sebastião, o que houve.
SEBASTIÃO ― Sinhá, sinhazinha, parece que um coroné sofreu um acidente lá na estrada real. Tão falando que foi o coroné Brasir.
Dona Terezinha e a filha se levantam, aflitas.
TEREZINHA ― Minha Nossa Senhora! Como foi isso, Sebastião?
SEBASTIÃO ― Dissero que ele tavo vino pra cá, pra cidade, mas que caiu do cavalo.
MARIA TERESA ― Mas papai cavalga muito bem. Faz isso desde menino!
SEBASTIÃO ― Vai vê alguém quis botá um fim na vida do sinhô coroner...
TEREZINHA ― Pelo amor de Deus, negro! Vire essa boca pra lá!
Terezinha sai puxando a filha, desesperada.
TEREZINHA ― Vamos, minha filha, vamos nos colocar aos pés da virgem. Ela há de nos salvar.
MARIA TERESA ― E quanto a Aninha, mamãe? Contamos a ela? Afinal, a reza de três vale mais...
TEREZINHA ― Não! Deixe sua irmã descansar. Ela mal quis comer. E nós nem sabemos se isso é mesmo verdade! Vamos esperar o desenrolar dos acontecimentos. Não vamos nos desesperar!
Corta.
CENA 9 - CASA DOS JARDIM. INTERIOR. DIA.
JOSÉ JOAQUIM ― Onde está meu pai, mamãe?
NATÁLIA ― Saiu.
JOSÉ JOAQUIM ― E para onde, posso saber?
NATÁLIA ― Foi socorrer um coronel aí.
JOSÉ JOAQUIM ― Socorrer? Quem é?
NATÁLIA ― Parece que foi o coronel Bulhões.
A expressão do rapaz muda.
JOSÉ JOAQUIM ― O coronel Bulhões? E por que a senhora não me avisou? Será que Félix já está sabendo disso? Eu preciso ir pro jornal, urgente!
Natália continuou parada, do jeito que estava, ao ver o filho sair em disparada na direção do jornal.
Corta.
CENA 10 – CASA DAS AMORIM. INTERIOR. DIA.
As irmãs Amorim, acompanhadas do frei Nazareno e da jovem Emília Jardim, encerravam o terço da manhã, quando a escrava Lara veio lhes trazer alguns pasteis e biscoitos.
FREI NAZARENO ― Então quer dizer que a menina Emília quer ir para um convento?
EMÍLIA ― Sim, frei. Uma pena que aqui não tenha. E, além do mais, papai já me disse que, se eu quiser mesmo ser freira, terei de ser longe daqui.
DARCY ― Que desfaçatez. Uma filha freira é tudo o que um pai poderia desejar.
DARLI ― E o que vosmecê vai fazer, queridinha?
EMÍLIA ― Conversei com meu irmão. Ele disse que assim que o coronel Leopoldo voltar de viagem vai tratar com ele.
FREI NAZARENO ― Seu irmão e o filho dele são amigos, não?
EMÍLIA ― Sim senhor.
Lara, a escrava, não se aguenta e entra na conversa.
LARA ― Sinhazinha Emília e o padre vão me discurpá, mas é que tá o maior mixirico na cidade por causa do coroné Leopordo.
DARCY ― E o que estão a dizer essas línguas maledicentes, Lara?
LARA ― Óia, eu não sei o que qué dizê essa tal de dicente aí que a sinhá falô, mas tão dizeno que o coroner Leopordo sofreu um acidente.
DARLI ― Acidente? Na corte? Ele tinha ido para a corte.
LARA ― Não sinhora. Tão dizeno que foi na estrada rear. O pai de sinhazinha Emília foi lá vê o que se assucedeu.
DARLI ― Será que dona Antonieta já sabe disso?
DARCY ― Coitada de dona Antonieta.
FREI NAZARENO ― Vamos, minhas filhas, vamos rezar um terço pela saúde do coronel Leopoldo!
A escrava sai enquanto as mulheres pegam seus terços.
Corta.
CENA 11 - CIDADE. EXTERIOR. DIA.
Enquanto estava a caminho do jornal, o escravo Josué vem em seu encalço.
MOTA ― Sinhozinho Félix! Sinhozinho Félix!
FÉLIX ― Como é, Mota? Já disse que não tenho escravos. E não gosto de quem os tem. Não sou teu senhor. Me trate como amigo.
MOTA ― Sinhô, num dá tempo. Vosso pai, o coroné Leopordo, sofreu um acidente lá na estrada. Sinhô Eugêno foi lá socorrê ele.
A expressão do rapaz se torna de consternação e ele cavalga de volta, sem nem agradecer ao negro.
MOTA ― Amigo... Sei... Esses branco nem pra agradecê.
Corta.
FIM DO CAPÍTULO!
Autor(a): leocupertino
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
CENA 1 – ESTRADA REAL. EXTERIOR. DIA. Eugênio chega com a comitiva até o local do ocorrido. O coronel Leopoldo tem uma marca de tiro no peito e muito sangue na região da cabeça. EUGÊNIO ― Não há mais o que fazer, não é? GUARDA ― Eu creio que não, senhor. Ele se foi. Eugênio tira o ...
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