Fanfics Brasil - Capítulo 2 Serra Dourada

Fanfic: Serra Dourada | Tema: WebNovela de Época


Capítulo: Capítulo 2

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CENA 1 – ESTRADA REAL. EXTERIOR. DIA.


Eugênio chega com a comitiva até o local do ocorrido. O coronel Leopoldo tem uma marca de tiro no peito e muito sangue na região da cabeça.


EUGÊNIO ― Não há mais o que fazer, não é?


GUARDA ― Eu creio que não, senhor. Ele se foi.


Eugênio tira o chapéu da cabeça num ato de respeito ao amigo, até que o guarda encontra em seus bolsos uma carta.


GUARDA ― Veja, senhor. O coronel Leopoldo tinha essa carta em seu bolso, e tem o timbre da corte.


Rapidamente o coronel abre a carta, abre um curto sorriso e caminha até o corpo.


EUGÊNIO ― Vosmecê foi um homem honrado, meu amigo. Vou cumprir o nosso compromisso. Tenha certeza disso.


GUARDA ― O que diz a carta, senhor?


EUGÊNIO ― Vosmecê vai saber em breve. Agora me ajude com o corpo. vosmecê e os outros, levem-no para a carruagem do doutor. A essa altura eu tenho certeza que dona Antonieta já está a saber desta tragédia.


GUARDA ― Sim senhor.


O guarda dá o sinal e os outros colocam o corpo ensanguentado do coronel até a carruagem do médico que começa a limpar o sangue enquanto eles seguem de volta para a cidade.


CENA 2 - CIDADE. EXTERIOR. DIA.


Félix cavalga rapidamente em direção a estrada real, quando é avistado pelo amigo José Joaquim, que logo vai em seu encalço.


JOSÉ JOAQUIM ― Félix! Acalme-se! Tenho notícias de seu pai.


O rapaz reduz a velocidade da cavalgada, enquanto o amigo se aproxima.


JOSÉ JOAQUIM ― Meu pai está com ele, já devem estar voltando para a cidade.


FÉLIX ― Vivo ou morto?


JOSÉ JOAQUIM ― Isso eu não sei lhe responder, meu amigo. Sabe quem poderia ter feito meu ao teu pai?


FÉLIX ― E vosmecê ainda pergunta, Joaquim? É claro que tem dedo do coronel Brasil nessa história.


JOSÉ JOAQUIM ― Acho que nem ele seria tão maluco a esse ponto.


FÉLIX ― Vosmecê sabia que o meu pai estava trazendo a carta de queda do coronel do poder?


JOSÉ JOAQUIM ― O coronel vai deixar o governo?


FÉLIX ― Não. Mas o mandado dele vai. Nós em breve vamos ter outro presidente nesta província.


JOSÉ JOAQUIM ― E quem vai ser?


FÉLIX ― O teu pai.


Close no susto de Félix. Corta.


CENA 3 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. DIA.


O cavalo do coronel Brasil chega de mansinho diante da casa, logo que desce, o escravo Sebastião aparece.


SEBASTIÃOCoroné! O sinhô tá vivo!


BRASIL ― Claro que estou, preto. E por que não haveria de estar?


SEBASTIÃO ― Então o coroné num sabe? Tão dizeno na cidade que mataro um coroné. A história que chegô aqui na casa foi que era o sinhô.


BRASIL ― É preciso ser muito homem para me matar. Ninguém teria esse atrevimento.


SEBASTIÃO ― Sinhá Terezinha e sinhazinha tão que num se guentam de tanto rezá.


BRASIL ― Vosmecê as assustou, negro safado? Suma da minha frente antes que eu decida castigá-lo. Anda, xô!


Câmera foca o coronel subindo as escadas.


CENA 4 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. DIA.


Quando entra na sala de estar, o coronel grita, ranzinza.


BRASIL ― Estou aqui, qual é o motivo da reza? Estão fazendo novena?


Imediatamente a filha lhe corre para os braços, e a esposa vem atrás.


TEREZINHA ― O senhor meu marido está vivo! Graças à virgem!


MARIA TERESA ― Tive tanto medo, papai. Estão dizendo por aqui que...


BRASIL ― ... Que mataram um coronel, não é? Vosmecê não conhece seu pai, minha filha? O cabra tem que ser muito homem para fazer algo contra mim.


TEREZINHA ― E onde o senhor meu marido estava?


BRASIL ― Fui até o rio. Estão dizendo que um escravo nosso conseguiu ouro, um tal de Benedito. Procurei-o mas não o achei, quero a minha porcentagem.


TEREZINHA ― Maria Teresa, peça a Rosa que prepare um café bem forte e leve-o para o gabinete de seu pai.


BRASIL ― O que foi que vosmecê fez dessa vez, mulher?


TEREZINHA ― Quer mesmo ter essa conversa diante de uma senhorita? Quero lhe falar, senhor meu marido, podemos ir ao gabinete?


Maria Teresa corre, segurando as barras do vestido, em direção à cozinha. Brasil caminha a passos duros até o escritório.


CENA 5 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. DIA.


No gabinete, ele se coloca atrás da enorme mesa organizada e se senta na poltrona.


BRASIL ― Não estou gostando dessa enrolação toda, mulher. Fale de uma vez!


TEREZINHA ― Lembra-se da promessa que fiz à virgem? Pela saúde de nossa filha Ana?


BRASIL ― Não, não me lembro.


TEREZINHA ― Ora, Brasil, por Deus! Eu prometi à virgem que eu mesma libertaria um escravo se a nossa filha Ana sobrevivesse à febre.


Um olhar furioso brota do coronel.


BRASIL ― Não vá me dizer que vosmecê libertou o tal Benedito...


TEREZINHA ― Sim! Ele tem uma promessa para com Nossa Senhora do Ros-


BRASIL ― Vosmecê enlouqueceu mulher?! Sabe que só eu tenho permissão do tabelião para alforriar meus escravos. Eu vou chamá-lo aqui e dizer que vosmecê se equivocou, pronto. Onde está o documento? Vamos desfazer isso.


TEREZINHA ― Mas eu já dei a liberdade a ele, Brasil. O documento está em posse dele.


BRASIL ― Como?!?! E como vosmecê conseguiu? Vosmecê é mulher! Os tabeliães não autorizam as mulheres a fazerem certas coisas. Por acaso vosmecê é viúva? É, Terezinha? Não acredito que vosmecê foi capaz disso para com o seu marido.


TEREZINHA ― Vosmecê pode esbravejar o quanto quiser, Brasil. Entenda-se com Dom Abel. Vosmecê sabe muito bem que essas promessas são sagradas.


BRASIL ― Eu só espero que vosmecê tenha cobrado pela liberdade dele. Ele lhe deixou o ouro?


TEREZINHA ― Não exatamente...


BRASIL ― Como assim? O que foi que vosmecê fez? Não me diga que deixou a alforria de um preto sair de graça!


TEREZINHA ― Ele disse que o ouro que havia conseguido era para erguer uma capela para Nossa Senhora do Rosário. Fiz ele prometer que o faria, ou anularia a sua carta de alforria. O registro está no cartório.


Brasil coloca as mãos na cabeça. Rosa chega com o café.


ROSA ― Aqui, sinhá, o café que sinhá pediu.


Ao se aproximar da mesa do coronel, Brasil joga a bandeja e a xícara para cima, sujando e queimando a escrava.


TEREZINHA ― Brasil! Pare com isso! Vai machucá-la!


ROSA ― Carece de preocupá não, sinhá, machucou não. Vô limpá essa sujera toda. Licença, sinhá.


Rosa sai correndo e o coronel se levanta com o chicote que trazia nas mãos em riste contra a esposa.


BRASIL ― Vosmecê está proibida de sair de casa sem a minha autorização, Terezinha. Só às missas de domingo, senão Dom Abel vai vir me aborrecer e eu não estou com paciência, Entendeu? O mesmo vale para vossas filhas.


Ele faz uma pausa, bufando de ódio.


BRASIL ― Eu preferia que Deus tivesse levado a nossa filha, a ter que perder um escravo embamburrado de ouro por causa de uma promessa miserável.


Terezinha fica perplexa.


TEREZINHA ― Como pode dizer isso, senhor meu marido, como pode?


BRASIL ― E tem mais: vou falar com Dom Abel, falo com o Papa se for preciso, mas esse preto maldito não vai levantar igreja nenhuma, entendeu? E se eu ficar no prejuízo confisco todas as suas jóias!


Brasil sai do cômodo com o chicote nas mãos.


Corta.


CENA 6 - INÍCIO DA ESTRADA REAL. EXTERIOR. DIA.


Félix e José Joaquim se aproximam da comitiva do coronel Eugênio.


Câmera focaliza Eugênio fazendo um gesto para que parem e cavalga até os dois rapazes.


EUGÊNIO ― Boas tardes, Félix. Boas tardes, meu filho.


O homem faz um aceno com a cabeça e é correspondido por ambos.


JOSÉ JOAQUIM ―E então, meu pai, encontraram o coronel Bulhões?


Eugênio faz um curto silêncio.


EUGÊNIO ― Félix, venha comigo. Joaquim, fique cuidando dos nossos cavalos, por favor.


JOSÉ JOAQUIM ― Mas, papai...


EUGÊNIO ― Por favor, Joaquim. Eu estou mandando! Não me desobedeça!


O rapaz desce do cavalo contrariado e passa a segurar as três rédeas enquanto o amigo e o pai desmontam dos seus.


FÉLIX ― É grave, senhor Eugênio?


EUGÊNIO ― Eu não sou médico, jovem. Venha comigo.


Os dois caminham em direção à carruagem do médico.


A câmera os acompanha. Chegando lá, Félix cai de joelhos no chão e começa a chorar, amparado por Eugênio e pelo guarda que o acompanhava. Joaquim percebe a movimentação e se emociona.


Corta.


CENA 7 - CASA DAS AMORIM. INTERIOR. DIA.


Após mais rezar, Emília levanta-se.


DARCY ― Aonde vai a menina?


EMÍLIA ― Quero pedir ao Frei Nazareno que me acompanhe até minha casa. Assim minha mãe não há de se zangar.


DARLI ― E como ela está, minha filha?


EMÍLIA ― Do mesmo jeito, dona Darli. Mamãe é assim mesmo. Não há de mudar.


FREI NAZARENO ― Continue a rezar por ela, minha filha.


EMÍLIA ― É só o que eu tenho feito, frei. Mas parece que a virgem não me ouve. Não sei mais o que fazer.


DARLI ― Ora, menina Emília, não duvide do poder da virgem. Uma hora sua mãe há de melhorar.


DARCY ― Estou preocupada com dona Antonieta. Acha que devíamos ir lá lhe fazer uma visita?


DARLI ― Ora, espere! Ela deve estar passando por um momento difícil. As pessoas vão achar que estamos lá para mexericar.


FREI NAZARENO ― As pessoas tem um coração muito pesado, minhas senhoras. Mas, não acho prudente visitá-la neste momento. A virgem há de ampará-la.


Frei Nazareno se levanta, caminhando até a saída acompanhado de Emília.


FREI NAZARENO ― Vamos, menina Emília, vou acompanhá-la até vossa casa.


Emília agradece a hospitalidade das irmãs e entra na carruagem do frei. As irmãs acenam enquanto ela vai.


Corta.


CENA 8 - CARRUAGEM DO MÉDICO. INTERIOR. DIA.


Após se acalmar um pouco, Félix conversa com Eugênio.


FÉLIX ― Como vou dar essa notícia à minha mãe, coronel?


EUGÊNIO ― Eu estarei ao seu lado. Vosso pai foi um grande amigo pra mim.


FÉLIX ― E eu preciso avisar meu irmão que está na corte. Ele não vai chegar a tempo de ver nosso pai ser enterrado. Que tragédia, meu Deus, que tragédia.


EUGÊNIO ― Acalme-se, Félix. O importante é ampararmos vossa mãe primeiro.


FÉLIX ― Vosmecê poderia enviar um mensageiro à corte? Meu irmão precisa chegar o mais rápido possível.


EUGÊNIO ― Imediatamente!


Rapidamente, Eugênio faz o despacho de uma mensagem escrita à mão, por ele, na capa do envelope que recebera. O guarda sai em disparada à procura do mensageiro mais próximo.


CENA 9 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. DIA.


Rosa, após limpar a sujeira do escritório do coronel Brasil, se limpa no tanque da cozinha.


SEBASTIÃOQuié que o mardito coroné fez cocê, Rosa?


ROSA ― Que susto, 'Bastião! Foi nada não. Já tô boa.


Sebastião entra na cozinha, se aproximando de Rosa.


SEBASTIÃO'Cêcheirano a café.


ROSAAra! Ocê tamém.


SEBASTIÃO ― Mas ocêcherano a café feito. Eu trabaio na lavoura, né? Seu vistido tá todo sujo...


ROSA ― E o que tá fazendo aqui? E além do mais, chêro de café é tudo iguar.


SEBASTIÃO ― É que chegô mensagem de sinhozinho Tarquino. Lá do estrangero.


ROSA ―E ocê entregô pra sinhá Terezinha?


SEBASTIÃO ― Já.


O escravo se aproxima de Rosa, cheirando-lhe a nuca.


SEBASTIÃOOcê fica mais formosa com esse chêro de café, Rosa. Eu tenho que ir agora, mas a gente proseia otra hora.


Rosa se afasta do escravo, brava.


Corta.


CENA 10 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. DIA.


No quarto da pequena Ana, Dona Terezinha lê a carta do filho e a leva contra o peito.


TEREZINHA ― Ah, mas que notícia maravilhosa! Vosso pai vai ficar muito contente.


ANA ― Por que a senhora está tremendo, mamãe?


TEREZINHA ― É porque vosso irmão vai chegar, aninha.


ANA ― O Brasílio?


TEREZINHA ― Não. O Tarquínio. Lembra-se dele?


Ana faz sinal negativo com a cabeça.


TEREZINHA ― Ele foi embora vosmecê era uma bebezinha. Vai gostar dele.


ANA ― E por que a senhora está com os olhos cheios d'água, mamãe?


TEREZINHA ― É felicidade, minha filhinha, felicidade!


Corta.


CENA 11 - CASA DOS CAIADO. EXTERIOR. DIA.


Maria Teresa corre até o encontro do pai, perto da senzala.


BRASIL ― O que vosmecê está fazendo aqui? Já disse que não quero vosmecês se aproximando dos negros.


MARIA TERESA ― Vim lhe trazer uma correspondência de Tarquinio, meu pai.


BRASIL ― Está a pedir mais dinheiro, aquele boa vida?


MARIA TERESA ― Não senhor. Muito pelo contrário.


Maria Teresa entrega o telegrama ao pai que, ao ler, amassa o papel e joga no chão.


BRASIL ― Mais essa, agora!


MARIA TERESA ― O senhor não está feliz com a notícia, meu pai?


BRASIL ― Não. Não estou!


O pai vira as costas à filha e continua andando.


MARIA TERESA ― Pois há mais uma nova, papai.


O coronel não dá importância, mas a filha continua.


MARIA TERESA ― O coronel Leopoldo foi assassinado.


Brasil vira, de repente, em direção à filha.


Corta.


FIM DO CAPÍTULO



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Autor(a): leocupertino

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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CENA 1- CASA DOS CAIADO. EXTERIOR. DIA. Após ficar alguns minutos sem palavras, Brasil recupera a fala. BRASIL ― E como foi que vosmecê soube disso? MARIA TERESA ― O mensageiro que trouxe o telegrama disse ao Sebastião, que disse a mim. BRASIL ― Então agora a senhorinha fica de conversas com os escravos, também? MARIA ...


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