Fanfic: Serra Dourada | Tema: WebNovela de Época
CENA 1 - GOYAZ. EXTERIOR. DIA.
Câmera passeia pela cidade enquanto aparece, abaixo, o letreiro 7 DIAS DEPOIS. O barulho dos sinos repicam, ao raiar do dia, para a missa de sétimo dia do coronel. A cidade inteira está a se reunir diante da Catedral.
CENA 2 - CATEDRAL. EXTERIOR. DIA.
Os presentes passam e cumprimentam dona Antonieta, agora vestida toda de preto e com um véu, de braços dados com o filho, Félix.
TEREZINHA ― Antonieta, meus sentimentos mais uma vez. Menino Félix, tenho certeza que seu pai está em um lugar melhor olhando por vós.
Maria Teresa fica corada ao olhar o jovem Félix, abre um pequeno sorriso tímido para o rapaz.
ANTONIETA ― Fico-lhe muito grata, Dona Terezinha.
MARIA TERESA ― Deus há de amparar a todos.
FÉLIX ― Certamente que sim, mas não pense a senhora dona Terezinha que eu não sei o que aconteceu.
ANTONIETA ― Félix, meu filho, aqui não. Hoje não, por favor.
FÉLIX ― Onde está o crápula do vosso marido, que não veio prestar homenagens ao meu pai?
MARIA TERESA ― Papai está nas minas. E me ofende falando dele assim.
FÉLIX ― A menina Teresa, tão meiga e delicada, não tem culpa do pai que tem. Nem a senhora sua mãe.
TEREZINHA ― Não sei ao que o menino se refere. Meu marido esteve no velório. Ficou lá o tempo todo. Sei que temos nossas diferenças, mas nesse momento é que se mostra a solidarie--
FÉLIX ― Solidariedade uma ova! Foi o senhor seu marido que mandou matou o meu pai, eu sei disso.
ANTONIETA ― Chega, Félix! Chega, por favor! Entre! Deixe-me aqui e entre!
Maria Teresa e a mãe ficam assustadas, o rapaz cumprimenta a jovem e entra. Ao longe vê-se as irmãs Amorim se abanando, assustadas.
ANTONIETA ― Pelo amor da virgem, perdoem esse pobre filho desesperado. É uma viúva sem esperança quem vos pede.
MARIA TERESA ― Não há de ser nada, senhora dona Antonieta.
TEREZINHA ― É o calor do momento. Vamos entrar, minha filha?
ANTONIETA ― Oh, também vou com a senhora e a menina. Perdoem-me o vexame de meu filho mais uma vez.
As três mulheres entram conversando baixinho, corta.
CENA 3 - CATEDRAL. EXTERIOR. DIA.
Darcy e Darli comentam o acontecido.
DARCY ― Vosmecê viu? A menina Maria Teresa não tirava os olhos do filho do coronel Leopoldo.
DARLI ― Isso foi porque vosmecê não ouviu o que ele disse para dona Terezinha.
DARCY ― E o que foi que ele disse?
DARLI ― Disse para a menina que foi o pai dela quem mandou matar o coronel Leopoldo.
DARCY ― E será verdade?
DARLI ― Vosmecê sabe que eles são inimigos políticos, não sabe?
DARCY ― Mas, será que o coronel Brasil seria capaz de tamanha crueldade?
DARLI ― Esse povo de Caiado é ruim, minha irmã. Eu não duvido.
DARCY ― Nem eu. Esse mundo tá tão estranho.
DARLI ― O pior é que eu acho que a menina gostou do jornalista.
DARCY ― Se gostou, já desgostou depois do que ele disse do pai dela.
DARLI ― Vosmecê nunca ouviu falar em amor proibido? Quanto mais difícil, mais gostoso.
Frei Simão entra na conversa.
FREI SIMÃO ― Nenhuma das duas devem conhecer o real sentido do amor.
DARCY ― Ora, por que não, frei?
FREI SIMÃO ― Por que ao invés de vosmecês falarem da vida alheia, deveriam rezar para que algum santo ainda lhes queira.
DARLI ― Está nos chamando de solteironas?
DARCY ― E mexeriqueiras?
FREI SIMÃO ― Eu? Imagina... Mas, a cidade inteira comenta que as senhoras ficaram para trás. Ou coisas piores...
O frei se aproxima das duas e fala baixinho.
FREI SIMÃO ― Falam que as senhoras não gostam muito dos homens...
As duas irmãs fazem expressões ofendidas e entram, lado a lado, sem falar nada.
Frei Simão cai na risada. Corta.
CENA 4 - CATEDRAL. INTERIOR. DIA.
Emília Jardim já estava ao lado da mãe, rezando, quando repara os olhares furtivos de Maria Teresa para Félix.
EMÍLIA ― A senhora viu, mamãe?
NATÁLIA ― Vi o quê?
EMÍLIA ― Repare como se olham o senhor Félix Bulhões e a menina Maria Teresa.
NATÁLIA ― Ela é uma oferecida, isso sim.
EMÍLIA ― Ah, não mamãe, não acho que seja o caso. Dizem que ela só vive para fazer companhia à mãe e à irmã doente.
NATÁLIA ― Sabe o que é isso, minha filha? Castigo de Deus.
EMÍLIA ― Ah, mamãe, pare com isso.
NATÁLIA ― Quer ficar mal falada? Quer que a virgem lhe jogue uma praga?
EMÍLIA ― Ah, não, Deus me livre! Vire essa boca pra lá.
NATÁLIA ― Pois eu aposto que a doença da filha mais nova do coronel Brasil é resultado de toda a maldade que esse povo já fez na vida. Aqui se faz, aqui se paga.
Emília faz o sinal da cruz e volta a rezar. Corta.
CENA 5 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. DIA.
Brasil chegara de sua visita às minas, mas ao invés de entrar pela porta da frente vai até a saída dos fundos, entra na ponta dos pés pela cozinha e surpreende Rosa, agarrando-a por trás, que tenta gritar, mas não consegue.
BRASIL ― Vosmecê se der um pio morre aqui mesmo.
O coronel trata logo de enfiar a mão embaixo da saia de chita da escrava. subindo-a para lhe tomar.
ROSA ― Coroné, aqui não, coroné. Sua muié e suas fia pode ouvi nóis.
BRASIL ― Calada escrava insolente. Minha mulher e minhas filhas foram para a missa daquele paspalho do Leopoldo.
ROSA ― Mas, sinhô...
Brasil volta a tapar a boca da escrava, até que, de repente, a pequena Ana aparece a soleira da porta e arregala os olhos. Brasil olha para trás e percebe a presença da filha, se assusta e se afasta correndo da escrava.
ROSA ― Ai, graças a Deus menina Ana...
A escrava vai encontro da pequena e a abraça.
Corta.
CENA 6 - CASA DOS CAIADO. EXTERIOR. DIA.
Brasil caminha sem rumo por entre o enorme pomar que se formava diante da casa, chutando os cascalhos e preocupado com o futuro.
BRASIL ― Diacho! Tudo tá dando errado! Que inferno! Não imaginei que a praga do Leopoldo tinha conseguido.
O escravo Sebastião passa próximo ao coronel, que vai ao seu encalço, passando o braço pelo pescoço do homem e apontando-lhe uma pistola contra a cabeça.
SEBASTIÃO ― Quê isso, coroner! Quê que eu fiço? Eu tava voltando da lavôra, ino pra senzala, uai. Fiz nada não.
BRASIL ― Eu tô com ódio, sabia, preto? Preciso me distrair um pouco. Vosmecê sabe me dizer se o tal Benedito já começou a construir a capela?
O negro começa a tremer, com os olhos arregalados.
SEBASTIÃO ― E o sinhô escoieu justo eu pra mó de si distraí, coroner? Ara! Eu devo di tê muita sorte memo. Não sinhô. Não sei não sinhô.
BRASIL ― Minha paciência tá curta! Vai me dizer a verdade ou eu vou ter que arrancar dessa sua língua?
Brasil destrava a arma, pronto para atirar e a câmera focaliza a calça de Sebastião ficando toda molhada de urina.
BRASIL ― Mas é um frouxo, mesmo, hein? Já se mijou todo...
O coronel solta o escravo e começa a rir.
BRASIL ― É por ser tão frouxo assim que a Rosa não quer nada com vosmecê, escravo. Tem que ser macho de verdade pra domar aquela potranca.
Sebastião fica parado, com medo, as pernas tremendo e os dentes rangendo de ódio.
BRASIL ― Vamos, anda, some daqui preto. Antes que eu realmente mude de ideia e atiro em vosmecê.
O escravo não se mexe, e o coronel dá um tiro pro alto, fazendo Sebastião correr em direção a senzala.
Close no sorriso de maldade do coronel. Corta.
CENA 7 - CATEDRAL. INTERIOR. DIA.
Ao final da missa do coronel Leopoldo, todos saem.
JOSÉ JOAQUIM ― Viu só como a filha do coronel Brasil olhou pra vosmecê, meu amigo?
FÉLIX ― Eu quero é distância dessa gente, Joaquim.
JOSÉ JOAQUIM ― Mas ela não tem culpa do pai que tem. E, além do mais, ela é muito bonita.
FÉLIX ― De fato, meu amigo, de fato. Mas não é pro meu bico.
JOSÉ JOAQUIM ― Então quer dizer que vosmecê também gostou dela?
FÉLIX ― Claro. E como não haveria de gostar? Inclusive fui extremamente mal educado com ela. Preciso me desculpar.
JOSÉ JOAQUIM ― Então vá lá. Aproveite e diga que vai visitá-la.
FÉLIX ― Visitá-la? Vosmecê enlouqueceu? Não coloco os pés naquela casa. Se puser, saio assim como meu pai.
JOSÉ JOAQUIM ― Ora, meu amigo, vosmecê é um homem ou um saco de batatas?
FÉLIX ― Não se trata disso, amigo Joaquim.
JOSÉ JOAQUIM ― Trata-se sim! Vá lá e peça desculpas à moça.
Corta.
CENA 8 - CATEDRAL. EXTERIOR. DIA.
Félix segue o conselho do amigo e se aproxima de Maria Teresa, que conversava com Emília e as irmãs Amorim.
FÉLIX ― Senhorita, com licença. Perdoe-me a forma como lhe tratei mais cedo. Espero que entenda que perdi meu pai.
MARIA TERESA ― Perfeitamente que sim, senhor Bulhões. Mas, devo lhe dizer que foi extremamente deselegante.
FÉLIX ― E estou disposto a reparar o meu erro se a senhorita me permitir.
MARIA TERESA ― E como o faria, o senhor?
FÉLIX ― Se aceitar me receber em vossa casa, para uma visita cordial, posso me redimir com vosmecê.
MARIA TERESA ― Vou ver com minha mãe e lhe escrevo.
FÉLIX ― Entregue a correspondência à menina Emília. Como sabe, ela é irmã de meu amigo e funcionário Joaquim. Ele fará o bilhete com sua resposta chegar até mim.
MARIA TERESA ― Certamente que sim, senhor Bulhões, certamente que sim.
FÉLIX ― Não podemos nos tratar pelo primeiro nome, senhorita?
MARIA TERESA ― Suponho que não, senhor. Se me permite minha mãe me aguarda. Com licença.
Maria Teresa se afasta após cumprimentar as outras senhoras e sai.
CENA 9 - CATEDRAL. EXTERIOR. DIA.
TEREZINHA ― O que queria o filho do finado com vosmecê, minha filha?
MARIA TERESA ― Queria desculpar-se pela grosseria de outrora.
TEREZINHA ― E vosmecê aceitou as desculpas do moço?
MARIA TERESA ― Fiquei de pensar.
TEREZINHA ― Como assim, minha filha?
MARIA TERESA ― Ele se ofereceu para fazer-me uma visita. Disse que iria falar com a senhora.
TEREZINHA ― Impossível! Vosso pai jamais permitira tamanho disparate.
MARIA TERESA ― Ele não precisa saber, mamãe.
As duas sobem na carruagem e partem de volta para casa. Corta.
CENA 10 - CATEDRAL. EXTERIOR. DIA.
DARCY ― Vosmecê viu? O filho do coronel Leopoldo dando em cima da filha do coronel Brasil?
DARLI ― Se o pai dessa moça descobre...
DARCY ― E ainda fez questão de colocar a santinha da Emília no meio.
DARLI ― Se o pai dessa menina descobre...
DARCY ― Vosmecê só sabe falar isso?
DARLI ― Abusado esse rapaz, não é?
DARCY ― E eu pensei que a menina Maria Teresa fosse menos oferecida. Vosmecê viu? Ela deu prosa para aquele desavergonhado.
DARLI ― Vai conquistar a jovem e deixa-la a ver navios. Conheço esse tipo de homem.
FREI SIMÃO ― Deve ser porque a senhora conhece essa história na pele, não é dona Darli?
DARLI ― Ai, frei, que susto! O senhor parece uma assombração, eu hein.
As duas fazem o sinal da cruz e se afastam do frei.
FREI SIMÃO ― Essas mexeriqueiras... Não sei como Frei Nazareno as suporta.
Corta.
CENA 11 - ALGUM LUGAR DA ESTRADA REAL. EXTERIOR. FIM DO DIA.
Uma bela carruagem está a passar pelo caminho e há outra parada, com um escravo arrumando a roda. A câmera gera e começa a subir pelo corpo do senhor sentado dentro da carruagem em movimento até mostrar o rosto de José Leopoldo Bulhões, filho mais velho do falecido coronel Leopoldo.
JOSÉ LEOPOLDO ― Precisa de ajuda, senhor?
O escravo, sem entender o ocorrido, olha assustado para o seu senhor que estava dentro da outra carruagem. A câmera passa até focalizar o rosto de Tarquínio, filho mais velho do coronel Brasil.
TARQUINIO ― Não, cavalheiro. Tivemos um contratempo, mas está tudo bem.
JOSÉ LEOPOLDO ― De onde vem o senhor com toda essa bagagem?
TARQUINIO ― Venho da corte. Ou melhor, de Coimbra.
JOSÉ LEOPOLDO ― E está a caminho de Vila Boa?
TARQUINIO ― Exato. Posso saber o nome do simpático amigo? De onde vens?
JOSÉ LEOPOLDO ― Me chamo José Leopoldo Bulhões, venho da corte. Também estou a caminho de Vila Boa E vosmecê, como se chama?
TARQUINIO ― Me chamo Tarquinio Caiado, senhor. Satisfação em conhecê-lo.
José Leopoldo abre um sorriso que é retribuído por Tarquínio.
Corta.
FIM DO CAPÍTULO
Autor(a): leocupertino
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
CENA 1 - ALGUM LUGAR DA ESTRADA REAL. EXTERIOR. FIM DO DIA. JOSÉ LEOPOLDO ― Não me diga que o senhor é filho do coronel Brasil Caiado? TARQUINIO ― Sim, sou sim. E o senhor, quem é? JOSÉ LEOPOLDO ― Não se lembra de mim? Pois deve se lembrar de meu pai, o coronel Leopoldo Bulhões. TARQUINIO ― Lembro-m ...
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