Fanfics Brasil - Capítulo 5 Serra Dourada

Fanfic: Serra Dourada | Tema: WebNovela de Época


Capítulo: Capítulo 5

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CENA 1 - ALGUM LUGAR DA ESTRADA REAL. EXTERIOR. FIM DO DIA.


JOSÉ LEOPOLDO ― Não me diga que o senhor é filho do coronel Brasil Caiado?


TARQUINIO ― Sim, sou sim. E o senhor, quem é?


JOSÉ LEOPOLDO ― Não se lembra de mim? Pois deve se lembrar de meu pai, o coronel Leopoldo Bulhões.


TARQUINIO ― Lembro-me vagamente. O amigo me desculpe, mas é que fui para fora estudar muito cedo. Passei praticamente a minha toda fora daqui, para desespero de minha mãe.


JOSÉ LEOPOLDO ― E por que o amigo ficou tanto tempo longe de sua terra natal?


TARQUINIO ― Tenho alguns desentendimentos ideológicos. Meu pai é um escravocrata e eu, um abolicionista convicto.


JOSÉ LEOPOLDO ― Ora, então trago-lhe boas novas! Sabia que há uma enorme pressão dos ingleses na corte para que o imperador assine uma lei que dê liberdade aos escravos?


TARQUINIO ― Seria um grande salto para o nosso país, o amigo não acha?


JOSÉ LEOPOLDO ― Sem dúvidas! O projeto já está no Congresso. Falta votá-lo e enviá-lo ao imperador.


TARQUINIO ― Pois vamos torcer para que passe!


JOSÉ LEOPOLDO ― É, eu acredito que vá passar. Vamos esperar! Venha, amigo, dou-lhe uma carona até sua casa. Tenho certeza que o amigo não vai se importar.


TARQUINIO ― Josué, por favor, deixe minha bagagem em casa em segurança, sim?


O escravo acena positivamente com a cabeça e o rapaz sobe na carruagem do amigo.


JOSÉ LEOPOLDO ― O que há com o negro que até agora não disse nenhuma palavra?


TARQUINIO ― É mudo desde que eu me entendo por gente.


Os dois continuam conversando. Corta.


CENA 2 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. FIM DO DIA.


Após a carruagem deixar Terezinha e a filha em frente a casa, as duas entram.


ROSA ― Sinhá, sinhá. A menina Ana não está bem.


As duas correm para o quarto da pequena.


Corta.


CENA 3 - CASA DOS JARDIM. INTERIOR. FIM DO DIA.


O jantar já está servido e a família toda está à mesa.


JOSÉ JOAQUIM ― Então, papai, que dia o senhor assume?


EUGÊNIO ― Em dois dias, meu filho. Mas ainda preciso de um secretário de governo.


NATÁLIA ― Coloque nosso filho, oras. Não aguento mais vê-lo como burro de carga do filho do Bulhões.


JOSÉ JOAQUIM ― Não sou burro de carga, mamãe. Gosto do meu trabalho.


EUGÊNIO ― Também acho que já está na hora de você se interessar pelos negócios do seu pai, meu filho.


JOSÉ JOAQUIM ― Pode desistir, papai. Eu não sou político. Gosto do que eu faço.


EUGÊNIO ― Então acho que vou chamar seu amigo para trabalhar comigo. Assim você sobe e vira o dono do jornal.


NATÁLIA ― Eu não chamaria aquilo de jornal, Eugênio. É um periódico mal feito.


EMÍLIA ― Mamãe! Respeite o trabalho do meu irmão. Pelo menos ele já tem o dinheiro dele, não tem? A senhora cobrou independência dele a vida toda.


NATÁLIA ― E essa mal criação? Está aprendendo com quem? Vai se indispor com sua mãe? Esqueceu o quarto mandamento?


Corta.


CENA 4 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. FIM DO DIA.


Dona Terezinha e Maria Teresa se colocam aos pés da cama da pequena Ana, que estava com febre.


TEREZINHA ― Vamos, minha filha! Diga à mamãe o que vosmecê tem!


ANA ― Mamãe... O papai...


TEREZINHA ― O que tem  seu pai, minha filha?


Rosa fica aflita.


ANA ― Eu vi ele, mamãe... Não deixa ele fazer mal a ela...


MARIA TERESA ― Pela virgem! Fazer mal a quem, Aninha?


TEREZINHA ― O que está acontecendo, filha, mamãe está aqui!


ANA ― Ele é mau... Não deixa mamãe... Não deixa ele pegar nela.


Mãe e filha se olham, preocupadas. Rosa, aflita, corre para pegar um pouco de água.


CENA 5 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. FIM DO DIA.


No caminho para cozinha, o coronel Brasil reaparece, interceptando Rosa.


BRASIL ― O que houve com minha filha?


ROSA ― Ela tá febril, sinhô.


BRASIL ― Disse alguma coisa a minha mulher?


ROSA ― Não sinhô.


Brasil segura com força o pulso de Rosa. Olhando-a nos olhos com uma expressão cruel.


BRASIL ― Se chegar até os meus ouvidos alguma queixa a vosso respeito, escrava, eu juro que lhe ponho no tronco. (ele faz uma pausa) Mas eu juro que, antes, te mostro o que é um cabra macho de verdade. (outra pausa) Vou esperar o jantar sentado à mesa.


Ele solta a escrava que, assustada, apenas balança a cabeça em sinal de afirmação.


Corta.


CENA 6 - CARRUAGEM. INTERIOR. FIM DO DIA.


JOSÉ LEOPOLDO ― O amigo se incomoda de, antes, passar em minha casa? É que estou com muitas saudades de todos.


TARQUINIO ― Mas é claro que não. Afinal de contas a carruagem é de vosmecê.


JOSÉ LEOPOLDO ― Aproveito e convido o amigo para o jantar. Tenho certeza que a senhora minha mãe não há de se importar.


TARQUINIO ― Oh, mas a minha sim. Enfim... Não disse quando exatamente ia chegar. Aceito o convite de vosmecê.


A carruagem para diante da casa dos Bulhões. Os dois descem e sobem as escadas, sendo recebidos por Félix. Os irmãos se abraçam.


JOSÉ LEOPOLDO ― Ora, como o meu irmão caçula está grande!


FÉLIX ― E como vosmecê está na beca, hein meu irmão? Não sabia que ia trazer visitas. Em todo caso, seja bem vindo.


JOSÉ LEOPOLDO ― Na verdade foi um acaso. Estava chegando por aqui e a carruagem deste senhor estava quebrada. Nos cumprimentamos e descobrimos que somos filhos daqui, olha que coincidência.


FÉLIX ― Ora, pois, e como chama o amigo de meu irmão?


Tarquinio estende a mão para cumprimentar Félix.


TARQUINIO ― Muito prazer, eu me chamo Tarquinio Caiado.


A expressão de Félix se transforma. Corta.


CENA 7 - CASA DOS JARDIM. INTERIOR. NOITE.


EUGÊNIO ― Ora, Natália, pare de jogar a Bíblia contra a menina!


JOSÉ JOAQUIM ― Ela só fez uma observação. Nada mais.


NATÁLIA ― E agora quem está sendo censurada nesta casa sou eu, não é? Sempre foi assim. Maldita hora em que eu me casei.


EUGÊNIO ― Está insatisfeita, mulher? Pois faça suas malas e saia de cssa.


NATÁLIA ― O senhor meu marido acha mesmo que eu vou fazer isso? (ela olha bem no fundo dos olhos de Eugênio) Pois saiba que o seu castigo vai ser ter que viver ao meu lado até os últimos dias de vossas vidas.


EUGÊNIO ― Pois eu espero que Deus a leve primeiro, mas ora, que tolice a minha. Vasos ruins não costumam se quebrar com facilidade.


JOSÉ JOAQUIM ― Chega! Hoje já foi um dia triste demais. Parem de brigar!


NATÁLIA ― E tudo isso por causa de quem?


A mãe joga um olhar incriminador para Emília que levanta da mesa correndo, chorando.


Corta.


CENA 8 – CASA DOS BULHÕES. INTERIOR. NOITE.


FÉLIX ― Como é? Como é mesmo o nome de vosmecê?


TARQUINIO ―  Tarquinio Caiado, senhor. Por que?


JOSÉ LEOPOLDO ― Algum problema com o meu amigo, irmão?


FÉLIX ― Você sabia que foi o maldito pai desse seu amigo que assassinou o nosso pai?


Os dois fazem uma expressão de susto.


JOSÉ LEOPOLDO ― Como é? Eu... Eu não posso acreditar que o nosso pai está...


FÉLIX ― Morto? Sim. Infelizmente sim. Mamãe não sai mais daquele quarto e eu estou tendo que me virar aqui para dar conta das coisas. Por que você acha que lhe chamei, meu irmão?


TARQUINIO ― Eu... Eu sinto muito. Eu estou chegando de viagem e não sabia do que aconteceu, mas, em todo caso...


FÉLIX ― O senhor pode não ter culpa, mesmo, mas o vosso pai com certeza tem.


JOSÉ LEOPOLDO ― O amigo vai me desculpar, mas depois dessa notícia... Sinto que não poderei levá-lo até a vossa casa.


TARQUINIO ― Ora, não se preocupe, eu vou a pé. Não fica muito longe daqui, afinal.


FÉLIX ― De fato não fica. Após a Catedral, subindo pelo largo do Rosário. Não tem erro.


JOSÉ LEOPOLDO ― O amigo me desculpe, sinceram-


TARQUINIO ― Não há o que se desculpar. Sinto muito pelo vosso pai. Obrigado pela carona, passar bem senhores.


Tarquinio vira as costas, desce as escadas e sai pela cidade. Os irmãos entram. Corta.


CENA 9 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.


Sozinho na sala de jantar, o coronel Brasil pensa.


BRASIL (off) ― Preciso dar um jeito de recuperar o ouro que aquele negro me roubou. Amanhã bem cedo vou falar com dom Abel para ele proibir essa desfaçatez. E agora a doença dessa menina... Eu espero que ela não dê com a língua nos dentes. Também preciso resolver a questão do governo de Eugênio. Aquele calhorda vai atrapalhar a minha vida.


O coronel coloca as mãos no rosto, até que uma ideia lhe vem a cabeça.


BRASIL (off) ― Ora, é isso! Ele tem uma filha. Tarquinio está para chegar. Vou indicá-lo como assessor de governo de Eugênio e casá-lo com a menina. Aproveito e sepulto os boatos a respeito de Tarquinio. Este problema está resolvido. Depois de falar com dom Abel mando Eugênio, como presidente da província, cancelar a carta de alforria daquele preto.


Corta.


CENA 10 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.


ANA ― O papai... O papai é mau...


MARIA TERESA ― Mas, por que vosmecê está a dizer isso, minha irmã?


ANA ― O papai não gosta de mim. Não gosta.


TEREZINHA ― Ora, meu anjo, isso não é verdade! O papai ama você.


ANA ― O papai... o papai...


TEREZINHA ― Minha virgem santíssima. Vou ter que chamar um médico para minha filha.


Rosa chega com a água, molha um pano e entrega para Terezinha colocar sobre a testa da menina quando uma voz vem lá de fora.


TARQUINIO ― Mãe? Ô mãe? Mãe?


Dona Terezinha se sobressalta.


TEREZINHA ― Não pode ser, será que...


Ela e a filha se levantam e correm para fora. Brasil já está na varanda, sisudo, olhando para o filho recém chegado de viagem.


CENA 11 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.


A mãe e a irmã abraçam Tarquinio com força, em câmera lenta, sob o olhar sério do pai. As duas se emocionam enquanto ele também abre um longo sorriso.


MARIA TERESA ― Finalmente, meu irmão!


TEREZINHA ― Seja bem vindo novamente em vossa casa, meu filho!


Corta.


 


FIM DO CAPÍTULO.



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Autor(a): leocupertino

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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CENA 1 – CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE. Ao entrar junto da mãe e da irmã, Tarquinio apenas faz um respeitoso cumprimento ao pai com a cabeça enquanto vai até a sala de jantar e se senta. Brasil retribui. MARIA TERESA ― Estou tão empolgada! Quero saber tudo da viagem! Dos estudos! BRASIL ― Concluídos, espero eu ...


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