Fanfic: Serra Dourada | Tema: WebNovela de Época
CENA 1 - ALGUM LUGAR DA ESTRADA REAL. EXTERIOR. FIM DO DIA.
JOSÉ LEOPOLDO ― Não me diga que o senhor é filho do coronel Brasil Caiado?
TARQUINIO ― Sim, sou sim. E o senhor, quem é?
JOSÉ LEOPOLDO ― Não se lembra de mim? Pois deve se lembrar de meu pai, o coronel Leopoldo Bulhões.
TARQUINIO ― Lembro-me vagamente. O amigo me desculpe, mas é que fui para fora estudar muito cedo. Passei praticamente a minha toda fora daqui, para desespero de minha mãe.
JOSÉ LEOPOLDO ― E por que o amigo ficou tanto tempo longe de sua terra natal?
TARQUINIO ― Tenho alguns desentendimentos ideológicos. Meu pai é um escravocrata e eu, um abolicionista convicto.
JOSÉ LEOPOLDO ― Ora, então trago-lhe boas novas! Sabia que há uma enorme pressão dos ingleses na corte para que o imperador assine uma lei que dê liberdade aos escravos?
TARQUINIO ― Seria um grande salto para o nosso país, o amigo não acha?
JOSÉ LEOPOLDO ― Sem dúvidas! O projeto já está no Congresso. Falta votá-lo e enviá-lo ao imperador.
TARQUINIO ― Pois vamos torcer para que passe!
JOSÉ LEOPOLDO ― É, eu acredito que vá passar. Vamos esperar! Venha, amigo, dou-lhe uma carona até sua casa. Tenho certeza que o amigo não vai se importar.
TARQUINIO ― Josué, por favor, deixe minha bagagem em casa em segurança, sim?
O escravo acena positivamente com a cabeça e o rapaz sobe na carruagem do amigo.
JOSÉ LEOPOLDO ― O que há com o negro que até agora não disse nenhuma palavra?
TARQUINIO ― É mudo desde que eu me entendo por gente.
Os dois continuam conversando. Corta.
CENA 2 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. FIM DO DIA.
Após a carruagem deixar Terezinha e a filha em frente a casa, as duas entram.
ROSA ― Sinhá, sinhá. A menina Ana não está bem.
As duas correm para o quarto da pequena.
Corta.
CENA 3 - CASA DOS JARDIM. INTERIOR. FIM DO DIA.
O jantar já está servido e a família toda está à mesa.
JOSÉ JOAQUIM ― Então, papai, que dia o senhor assume?
EUGÊNIO ― Em dois dias, meu filho. Mas ainda preciso de um secretário de governo.
NATÁLIA ― Coloque nosso filho, oras. Não aguento mais vê-lo como burro de carga do filho do Bulhões.
JOSÉ JOAQUIM ― Não sou burro de carga, mamãe. Gosto do meu trabalho.
EUGÊNIO ― Também acho que já está na hora de você se interessar pelos negócios do seu pai, meu filho.
JOSÉ JOAQUIM ― Pode desistir, papai. Eu não sou político. Gosto do que eu faço.
EUGÊNIO ― Então acho que vou chamar seu amigo para trabalhar comigo. Assim você sobe e vira o dono do jornal.
NATÁLIA ― Eu não chamaria aquilo de jornal, Eugênio. É um periódico mal feito.
EMÍLIA ― Mamãe! Respeite o trabalho do meu irmão. Pelo menos ele já tem o dinheiro dele, não tem? A senhora cobrou independência dele a vida toda.
NATÁLIA ― E essa mal criação? Está aprendendo com quem? Vai se indispor com sua mãe? Esqueceu o quarto mandamento?
Corta.
CENA 4 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. FIM DO DIA.
Dona Terezinha e Maria Teresa se colocam aos pés da cama da pequena Ana, que estava com febre.
TEREZINHA ― Vamos, minha filha! Diga à mamãe o que vosmecê tem!
ANA ― Mamãe... O papai...
TEREZINHA ― O que tem seu pai, minha filha?
Rosa fica aflita.
ANA ― Eu vi ele, mamãe... Não deixa ele fazer mal a ela...
MARIA TERESA ― Pela virgem! Fazer mal a quem, Aninha?
TEREZINHA ― O que está acontecendo, filha, mamãe está aqui!
ANA ― Ele é mau... Não deixa mamãe... Não deixa ele pegar nela.
Mãe e filha se olham, preocupadas. Rosa, aflita, corre para pegar um pouco de água.
CENA 5 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. FIM DO DIA.
No caminho para cozinha, o coronel Brasil reaparece, interceptando Rosa.
BRASIL ― O que houve com minha filha?
ROSA ― Ela tá febril, sinhô.
BRASIL ― Disse alguma coisa a minha mulher?
ROSA ― Não sinhô.
Brasil segura com força o pulso de Rosa. Olhando-a nos olhos com uma expressão cruel.
BRASIL ― Se chegar até os meus ouvidos alguma queixa a vosso respeito, escrava, eu juro que lhe ponho no tronco. (ele faz uma pausa) Mas eu juro que, antes, te mostro o que é um cabra macho de verdade. (outra pausa) Vou esperar o jantar sentado à mesa.
Ele solta a escrava que, assustada, apenas balança a cabeça em sinal de afirmação.
Corta.
CENA 6 - CARRUAGEM. INTERIOR. FIM DO DIA.
JOSÉ LEOPOLDO ― O amigo se incomoda de, antes, passar em minha casa? É que estou com muitas saudades de todos.
TARQUINIO ― Mas é claro que não. Afinal de contas a carruagem é de vosmecê.
JOSÉ LEOPOLDO ― Aproveito e convido o amigo para o jantar. Tenho certeza que a senhora minha mãe não há de se importar.
TARQUINIO ― Oh, mas a minha sim. Enfim... Não disse quando exatamente ia chegar. Aceito o convite de vosmecê.
A carruagem para diante da casa dos Bulhões. Os dois descem e sobem as escadas, sendo recebidos por Félix. Os irmãos se abraçam.
JOSÉ LEOPOLDO ― Ora, como o meu irmão caçula está grande!
FÉLIX ― E como vosmecê está na beca, hein meu irmão? Não sabia que ia trazer visitas. Em todo caso, seja bem vindo.
JOSÉ LEOPOLDO ― Na verdade foi um acaso. Estava chegando por aqui e a carruagem deste senhor estava quebrada. Nos cumprimentamos e descobrimos que somos filhos daqui, olha que coincidência.
FÉLIX ― Ora, pois, e como chama o amigo de meu irmão?
Tarquinio estende a mão para cumprimentar Félix.
TARQUINIO ― Muito prazer, eu me chamo Tarquinio Caiado.
A expressão de Félix se transforma. Corta.
CENA 7 - CASA DOS JARDIM. INTERIOR. NOITE.
EUGÊNIO ― Ora, Natália, pare de jogar a Bíblia contra a menina!
JOSÉ JOAQUIM ― Ela só fez uma observação. Nada mais.
NATÁLIA ― E agora quem está sendo censurada nesta casa sou eu, não é? Sempre foi assim. Maldita hora em que eu me casei.
EUGÊNIO ― Está insatisfeita, mulher? Pois faça suas malas e saia de cssa.
NATÁLIA ― O senhor meu marido acha mesmo que eu vou fazer isso? (ela olha bem no fundo dos olhos de Eugênio) Pois saiba que o seu castigo vai ser ter que viver ao meu lado até os últimos dias de vossas vidas.
EUGÊNIO ― Pois eu espero que Deus a leve primeiro, mas ora, que tolice a minha. Vasos ruins não costumam se quebrar com facilidade.
JOSÉ JOAQUIM ― Chega! Hoje já foi um dia triste demais. Parem de brigar!
NATÁLIA ― E tudo isso por causa de quem?
A mãe joga um olhar incriminador para Emília que levanta da mesa correndo, chorando.
Corta.
CENA 8 – CASA DOS BULHÕES. INTERIOR. NOITE.
FÉLIX ― Como é? Como é mesmo o nome de vosmecê?
TARQUINIO ― Tarquinio Caiado, senhor. Por que?
JOSÉ LEOPOLDO ― Algum problema com o meu amigo, irmão?
FÉLIX ― Você sabia que foi o maldito pai desse seu amigo que assassinou o nosso pai?
Os dois fazem uma expressão de susto.
JOSÉ LEOPOLDO ― Como é? Eu... Eu não posso acreditar que o nosso pai está...
FÉLIX ― Morto? Sim. Infelizmente sim. Mamãe não sai mais daquele quarto e eu estou tendo que me virar aqui para dar conta das coisas. Por que você acha que lhe chamei, meu irmão?
TARQUINIO ― Eu... Eu sinto muito. Eu estou chegando de viagem e não sabia do que aconteceu, mas, em todo caso...
FÉLIX ― O senhor pode não ter culpa, mesmo, mas o vosso pai com certeza tem.
JOSÉ LEOPOLDO ― O amigo vai me desculpar, mas depois dessa notícia... Sinto que não poderei levá-lo até a vossa casa.
TARQUINIO ― Ora, não se preocupe, eu vou a pé. Não fica muito longe daqui, afinal.
FÉLIX ― De fato não fica. Após a Catedral, subindo pelo largo do Rosário. Não tem erro.
JOSÉ LEOPOLDO ― O amigo me desculpe, sinceram-
TARQUINIO ― Não há o que se desculpar. Sinto muito pelo vosso pai. Obrigado pela carona, passar bem senhores.
Tarquinio vira as costas, desce as escadas e sai pela cidade. Os irmãos entram. Corta.
CENA 9 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.
Sozinho na sala de jantar, o coronel Brasil pensa.
BRASIL (off) ― Preciso dar um jeito de recuperar o ouro que aquele negro me roubou. Amanhã bem cedo vou falar com dom Abel para ele proibir essa desfaçatez. E agora a doença dessa menina... Eu espero que ela não dê com a língua nos dentes. Também preciso resolver a questão do governo de Eugênio. Aquele calhorda vai atrapalhar a minha vida.
O coronel coloca as mãos no rosto, até que uma ideia lhe vem a cabeça.
BRASIL (off) ― Ora, é isso! Ele tem uma filha. Tarquinio está para chegar. Vou indicá-lo como assessor de governo de Eugênio e casá-lo com a menina. Aproveito e sepulto os boatos a respeito de Tarquinio. Este problema está resolvido. Depois de falar com dom Abel mando Eugênio, como presidente da província, cancelar a carta de alforria daquele preto.
Corta.
CENA 10 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.
ANA ― O papai... O papai é mau...
MARIA TERESA ― Mas, por que vosmecê está a dizer isso, minha irmã?
ANA ― O papai não gosta de mim. Não gosta.
TEREZINHA ― Ora, meu anjo, isso não é verdade! O papai ama você.
ANA ― O papai... o papai...
TEREZINHA ― Minha virgem santíssima. Vou ter que chamar um médico para minha filha.
Rosa chega com a água, molha um pano e entrega para Terezinha colocar sobre a testa da menina quando uma voz vem lá de fora.
TARQUINIO ― Mãe? Ô mãe? Mãe?
Dona Terezinha se sobressalta.
TEREZINHA ― Não pode ser, será que...
Ela e a filha se levantam e correm para fora. Brasil já está na varanda, sisudo, olhando para o filho recém chegado de viagem.
CENA 11 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.
A mãe e a irmã abraçam Tarquinio com força, em câmera lenta, sob o olhar sério do pai. As duas se emocionam enquanto ele também abre um longo sorriso.
MARIA TERESA ― Finalmente, meu irmão!
TEREZINHA ― Seja bem vindo novamente em vossa casa, meu filho!
Corta.
FIM DO CAPÍTULO.
Autor(a): leocupertino
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
CENA 1 – CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE. Ao entrar junto da mãe e da irmã, Tarquinio apenas faz um respeitoso cumprimento ao pai com a cabeça enquanto vai até a sala de jantar e se senta. Brasil retribui. MARIA TERESA ― Estou tão empolgada! Quero saber tudo da viagem! Dos estudos! BRASIL ― Concluídos, espero eu ...
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