Fanfic: Serra Dourada | Tema: WebNovela de Época
CENA 1 – CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.
Ao entrar junto da mãe e da irmã, Tarquinio apenas faz um respeitoso cumprimento ao pai com a cabeça enquanto vai até a sala de jantar e se senta. Brasil retribui.
MARIA TERESA ― Estou tão empolgada! Quero saber tudo da viagem! Dos estudos!
BRASIL ― Concluídos, espero eu.
TEREZINHA ― Não sabia que ia chegar por agora. Estávamos esperando vosmecê amanhã, ainda! (grita) Rosa! Põe mais água no feijão que meu filho chegou!
TARQUINIO ― Não vou lhes mentir, tenho fome.
MARIA TERESA ― Ora, então eu mesma vou à cozinha ajudar a Rosa a agilizar esse cozido. Posso, papai?
BRASIL ― Vá, minha filha, vá.
A jovem corre, empolgada, até a cozinha.
TARQUINIO ― Vejo que as coisas não mudaram muito por aqui.
TEREZINHA ― Ah, mudaram sim. Esses últimos dias foram bastante atípicos.
Corta.
CENA 2 - CASA DOS BULHÕES. INTERIOR. NOITE.
À mesa, apenas Félix e José Leopoldo que, a esta altura, já estava com os olhos vermelhos de tanto chorar.
JOSÉ LEOPOLDO ― Se eu soubesse que o telegrama que recebi na corte era por esse motivo eu já teria vindo antes ver vosmecês.
FÉLIX ― E o que vosmecê poderia fazer, mano? Não ia conseguir trazer o nosso pai de volta.
JOSÉ LEOPOLDO ― E a mamãe? Será que vai ficar feliz em me ver?
FÉLIX ― Sim. Amanhã, certamente sim. Não quero levá-lo até lá. Deixe-a dormir, sim?
JOSÉ LEOPOLDO ― Coitada de nossa mãe...
Neste momento, uma surpresa, dona Antonieta ressurge toda de preto, altiva como nunca, mas bastante séria.
ANTONIETA ― É assim que um filho trata uma mãe viúva? (abre os braços) Venha cá, dê um abraço na sua velha mãe.
José Leopoldo corre ao encontro da mãe, que o abraça forte. O rapaz começa a chorar. Emocionado, o irmão Félix também chora.
ANTONIETA ― Ora, vamos, vamos. Parem de choramingar! Eu não tenho nenhuma filha mulher para ficar desse jeito. Nós somos os Bulhões! Somos fortes por natureza!
FÉLIX ― Mamãe, não se faça de forte. Vá descansar.
ANTONIETA ― Já descansei demais, meu filho. Também já chorei demais. Agora é a hora de irmos à luta.
Corta.
CENA 3 - CASA DAS AMORIM. INTERIOR. NOITE.
As beatas estavam a tricotar.
DARCY ― Muito triste a morte do coronel Leopoldo, não é?
DARLI ― Ô, se é.
DARCY ― Vosmecê já está sabendo da última?
DARLI ― Qual?
DARCY ― O filho mais velho dele chegou na cidade. E veio acompanhado de outro moço.
DARLI ― Colega de corte?
DARCY ― Não. É daqui mesmo. Nascido e criado.
DARLI ― Ora, irmã, e quem é?
DARCY ― O Tarquinio Caiado.
DARLI ― O homem-dama?!?!?!
DARCY ― Se ele é homem-dama, eu não sei.
DARLI ― É o que todo mundo diz e vosmecê sabe. Dizem que o coronel Brasil mandou ele estudar no estrangeiro foi de desgosto.
DARCY ― Ou de vergonha. E será que o filho do coronel Leopoldo também é homem-dama?
DARLI ― Isso eu não sei, mas se vieram juntos, né. Alguma coisa devem ter...
DARCY ― Que horror. Por isso Deus castiga tanto a família desses dois.
DARLI ― Enquanto isso a pobre coitada da Emília sonhando em ser freira, tadinha. É um anjo aquela menina...
Corta.
CENA 4 – CIDADE DE GOYAZ. EXTERIOR. NOITE.
No meio da noite, o escravo Benedito Rodrigues caminha sozinho até o lugar onde, futuramente, seria erguida a igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Benedito finca uma grande estaca no local, caminha alguns passos e depois coloca outra estaca, depois outra, até formar uma espécie de retângulo que delimitava a área de construção.
Em seguida, o negro montou ali no meio uma espécie de acampamento, comendo com as mãos alguma mistura de farinha e carne.
Corta.
CENA 5 - CATEDRAL. INTERIOR. NOITE.
Frei Simão vai até os aposentos de Dom Abel.
DOM ABEL ― O que queres aqui a esta hora, homem de Deus?
FREI SIMÃO ― É que o coronel Brasil quer lhe falar, eminência.
DOM ABEL ― Agora? Não vá me dizer que mais alguém morreu. Chega de cortejos fúnebres nesta cidade.
FREI SIMÃO ― Não é sobre isso, eminência. Ele parece querer lhe falar a respeito de um escravo. Um tal Benedito...
DOM ABEL ― Eu sabia! Eu sabia que essa história estava mal contada. Pois amanhã, após a reza, irei recebê-lo. Quando o coronel chegar amanhã encaminhe-o até a minha sala de audiências, sim?
FREI SIMÃO ― Sim senhor, eminência. Tenha bons sonhos. Boa noite.
DOM ABEL ― Durma com Deus, Simão.
Corta.
CENA 6 - CASA DOS JARDIM. INTERIOR. NOITE.
Eugênio e o filho estão na porta do quarto de Emília, tentando consolá-la.
JOSÉ JOAQUIM ― Emília, minha irmã, pelo amor de Deus, abra essa porta.
EUGÊNIO ― Filha, vosmecê precisa se alimentar.
EMÍLIA ― Não abro! Eu sou a desgraça dessa família! Eu deveria ter nascido homem.
EUGÊNIO ― Pare de acreditar em tudo o que vossa mãe fala, minha querida, por favor. Todos nós te amamos muito.
JOSÉ JOAQUIM ― Até parece que vosmecê não conhece a mamãe, não é Emília? Faz de tudo para deixar algum de nós para baixo. E hoje a escolhida, infelizmente, foi vosmecê.
EMÍLIA ― Mamãe me odeia. (a menina dispara a chorar) Ela odeia que eu tenha nascido.
EUGÊNIO ― Não é verdade, meu anjinho! Pare com isso!
Natália se aproxima dos dois.
NATÁLIA ― Deixem ela aí. Ela é teimosa. Sempre foi... Aliás, vosmecês também são. Não se preocupem que frei Nazareno já está a preparando para o convento.
JOSÉ JOAQUIM ― Vai deixá-la ir para um convento, papai?
NATÁLIA ― Ele não tem que deixar. Filha mulher quando nasce vai para o convento.
EUGÊNIO ― E por que vosmecê não foi, hein Natáia? Por que você não foi? Lá não aceitavam demônios?
Eugênio sai, resmungando, e o filho vai atrás. Natália balança a cabeça negativamente e volta para a cozinha enquanto Emília continua a chorar no quarto.
EUGÊNIO ― Eu sei por que ela não foi (gritando) Não foi porque eu tenho muitos pecados a pagar. Por isso me casei com essa cobra.
Corta.
CENA 7 - CASA DOS BULHÕES. INTERIOR. NOITE.
FÉLIX ― Irmos à luta? Contra quem, mamãe, posso saber?
ANTONIETA ― Contra aqueles que arrancaram a vida de vosso pai, meu filho.
FÉLIX ― Contra o coronel Brasil, a senhora quer dizer?
ANTONIETA ― Sim. Exatamente.
FÉLIX ― Vou pegar minha arma.
JOSÉ LEOPOLDO ― O que? Vosmecê enlouqueceu?
FÉLIX ― E de que jeito meu irmão acha que devemos vingar a morte de nosso pai?
ANTONIETA ― E quem aqui falou em vingança?
FÉLIX ― E do que estamos a falar?
JOSÉ LEOPOLDO ― De justiça, ora essa.
ANTONIETA ― Se aquietem e comam, meus filhos. Eu tenho um plano que vai matar o coronel Brasil de raiva pouco a pouco.
Corta.
CENA 8 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.
BRASIL ― Pensei que fosse voltar casado e com um remelento no colo.
TEREZINHA ― Brasil, não comece.
BRASIL ― Vosmecê não quer um neto, Tereza?
TEREZINHA ― Nossos filhos hão de nos dar netos. Mas ainda é cedo.
BRASIL ― Pois pra mim já passou da hora. Um homem tem que embuchar uma mulher logo depois de concluir os estudos.
TARQUINIO ― Pap--
BRASIL ― Eu vou refrescar a sua memória... Há alguns anos atrás eu proibi vosmecê de me chamar de pai. Só não lhe matei ou aleijei por causa de sua mãe. Lembra-se disso?
TEREZINHA ― Pelo amor de Deus, Brasil! Nosso filho acabou de chegar!
TARQUINIO ― Lembro, coronel. O senhor não precisa repetir.
BRASIL ― Acho bom. E agora vamos comer em paz que depois deste jantar eu quero ter uma conversa de homem pra homem com vosmecê... Se é que isso é possível.
TARQUINIO ― Assim o coronel me falta com o respeito.
O coronel bate com os talheres na mesa.
BRASIL ― Respeito? Que respeito? Vosmecê não tem moral para pedir respeito nem a mim e nem a ninguém depois do que aconteceu.
TARQUINIO ― Este é um assunto que só a nós interessa, coronel.
BRASIL ― Ah, é? Pois fique a senhora sabendo que não há um ser humano nesta cidade que não saiba da vossa história seu... seu...
TEREZINHA ― Brasil! Pare! Estamos na hora do jantar! Respeite a comida que Jesus põe em nossa mesa!
O coronel respira fundo e Maria Teresa chega com o cozido, ao lado de Rosa que logo corre de volta ao quarto para ficar com a pequena Ana.
Corta.
CENA 9 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.
No quarto, a pequena Ana parece se recuperar.
ANA ― Meu irmão já chegou, Rosa?
ROSA ― Ah, sim sinházinha, vosso irmão já chegô de viage. Veio lá da corte.
ANA ― E como ele é?
A escrava parecia desconcertada.
ROSA ― Ele é... Ele é como todo homi é, uai.
ANA ― Não entendi o que vosmecê quer dizer com isso.
ROSA ― Eu quero dizê é que tá tarde e a sinházinha precisa durmi. Toma logo essa sopa, menina!
Ana dá uma risadinha e toma a sopa.
Corta.
CENA 10 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.
Após o jantar, Tarquinio e o coronel Brasil se reúnem na sala de estar. Um fuma um charuto e o outro apenas toma um café.
TARQUINIO ― Estava com saudades do café destas terras.
BRASIL ― Ora, moleque, deixe de tolice. O café daqui é o mesmo vendido na corte. Talvez até em pior qualidade.
TARQUINIO ― Deve ser por causa do aconchego do lar.
BRASIL ― Vosmecê está fazendo troça de mim?
TARQUINIO ― De maneira alguma, pap-... Coronel!
BRASIL ― Pois muito bem. Chega de conversa mole.
O coronel aprecia o charuto rapidamente e logo volta a falar.
BRASIL ― Tenho um assunto muito sério a tratar com vosmecê.
TARQUINIO ― E o que é?
BRASIL ― Bom... Parece que antes de morrer o calhorda do Leopoldo Bulhões conseguiu a nomeação do frouxo do Eugênio Jardim para presidente da província. Veja que disparate!
Tarquinio parecia não entender o rumo da conversa. O pai prossegue.
BRASIL ― Logo, nós não podemos ficar de fora do governo dele. Quero que vosmecê se aproxime de Eugênio e trabalhe com ele.
TARQUINIO ― Sou um advogado recém formado. Certamente não será problema. Venho da corte, só não tenho experiência política.
BRASIL ― E tem mais uma coisa...
TARQUINIO ― E o que é?
BRASIL ― Eugênio tem uma filha. É uma bela moça. Quero que vosmecê se case com ela.
Tarquínio arregala os olhos, assustado.
Corta.
FIM DO CAPÍTULO
Autor(a): leocupertino
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
CENA 1 - GOYAZ. EXTERIOR. DIA. Passagem de tempo da noite para o dia. O foco é sobre o acampamento improvisado levantado pelo escravo Benedito Rodrigues. CENA 2 - ACAMPAMENTO IMPROVISADO. EXTERIOR. DIA. O cavalo do coronel Brasil se aproxima do acampamento montado pelo escravo que, já de pé, começava a preparar a terra sozinho. BRASIL ― ...
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