Fanfics Brasil - Capítulo 6 Serra Dourada

Fanfic: Serra Dourada | Tema: WebNovela de Época


Capítulo: Capítulo 6

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CENA 1 – CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.


Ao entrar junto da mãe e da irmã, Tarquinio apenas faz um respeitoso cumprimento ao pai com a cabeça enquanto vai até a sala de jantar e se senta. Brasil retribui.


MARIA TERESA ― Estou tão empolgada! Quero saber tudo da viagem! Dos estudos!


BRASIL ― Concluídos, espero eu.


TEREZINHA ― Não sabia que ia chegar por agora. Estávamos esperando vosmecê amanhã, ainda! (grita) Rosa! Põe mais água no feijão que meu filho chegou!


TARQUINIO  ― Não vou lhes mentir, tenho fome.


MARIA TERESA ― Ora, então eu mesma vou à cozinha ajudar a Rosa a agilizar esse cozido. Posso, papai?


BRASIL ― Vá, minha filha, vá.


A jovem corre, empolgada, até a cozinha.


TARQUINIO ― Vejo que as coisas não mudaram muito por aqui.


TEREZINHA ― Ah, mudaram sim. Esses últimos dias foram bastante atípicos.


Corta.


CENA 2 - CASA DOS BULHÕES. INTERIOR. NOITE.


À mesa, apenas Félix e José Leopoldo que, a esta altura, já estava com os olhos vermelhos de tanto chorar.


JOSÉ LEOPOLDO ― Se eu soubesse que o telegrama que recebi na corte era por esse motivo eu já teria vindo antes ver vosmecês.


FÉLIX ― E o que vosmecê poderia fazer, mano? Não ia conseguir trazer o nosso pai de volta.


JOSÉ LEOPOLDO ― E a mamãe? Será que vai ficar feliz em me ver?


FÉLIX ― Sim. Amanhã, certamente sim. Não quero levá-lo até lá. Deixe-a dormir, sim?


JOSÉ LEOPOLDO ― Coitada de nossa mãe...


Neste momento, uma surpresa, dona Antonieta ressurge toda de preto, altiva como nunca, mas bastante séria.


ANTONIETA ― É assim que um filho trata uma mãe viúva? (abre os braços) Venha cá, dê um abraço na sua velha mãe.


José Leopoldo corre ao encontro da mãe, que o abraça forte. O rapaz começa a chorar. Emocionado, o irmão Félix também chora.


ANTONIETA ― Ora, vamos, vamos. Parem de choramingar! Eu não tenho nenhuma filha mulher para ficar desse jeito. Nós somos os Bulhões! Somos fortes por natureza!


FÉLIX ― Mamãe, não se faça de forte. Vá descansar.


ANTONIETA ― Já descansei demais, meu filho. Também já chorei demais. Agora é a hora de irmos à luta.


Corta.


CENA 3 - CASA DAS AMORIM. INTERIOR. NOITE.


As beatas estavam a tricotar.


DARCY ― Muito triste a morte do coronel Leopoldo, não é?


DARLI ― Ô, se é.


DARCY ― Vosmecê já está sabendo da última?


DARLI ― Qual?


DARCY ― O filho mais velho dele chegou na cidade. E veio acompanhado de outro moço.


DARLI ― Colega de corte?


DARCY ― Não. É daqui mesmo. Nascido e criado.


DARLI ― Ora, irmã, e quem é?


DARCY ― O Tarquinio Caiado.


DARLI ― O homem-dama?!?!?!


DARCY ― Se ele é homem-dama, eu não sei.


DARLI ― É o que todo mundo diz e vosmecê sabe. Dizem que o coronel Brasil mandou ele estudar no estrangeiro foi de desgosto.


DARCY ― Ou de vergonha. E será que o filho do coronel Leopoldo também é homem-dama?


DARLI ― Isso eu não sei, mas se vieram juntos, né. Alguma coisa devem ter...


DARCY ― Que horror. Por isso Deus castiga tanto a família desses dois.


DARLI ― Enquanto isso a pobre coitada da Emília sonhando em ser freira, tadinha. É um anjo aquela menina...


Corta.


CENA 4 – CIDADE DE GOYAZ. EXTERIOR. NOITE.


No meio da noite, o escravo Benedito Rodrigues caminha sozinho até o lugar onde, futuramente, seria erguida a igreja de Nossa Senhora do Rosário.


Benedito finca uma grande estaca no local, caminha alguns passos e depois coloca outra estaca, depois outra, até formar uma espécie de retângulo que delimitava a área de construção.


Em seguida, o negro montou ali no meio uma espécie de acampamento, comendo com as mãos alguma mistura de farinha e carne.


Corta.


CENA 5 - CATEDRAL. INTERIOR. NOITE.


Frei Simão vai até os aposentos de Dom Abel.


DOM ABEL ― O que queres aqui a esta hora, homem de Deus?


FREI SIMÃO ― É que o coronel Brasil quer lhe falar, eminência.


DOM ABEL ― Agora? Não vá me dizer que mais alguém morreu. Chega de cortejos fúnebres nesta cidade.


FREI SIMÃO ― Não é sobre isso, eminência. Ele parece querer lhe falar a respeito de um escravo. Um tal Benedito...


DOM ABEL ― Eu sabia! Eu sabia que essa história estava mal contada. Pois amanhã, após a reza, irei recebê-lo. Quando o coronel chegar amanhã encaminhe-o até a minha sala de audiências, sim?


FREI SIMÃO ― Sim senhor, eminência. Tenha bons sonhos. Boa noite.


DOM ABEL ― Durma com Deus, Simão.


Corta.


CENA 6 - CASA DOS JARDIM. INTERIOR. NOITE.


Eugênio e o filho estão na porta do quarto de Emília, tentando consolá-la.


JOSÉ JOAQUIM ― Emília, minha irmã, pelo amor de Deus, abra essa porta.


EUGÊNIO ― Filha, vosmecê precisa se alimentar.


EMÍLIA ― Não abro! Eu sou a desgraça dessa família! Eu deveria ter nascido homem.


EUGÊNIO ― Pare de acreditar em tudo o que vossa mãe fala, minha querida, por favor. Todos nós te amamos muito.


JOSÉ JOAQUIM ― Até parece que vosmecê não conhece a mamãe, não é Emília? Faz de tudo para deixar algum de nós para baixo. E hoje a escolhida, infelizmente, foi vosmecê.


EMÍLIA ― Mamãe me odeia. (a menina dispara a chorar) Ela odeia que eu tenha nascido.


EUGÊNIO ― Não é verdade, meu anjinho! Pare com isso!


Natália se aproxima dos dois.


NATÁLIA ― Deixem ela aí. Ela é teimosa. Sempre foi... Aliás, vosmecês também são. Não se preocupem que frei Nazareno já está a preparando para o convento.


JOSÉ JOAQUIM ― Vai deixá-la ir para um convento, papai?


NATÁLIA ― Ele não tem que deixar. Filha mulher quando nasce vai para o convento.


EUGÊNIO ― E por que vosmecê não foi, hein Natáia? Por que você não foi? Lá não aceitavam demônios?


Eugênio sai, resmungando, e o filho vai atrás. Natália balança a cabeça negativamente e volta para a cozinha enquanto Emília continua a chorar no quarto.


 


EUGÊNIO  ― Eu sei por que ela não foi (gritando) Não foi porque eu tenho muitos pecados a pagar. Por isso me casei com essa cobra.


 


Corta.


CENA 7 - CASA DOS BULHÕES. INTERIOR. NOITE.


FÉLIX ― Irmos à luta? Contra quem, mamãe, posso saber?


ANTONIETA ― Contra aqueles que arrancaram a vida de vosso pai, meu filho.


FÉLIX ― Contra o coronel Brasil, a senhora quer dizer?


ANTONIETA ― Sim. Exatamente.


FÉLIX ― Vou pegar minha arma.


JOSÉ LEOPOLDO ― O que? Vosmecê enlouqueceu?


FÉLIX ― E de que jeito meu irmão acha que devemos vingar a morte de nosso pai?


ANTONIETA ― E quem aqui falou em vingança?


FÉLIX ― E do que estamos a falar?


JOSÉ LEOPOLDO ― De justiça, ora essa.


ANTONIETA ― Se aquietem e comam, meus filhos. Eu tenho um plano que vai matar o coronel Brasil de raiva pouco a pouco.


Corta.


CENA 8 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.


BRASIL ― Pensei que fosse voltar casado e com um remelento no colo.


TEREZINHA ― Brasil, não comece.


BRASIL ― Vosmecê não quer um neto, Tereza?


TEREZINHA ― Nossos filhos hão de nos dar netos. Mas ainda é cedo.


BRASIL ― Pois pra mim já passou da hora. Um homem tem que embuchar uma mulher logo depois de concluir os estudos.


TARQUINIO ― Pap--


BRASIL ― Eu vou refrescar a sua memória... Há alguns anos atrás eu proibi vosmecê de me chamar de pai. Só não lhe matei ou aleijei por causa de sua mãe. Lembra-se disso?


TEREZINHA ― Pelo amor de Deus, Brasil! Nosso filho acabou de chegar!


TARQUINIO ― Lembro, coronel. O senhor não precisa repetir.


BRASIL ― Acho bom. E agora vamos comer em paz que depois deste jantar eu quero ter uma conversa de homem pra homem com vosmecê... Se é que isso é possível.


TARQUINIO ― Assim o coronel me falta com o respeito.


O coronel bate com os talheres na mesa.


BRASIL ― Respeito? Que respeito? Vosmecê não tem moral para pedir respeito nem a mim e nem a ninguém depois do que aconteceu.


TARQUINIO ― Este é um assunto que só a nós interessa, coronel.


BRASIL ― Ah, é? Pois fique a senhora sabendo que não há um ser humano nesta cidade que não saiba da vossa história seu... seu...


TEREZINHA ― Brasil! Pare! Estamos na hora do jantar! Respeite a comida que Jesus põe em nossa mesa!


O coronel respira fundo e Maria Teresa chega com o cozido, ao lado de Rosa que logo corre de volta ao quarto para ficar com a pequena Ana.


Corta.


CENA 9 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.


No quarto, a pequena Ana parece se recuperar.


ANA ― Meu irmão já chegou, Rosa?


ROSA ― Ah, sim sinházinha, vosso irmão já chegô de viage. Veio lá da corte.


ANA ― E como ele é?


A escrava parecia desconcertada.


ROSA ― Ele é... Ele é como todo homi é, uai.


ANA ― Não entendi o que vosmecê quer dizer com isso.


ROSA ― Eu quero dizê é que tá tarde e a sinházinha precisa durmi. Toma logo essa sopa, menina!


Ana dá uma risadinha e toma a sopa.


Corta.


CENA 10 - CASA DOS CAIADO. INTERIOR. NOITE.


Após o jantar, Tarquinio e o coronel Brasil se reúnem na sala de estar. Um fuma um charuto e o outro apenas toma um café.


TARQUINIO ― Estava com saudades do café destas terras.


BRASIL ― Ora, moleque, deixe de tolice. O café daqui é o mesmo vendido na corte. Talvez até em pior qualidade.


TARQUINIO ― Deve ser por causa do aconchego do lar.


BRASIL ― Vosmecê está fazendo troça de mim?


TARQUINIO ― De maneira alguma, pap-... Coronel!


BRASIL ― Pois muito bem. Chega de conversa mole.


O coronel aprecia o charuto rapidamente e logo volta a falar.


BRASIL ― Tenho um assunto muito sério a tratar com vosmecê.


TARQUINIO ― E o que é?


BRASIL ― Bom... Parece que antes de morrer o calhorda do Leopoldo Bulhões conseguiu a nomeação do frouxo do Eugênio Jardim para presidente da província. Veja que disparate!


Tarquinio parecia não entender o rumo da conversa. O pai prossegue.


BRASIL ― Logo, nós não podemos ficar de fora do governo dele. Quero que vosmecê se aproxime de Eugênio e trabalhe com ele.


TARQUINIO ― Sou um advogado recém formado. Certamente não será problema. Venho da corte, só não tenho experiência política.


BRASIL ― E tem mais uma coisa...


TARQUINIO ― E o que é?


BRASIL ― Eugênio tem uma filha. É uma bela moça. Quero que vosmecê se case com ela.


Tarquínio arregala os olhos, assustado.


Corta.


 


FIM DO CAPÍTULO



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Autor(a): leocupertino

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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