Fanfic: Hurts Like Satan | Tema: Vondy
01.
Suddenly the moment`s here, I embrace all my fears.
Ela acordou e encarou os filetes de madeira do teto de seu quarto. Virou-se na cama, sentindo o macio do lençol branco escorregando pelo alvo da curva de sua cintura, fechando os olhos enquanto suspirava. Quando tornou a abri-los, encarou o branco infinito que se mostrava por sua janela sem cortinas; levantou-se sem muita vontade, sentindo a regata preta escorregar até metade de suas coxas caminhou até o divã posto exatamente na altura do batente branco e espalmou as mãos no vidro, encarando o branco devastador que a neve causava naquela temporada em sua cidade.
Naquele bairro sem muitas casas, ela podia acompanhar o infinito branco se perder até além do horizonte, subindo pela floresta de bordos e carvalhos que contornava o leste da cidade que morava.
Quando respirou fundo e virou levemente o pescoço para a porta de sua suíte, escutou uma louça de porcelana cair no chão e a gritaria ter seu início naquele começo de manhã. Seus ouvidos cansados não sabiam mais diferenciar as vozes de seus pais naquela competição de quem falava mais alto, de quem xingava pior, de quem conseguia ser mais desagradável um com o outro.
Ela fechou seus olhos, como sempre, e seguiu para o banheiro, se trancando ali. Encarou a ponta das unhas dos pés pintadas de preto e subiu lentamente os olhos azuis cristalinos até seu reflexo deplorável no espelho.
Havia semanas que ela se encontrava daquela forma, estranhamente desarrumada. Seus cabelos negros sempre tão bonitos, com ondas fartas e grossas, estavam de um opaco tom feio de preto azulado; seus olhos claros como o anil do céu de uma primavera, estavam escuros, sem vida, e as bolsas roxas que se aglomeravam em olheiras profundas deixavam claro suas noites mal dormidas.
Ela levou uma das mãos para o ombro, tocando o gélido tecido de sua regata velha usada como pijama, e empurrou sua alça para baixo, começando a mostrar o início de suas cicatrizes curadas pelo tempo, soando riscos cristalinos sob sua pele pálida.
Ela se recordava perfeitamente daquele próximo de seu ombro, no osso da clavícula. Fora seu primeiro. Sempre que perguntavam, ela dizia ter sido um machucado. Foi quando seu pai saiu de casa pela primeira vez, dizendo que não suportaria mais um segundo ao lado daquela desprezível mulher que era sua mãe. Eles gritaram tanto que os vizinhos acharam melhor chamar a polícia, mas, quando chegaram, era tarde demais. Ele já havia ido, já estava longe.
Dulce estava cansada das dores que os outros causavam nela, sentia raiva de não conseguir controlar seus sentimentos.
Tudo começou quando, sentada na carteira rabiscada da escola pública onde — fingia — estudar, encostou o pulso na ponta da madeira lascada e sentiu uma pontada de dor, seguida pelo ardor delicioso da farpa adentrando por sua pele fina. Uma única gota de sangue caiu dali, tão pequena e invisível que ninguém além dela notou. Mais tarde, quando voltou para casa, testou algo maior. Pegou uma gilete e, nervosa e lentamente, a pressionou sob a clavícula, sentindo a dor aumentar ou diminuir conforme ela desejava. O sangue que escorreu de sua pele caiu no chão, ficando mais claro, reluzindo sob aquele mesmo mármore que hoje ela se via em pé, recordando-se de como seu vício começou.
A partir dali, sempre que se sentia raivosa por não controlar algo, ou aprofundava cortes antigos, ou criava novos. Hoje, se via pares brilhantes em seu pulso esquerdo, outros poucos mais acima no antebraço.
Sempre que saía, Dulce tratava de escondê-los para não escutar perguntas. Podia sair com o pulso à mostra, esfregando-o na cara de seus pais, que eles não notariam.
Ela prendeu os cabelos com pontas secas em um coque apertado no topo de sua cabeça e seguiu para a banheira, abrindo o registro quente, escutando aquele jato forte bater contra a porcelana, de forma que os gritos de seus pais não soassem tão altos na acústica do banheiro. Ela se encarou no espelho novamente enquanto fazia sua higiene matinal, perguntando-se quando todo aquele inferno começou — ou, ao menos, os dias que ele não acontecia.
Mas não conseguiu.
Dulce vivia em um inferno, rodeada de pessoas das quais ela não gostava, sendo obrigada a viver em locais que a desagradava. Nem sua família, nem seus poucos amigos, nem mesmo sua cidade pareciam agradáveis aos seus olhos cansados de tanta hipocrisia, de tanta gente maldosa, de tanto veneno impregnado no ar.
Sempre que se arrastava por entre os corredores daquela escola, sentia como se o ar fosse substituído por navalhas, que entravam em seus pulmões e os rasgavam em todos os mínimos centímetros, fazendo-a sangrar. Sentia pares de olhos enojados em suas costas, em seus cabelos, em suas roupas e livros. Ali não era diferente de sua casa — as pessoas eram igualmente malucas, igualmente nojentas e desagradáveis.
Dulce não fazia mínimo esforço para ser gentil, simpática, esbanjar um sorriso sequer. Ficava calada, rabiscando em sua mesa até o horário do intervalo — e, quando acontecia, rolava os olhos e se punha de pé, seguindo pelo mesmo caminho de mais cedo na manhã, sentando na arquibancada da quadra de baseball da escola. Mesmo nos dias frios, como hoje, ela ia ali fumar um cigarro, olhar o céu, ficar em silêncio ou com fones de ouvidos no máximo — o que, às vezes, a fazia perder o tempo, se esquecendo de voltar e assistir mais uma hora e meia de depressivos coitados falando sobre matérias que não interessavam nenhuma alma viva que perambulava naquela escola.
Dulce estava parada próxima a porta com batente vermelho da lanchonete, na ponta dos pés, com as mãos espalmadas na pequena janelinha retangular. Seus olhos passeavam pelas pessoas que comiam, conversavam, se isolavam, mas não encontraram quem queria.
Blaine era o que ela poderia chamar, com certa repulsa, de melhor amigo. Ele a fazia rir de vez em quando, embora, por muitas vezes, o máximo que fazia era irritá-la com seu gênio exagerado e extrovertido, até um pouco gay demais.
Ele era aquele tipo de gente que todo mundo quer ser amigo, que todo mundo conhece, pelo menos, por nome; que te ama demais, te abraça demais, te beija demais, te cutuca demais. Aquele tipo de pessoa que não se consegue passar mais de dez horas por dia, porque você pode ser acusado de assassinato. Mas era um amor; um gay louco adorável.
Ela se virou nos calcanhares, seguindo pelo corredor olhando para baixo, para a ponta preta de seus tênis. Atravessou o pátio principal, de granito, e foi até a área oeste do colégio, onde, coberto por neve, estava a quadra de baseball. O zelador estava com uma pá de cavar neve e resmungava sozinho enquanto tentava inutilmente tirar todo aquele gelo branco de cima da grama, porque, afinal, os garotos do time não podiam passar mais de duas semanas sem treinar para o campeonato mensal — um que eles nunca ganharam desde que o antigo treinador morreu, o senhor Collins.
Dulce tateou o bolso lateral de sua bolsa e retirou dali uma cartela de cigarros pretos, tomando um nos lábios segundos antes de acendê-lo e tragá-lo com vontade, expelindo aquele véu translúcido que se desdobrava para o céu esbranquiçado. Caminhou lentamente por cima da neve, olhando para baixo, levando o cigarro à boca de segundo em segundo, sem ao menos desintoxicar seus pulmões da primeira tragada.
Normalmente — ainda mais nos dias de frio — nenhum aluno ficava do lado de fora da escola, pelo menos não nos primeiros momentos do intervalo, quando estavam todos aglomerados na lanchonete, comendo aquele embrulho nojento que a cozinheira fazia, mas, estranhamente, naquele dia, ela se sentia sendo observada.
Arqueou os olhos do chão e mirou o zelador, que já havia sumido — ele era um velho esquizofrênico, com cabelos grisalhos bagunçados como os de um louco. Ninguém gostava dele. O som rouco de sua voz sumiu do ar, então tudo que Dulce conseguia escutar era sua própria respiração. Seu corpo inteiro queimava e um medo peculiar começou a infortunar seu peitoral, fazendo seu coração, aos poucos, bater mais forte. Ela deixou o cigarro fora dos lábios pelo segundo que franzia o cenho e virava-se levemente, encarando seus lados, esperando ver alguém.
Mas não havia nada além de neve e árvores secas.
Ela rolou seus olhos, tornando a tragar. Era idiota sentir-se incomodada quando pensava que alguém a observava. Isso acontecia o tempo todo naquelas paredes de tijolos marrons.
Dulce tornou a caminhar pelo mesmo caminho de todos os dias, virando os olhos para encarar as janelas do refeitório, acompanhando a silhueta escura dos alunos que se enfurnavam lá dentro, escondendo-se do frio.
Ela apreciava a ponta gelada de seus dedos e de seu nariz; gostava da sensação de respirar e seu vapor quente ser exalado por suas narinas, junto da fumaça do baseado que também saía por seus lábios rosados.
Quando chegou próximo o bastante da arquibancada, sentiu cheiro de ferrugem e desviou os olhos de alguém para olhar novamente para o chão.
Ela conhecia aquela imagem. O sangue vermelho ficava muito mais brilhante e chamativo quando esparramado no branco da neve, molhando-a nas extremidades, contornando os pequenos amontoados de gelo que se formavam quando muito frio.
O corpo do zelador estava caído de bruços, os braços esticados para os lados como se ele houvesse sido empurrado; seus olhos acinzentados estavam avermelhados, furados em pontos pretos, como se tivessem sido queimados ou explodidos. Havia um rasgo gigantesco em seu pescoço, que corria de um lado para o outro, como se, quem ou o quê que quisesse matá-lo, tivesse a intenção de degolá-lo. O sangue escorria de seu corte e encharcava a neve branca, quase tocando os pés de Dulce .
Ela levou o cigarro até a boca e franziu o cenho, inclinando suavemente a cabeça, como um cachorro confuso. Seu coração batia levemente acelerado contra seus tímpanos, mas ela ficou curiosa.
Ele estava em pé, ali, cantando como um doce maluco há poucos segundos. Dulce mal viu quem o atacou, mal o ouviu gritar.
O zelador simplesmente caiu morto, com o pescoço cortado e os olhos queimados.
Dulce levantou seus olhos para a floresta de bordos e carvalhos, encarando seus compridos troncos. Ali, no meio do nevoeiro, ela conseguiu ver a silhueta de um homem musculoso, com os punhos fechados. Ele caminhava em sua direção e parecia estar desnudo, então, subitamente, parou.
Ela deu um passo para trás de maneira instintiva, com certa repulsa. O perigo a atraía, a fazia sentir-se viva, mas algo a fazia querer recuar. Quando chegou próximo o bastante da luz, Dulce passou seus olhos no corpo daquele homem misterioso, que ainda tinha o rosto meio recoberto pelas sombras daquela manhã sem sol. Era musculoso, rijo e definido. Os punhos eram grossos, como seus dedos, e Dulce conseguia perceber os nós de seus dedos a ponto de explodirem de tão contraídos.
Ele estava com raiva.
Dulce achou melhor se virar e se afastar, mas ainda podia senti-lo observá-la com interesse e ódio.
Seus passos, aos poucos, se tornaram uma corrida. Ela empurrou a porta da escola com força, deixando seu cigarro cair no chão, e hesitou em gritar que o zelador estava morto.
Qualquer um ali pensaria que ela o matara, estúpidos como eram.
As pessoas que já estavam no corredor de entrada a encararam com uma curiosidade enojada. Entortavam suas bocas e seus olhos e riam, sentindo pena dela, de sua respiração descompassada e seu visível choque no olhar. Pareciam poder farejar seu medo, o barulho acelerado de seu coração.
Dulce mordeu os lábios, sem saber o que fazer. Virou-se novamente nos calcanhares e colocou-se na ponta dos pés, espalmando as mãos geladas no vidro, tentando voltar a ver o local que o zelador estava caído morto.
Mas tudo que acompanhou foi aquele mesmo corpo rijo puxando os calcanhares do zelador, criando um caminho de sangue na neve antes impecavelmente branca.
Dulce não conseguiu tirar aquela imagem das pálpebras pelo restante do dia. Ficou sentada, estática, durante maior parte de seu período escolar.
Estranha e pateticamente, ela estava com medo de sair, de ver aquele mesmo rastro de sangue ou de encontrar novamente aquele mesmo maníaco que matou o zelador e o levou para a floresta sabe-se lá para quê.
Ela se sentia ridícula por sentir medo.
Quando o sinal bateu, ela se colocou de pé em um pulo, puxando sua bolsa para correr até o lado de fora; ver se aquele rastro ainda estava ali, adentrar, quem sabe, a floresta em busca daquele homem. O máximo que poderia acontecer com ela, era morrer. Mas ela não se importava, não tinha nada a perder, ninguém ali sentiria sua falta.
Engoliu o medo e partiu, esbarrando nas pessoas, até o mesmo local que vira o zelador pela última vez. O rastro havia se tornado rosado pela água do gelo, até um pouco apagado pela chuva que teve minutos atrás. O cheiro ainda estava fresco, o vento empurrava seus cabelos para frente, para a floresta.
Ela subiu os olhos por aquele labirinto de árvores, hesitando, mordendo os lábios, segurando com força a alça de sua bolsa. Então, como um tapa em seu rosto, ela engoliu o medo e começou a caminhar.
Conseguia escutar, na beira de seu ouvido, o barulho das conversas paralelas que vinham de longe, do começo da escola. Mesmo sendo a poucos metros, pareciam milhas. Ela tinha os olhos fixos nos cantos, nervosa, esperando que um maníaco nu aparecesse para cortar seu pescoço, mas, ali dentro, tudo parecia estranhamente quieto. O estalido de seu tênis e sua respiração descompassada era tudo que soava em seus ouvidos, quando ignorava as conversas paralelas.
— Dulce ! — era Blaine. — Dulce , minha gostosa, o quê você está fazendo aí?
Ela se virou, tornando a correr para fora daquelas árvores. Atravessou o rastro de sangue e foi até seu amigo, que a encarava com os olhos piedosos, cansado de tentar entendê-la.
Dulce sorriu quando chegou próxima o bastante para sentir o calor que seu amigo exalava.
— Eu queria... — gesticulou com as mãos.
— Não interessa — ele sorriu, colocando a mão em seu ombro, puxando-a para um abraço lateral. — Sabe aquele enrustido que joga no time? — disse ele, encarando-a nos olhos. Dulce assentiu, sem menor interesse. — Ele vai dar uma festa hoje no apartamento dele.
— E daí? — o encarou com tédio, puxando as mangas do casaco para cobrir os dedos nus.
— Ele me chamou — Blaine rolou os olhos. — Você tem que ir comigo — choramingou, inclinando o lábio inferior para frente quando Dulce riu irônica, negando veemente com a cabeça.
— Você sabe que eu não vou nesse tipo deplorável de festa ver garotas se prostituindo por álcool — ela rolou os olhos.
— Mas eu vou estar lá! — protestou Blaine, batendo o pé. — Por favor, Dulce , você pode fazer uma coisa que eu te peça; só uma? Você nunca sai de casa e lá não tem nada de interessante para fazer numa sexta à noite — ela não podia negar que era verdade.
Por um segundo pensou em aceitar.
— Mas eu odeio essas pessoas e essas festas... — disse ela, se encolhendo no corpo do amigo, abraçando-o o peitoral, encostando a lateral do corpo em seu suéter listrado.
— Você odeia tudo, daí fica difícil te ver sorrir — ele falou sério, apertando-a em seu corpo. — Por favor... — choramingou de novo, fazendo-a rir nasalada.
— Tá — rolou os olhos. — Tudo bem, eu vou.
A noite invadiu seus pensamentos, recheando seus olhos com um tom mais escuro pela falta de claridade. Ela estava sentada a frente de sua penteadeira, terminando de esfumar os olhos em um preto puro e opaco. Levantou-se e, como sempre que queria fugir daquele lugar, abriu sua janela e pulou o batente, pisando no telhado, guiando-se para a árvore que crescia na parte de trás da casa de seus pais — eles, como sempre, estavam trancados um em cada cômodo e só tornariam a se ver quando fossem dormir; isso é, se fossem dormir juntos naquela noite.
Quando pisou seu coturno no piso de cimento da rua, sentiu o vento frio cortar sua pele em pequenas agulhadas, fazendo-a apertar as extremidades da costela para tentar se esquentar. Enterrou os dedos no suéter de lã preto, sentindo frio nas pernas cobertas apenas pelo fino tecido de uma calça jeans escura.
— Ideia idiota — resmungou para si mesma, começando a caminhar sozinha pela rua mal iluminada. — Blaine idiota — o amaldiçoou, rolando os olhos.
Ela não havia posto suas pulseiras hoje, tendo certeza que não tiraria seu suéter do corpo por momento algum, porque, por baixo, estava apenas uma regata justa e preta, de algodão frio.
Blaine havia combinado de buscá-la no parquinho de seu bairro, mas a rua estava deserta. Faltavam apenas dez minutos para as dez, o horário combinado, eDulce sentia que poderia morrer de frio se ficasse muito tempo parada.
Ela acompanhou o brilho da lua iluminar o parquinho com quatro balanços e uma gangorra. Caminhou encolhida e sentou-se em um dos bancos, cruzando os braços e as pernas, sentindo o cabelo preto roçando na pele de seu busto, a pequena parte que ficava descoberta pelos últimos botões de seu suéter. Ela encarou as pedrinhas de cascalho e as empurrou com a ponta de seu coturno preto, escutando-as rolarem, chocando-se umas com as outras.
E, novamente, sentiu a mesma sensação de mais cedo, a de estar sendo observada. Arqueou a cabeça, olhando para frente com o cenho franzido. Quando percebeu um pequeno movimento, um vulto, ela se colocou de pé. As pedras rolaram ao seu lado, então ela se virou, alarmada.
— Quem está aí? — perguntou para a escuridão, sentindo-se patética enquanto gritava.
Rolaram outra vez, agora atrás de seu corpo.
Ela sentiu o coração palpitar forte contra o peito, mordendo os lábios, apertando as mãos.
Era uma figura ridícula, de fato. Uma garota alta e magra, apavorada por estar ficando alucinada com barulhos de pedra de cascalho.
— Que porra — ela tateou o bolso traseiro da calça e tomou seu celular em mãos, começando a digitar uma mensagem para Blaine, dizendo que não iria caso ele não aparecesse em menos de dois segundos.
Outra vez o barulho das pedras a fez levantar a cabeça, encarando o escuro. Seu corpo estava arrepiado de medo e a manga de seu suéter escorregou por seu pulso, fazendo suas cicatrizes se exporem.
— Elas são lindas — uma voz grossa sussurrou em seu ouvido, fazendo-a dar um pulo para trás quando sentiu o hálito quente daquela pessoa sobrar em sua nuca.
Com o baque, seu celular caiu no chão sem que ela conseguisse mandar a mensagem.
Quando passou seus olhos no homem, percebeu como era alto, como seus ombros eram largos, seu corpo inteiro rijo. Estava com poucas roupas para uma noite tão fria — uma blusa preta e uma calça jeans comum — e a encarava com certo interesse, fitando-a profundamente com os olhos azuis escurecidos por causa da falta de claridade.
Ele tinha uma beleza angelical que a fez perder parte do fôlego, tanto pelo medo quanto pela peculiar excitação que sentiu pelo susto.
O homem riu, deixando um sorriso irônico nos lábios finos e vermelhos que pareciam brilhar no escuro, assim como seus olhos.
Dulce se perdeu naqueles olhos, completamente hipnotizada, sem conseguir se mover.
— Suas cicatrizes — ele tornou a repetir, apontando com os olhos para o pulso descoberto dela. Dulce , em um momento de lucidez, puxou as barras das mangas até esconder a palma de sua mão. — Ficam cristalinas sob o brilho da lua — ele sorriu novamente. — Perdoe-me caso te assustei — disse, dando um passo para frente. Dulce permaneceu estática, com o coração batendo forte no peito.
Ele soltou uma risada nasalada quando farejou seu medo, abaixando os olhos para seu celular aceso, jogado no chão. Ele apontou com o indicador — e entãoDulce conseguiu ouvir algo que não fosse a batida de seu coração ou o som alto de sua respiração.
— Está tocando — disse ele, tornando a encará-la. — Você não vai atender?
Dulce recuperou a sanidade por um segundo, dando um passo para trás enquanto molhava os lábios e se abaixava para pegar o aparelho e ler o nome de seu amigo piscando no visor.
Durante o tempo que se abaixou, sentiu o homem a encarar com extremo interesse, delineando suas curvas com os olhos, saboreando os pedaços de pele que apareciam enquanto ela se esticava por aquele segundo.
— Onde você está? — indagou Blaine, com a voz abafada pela música e pelos gritos.
— Onde você está? — corrigiu Dulce , franzindo o cenho.
O homem fechou seus olhos e sorriu para a noite quando a escutou falar; o calor correu por seu corpo.
— Estou na festa, Dulce ! — ele gritou. O homem conseguiu escutá-lo e soltou outra risada, fazendo a garota se virar para encará-lo. — Por que você ainda não está aqui?
— Porque nós combinamos que você me buscaria aqui em casa! — ela rolou os olhos, fechando-os quando travou o maxilar. — Eu não acredito que você não se lembrou, Blaine — ela tornou a abrir seus olhos, colocando a mão esquerda na cintura.
— Sério? — ele riu. — Bem, eu posso ir aí e...
— Não — ela respirou fundo. — Eu não vou mais nessa merda de festa. Eu não quero mais ir.
— Ah, Dulce ... — cantarolou e depois riu. — Não seja mal-humorada...
— Eu sou — ela rosnou. — E muito. Boa noite — e desligou.
O homem permanecia parado, encarando-a com interesse. Quando ela se virou para ele, abriu um sorriso debochado e se virou nos calcanhares para voltar para casa, mas ele a segurou no pulso, fazendo-a parar.
O toque a fez ficar quente, com medo, esperando seu próximo passo. Virou o pescoço e encarou aqueles olhos demoníacos, franzindo suavemente o cenho.
— Caso você queira — começou baixo, molhando os lábios, ainda segurando-a — eu posso te levar. Estou indo para a mesma festa que você.
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Autor(a): Anna Uckermann
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+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
02. I don`t know what you did boy, but you had it. — Eu não te conheço — a garota olhou incrédula para o homem que continuava a segurar seu fino braço. — E eu nem sei o seu nome. Também não faço a mínima questão de ir a essa festa estúpida. — Meu nome é Urcker — ele s ...
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Comentários da Fanfic 3
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Plopes Postado em 17/12/2015 - 19:18:03
G-zuis que fic maravilhosaaaaaaa continuaaa
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Raíssa Victória Postado em 29/10/2015 - 17:19:34
Oi,tudo bem???Sei que demorei muuuuito pra vir,mas vou ler os caps e depois,quando eu fizer a critica eu te aviso,ok?! :*
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Raíssa Victória Postado em 18/10/2015 - 14:20:39
m.fanfics.com.br/fanfic/50104/criticando-fanfics-critica (Quer que eu critique [Fale o que acho] a sua fanfic?Se quiser,vai lá nesse link.Só quero te ajudar! :)