Fanfic: Hurts Like Satan | Tema: Vondy
10.
Poi faire se laisser reprendre? C’est une embuscade.
Há certo tempo acreditei que a esperança poderia me salvar; acreditei que o mundo poderia ser um lugar melhor caso fugíssemos de nossos problemas — mas como sou ingênua e infantil a ponto de acreditar que eles não estão em mim, mas sim nas pessoas que me rondam?
Durante os dias em que estive aqui, o sol raiou, mas hoje fez frio e a chuva esconde qualquer resquício de felicidade, de que um dia chegamos a acreditar que algo poderia dar certo.
Mais idiotice maior fora a minha, em me prender à tamanha bola de lixo só por causa dela, da minha mãe, sabendo que nessa vida estúpida tudo tende a terminar, que nem mesmo o oxigênio é eterno — então melhor que terminemos nós mesmos, a deixar que ela nos machuque, sumindo com tudo de repente, certo?
Ser egoísta nos livra da dor que estou sentindo agora, essa coisa patética que parece não sair de dentro de mim de jeito nenhum — e, sinceramente, preferia que qualquer outro filho da puta estivesse no meu lugar.
Eu não quero mais viver — na verdade, eu nunca quis. Eu não quero ser salva e não quero abrir os olhos nessa vida. Não quero mais sentir ódio e sentir dor.
Só me deixe em paz.
— Dulce”
Dulce deslizou o corpo ardido pela estreita banheira de porcelana branca, sentindo os cabelos negros ensopados moldando seus ombros como um véu negro. Com a ponta dos joelhos para fora, ela sentia frio em partes impossíveis do corpo.
A água que banhava por entre sua pele era rosada e tinha um forte cheiro de ferrugem. A parede branca, ao seu lado esquerdo, estava suja de sangue.
Os lábios vermelhos e volumosos daquela garota estavam quase pálidos, sem vida.
Seus olhos vagavam pelo teto e ela os abaixou para abaixo das mãos, nos pulsos, e encarou suas veias arroxeadas ainda conectadas.
Suas pupilas estavam tão cristalinas quanto o Mediterrâneo. Ela não tinha mais forças para deixar que lágrimas escapassem por suas órbitas e criassem um caminho quente por sua pele fria. Dulce simplesmente balançava o pescoço, apoiando a bochecha no ombro, vislumbrando o vestido de sua mãe enquanto ela arrumava alguma coisa na sala.
Maya ria e, quando se colocava de pé, seus longos cabelos acajus balançavam, brilhando com a luz fraca daquelas lâmpadas velhas.
Dulce sorriu para aquela imagem tão real — um simples arquear de lábios, tão suave que mal parecia ser um sorriso.
Ela puxou a mão por debaixo d’água, sentindo todos os cortes — nas coxas, cintura, barriga e braços — arderem com aquele simples movimento. Encaixou suavemente a lâmina no canto externo esquerdo de seu pulso esquerdo e segurou a ponta da lâmina sobre sua pulsação quase imperceptível.
Primeiro, a afundou vagarosamente, sentindo cada milímetro da dor. Afundou o máximo que podia, então a deitou, escorregando-a até a outra extremidade da pele. Quando tirou os olhos por um momento de sua mãe, que ainda sorria, e olhou para sua pele, viu o mar vermelho de sangue subindo pela água, contaminando-a com um cheiro forte e enjoado; com a ponta dos dedos extremamente frios, ela segurou a lâmina com a mão ferida e repetiu o mesmo movimento, tão lentamente quanto, no outro pulso.
Então, suavemente, abriu um sorriso pelo canto dos lábios e fechou os olhos, soltando um suspiro enquanto escorregava um pouco mais na porcelana, afundando até que a água avermelhada estivesse tocando na ponta de seu nariz arrebitado. Quando respirava, tão fraca e pausadamente, sentia aquele forte cheiro invadindo seu sistema, mas não incomodava; parecia cheiroso.
Ouviu o canto de sua mãe. Uma música que ela gostava, algo em francês, da Carla Bruni. Ela cantarolava e valsava sozinha na sala, com uma mão esticada para o lado e outra no alto do estômago, dançando sozinha, rindo. O vestido bailava nos joelhos, os cabelos não acompanhavam o vento, indo de um lado para o outro. E seu sorriso... tão puro e verdadeiro, como uma criança que ri pela primeira vez. As covinhas suaves no meio de suas bochechas coradas e o volume encantador em seus lábios sempre rosados por batom a deixava com um ar angelical.
Dulce nunca se esqueceria.
O sonho que a fez despertar tão cansada fora turbulento e bastante turvo. Quando abriu bem lentamente os olhos, deparou-se com uma infinidade de branco. Paredes, piso, teto, paisagem.
Em seu sonho, homens de preto amarraram seus pulsos em dois pedaços de aço e os esquentaram até que sua pele derretesse; costuraram seus lábios para que ela não gritasse e a mantiveram sentada de frente para um espelho para que pudesse acompanhar enquanto sua pele se desfazia como se fosse chocolate derretido.
Agora, desperta, ela não entendia o porquê de não conseguir se sentar. Abaixo de seu corpo coberto por um fino tecido branco, ela sentia o conforto de plumas.
Com o cenho franzido, ela se perguntou se estava no Paraíso... Mas era diferente de como sempre imaginou. Talvez fosse uma memória infantil, que o Paraíso fosse um lindo campo primaveril que se estendia até o infinito com pássaros cantarolando, coelhos, a grama bem verde, com flores extremamente coloridas e cheirosas e árvores mais velhas que a própria eternidade, uma mais linda que a outra — aquele Paraíso parecia uma caixa forrada de hospício: branco, frio e solitário.
Ela tentou se levantar novamente, mas seu corpo pesou mais do que se lembrava. Levantando apenas a cabeça, com muito custo, vislumbrou sua mãe.
Estava quase tão bonita quanto no dia que se casou.
Usava um vestido suave, rodado, de renda branca pura e mangas japonesas, com um pequeno decote de princesa; os cabelos estavam soltos, ondulados e continham nuances tão vermelhos como quando ela se posta abaixo do sol quente de verão; os lábios rosas e volumosos sorriam para a filha e os olhos cristalinos como os de Dulce estavam marejados em emoção de rever a filha.
Dulce tentou falar; chamá-la para perto, para poder tocá-la como desejava, mas Maya se afastou subitamente, dando dois passos para trás, quando um trovão alto ecoou naquela caixa branca, fazendo as luzes piscarem uma ou duas vezes.
O sorriso de sua mãe se foi.
“A garota está perdendo a pulsação, porra!” Um anjo irritado sussurrou com força, de longe. “Faça alguma coisa! Ela não pode m...”
Dulce sentiu o corpo flutuar; as plumas abaixo de seu corpo estavam se movimentando como se o vento fosse capaz de erguê-la e carregá-la para onde bem quisesse.
Dulce tentou resistir, tentando se mexer para sair de cima daquele acolchoado de plumas. Ela se debateu, indo primeiro para a direita, depois para a esquerda e, quando aumentou a força, despencou para o chão, caindo de costas.
Outro trovão, outro piscar de luzes.
Maya correu, se ajoelhando ao lado de filha, tocando suavemente a pele queimada dos pulsos. Segurou-a com cuidado, tentando colocá-la de pé, mas Dulce simplesmente não tinha forças para se mover.
Sentia raiva por isso. Estava ali, com sua mãe. Queria seguir com ela. Queria poder se levantar e correr com ela para longe daquela tempestade.
“Afastar!”
Outro trovão, outro piscar de luzes.
Maya pareceu dar um pulo para trás. O teto branco se desfez como se fosse de papel quando uma chuva forte começou a cair. A roupa de Maya grudou em seu corpo e seus cabelos ficaram ensopados, perdendo o brilho. Sua boca se contorceu para baixo e suas lágrimas se confundiram com as gotas da chuva.
“Afastar!”
Dulce quis gritar para que aquele anjo parasse com aquela chuva, com aqueles trovões. As gotas caíam diretamente em seus olhos e sua respiração pouco a pouco se tornava mais densa, fazendo-a respirar com a boca aberta.
Quando levantou a cabeça novamente, Maya estava distante e sua figura começava a ficar turva.
— Não... — ela conseguiu sussurrar.
Franziu o cenho para aquele céu amaldiçoado e reuniu todas as poucas forças de seu corpo frio e machucado, colocando-se sentada. Quando o fez, olhou diretamente para Maya e a viu ficar mais nítida, dando um passo em sua direção.
Quanto mais ela se aproximava, mais a chuva dava tréguas, ameaçando parar. Os trovões foram ficando cada vez mais fracos, assim como os clarões. Quando chegou próxima o bastante, Maya tocou o rosto molhado da filha, fazendo-a sentir seu calor arrepiar seus mínimos pelos.
Dulce sorriu, esticando a mão para tocar a mãe. Fechou os olhos, respirando com mais suavidade.
Então a chuva parou. Os trovões se afastaram tanto que pareciam zunidos.
As duas se abraçaram, então Dulce permitiu que um sorriso ganhasse seu rosto e uma lágrima de felicidade escorresse por sua bochecha pálida.
Autor(a): Anna Uckermann
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 3
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Plopes Postado em 17/12/2015 - 19:18:03
G-zuis que fic maravilhosaaaaaaa continuaaa
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Raíssa Victória Postado em 29/10/2015 - 17:19:34
Oi,tudo bem???Sei que demorei muuuuito pra vir,mas vou ler os caps e depois,quando eu fizer a critica eu te aviso,ok?! :*
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Raíssa Victória Postado em 18/10/2015 - 14:20:39
m.fanfics.com.br/fanfic/50104/criticando-fanfics-critica (Quer que eu critique [Fale o que acho] a sua fanfic?Se quiser,vai lá nesse link.Só quero te ajudar! :)