Fanfics Brasil - Capitulo 13 Hurts Like Satan

Fanfic: Hurts Like Satan | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 13

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13.


My body needs a hero, come and save me. I’ve been feelin’ weird…




Dulce se acomodou na poltrona de veludo verde-musgo e cruzou as pernas, colocando as mãos entre seu meio, a fim de esquentá-las. Encarou a mesa arrumada da Dra. Stevens, cuja fechava a porta e suspirava como se dissesse “vamos lá!”, se guiando para a cadeira de couro branco, também cruzando as pernas e sorrindo de um modo amigável, mas ainda assim extremamente profissional. 
Claire Stevens era a psiquiatra do hospital onde Dulce estaria interna durante uma semana, sobre cuidados médicos e psiquiátricos; depois, seria encaminhada à reabilitação, onde passaria mais ou menos seis meses, dependendo de seu comportamento. 
Aquela doutora era diferente das demais que já atenderam Dulce em toda sua vida. Tinha algo de... estranho nela. Talvez a cor de seus olhos: um azul marinho profundo, quase como o fundo do Pacífico congelado; os cabelos louros tinham um toque avermelhado e o dedo indicador teimava em tremer sempre que ela se movia, indo para cima e para baixo em um bater frenético na mesa de vidro que cobria sua saia grafite e sua blusa de seda rosa.
— Então... — começou ela, pegando um bloquinho de anotações com uma caneta com um pompom rosa de plumas em sua ponta. — Como você está se sentindo hoje, Dulce? 
Dulce a encarou com os olhos turbulentos. Sentia sono, raiva e muito tédio. Não queria estar ali, e, em sua mente, já tinha imaginado quatro formas diferentes de fugir e esquartejar a Dra. Stevens. 
— Eu gostaria de te conhecer um pouco melhor — tentou novamente, adotando um tom mais casual, mas que, para Dulce, era extremamente falso. — Sei que você tem dezenove anos e se mudou há pouco tempo para New York. Como está lidando com a mudança? 
Dulce virou o rosto, encarando aquele escritório. 
Era infantil e ridículo. 
As paredes eram brancas, assim como os móveis e pequenos detalhes, mas todo o resto era rosa ou lilás. Não havia nenhum vestígio da vida pessoal da Dra. Stevens, nenhuma foto de seu marido ou filhos — se é que ela tinha, já que não aparentava ser sete anos mais velha que Dulce — ou celulares expostos; apenas seu MacBook Pro com a tela desligada. Os bloquinhos de anotação — também rosas — estavam nus, mostrando que ela tinha adquirido aquele escritório há poucos meses. Talvez, Dulce fosse uma de suas primeiras pacientes. 
— Você não quer conversar comigo? — só então Dulce voltou a encará-la, retomando à sua presença. — Tem alguma coisa de errada, anjo? 
Dulce esticou um pouco seu pescoço para trás, hesitando em franzir o cenho e contrair o maxilar. 
— Desculpe — se apressou a Dra. Stevens. — Só queria criar alguma intimidade com você, fazer você se sentir um pouco mais à vontade — ela sorriu sem interesse. Dulce cruzou os braços. — Sei que deve ser difícil para você lidar com a morte de sua mãe, mas estou aqui para te ajudar — franzindo as sobrancelhas louras, aquela mulher até parecia sincera. Se seus olhos não vacilassem e fossem tão hostis, além de seu indicador, que não se quietava, Dulce poderia até acreditar. — Se não quer falar sobre o acontecido recente, tocaremos mais ao fundo, então — ela se recostou à cadeira de couro branco; seus cabelos acobreados dançaram em seu ombro, caindo por cima dos seios fartos e volumosos, que pareciam ainda maiores com o decote redondo da blusa. — Como era sua vida em Bristol? Tinha muitos amigos? Um namorado, talvez? — olhando em seus olhos, Dulce viu uma faísca vermelha cortar a íris de um lado ao outro. Primeiro no olho esquerdo, depois no direito. Seu dedo ficou mais inquieto e ela respirou fundo, desviando o olhar. — Tenho na sua ficha uma notificação da polícia dizendo que você estava metida num assalto em uma boate chamada Burlesque, que tem uma reputação terrível e é conhecida como um “inferno particular”, se é que me entende — ela soltou outra risada sem humor. — No boletim de ocorrência, Richard William Nathaniel, o proprietário da boate, relatou que urcker Giansanti era frequente naquela boate, onde você trabalhava, e vivia arrumando confusão por causa de você — ela a encarou novamente, adotando aquele irritante tom hostil. Dulce franziu suavemente o cenho. — Qual a sua relação com urcker Giansanti, Dulce? Vocês dois são namorados? — ela apoiou os cotovelos na mesa, parecendo uma policial. Seus olhos estavam mais escuros. 
Dulce abriu um sorriso lateral tão irônico que chegava doer. Os olhos ficaram felinos e pouco a pouco sua postura relaxou. Ela puxou o ar para os pulmões, ameaçando falar, se aproximando cautelosamente da Dra. Stevens como se fosse lhe contar um segredo. 
— Temo lhe informar, doutora — disse Dulce, sussurrando —, mas acho que nosso tempo se esgotou. 
E, segundos depois de terminar a frase, o relógio tocou quatro vezes — um som estridente e irritante. 
O barulho das pernas da poltrona se arrastando no chão fora como um tiro no meio do deserto, ecoando pelas paredes brancas. Claire ficou sentada, com os pulsos apoiados na mesa, encarando Dulce se põr de pé com o ódio estampado no rosto tão angelical. Quando se colocou de costas, encaixou os dedos na maçaneta redonda e prateada da porta do consultório da Dra. Stevens e, um segundo antes de girar, sentiu as mãos frias daquela mulher contornando seu pescoço, seu hálito quente batendo rente à sua mandíbula. 
— Você podia ter cooperado comigo — disse Claire, com o tom de voz muito mais rouco e grosso que o que usava antes.
Uma onda de pavor cortou os músculos de Dulce, fazendo-a vacilar enquanto seu coração batia muito mais rápido que o normal. Ela tentava respirar, mas sempre que puxava o ar ele entalava em sua garganta, formando um nó cada vez mais apertado pelos dedos — que, agora, ganhavam a textura áspera de uma pele rugosa e desidratada, com cor acinzentada; as veias saltadas como se sugadas em vácuo — da mulher atrás de seu corpo. 
Claire não devia ter mais de um e setenta de altura, mas, agora, parecia ter dois metros e dez. A respiração antes em sua mandíbula, agora batia no alto de sua cabeça, balançando seus cabelos. Em poucos segundos, os pés de Dulce não tocavam mais o chão e ela era brutalmente jogada contra uma parede, derrubando um abajur de pluma rosa. 
— Mas que porra? — Dulce gritou, tossindo enquanto tentava recuperar o fôlego, olhando para baixo, com a mão posta suavemente no pescoço, contornando os locais que palpitavam enquanto recuperavam sangue. 
Quando subiu os olhos novamente para Claire, ela estava completamente mudada. Seus olhos estavam completamente negros, mais escuros que o fundo do universo, seus cabelos haviam sumido, dando espaço a uma cabeça com aparência desidratada, rugosa e cinzenta, assim como todo o resto de seu corpo; asas pontudas que lembravam às de morcegos estavam apontadas em sua direção, como adagas afiadas e nuas de qualquer proteção. Todos os dentes estavam afiados e expostos em uma boca maior e sem lábios, onde o nariz estava enrugado com seu rosnado; em seu pescoço, uma gigantesca cicatriz profunda cortava uma extremidade até a outra, morrendo nas orelhas. Os lábios estavam eriçados, raivosos, quase como quando urcker rosnava de ódio. 
— Agora você fala? — Claire, ou qual quer que fosse o nome daquela criatura, urrou, pulando em direção à Dulce. 
As pontas afiadas de suas asas de morcego perfuraram os ombros de Dulce, elevando-a até o teto, fazendo-a bater a cabeça com força. Ela gemeu e se perguntou se ninguém no hospital estava ouvindo aquela bagunça no consultório daquela suposta doutora. 
— Quem é você? — disse Dulce, começando a se debater. Seus ossos foram perfurados, fazendo-a sangrar. O líquido vermelho escorria pela asa de Claire e chegava próximo de seu ombro.
Dulce imaginou que, como Richard, ela só estava interessada em seu sangue e, diferente de urcker, ela não teria a inteligência — ou a piedade — de fazê-la sua refém, consumindo-a de pouco em pouco, dia após dia. 
Mas Claire mal virou seu rosto para encarar a maldição de Dulce, que sentia o corpo inteiro queimar em dor, como se o contato da pele cinzenta de Claire fizesse com que um veneno ardido penetrasse em suas veias. 
Ela gritou de dor, franzindo o rosto, chorando. 
— Não adianta gritar — disse Claire, quase sorrindo. — Ninguém pode te ouvir. 
— O que você quer de mim? — implorou Dulce. 
— Preciso do seu coração em uma bandeja — disse Claire, inclinando o rosto com ingenuidade. — Peço perdão por isso — disse, molhando os lábios desidratados, rugosos e roxos, com a língua de cobra. 
Quase deixando um segundo de compaixão sair por seus poros dilatados, Claire soltou uma gargalhada tão alta que fez Dulce se contorcer entre pavor e desespero. Mesmo sabendo que ninguém a escutaria, ela gritou ainda mais alto e bateu os pés na parede. 
Claire esticou a mão com unhas afiadas como garras negras até o peito de Dulce, que subia e descia em uma velocidade sobrenatural. Conforme ela se aproximava, mais Dulce se apavorava, implorando para que ela parasse. 
As unhas, lentamente, tocaram seu suéter preto, rasgando-o com uma facilidade incrível; depois, junto com a blusa, caiu no chão, deixando-a apenas com o sutiã preto com fecho fronteiro. Quanto as garras tocaram e afundaram em sua pele, a porta se escancarou e asas pretas invadiram os olhos de Dulce, fazendo-a ver apenas negro. 
Claire mostrou os dentes e puxou as asas de morcego dos ombros de Dulce, deixando-a desabar no chão. Ela não conseguia se mover de tanta dor, apenas chorava e tinha uma crise de pânico, sem conseguir respirar direito. 
urcker saltou no pescoço de Claire e cravou suas unhas ali, puxando-a para arrancar sua cabeça. Com os ossos tão duros quanto os dele, ela parecia não sentir dor. Cravou os espinhos de suas asas no estômago de urcker, golpeando-o com a mão na nuca, fazendo-o cair de joelhos; puxou suas asas e o jogou contra a parede, arrancando vários pares de penas. Os olhos escarlates dele faiscaram de ódio e seus dentes afiados se mostraram ainda maiores quando ele rosnou e se colocou em posição de ataque, com os joelhos flexionados e os dedos em garras. Ele saltou para cima de Claire, iniciando um vulto de socos e mordidas que os olhos mortais de Dulce não conseguiam acompanhar. 
Tudo que ela ouvia eram rosnados e, depois de um tempo, nem isso. Virou-se deitada no chão, de barriga para cima, e encarou o teto, tentando, ainda, controlar a respiração. O sangue ainda jorrava de seus ferimentos; pouco a pouco, sua visão enturvecia. 
O veneno ainda penetrava, correndo por dentro de seu corpo, sendo bombeado por seu coração acelerado.


***



Dulce abriu os olhos como se tivesse emergido à água depois de quase três minutos sem respirar. Puxou o ar com força e, em meio ao escuro, não reconheceu onde estava. A única coisa que reconhecia era o cheiro: um cheiro peculiar, de perfume amadeirado. 
Abaixo de seu corpo já menos dolorido, ela sentia a textura inconfundível de seda egípcia; sob seus tornozelos, lã pura de ovelhas. 
Os ossos quebrados e os cortes profundos pareciam curados, porque ela podia se mover sem que uma pontada de dor a fizesse rolar os olhos e tremer, se encolhendo, com o corpo arrepiado.
Lembrou-se de Claire e o pavor correu seu corpo em um calafrio, fazendo-a estremecer. Quando o vento cantou lá fora, tão forte quanto um furacão, ela se cobriu com a lã e respirou fundo o cheiro que conhecia de algum lugar. 
Permaneceu assim até o segundo trovão soar e um clarão tomar o quarto, deixando-a perceber alguns poucos detalhes. 
As paredes eram forradas com um desenho cor de esmeralda, com detalhes preciosos folheados a ouro; acima da cama Dossel, havia um gigantesco lustre clássico de palácios, com milhões de luzes e cristais que reluzia brilho em todos os ângulos possíveis e imagináveis. 
Ela respirou fundo, fechando os olhos. Ainda encolhida, contou até cinquenta antes de jogar o cobertor para o chão, se colocando de pé, sentindo a textura fria da madeira contra a sola de seus pés nus. 
Cruzando os braços para se esquentar, sentiu seus cabelos soltos e uma roupa desconhecida, com o cheiro que ela ainda não se lembrava. Caminhou no escuro, até chegar próxima da parede forrada; ali, hesitante em tocar em algo que não devia, achou o interruptor e acendeu o lustre, encolhendo os olhos com a claridade ofuscante e amarelada.
O quarto era muito mais bonito do que ela poderia imaginar. Era, de fato, digno de um palácio de conto de fadas, com um toque gótico e sobrenatural. 
Quando olhou para seu próprio corpo, percebeu que usava uma blusa social preta, onde as mangas batiam muito além de seus pulsos e a barra atravessava o início de suas coxas, parando no final das nádegas. Os cabelos negros estavam embaraçados, os olhos azuis estavam assustados, mas com uma mínima sensação de proteção.
Ela se guiou pelo quarto, indo para o armário. Quando tocou na maçaneta de ouro e puxou, viu que estava trancado. Molhando e mordendo o lábio inferior, virou-se e seguiu para a escrivaninha. Sentou-se no banquinho forrado com veludo vermelho e abriu a primeira gaveta, encontrando uma escova de prata com cerdas macias de crina de cavalo. 
Penteou os cabelos, deixando-os juntos por cima de um dos ombros, de lado, e depois se guiou para a outra gaveta. Ali, um pequeno caderno estava amarrotado de folhas amareladas, sujas e de aparência muito velha. 
Dulce o pegou, desabotoando o único fecho que trancava aquelas anotações.
Quando virou a capa de couro preto, várias folhas despencaram no chão.
Xingando baixo, ela se ajoelhou e catou uma por uma, colocando-a na ordem que parecia certo. 
Eram desenhos de moças. E cada uma era mais bonita do que a outra. 
Dulce franziu o cenho e sentou-se em seus calcanhares, ficando confortável. Pegou o caderno e o apoiou no chão, abrindo as outras páginas. 
Só havia desenhos soltos, nomes de mulheres em uma lista e datas ao lado. 
A primeira se chamava Amelia Alianore Blanch, e a data que se punha ao canto interno e inferior direito do desenho era 19 de abril da primeira década. Depois, Frances Lucie Bellan, 2 de março da primeira década. Phillippa Katheryn Gordon, 28 de junho da primeira década. 
Atrás de algumas fotos, havia nomes, também. E as datas que haviam sido desenhadas. 
Marcie Agnes Ellory, Amphelice Fontaine, Audrey Rose Owner, Dionisia Collys Benet, Valentina Muriel Toscano, Aimée Giorgia Bertholdi, Julian Isabelle Larsen. 
Nenhum garoto. 
O cenho de Dulce se franziu mais. 
As meninas, em todos os desenhos, tinham a aparência tão angelical que pareciam crianças inocentes. Tinham os olhos direcionados para baixo, às vezes os cabelos cobriam seus rostos, e os lábios sempre ocultavam um sorriso malicioso que não deixava transparecer timidez. O corpo sempre muito bem coberto, na maioria das vezes por vestidos claros, que pareciam brancos, nenhum colar, brincos ou braceletes. 
A porta atrás de seu corpo abriu como um baque, fazendo-a pular e deixar todas as pinturas caírem no chão novamente. Ela se exaltou, se colocando de pé, esbarrando na escrivaninha, derrubando a caixinha de joias. 
O sorriso de urcker se alargou. 
Ele a encarou de pé, passando os olhos por todos os mínimos espaços de pele nua. 
— Sua mãe não te ensinou que é feio bisbilhotar nas coisas que não são suas? — ele indagou em um tom tranquilo, ainda que estivesse sombreado por irritação. Sem blusa, Dulce conseguiu ver, quando ele se virou, que o local onde suas asas saíam estava avermelhado, como se ele tivesse coçado muito, até que ferissem superficialmente. 
— Ela morreu antes — ela sorriu sem humor, abaixando-se para juntar as fotos. — Desculpe — murmurou. — Não queria ser intrometida — mordeu o lábio inferior, guardando as fotos de qualquer jeito.
— Não queria? — ele riu baixo. Dulce respirou fundo. 
— Obrigada por me salvar daquela... coisa — ela se colocou de pé. — O que era, afinal?
— Uma pessoa possuída — disse, sem emoção, ainda de costas. — Aquele demônio não tem forma humana, por isso precisa possuir corpos para viver nesse mundo — o corpo de Dulce estremeceu e urcker se virou, sorrindo pelo canto dos lábios. 
— Por que ele não queria meu sangue, como todos querem? — ela abaixou os olhos para as fotos, colocando-as de volta na agenda. 
As mãos de urcker se moldaram com as dela, impedindo-a de continuar. Quando olhou para cima, viu seu próprio reflexo nos olhos vermelhos de urcker. Ela franziu o cenho e desviou os olhos; ele sorriu, deliciando-se. 
— Não sei — sussurrou ele, aproximando sua boca da pele dela. 
— urcker... — soprou Dulce, sem saber se queria ou não deixar que ele se aproximasse mais. Ele parou. — Quem... — ela tentou recuperar o fôlego, entorpecida pelo cheiro dele. urcker alargou seu sorriso. — Quem são essas mulheres? — ele abaixou os olhos para a agenda entre suas mãos ainda uma por cima da outra, o pálido se contrastando com o cristalino. 
— Apenas mulheres — disse, dando um passo para trás. Dulce sentiu frio. 
— Então por que você as desenhou? E por que os nomes delas estão aqui? E que datas são essas? 
— Está com ciúme? — ele riu. Dulce rolou os olhos. — Se não quer saber as respostas, anjo, por que pergunta? — ele arqueou uma das sobrancelhas. Dulce passou a língua no lábio inferior, que, irritantemente, ficou seco de repente. Ela não soube responder. — Demônios não envelhecem como humanos — disse ele, com a mesma expressão interessada na reação dela — Nossa vitalidade é imortal, independente de nossa idade, teremos sempre a mesma força, a mesma velocidade e a mesma inteligência. O que muda é nossa aparência. Para nos mantermos com aparência jovem, precisamos nos alimentar — ele parou, olhando fixamente para o rosto dela — de virgens. Qualquer coisa que não tenha provado a luxúria, mas já tenha pensado nela. 
— Você se alimentou de todas essas mulheres? — o rosto de Dulce transbordava pavor. Ela negou com a cabeça, jogando a agenda no chão. — Eu vou embora. 
Passando ao lado dele, conseguiu ouvir o sopro de sua risada. Aquilo fez com que seu sangue borbulhasse.
— Dulce... — ele a chamou, cantarolando, fazendo-a virar com os olhos tenebrosos em tédio. Quando o encarou, ele mantinha aquele sorriso debochado nos lábios. — Você não vai embora vestindo minha camisa, vai? Eu gosto dela — ele alargou seu sorriso. 
Dulce sentiu as bochechas ficarem roborizadas de tanto ódio. Ela desabotoou os vários botões, se enrolando em alguns — fazendo-o rir —, e então a jogou no chão, ficando apenas com sua calcinha de algodão branco e seu sutiã de fecho fronteiro preto. 
— Engole essa porra — cuspiu ela, virando-se novamente. 
Quando estava preste a sair do quarto, ele tampou seu caminho novamente. Os dentes expostos, os olhos vermelhos. Ela o empurrou; o rosto contorcido em raiva.
— Sai da minha frente — rosnou ela. 
Ele a segurou nos cotovelos, colocando-a suavemente para cima. Encaixou os lábios em seu pescoço, roçando-os suavemente, beijando-o e chupando-o de leve, sentindo seu arrepio. 
— Nós, demônios, temos um olfato muito, muito aguçado — falou, sussurrando contra a pele dela, mordendo a pele de seu maxilar, lambendo o lóbulo de sua orelha. — Eu posso sentir o cheiro da sua excitação, Dulce — ele sorriu contra o ouvido dela, mordiscando suavemente sua pele. — Posso sentir que você também quer o que eu quero. 
— Mentira — ela tentou dar um passo para trás. — Eu prefiro morrer a...
— Ao quê? — desafiou, encarando-a nos olhos. 
Dulce não conseguiu responder. Ao invés disso, deixou que ele se aproximasse de seu rosto, acompanhando com os olhos suas bocas se aproximando, entreabrindo milimetricamente à sua em antecedência, fechando os olhos e relaxando o pescoço na palma da mão dele, que já havia subido até ali.
Vendo-a assim, esperando por ele, o fez sorrir segundos antes de beijá-la com força, segurando a cabeça para que não fosse para trás. 
O corpo de Dulce agradeceu quando suas línguas se encontraram, o choque de calor entre seus corpos faiscava, fazendo-a sentir-se elevada. 
urcker empurrou suavemente seu corpo para a esquerda, em direção à parede, e encostou as costas de Dulce ali, deixando-a presa. Com uma das mãos entrelaçada em seus cabelos e a outra na altura de sua cintura, ele sentiu a coxa de Dulce passando pela lateral de seu corpo, indo em direção ao seu quadril, para se entrelaçar ali. Sorrindo em meio ao beijo, quando percebeu que ela quase perdera todo o fôlego, respirando com a boca aberta, ele segurou sua coxa e a virou de costas, fazendo-a encostar a bochecha na parede. 
Dulce sentiu um arrepio de êxtase cortar sua pele, eriçando seus pelos. urcker respirou o cheiro de seu cabelo misturado com a excitação, sorrindo com aquilo. 
— Você disse — sussurrou urcker, à beirada de seu ouvido — que preferia morrer a quê, Dulce? — ela gemeu em impaciência quando sentiu a mão que prendia sua coxa soltá-la lentamente, guiando-se para o meio de suas pernas, tocando o quente entre aquele vão.
Ele puxou sua calcinha, arrebentando-a como se fosse de papel de seda. Jogou-a no chão, de modo que Dulce só conseguisse escutar seu estalo. Ele passou a mão pelos lábios úmidos de sua intimidade, penetrando-a com dois de seus dedos, começando com movimentos rápidos e precisos em um vai-e-vem ritmado e forte. 
Dulce mordeu os lábios, franzindo suavemente o cenho para não começar a gemer logo que ele começou com aqueles simples movimentos.
Era ridículo o prazer que ele proporcionava nela. 
A respiração de urcker bateu em sua nuca quando, lentamente, ele tirou seus cabelos dali e beijou sua pele. 
— Responde, Dulce — ele tirou um dedo, diminuindo a pressão. — Ou eu paro.
— Você não far... — ele parou, fazendo-a gemer em ódio, tentando se virar para urcker, mas ele a segurou com ainda mais força, machucando seu braço. 
— Você disse que...?
— Que eu preferia morrer a te tocar novamente — ela murmurou com ódio, com a bunda empinada e as pernas abertas. Ele passou a mão em sua nádega esquerda, acariciando-a enquanto descia lentamente até o mesmo local de antes. 
— Eu posso fazer com que você morra — soprou ele, massageando suavemente a parte externa de sua intimidade, tocando de leve em seu clitóris, em minúsculos movimentos circulares. — Mas seria uma pena não ver sua pele corada — ele tocou com os lábios as bochechas dela —, seus lábios vermelhos — mordeu seu lábio inferior, sugando-o por um segundo, soltando-o molhado e mais vermelho. 
Então, sem aviso prévio, retirou seu próprio membro da boxer e a penetrou com força, fazendo com que o corpo dela se chocasse com mais força na parede. Ela gemeu com a surpresa, fechando os olhos, estremecendo em tanto prazer. Quando urcker soltou suas mãos, Dulce as apoiou na parede, próxima de seu ombro, sentindo as mãos dele, ásperas e quentes, em sua cintura, puxando e empurrando conforme seus movimentos, para que se tornassem mais profundos, mais fortes e deliciosos.
urcker impulsionou o abdome por cima do tronco dela, tocando os lábios em seu ombro, beijando-o e arranhando-o com os dentes afiados — e, com os olhos abertos, viu os pelos dela se eriçarem. Sorrindo com malícia, virou suavemente o pescoço e apoiou a bochecha na pele aveludada da garota, ofegando contra seu ouvido. 
Dulce franziu o cenho, apertando os lábios, reprimindo-se a gemer, controlando-se para não mostrar o quão satisfeita estava por finalmente estar tocando nele outra vez. 
Ela liberou os dentes dos lábios quando soltou o ar, misturando-o com um gemido. Fechou os dedos, escondendo-os nas palmas das mãos, tentando equilibrar-se nos próprios pés conforme ele investia em sem quadril, chocando seus corpos, fazendo apenas o barulho de seu contato exalar em meio àquele silêncio excitante. 
urcker cravou suas unhas na cintura de Dulce, trazendo o corpo para trás de modo que seu membro saísse completamente de Dulce, fazendo-a, finalmente, gemer em impaciência. Virou-a com brutalidade e a empurrou contra a parede, fazendo o estrondo soar alto. Ela, com as pupilas dilatadas e os lábios ainda mais vermelhos, fez com que urcker sorrisse em um momento sem controle, com os lábios curvados para cima de maneira tão diabolicamente sedutora que a fez sentir as pernas tremerem. Inclinando com bestialidade seu rosto para o dela, sugou-a os lábios e os mordiscou, puxando-os para si, lembrando-se da primeira noite que tiveram juntos. Juntaram seus corpos ainda mais e, em meio ao calor, gotículas de suor começaram a nascer em seus folículos capilares. Dulce colocou as duas mãos na nuca de urcker e entrelaçou seus dedos em seus cabelos escuros, puxando-os, empurrando seu rosto para mais próximo do seu, beijando-o com toda a força que existia dentro de seu corpo; impulsionou as pernas para cima em um pulo, encaixando-as na cintura dele. As mãos grandes e quentes de urcker se direcionaram para a bunda de Dulce, e, acomodando-a no local certo, sentiu-a indo para cima e para baixo, apertando seu corpo. Com apenas um passo, ele deixou as costas dela encostadas à parede, dando um apoio melhor. Segurou sua bunda e sua coxa com mais força e começou com movimentos rápidos e fortes dentro dela, em um ir e vir tão rápido que os olhos quase não conseguiam acompanhar. 
Dulce não conseguiu continuar o beijo. Ela abriu a boca e jogou a cabeça para trás enquanto arfava, cravando suas unhas na pele da nuca de urcker por falta de controle, sem mais ter como expressar o prazer que sentia. Os gemidos baixos e incontroláveis que saíam de sua boca já não eram páreo para explicar. 
urcker acompanhava as feições dela com os olhos demoníacos abertos, ofegando e sorrindo maliciosamente conforme a acompanhava perder o controle, sentindo-a cada segundo mais próxima de alcançar seu êxtase. As pernas em torno de seu quadril foram perdendo a força, fazendo-o rir. 
Dulce abriu os olhos e encarou o teto, soltando o gemido alto quando um arrepio correu por seu corpo e contraiu todos os seus músculos, fazendo-a jogar o peito para frente, deixando seus mamilos arrepiados nos lábios de urcker. Ele os abocanhou, beijando-os, sugando-os e mordendo-os, intensificando o orgasmo dela. 
Dulce tremeu, sentindo as mãos de urcker no alto de sua lombar, caminhando com ela até o batente da janela, deixando-a sentada ali. Com um local para se apoiar, Dulce abriu mais as pernas e puxou urcker pelos ombros, beijando-o com violência, mordendo seu lábio inferior. Ele segurou suas coxas, acariciando-as desde o exterior do joelho até o alto da nádega, indo para o interior quando chegou próximo da virilha. 
Partindo o beijo, urcker passou os lábios e os dentes pelo pescoço dela, fazendo-a jogar o pescoço para trás e sentir o vento frio da noite balançar seus cabelos para a esquerda.
Com a mão direita, urcker acariciou os lábios úmidos da intimidade de Dulce, de modo que a deixasse completamente excitada pelo que viria a seguir; com a esquerda, direcionou-a até a janela a e empurrou, fazendo com que o vidro que encostava às costas de Dulce saísse do contato quente de sua pele, deixando a janela aberta e o vento adentrando àquele quarto. 
Dulce, com o canto dos olhos, encarou a altura que estavam. Eram quase dez metros. Aquilo fez com que um arrepio cortasse sua barriga, algo que a deixou ainda mais excitada. 
Ela riu e deixou o riso no rosto quando se virou para encarar novamente urcker, que estava quase inteiro em sua figura demoníaca — faltavam apenas os chifres, as veias e as gigantescas asas negras. 
Ele estava sério, encarando-a com um quê de admiração. Passou os olhos vermelhos — que não se moviam — por todo o rosto avermelhado dela, o escuro molhado de seus cabelos que caíam como uma cascata para além de suas costas, dançando com o vento. Baixou os olhos para seu colo, seus seios, sua respiração ofegante e sua mão entre o vão de suas pernas, a intimidade rosada que clamava por atenção, por carinho, por brutalidade. 
Dulce tocou o rosto de urcker e o puxou para beijá-lo, gemendo quando ele enfiou o dedo médio e o anelar dentro de sua intimidade, estimulando seu ponto G com força, fazendo seu corpo inteiro ir para cima e para baixo. Sua própria mão, antes delicada, acariciando a mandíbula travada do rosto áspero dele, agora arranhava seu pescoço e descia rumo aos ombros, a fim de puxá-lo para próximo, para que ela pudesse transmitir aquele prazer bestial para ele. 
urcker sorriu em meio ao beijo, fazendo-a morder seu lábio inferior com força, com raiva. Não queria parar de beijá-lo, mesmo que morresse sem ar. Ele baixou os lábios para seu colo, sem parar com os movimentos com os dedos, arranhando seus dentes por todo o comprimento de pele pálida até o alto da intimidade rosada. Retirou o dedo anelar, sentindo a respiração descompassada dela ficar ainda mais descontrolada quando previu o que ele faria. Dulce agarrou o batente da janela com força, sentindo os dedos arderem, fechou os olhos e mordeu com força os lábios. 
urcker, bem devagar, passou a língua desde o períneo até o alto do clitóris duro. Depois, abriu os grandes lábios e o pressionou com mais força, arranhando-o com os dentes. Dulce arfou, gemendo baixo, apertando a madeira do batente. urcker riu, e o sopro de seu riso tocou a pele úmida dela, fazendo-a virar os olhos com o calafrio prazeroso que cortou suas células ao meio. 
Ele, então, começou a sugar seu clitóris com força, beijando-o e passando a língua em movimentos circulares, sem cessar um segundo sequer. Penetrando-a com o dedo médio e indicador, começou com movimentos rápidos de vai-e-vem. Com a mão esquerda, masturbava-se rapidamente, sentindo o corpo inteiro clamar por mais contato com ela. 
Era como se o sangue de Dulce ainda estivesse dentro de urcker, mesmo que aquilo fosse impossível. Era como se o sangue dela não fosse apenas mais forte, ou mais saboroso, mas também permanente. Uma vez dentro do sistema do demônio, ficaria ali para sempre. Talvez estivesse relacionado ao fato dele ser o herdeiro de Lilith, mas urcker desconhecia sua própria lenda. 
Sua mente desviou de si próprio quando ela gemeu alto — bem mais alto que nas outras vezes — e sua intimidade contraiu várias vezes em seu dedo, sua lubrificação sendo duplicada, brilhando quando a luz batia ali. Ela jogou o peito para cima, de modo que ele também sentisse uma explosão forte crescendo dentro dele, e os cabelos dançaram em meio à escuridão. 
urcker retirou seu dedo, segurou seu membro e o encaixou dentro dela novamente, puxando-a pelo pescoço para que suas bocas se tocassem como animais. Beijavam-se com tanta força que seus lábios ficariam roxos e suas línguas, dormentes. Ora o rosto de urcker ia para trás, ora o de Dulce. Ele a penetrava com tanta força que o barulho do choque de seus corpos era alto demais, em sincronização com seus gemidos entorpecidos, seus ofegos e arfadas descontroladas. Quando sentiam a cabeça ficar mais leve pela falta de ar, desgrudavam suas bocas e as deixavam abertas, sugando seus peitorais, seus pescoços, seus ombros. urcker jogou a cabeça para trás, com o cenho franzido, segurando com força a cintura de Dulce, puxando-a com força, sentindo seu membro extremamente encaixado dentro dela. Ela colocou as mãos espalmadas atrás do corpo, deixando-o inclinado para trás, apertando com força o tijolo que forrava as paredes pelo lado de fora da casa. 
Os dentes de urcker dobraram ainda mais de tamanho e ele sentiu, sem sua ordem e fora de seu controle, suas asas aparecendo lentamente. Seus chifres foram expelidos, crescendo quase meio metro em sua testa, maiores do que normalmente eram. 
O pico elevou-se dentro de seu corpo, crescendo como nunca crescera antes. Em sua forma original, poderia concentrar-se apenas em seu prazer, e não em sua imagem. As asas, ainda doloridas pela luta que tivera mais cedo com aquele demônio sem corpo, arderam de forma que ele rosnasse com a dor, apertando com mais força a cintura de Dulce, puxando-a com mais violência para próximo dele. Eriçadas como pelos negros de gatos, elas apontavam na direção da escuridão, como uma concha que protegia urcker e Dulce, contornando-os em uma bolha negra. 
Dulce abriu os olhos no exato segundo que tudo à sua volta era negro. Olhando para urcker, viu-o em sua forma de demônio e sentiu um poder sobrenatural correndo por suas veias, lembrando-se de que ela era extremamente importante para que ele fosse invencível. 
Ela ergueu o tronco e segurou o maxilar dele, apertando as pernas em torno de seu quadril, movendo-se de acordo com ele, roçando seus mamilos duros no peitoral extremamente quente de urcker. Juntou seus lábios da mesma forma bruta de sempre, beijando-o com toda a força que ainda restava em seu corpo. Respirando descompassada, gemia de extremo prazer e sentia os músculos queimando, pedindo por descanso. 
urcker afundou as unhas em garras na pele de Dulce, fazendo-a morder seu lábio inferior com força enquanto franzia o cenho e sentia o sangue escorrer em dez furos retos. Quando olhou para o lábio dele, viu o sangue sair vermelho, diferente de quanto brigou com os lobos, naquela outra noite. 
Antes que pudesse pensar em qualquer outra coisa, ele se moveu com tanta força que outro orgasmo a atingiu no mesmo momento que ele jogava seu pescoço para trás e jorrava seu líquido quente para dentro dela, muito mais longo e prazeroso que das outras vezes.
Ele continuou penetrando-a até que aquela explosão cessasse, então, com a respiração completamente descontrolada, abriu lentamente os olhos e puxou as asas para dentro de seu corpo, franzindo o cenho com o mesmo ardor de quando as expeliu sem ordem. 
Dulce, suada, tinha o cenho franzido e lentamente tirou as mãos do rosto de urcker, tocando nos machucados de sua cintura, afundando o dedo indicador em um dos vários furos. 
Não sentia dor ali. Quando tocava nas feridas abertas e quentes, lembrava-se da intensidade do contato de urcker, excitando-se novamente. Quando olhou para ele, encarou olhos tão azuis quanto uma paisagem gelada. 
Ele se aproximou de seu pescoço, beijando-o e mordendo-o até chegar próximo à orelha e, com os olhos fechados, sussurrou:
— É incrível o modo que você faz eu me sentir, sendo apenas uma humana mortal — o calafrio na pele de Dulce aumentou e ela tocou suavemente na lombar dele, sentindo-o contornar as feridas em sua cintura com os dedos, agora, aveludados. — Você faz com que eu perca meu controle, Dulce — suavemente, ele mordeu seu pescoço, arranhando com extrema leveza seus dentes extremamente afiados, ainda gigantescos. Ela tocou a ferida em suas asas. — Por que você faz isso? — ele perguntou para si próprio, com a voz rouca, e se afastou rapidamente, sumindo de repente.
Dulce, desnorteada e com os olhos fechados, sentiu frio quando não o tinha mais por perto. Abriu os olhos, encarando-o nu a poucos passos de seu corpo, fitando-a com a malícia no azul gélido dos olhos. 
Ela se levantou, ainda cambaleante, e foi até ele, tocando seu ombro esquerdo com uma mão, e, com a ponta dos dedos, o rosto áspero. 
Os olhos dele vagaram de um lado para o outro, e, suavemente, seu cenho se franziu. Ele deu um passo para trás, segurou ambas suas mãos e olhou para baixo, sério. Puxou sua calça, virou-se e permaneceu de costas. 
— O que aconteceu com suas a... 
— Por ser filho de quem sou, deveria ser completamente desprovido de todo e qualquer tipo de sentimento — interrompeu ele, virando o rosto, ainda olhando para baixo. — Mas, por alguma razão que não sei explicar, eles foram intensificados — virou-se para ela, que, com o frio, segurava, com a mão esquerda, o cotovelo do braço direito. — Sinto no tato mais do que qualquer outra criatura noturna; às vezes, meu desejo me descontrola — ele inclinou a cabeça, franzindo o cenho com raiva. Dulce apertou os lábios. — Sinto tanta sede — ele adotou um tom sombrio — que mataria milhões sem sentir remorso algum — ele sorriu com desdém. Suas costas tinham adquirido um relevo onde as asas ficavam, deixando claro que ele se controlava ao máximo para não expeli-las, de modo que o machucasse respirar. — A alma de meu pai, mesmo quando anjo, sempre fora fria — pouco a pouco, os olhos de urcker foram adotando uma tonalidade mais escura. — Ele devia apontar os erros dos outros, mostrar seus pecados para que assim fossem castigados; ganhar credibilidade vendo as almas mortais serem castigadas. Quando caiu, aquela frieza se espalhou e petrificou. Já minha mãe, quando se juntou a ele, pediu que sua alma mortal, inicialmente pura, fosse arrancada e queimada para que não sobrasse vestígios de que uma dia servira outro ser senão Lúcifer ou ela mesma — Dulce mordeu os lábios suavemente quando urcker a encarou de novo, com os olhos incrivelmente negros. — Já a minha, é uma montagem sobrenatural única. E sabe o que me deixa puto, Dulce? — ele a olhou com ódio, inclinando suavemente o rosto. — O mundo acredita que eu sou uma porra de uma lenda, um mito, um nada — ele rosnou alto, ecoando nas paredes daquela casa, fazendo Dulce se encolher milimetricamente. — Mas agora que sabem da sua existência — continuou, virando o rosto —, é bom que se sinta constantemente ameaçada. Nem todos serão espertos como eu. Na verdade, ninguém será — ele franziu o cenho e Dulce sentiu ódio de si por apreciar aquela raiva dele, aquela brutalidade com que ele expelia as palavras. — Minha mãe é a única criatura que conheço que fez dos amaldiçoados seus reféns; os outros os devoram assim que percebem sua diferenciação. Acho que deveria ficar próxima de mim para que meus olhos não te percam de vista — soava raivoso e extremamente ditador; era uma ordem. Mesmo se não quisesse, ela teria que ficar, mas não por sua proteção, e sim porque ele a queria por perto. 
Dulce, enfim, entendeu o motivo de toda aquela conversa sobre aquelas garotas e o cheiro de sua excitação — que, pensando melhor, talvez nem fosse tão forte assim, naquele momento, não passando de uma tosca atração pelo perigo que ele exala quando respira. 
Ela bufou, soltando os braços, franzindo o cenho e virando-se para pegar suas roupas, vestindo-se com pressa e raiva. Lembrou-se da primeira noite que estivera com urcker, da mesma forma que se vestia apressada e irritada. 
— Você só me quer por perto por causa dessa porra de sangue que eu tenho — rosnou ela, tendo dificuldade em acertar o fecho arrombado do sutiã. — Por que você não sai caçando mais uma puta desocupada que tenha essa mesma desgraça que eu e me deixa em paz? Ou você acha que eu vou ficar aqui por livre e espontânea vontade enquanto você me chupa como se fosse um carrapato, me fodendo quando sente vontade de dar uma trepada? — ela elevou o tom de voz e ele subiu os lábios, sorrindo com aqueles gigantescos dentes afiados. Dulce rolou os olhos e bufou outra vez, enquanto passava por ele, empurrando seu ombro. 
— Você é uma raça rara e...
— FODA-SE! — ela gritou, virando-se para ele com as veias do pescoço saltada e os olhos avermelhados. — EU NÃO QUERO TE VER NA MINHA FRENTE, SEU ESCROTO FILHO DA PUTA! PROCURA OUTRA VAGABUNDA QUE ESTEJA A FIM DE SERVIR DE BOLSA DE SANGUE PRA VOCÊ!
Pisando duro e quase correndo, Dulce atravessou o corredor e colocou a mão no corrimão de veludo da escada central. Ouviu os passos de urcker atrás de si, mas não se virou para ver sua proximidade; ficou olhando para o chão, para a ponta preta de suas unhas ou o vermelho brilhante do chão. 
Quando pisou no último degrau, levantou o olhar e deparou-se com uma mulher de cabelos vermelhos e olhos negros, com uma única auréola escarlate. Com o cenho franzido e o rosto angelical afogado em imensurável raiva, ela rosnou e mostrou seus dentes extremamente afiados.


 



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Autor(a): Anna Uckermann

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 3



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  • Plopes Postado em 17/12/2015 - 19:18:03

    G-zuis que fic maravilhosaaaaaaa continuaaa

  • Raíssa Victória Postado em 29/10/2015 - 17:19:34

    Oi,tudo bem???Sei que demorei muuuuito pra vir,mas vou ler os caps e depois,quando eu fizer a critica eu te aviso,ok?! :*

  • Raíssa Victória Postado em 18/10/2015 - 14:20:39

    m.fanfics.com.br/fanfic/50104/criticando-fanfics-critica (Quer que eu critique [Fale o que acho] a sua fanfic?Se quiser,vai lá nesse link.Só quero te ajudar! :)


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