Fanfics Brasil - Capitulo 05 Hurts Like Satan

Fanfic: Hurts Like Satan | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 05

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05.
I just can`t control myself. They want more, well, I`ll give them more.




Já havia se passado vários dias desde que Dulce e sua mãe conseguiram se estabelecer em Manhattan — conseguiram um apartamento fixo, com as contas pagas, uma lanchonete de confiança e alguns furos de emprego que duravam, no máximo, quatro dias. Maya estava com dificuldades em se manter fixa em um por causa de sua idade e sua pouca experiência, já que nunca fora obrigada a trabalhar graças ao gordo salário de George — mas agora tudo era diferente; ela não o queria ver nunca mais, nem a metros de distância. 
Dulce decidira trancar os estudos pelo tempo que ajudava sua mãe — de princípio, Maya surtou e disse que não aceitaria que sua filha não completasse o último ano do ensino médio, sabendo de sua capacidade perfeita de conseguir ser o que quisesse na vida; mas, depois, quando a primeira conta do apartamento chegou, insistiu com relutância em recusar a oferta da filha, mas acabou cedendo. Combinaram que ela trabalharia apenas meio período, ocupando-se com estudos na outra metade de tempo que lhe sobrasse — mas no exato segundo que Maya se punha para fora, caminhando para seu emprego deplorável, Dulce seguia à procura de algo melhor. O máximo que conseguira naqueles dias todos fora uma vaga em uma cafeteria, de garçonete. O salário era tão ridículo que ela mal conseguia comprar alguma comida melhor que as que vinham em caixas, ou em sacolas de fast food. 
Quando pensaram em fugir, sabiam das dificuldades, mas não pensaram que se expandiriam por mais de um mês. 
Durante uma noite fria, enquanto as ruas da cidade eram lavadas por uma forte chuva, duas garotas adentraram a cafeteria onde Dulce trabalhava e se sentaram, rindo, em uma das várias mesas vagas. O som de suas gargalhadas cortou o silêncio mórbido daquele lugar triste e atiçou a curiosidade da morena que terminava de arrumar algumas xícaras em seu devido lugar. Ela acompanhou com os olhos enquanto Bryan — o segundo atendente da parte noturna — se guiava — um pouco mais animado que sempre — para a mesa das garotas, perguntando o que poderia fazer para ajudá-las. Uma delas — provavelmente a mais velha — o encarou com tanta luxúria que Dulce quis desviar o olhar por vergonha, mas simplesmente não conseguiu. Ela era alta, magra, loira, tatuada e tinha olhos escuros como os de uma raposa; as roupas que usavam se contradiziam com o que seu rosto mostrava — uma calça jeans folgada e um suéter verde-escuro. A outra garota era um pouco mais baixa, tinha negros cabelos cacheados e olhos tão dóceis e redondos como os de um bebê.
Bryan se virou corado — e sorrindo — enquanto caminhava de volta para o balcão e entregava o pedido nas mãos pálidas de Dulce, que ainda encarava fixamente as duas garotas — que também a encaravam. Estavam curiosas, assim como a garota, em saber o que a outra mostrava, o motivo de seu interesse. 
Quando Dulce molhou os lábios e se preparava para quebrar aquela conexão, a mais velha sorriu de forma íntima, como se estivesse tentando compartilhar algum segredo com ela. Preparou seus expressos em xícaras grandes e colocou-as em cima da bandeja marrom-escura, pronta para se virar para Bryan e avisar que o pedido estava feito. Quando se virou para entregar a bandeja nas mãos calejadas dele, percebeu que a loira estava ali, com seu perfume doce impregnando nas paredes de suas narinas. 
— Qual é o seu nome? — a loira tinha uma voz firme, um pouco grave. Era forte, quase como de uma mãe que dá ordens. 
— Dulce — respondeu a garota, sem conseguir desviar os olhos claros dos escuros dela. A mulher abriu um sorriso perverso. 
— Meu nome é Alysha... — disse, pegando nas extremidades da bandeja — E eu percebi o seu interesse em mim e em minha amiga... 
— Ah — ela arfou, rindo, negando com a cabeça. — Me perdoe, não é isso que você está pensando, eu só... — Alysha riu mais uma vez, fazendo Dulce se calar. Suas bochechas ficaram ruborizadas. 
— Quantos anos você tem, Dulce? — ela molhou seus lábios, apoiando os cotovelos no balcão de vidro enquanto olhava fixamente para as pupilas da menor, que começava a se incomodar. 
— D-dezenove — gaguejou. Naquele momento, a outra garota, de aparência inocente, apareceu ao lado de Alysha. 
— O que você está fazendo, irmã? — indagou a menor, com a voz extremamente doce. Ela tinha feições de criança, além dos olhos. Tinha a boca fina, o nariz arrebitado, a pele tão clara e tão macia quanto a de um anjo. 
— Conhecendo nossa amiga curiosa — disse Alysha, virando-se para a menor. — O que você acha dela, Angel? Acha que Richard gostaria? 
Dulce molhou e mordeu os lábios, desentendendo do que elas estavam falando. 
— Ele está desesperado por pessoas novas, eu sei, mas não acredito que seja a tal ponto — Angel, que contradizia completamente com o nome e aparência, tinha um tom enojado e encarava Dulce da mesma forma.
— Como se você conhecesse os gostos dele... — Alysha rolou os olhos e se voltou para Dulce. Ela encarou aquela lanchonete repugnante uma última vez antes de dizer: — Você estaria interessada em uma oferta de emprego onde você ganha, por hora, muito mais do que ganharia aqui, por mês?
E foi assim que aconteceu. Assim que Dulce arrumou uma milésima entrevista de emprego; mas, esta, sem dúvida, seria completamente diferente das demais que já tivera até tal hora da manhã. 
O sol daquela estação estava em seu pico, queimando o céu anil e o deixando livre de quaisquer nuvens e pássaros; nada além de arranha-céus gigantescos e uma enorme bola com brilho e luz branca.
Caminhando com seus fones de ouvido quase no máximo, Dulce parou subitamente quando percebera o nome daquele local no letreiro vermelho apagado, que parecia brilhar ainda mais sob aquela parede impecavelmente preta. As portas eram altas, de vidro fosco, e ela conseguia imaginar com perfeição dois seguranças em cada extremidade daquela boate aparentemente inocente. 
Burlesque. 
Dulce tirou os fones de ouvido e, com os olhos encolhidos, direcionou o queixo para cima para ver o grande letreiro. Leu e releu aquelas letras, hesitando em entrar, em prolongar com aquela ideia insana. 
Ela nunca havia se insinuado daquela forma para alguém, nunca sequer havia pensado em um dia fazer tal coisa. Mas precisava. Por ela e por sua mãe. 
Trancando os pensamentos, deu os passos que a separavam do beco que se guiava até a porta preta dos fundos, de metal barato. Ela bateu algumas vezes, até que o som do estalido de saltos fez seu coração palpitar. Baixou os olhos para a ponta branca de seus tênis, sentindo-se patética.
Não deveria estar ali. Fora loucura Alysha dizer que ela poderia fazer parte daquela boate, que ela se encaixava no que o tal Richard estava procurando. 
A porta se abriu.
Quando Dulce tornou a subir os olhos pela porta, acompanhou cada mínimo espaço de pele branca da mulher seminua que a atendeu. 
Era Angel. 
Ela não tinha as curvas que Dulce pensava que teria. Era reta, sem muito peito, e aquele espartilho rosa que esmagava seus ossos só deixava aquilo mais aparente. Angel estava com os grandes cachos bagunçados jogados para um dos lados do rosto limpo de maquiagens e sorria como uma leoa que conseguira sua presa, perversamente.
Dulce tentou sorrir, mas o modo que a garota a encarava a fez hesitar. 
— Você veio, então — ela disse com aquela temível voz de anjo. — Pensei que não teria coragem. 
Eu também.
— Não custa nada tentar... — respondeu Dulce, molhando os lábios secos e dando de ombros. Angel assentiu. 
— Venha, entre. Estamos fazendo a prova de roupas.
O soco do ar frio daquele local fez Dulce respirar fundo, sentindo a garganta gelar. A Burlesque era uma boate bonita, com piso brilhante de porcelanato preto e paredes carmim. As luzes eram bem direcionadas e brincavam no ar, em seu diário teste, junto com a música eletrônica que soava nas caixas de som. O balcão era central, junto com o bar, e era vasto, de vidro e espelhos, onde se encontravam quatro postes de metal de pole-dance. 
Haviam mesas redondas cobertas por um tecido escarlate que escondia os joelhos de quem se sentasse ali — Dulce percebeu que nas paredes não havia janelas. Havia também um segundo andar, onde era fácil ver dois corredores nas extremidades das paredes, onde, provavelmente, aconteciam as danças privativas e serviços especiais. No centro, havia uma cúpula preta. Parecia uma sala de observação de cirurgias. 
Alysha comentara brevemente sobre aquelas coisas, na noite passada, apelidando-as como “efeito colateral”, dependendo do cliente. 
As garotas que se espalhavam por aquele lugar bem iluminado — a luz que adentrava pela enorme porta de vidro era suficiente para grande parte da boate; o resto era encarregado por luzes normais, brancas, que brilhavam no chão — estavam extremamente confortáveis em mostrar sua própria pele pouco coberta pelos tecidos rendados e extremamente finos das lingeries que usavam. 
— Então... — começou Angel, virando-se de frente para Dulce, que ainda tinha os olhos perdidos nos móveis de couro preto daquele lugar. Devia ser caro. — Você já trabalhou com isso antes ou é sua primeira vez? — indagou com os olhos enjoados e as sobrancelhas arqueadas, as mãos na cintura. 
— É minha primeira vez — disse, molhando os lábios de novo. Angel rolou os olhos e respirou fundo. 
— Alysha enlouqueceu — afirmou. — Está completamente louca. 
— Você acha? — era a voz da mulher. Alysha estava usando roupas comuns, uma blusa branca e um short jeans azul marinho. — Obrigada — ela sorriu áspera.
— Você acha mesmo que uma virgem vai nos ajudar? Estamos quase falindo, Alysha! — ela quase gritou, soltando os braços e arregalando suavemente os olhos. — Estamos quebrados!
Dulce inclinou o rosto e reolhou aquele lugar. Parecia ser tão sofisticado... Por que estavam falindo?
— Eu cuido dela, querida, vá procurar algo para fazer — Alysha apontou com o polegar por cima do ombro, fechando os olhos. Angel bufou e marchou seus saltos para a área das escadas. — Ela está assim porque está enciumada — Dulce sorriu fraco, soltando uma risada nasalada. — Você é carne nova. Os clientes gostam, mas as meninas odeiam — a garota assentiu, segurando a alça de sua bolsa. Alysha pareceu sentir o cheiro de seu nervosismo, então soltou outra risada. — Não precisa se preocupar, Dulce. Todos começam de alguma forma, em algum lugar. 
— É que eu nunca nem pensei em fazer isso e...
— Falando nisso, como você quer ser chamada? — Alysha começou a caminhar, virando-se para a mala de lingeries reviradas. Dulce a seguiu. 
— Quê? — ela indagou confusa. 
— Você não pode dançar aqui e ser chamada de Dulce, Dulce — disse, parecendo óbvio. Se agachou e procurou alguma coisa que lhe parecesse útil. — Precisa de um nome mais... Artístico — ela sorriu para os tecidos, virando o pescoço para encarar a menor. — Você tem cara de Scarlet. Scarlet Bellan. Você tem descendência italiana?
— Meu pai... — ela sentiu nojo a lembrar-se dele, o que, estranhamente, a fez se sentir um pouco mais confiante. — Ele nasceu em Milão. 
— Ah... — Alysha puxou uma cinta liga vermelha. — Qual tamanho você usa? 
— Quarenta e quatro no peito e M no bumbum.
— Bumbum — repetiu Alysha, quase gargalhando. — Você vai divertir Richard, pelo menos. 
Dulce mordeu o interior do lábio inferior. 
— Ele chega daqui a alguns minutos — disse, consultando seu relógio dourado de pulso. — Gosta de aprovar as roupas antes de qualquer outro homem. Você é bem branca — reparou, suspirando enquanto se colocava de pé com uma renda minúscula na mão — Acho que preto fica ótimo em você — e sorriu, estendendo-lhe a peça. 
Dulce segurou com certo repúdio, pensando em quantas vezes um homem ejaculou próximo daquele tecido. 
— Nós somos limpos — apressou-se Alysha, rindo, notando o asco nos olhos de Dulce. — Nossas roupas são impecáveis. 
Dulce assentiu rapidamente, sentindo-se patética novamente. Guiou o corpo para próximo de uma mesa e colocou sua bolsa ali, começando a se despir. Sentiu o farfalhar de suas pulseiras quando o tecido roxo de sua blusa roçou ali, sentindo certo arrepio na espinha quando retirou aquela peça.
Alguém a observava. 
Quando virou o pescoço para trás, viu os delicados olhos azuis de Angel, que comentava algo com outra dançarina, de peitos grandes e cabelo ondulado vermelho. 
Dulce suspirou, tirando o short, chutando o tênis, ficando com as meias cinzas. Tirou a calcinha, com extrema vergonha, e vestiu a renda fio-dental que expunha mais do que cobria. A parte da frente era transparente, mostrando o nu de sua pele branca, e a parte de trás simplesmente não existia; o sutiã, não muito diferente, deixava visível o arrepiado de seus mamilos. 
Ela cruzou os braços, a fim de escondê-los, quando se virou de fronte. 
— Ele está quase chegando, meninas. Façam a fila — disse Alysha, que terminava de abotoar seu sutiã com bojo rosa bebê. 
As garotas todas se enfileiraram na frente do balcão central, de fronte para a porta alta de vidro. O piso brilhava e estalava com seus saltos altos — algo que ninguém havia oferecido para Dulce. Ela, então, caminhou com a ponta dos dedos das mãos escondidos em suas palmas, com cuidado para não escorregar, para o final da fila, ao lado de Alysha. 
— Eu estou me sentindo em uma exposição de animais — sussurrou Dulce, fazendo Alysha sorrir. 
— Você vai se sentir pior à noite, querida, acredite em mim. 
A porta dos fundos se abriu no silêncio do baixo da música eletrônica. O estalido de um sapato ecoou nas paredes e, aos poucos, a sombra de um homem alto e robusto aparecia no brilho do chão. Dulce controlou a imensa vontade de ficar na ponta dos pés e esticar a cabeça para frente para encará-lo adentrar como um cafetão de luxo aquela boate e olhar com nojo para as meninas. 
O passo parou, então ela teve certeza que ele começara a julgá-las. 
Dulce imaginou como ele seria. Velho, provavelmente, e talvez careca. Usaria óculos escuros de noite e ternos brancos com gravatas cor-de-rosa. Ou teria o estilo daqueles que passeavam nos calçadões, com blusas de seda com estampas horrorosas. Teria os dentes amarelados por tabaco, com certeza, porque seria viciado em nicotina e whisky. Ele a chamaria de “princesa” ou “gatinha”, qualquer coisa que a fizesse sentir nojo. Teria uma protegida, claro, e provavelmente seria Angel, aquela bastarda metida e imunda. 
Dulce sorriu, baixando os olhos para a ponta de seus pés unidos. 
Ela mal havia conseguido o emprego e já havia desavenças entre uma de suas colegas de trabalho. 
— Por que está rindo? — Richard, parado à sua frente, indagou. 
Quando Dulce subiu o olhar novamente, sentiu como se tomasse um soco no estômago. 
Richard era diferente de como imaginava. Tinha olhos verdes como olivas e cabelos tão negros quanto a noite mais escura de um inverno; sua pele era branca como porcelana, perfeita e sem sardas, com a barba por fazer. Tinha o corpo robusto e rijo coberto por uma blusa social preta, com as mangas dobradas até a altura de seus cotovelos e os dois primeiros botões abertos — a calça e os sapatos eram igualmente pretos.
— Eu... — tentou ela, encarando-o nos lábios, procurando um sorriso. Tinham um tom diferente de alaranjado e aparência levemente rachada, áspera. 
— Quem é você, aliás? — ele franziu as grossas sobrancelhas negras, olhando para Alysha. 
— É a garota que comentei — respondeu. — Dulce. 
— Ah... — ele assentiu, arqueando a sobrancelha direita. 
Com as mãos para trás, ele a encarou dos pés até a cabeça. Dulce sentiu agonia por estar sendo avaliada daquela forma. 
Ele passou aqueles olhos tão verdes pelo cinza de suas meias, por suas panturrilhas, pelo torneado leve de suas coxas, pela curva de sua cintura e o osso do ilíaco, pelo volume significante em seus seios e o rosado de seus mamilos, o saltado de suas clavículas, os cabelos negros que caíam como uma cascata por suas costas até o final das costelas, o macio vermelho de seus lábios, o arrebitado de seu nariz, o grosso de seus cílios, o azul cristalino de seus olhos e o delineado perfeito de suas sobrancelhas. 
Encarou-a por inteiro, sem deixar escapar um mínimo centímetro. 
— Você tem alguma tatuagem escondida, Dulce? — ele indagou, sua voz grossa cortando-a a pele. Era impossível esconder alguma coisa naquelas roupas.
— Não — disse, tentando desviar o olhar dos olhos dele. Era como se Richard conseguisse ver sua alma. 
— Você sabe dançar? — Dulce lambeu o lábio inferior, abrindo a boca para falar. — Já trabalhou nisto antes?
— Não, mas... 
— Você não serve — ele disse, virando-se novamente. 
Dulce franziu o cenho, fechando a boca enquanto escutava um risinho malvado partindo de Angel e da ruiva. Ela deu um passo para frente, percebendo todos os olhares caindo em seu corpo. 
— Você não me deixou falar, eu posso...
— Eu preciso de alguém com experiência — Richard respondeu alto, fazendo todas se calarem, especialmente Dulce. — Você está vendo essas garotas? — ele apontou para as sete meninas enfileiradas, sem encará-las. Seus olhos estavam fixos nos de Dulce. — Eram doze antes. A maioria que se começou aqui preferiu procurar um lugar que pagasse mais pelo seu erotismo. Eu não gosto de iniciantes, isso aqui não é uma escola — ele se virou novamente. Dulce o seguiu, engolindo a vergonha e esquecendo que todos ali acompanhavam aquela humilhação. 
— Eu aprendo rápido — disse, tentando tocá-lo. Richard se virou como um gato, dando um passo para ficar distante o bastante dela. Dulce franziu o cenho, encarando-o também. Ele tinha uma pequena cicatriz cintilante no final do pescoço. Se parecia com a dela, só que bem menor. — Eu sei dançar. Já trabalhei como garçonete. Posso aprender rápido como as coisas funcionam aqui e eu prometo, Richard, que não te decepcionarei — ele a encarou novamente, franzindo o cenho. — Só uma chance... — mordeu os lábios. 
— Quem te deu essa bosta de sutiã? Tire-o. Troque — disse, dando outro passo para trás, minutos depois que o silêncio tomou a boate novamente. — Você só tem uma chance de me provar o quanto é boa, Dulce. Só uma. 

A noite adentrou novamente a vista de Dulce, fazendo seu coração acelerar enquanto batia o salto no porcelanato, escutando a música alta invadir seus tímpanos.
— Você está pronta, Scarlet? — indagou Alysha, parando ao lado dela enquanto mascava um chiclete. Dulce a encarou dos pés a cabeça; ela usava um conjunto com bordados vermelhos e tecido transparente. 
— Você sabe se está? — indagou de volta, passando a ponta dos dedos na coxa descoberta, subindo por sua lateral até a fina alça de sua calcinha de renda.
— Às vezes — Alysha deu de ombros, fazendo Dulce sorrir para a porta de vidro fosco, onde conseguia ver certa movimentação. — Se lembre do que eu te disse: imagine-o como seu maior fetiche que tudo ocorrerá perfeitamente bem. E está vendo aquela cúpula na frente dos quartos, no segundo andar?
Dulce assentiu, sem virar-se para trás, sentindo a textura fria do vidro do balcão central no baixo de sua lombar. Era uma sala com vidros blindados e com película extremamente preta, quase tão pequena quanto a cabine de um DJ. 
— É ali onde Richard fica na maioria dos dias que vem para cá. 
— Devo fazer alguma coisa especial enquanto o encaro? — Dulce se virou para Alysha, que abriu um sorriso sujo. 
— Imagine-o como seu maior fetiche. 
Então as portas se abriram, fazendo Alysha, em um pulo, agarrar-se no poste de pole-dance, subindo no balcão. Dulce a encarou por um segundo, sentindo os cabelos soltos roçarem em suas costas.
As conversas paralelas logo tomaram conta do lugar. Homens dos diversos tipos adentravam a Burlesque como se fosse a melhor boate da cidade. E poderia ser. 
— Suba aqui comigo — disse Alysha, ajoelhada no balcão de espelho. — Vou te arrumar algum cliente. 
Dulce não hesitou; apoiou-se de quatro em uma das cadeiras giratórias e subiu no balcão, segurando a mão de Alysha enquanto fazia de tudo para parecer vulgar, empinando a bunda quando ficou de pé. A loira abriu um sorriso, soltando uma risada nasalada. 
— Não quero parecer tão idiota — disse Dulce, respirando fundo. 
— Deixe as coisas fluírem naturalmente, querida... — disse ela, fechando os olhos enquanto jogava a cabeça para trás e começava a dançar leve e lentamente. — Você tem que prestar atenção no quanto esses homens estão dispostos a pagar para te ter — disse ela, molhando os lábios enquanto encarava os poucos homens que começavam a se sentar nas cadeiras do balcão. — Ofereça os serviços privativos para os que te derem mais — e assim se afastou, deixando-a sozinha naquele lugar tão exposto. Outras duas garotas se ocupavam com os outros postes de pole-dance.
— Olá — disse um homem de cabelos grisalhos que se sentou na cadeira à frente de Dulce. Ela sorriu do modo mais vulgar que conseguiu, agachando-se para ficar próxima o bastante até ver a nota que ele a oferecia. Era de cem. — Eu nunca te vi por aqui...
— Sou nova — disse ela, estalando a língua enquanto esticava o indicador e o médio para pegar a nota e colocá-la entre os peitos. 
— Eu gosto das novas — ele sorriu para ela, encarando a renda transparente de sua calcinha fio-dental. 
Dulce levantou os olhos e encarou seu redor. Os homens que estavam ali, em sua maioria, eram velhos casados e entediados com suas vidas tristes, ou punheteiros com dinheiro para gastar com filmes eróticos ao vivo. Eles encaravam as meninas que dançavam de uma forma tão vulgar quanto o modo que as tratavam, as apelidavam. Mas era um olhar tão recheado de tesão, de admiração, de excitação, que até o mais asqueroso entre eles se tornava um pouco interessante — e os interessantes, em especial, se tornavam os melhores. 
A garota sorriu, mordendo os lábios enquanto se colocava de pé, virando-se de costas, encarando a cúpula negra onde Richard a observava. Ela passou as mãos na lateral do corpo enquanto rebolava, movendo o quadril, empinando-o para trás com as pernas suavemente abertas. Ela mordeu os lábios e, lentamente, puxou o cabelo para trás, sentindo a música em suas veias, conduzindo-a a dançar daquela forma. Seu corpo quente a deixava rosada, as luzes vermelhas iluminavam seus cabelos, criando reflexos. 
— Eu também gosto de ser a novata — ela sussurrou, encostando o queixo no ombro, olhando-o encarar fixamente sua bunda. Ele queria poder estapeá-la.Dulce o fez. Passou a mão lentamente pela pele macia de sua nádega esquerda e a estapeou uma vez, fazendo-a estalar. O homem sorriu; seus olhos acinzentados faiscaram. 
— Qual é o seu nome? — ele indagou, pegando seu copo de vodca com gelo. 
— Scarlet — ela mordeu os lábios, tornando a virar-se para frente, dançando para ele. 
— Prazer te conhecer, Scarlet — ele ergueu a vodca para ela, brindando. 
— O prazer é todo meu. 

A madrugada encobriu aquela boate parcialmente lotada. Não havia garotas suficientes para terem muitos clientes. Os que sobravam se deliciavam bêbados com as garotas de outros caras. Dançando naquele espaço, ainda restavam Alysha, a ruiva de Angel e Dulce, que já começava a sentir os pés doerem encolhidos naqueles scarpins pretos. Ela sabia que estavam quase terminando a jornada daquela noite, mas os minutos que sobravam pareciam eternidades.
— Como está indo? — indagou Alysha, caminhando pelo balcão até o lado de Dulce. Ela, que estava olhando para seu reflexo no espelho, subiu os olhos borrados de preto por sua maquiagem para o rosto impecável de sua colega mais próxima. 
— Acho que bem — respondeu com sinceridade, sentindo as notas pinicarem seu seio. — Ganhei uma boa grana — ela sorriu, movendo apenas o quadril e os pulsos. Parecia uma bêbada cansada. Alysha já não dançava mais. 
— Eu disse que você ganharia bem caso trabalhasse comigo — ela piscou, sorrindo e mordendo o canto inferior do lábio. — Ainda estamos pegando leve com você. 
— Acha que Richard vai me deixar ficar? — perguntou com certo medo na voz. 
— Quanto você ganhou, exatamente?
— Umas seiscentas pratas — ela sorriu com orgulho. 
— Só com danças? — Alysha franziu o cenho. — Você fez algum serviço especial?
— Um cara quis, mas Angel o roubou de mim — rolou os olhos, agachando-se e sentando-se no balcão. O barman encarava fixamente o fecho preto de seu sutiã.
Quando Alysha abriu a boca para responder, a porta de vidro se escancarou novamente e um homem adentrou. Ele tinha cabelos castanhos e olhos de um azul tão escuro quanto a água de um oceano profundo e sombrio. Ele vestia uma blusa preta, com um mínimo decote em V, e suas calças também eram escuras. Seus olhos passearam por aquela boate e, quando se encontraram com os de Dulce, um sorriso brotou em seus lábios finos — o sorriso mais malicioso que ela ganhara na noite. 
— Quem é o cara? — sussurrou Alysha, comendo-o com os olhos, estalando a língua enquanto assentia. — Ele é bem gostoso, diferente dos que eu atendi hoje. 
— Eu o conheço — disse Dulce, colocando os saltos no estofado preto do banco giratório. — Ele morava em Bristol — franziu o cenho. — O que está fazendo aqui?
— Por que você não vai lá por si só e pergunta, gata? Não te custa nada... Pelo contrário — ela sorriu felina, dando uma cotovelada nas costelas de Dulce, que riu e a encarou. — Mas quem é ele? 
— Ucker — disse ela, encarando-o de volta. — O nome dele é Ucker. 



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Autor(a): Anna Uckermann

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 3



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  • Plopes Postado em 17/12/2015 - 19:18:03

    G-zuis que fic maravilhosaaaaaaa continuaaa

  • Raíssa Victória Postado em 29/10/2015 - 17:19:34

    Oi,tudo bem???Sei que demorei muuuuito pra vir,mas vou ler os caps e depois,quando eu fizer a critica eu te aviso,ok?! :*

  • Raíssa Victória Postado em 18/10/2015 - 14:20:39

    m.fanfics.com.br/fanfic/50104/criticando-fanfics-critica (Quer que eu critique [Fale o que acho] a sua fanfic?Se quiser,vai lá nesse link.Só quero te ajudar! :)


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