Fanfics Brasil - Capitulo 07 Hurts Like Satan

Fanfic: Hurts Like Satan | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 07

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07.
I see it. He looks good. He’s been feeding on the blood of the virgins again.





A manhã estava nascendo. O sol deixava o céu entre os tons de salmão e cor de rosa; as nuvens ainda estavam disformes, caminhando lentamente por aquela brincadeira, subindo, elevando-se para, mais tarde, tomarem suas formas gordas e marfins. 
A cabeça de Dulce pesava uma tonelada. Aquela pouca luminosidade fazia sua pele queimar, deixando-a quente. A roupa que cobria suas pernas e seus braços parecia estar com o dobro de seu peso, conforme andar aqueles poucos quarteirões que a separava de seu apartamento se tornava uma jornada torturante. 
Os carros passavam lentos; os táxis procuravam clientes, indo de um lado da cidade ao outro. Manhattan ainda despertava enquanto Dulce se preparava para outro período com os mesmos homens barrigudos, casados e infelizes com suas miseráveis vidas — só que, dessa vez, eles pediriam cafés e salgados com cheiro de queijo. 
O estômago de Dulce embrulhou. Ela fez uma careta para a aurora, amaldiçoando o dia.
Ainda com o pescoço jogado para trás e os olhos fechados, ela respirou fundo e mordeu os lábios, sentindo-os arderem. 
Ucker era um puto maldito. 
Da próxima vez que se vissem — se voltassem a se ver, depois do que ele dissera a ela na noite passada —, ela socaria o estômago dele caso ousasse morder sua boca novamente. 
Todos os incômodos roxos em seu corpo haviam sido causados por ele e aquela porra de chicote ou as algemas horrorosas. 
Ela sentiu a bolsa em seu ombro pesar. Pelo menos a quantia que ele lhe dera fora suficiente para ser contratada por Richard — que, de fato, ficou espantado e até um pouco feliz com aquele tanto de dinheiro. A parte que recebera naquela primeira noite era realmente grande. Alysha estava certa: os efeitos colaterais são mínimos quando aquelas notas verdes estão brincando entre seus dedos. 
Sua mãe que ficaria feliz. 
Quando avistou o prédio onde morava, ela sorriu para o vento frio do início de manhã, aliviada. Subiu aqueles poucos degraus e, sem nem olhar para o porteiro, subiu os três lances de escada até o andar de seu apartamento. Com a respiração ofegante, ela tateou o bolso fronteiro de sua bolsa e sentiu o molho de chaveiros que sustentava apenas uma pequena chave prateada. Encaixando-a na fechadura, girou três vezes até a tranca cantar. Empurrou a porta e encarou o piso de madeira escura, o tapete pequeno da entrada e, ao lado do batente branco, os sapatos ortopédicos com um pequeno salto que sua mãe usava para procurar emprego. 
Ela subiu os olhos azuis cansados pela saleta, encarando os cabelos pretos compridos de sua mãe bailando no chão, caindo pelo apoio de braço do sofá. O sol da manhã iluminava a pele branca adormecida de Maya, deixando-a cintilante de tão branca. Sua boca rosada estava até um pouco pálida. 
Dulce, cuidadosa, fechou a porta e tirou sua bolsa, colocando-a em cima do balcão americano na cozinha, deixando ali, também, suas chaves. 
O barulho pareceu um estrondo. Maya pulou, abrindo os olhos, sentando-se com as pernas esticadas para frente. Com os olhos arregalados e bolsas aparentes abaixo do escuro de suas íris, ela molhou os lábios e soltou um suspiro quando avistou o corpo magro de sua filha. 
Fechou os olhos suavemente, passando a mão no rosto, querendo arrancar o sono para longe do corpo. Ela molhou os lábios, dando-os cor e brilho, virando-se novamente para a garota. 
— Como foi no trabalho? — indagou rouca, elevando as sobrancelhas para ficar com os olhos cansados bem abertos.
— Foi ótimo — Dulce sorriu, colocando a mão por dentro da parte de trás de sua calça jeans, pegando algumas notas de dentro de sua calcinha. — Ganhei muitas gorjetas. Muitas — ela abriu um sorriso de criança que mostra sua primeira mesada. O dinheiro todo ainda estava atrás de sua lombar. 
Maya assentiu, suspirando enquanto bocejava e fungava. 
— Você precisa pegar alguns livros na biblioteca. Lembra-se do que combinamos? Trabalhar, mas estudar. 
— Claro — Dulce sorriu falsa, olhando para baixo. 
Escutou o estalido dos passos nus de Maya pelo chão de madeira, trancando-se em seu quarto. Sentiu a textura áspera das notas na ponta de seus dedos, então molhou os lábios e entornou o rosto para o lado da mãe. Seguiu pelo mesmo corredor, trancando-se em seu próprio quarto. 
Dulce passou os olhos pelo vidro da porta de sua varanda, encarando a rua. Ela deu dois passos para trás, tocando os pulsos na fria madeira, fechando a porta sob suas costas. Encarou sua cama box, o lençol preto e o edredom com dizeres japoneses. Seguiu para ali, levantando-o com certa dificuldade por ser tão pesado. 
Dulce, então, escondeu o bolo de notas, arrumando o edredom e o lençol antes de soltar um suspiro, arrumando a coluna ereta. 
Ela tornou a passar seus olhos pelo quarto, encarando sua mesinha de canto que ainda parecia tão nua comparada ao que era antes. 
Em seu antigo quarto, um livro de cabeceira, um abajur com cúpula quadrada e uma gilete sempre estavam ali, prontos para os dedos afoitos que não dormiam ou achavam paz quando o véu da noite caía sob a cidade. 
Ali, em Manhattan, Dulce ainda não tinha sobrevivido uma noite daquelas. Tem ocupado tanto a cabeça com outros problemas que nem se lembrou de seus próprios. 
Mas, agora, com tempo para lembrar, tornavam-se tão nítidos...
Ela teve o vislumbre, talvez a alucinação, de ver seu pai correndo escadaria abaixo para responder gritando os insultos de Maya. 
O fantasma dele ainda estava ali, pairando vivo, andando de um lado para o outro em sua cabeça. 
Ela fechou os olhos, reprimindo as imagens. Lembrou-se de estar distante, lembrou-se de que nunca mais iria vê-lo. Lembrou-se do silêncio, do canto dos anjos que atravessava o vidro, vindo do coração daquele refúgio que ela e Maya tinham em comum, agora, longe da Inglaterra, longe de Bristol, longe de George e suas maldições. 
Estavam distantes, estavam se refugiando num paraíso. E viveriam ali para sempre. 
Não havia motivo para temer, não havia motivo para se recordar. 
Quando tornou a abrir os olhos, encolhidos pela claridade, encarou uma caixinha de veludo vermelho em cima de seu travesseiro. 
Ela franziu seu cenho, olhando novamente para a varanda, encarando-a trancada. 
Talvez Maya tenha encontrado algo de bom gosto, por mais que estivesse economizando para as contas de final de mês. 
Dulce caminhou até tal local, sentando-se no alto de sua cama, pegando a caixinha entre os dedos. Puxou o pequeno laço cintilante que brilhava sob a luz da janela, deixando-o cair por cima do edredom grosso. Puxando o fecho dourado, liberou aquele presente de seu esconderijo. 
Seus olhos brilharam com tamanha perfeição. Era uma pedra gigantesca e brilhante de safira. O anel era de ouro branco e brilhava como o sol. Contornando e segurando a safira, folhas desenhadas e detalhadas com diamantes brancos reluziam o brilho singelo daquela manhã. 
Dulce perdeu o ar enquanto encarava aquele anel.
Quando tornou a encarar seu travesseiro, vislumbrou um pequeno cartão grosso, com as letras itálicas, grosseiras e firmes, traçadas de um preto extremamente forte que parecia se projetar para fora do cartão bege. 
Ali, junto com um cheiro peculiar, estava a mensagem de quem havia lhe dado aquele presente:


“Não era minha intenção te ofender.”


E a assinatura embaralhada de Ucker logo abaixo.

O final da tarde anunciava seu tempo chuvoso. 
Ucker olhou para a montanha distante que cortava o horizonte em uma silhueta disforme que subia e descia em rodamoinhos esverdeados. O cheiro do tabaco que vinha da fumaça translúcida de seu cigarro fazia seu nariz arder, mas aquele era o melhor vício que ele poderia ter — pelo menos naquele século. 
Ele, enquanto procurava algum presente para a garota, subitamente deparou-se com seu passado, com os milênios que se passaram até que o tempo se encontrasse no presente. 
Não fora bem uma onda de nostalgia, de melancolia. Foram apenas memórias gloriosas. 
Quando encontrou a folha perdida do diário de Lilith, sua mãe, ele se clareou com aquela pequena confissão. Lembrou-se, como um raio, de todos os momentos que passou até que se encontrasse ali, em Manhattan, perseguindo uma garota com sangue amaldiçoado. 
Lilith buscava, nas várias cidades em que morou durante sua imortal vida, mortais amaldiçoados. Seu plano era ser o demônio mais poderoso que o mundo já acolheu, já que nem o céu e nem o inferno aceitavam tal criatura, para conseguir vingança com aqueles que lhe traíram. 
Quando abandonado por ela, depois que o hospedeiro de Samael se degenerou, Ucker se viu livre — e sozinho — em um mundo onde não podia existir ser mais soberano que ele. Abençoado com poderes inimagináveis, mais forte e prendado que qualquer outro demônio, executando com extrema destreza os golpes de um gladiador — já que durante quase vinte anos mortais de sua vida precisou se alimentar das carnes de guerreiros frustrados e fracos, divertindo romanos nos tempos antigos. Conheceu cada simples pedaço de terra que boiava por cima da lava do inferno, fodeu cada tipo de mulher, experimentou cada tipo de sangue, comeu cada tipo de carne. Viveu por séculos gozando de sua espécie, um demônio tão cheio de poder, tão invencível, comparado tantas vezes com um deus grego que sentia sede de sangue — algo que, literalmente, não era mais que uma simples verdade. 
Ser filho de Lilith lhe trouxe habilidades que demônios comuns não têm. Ele era mais forte, mais atraente e sentia mais fome, era mais agressivo e impulsivo. Infantil, até, e um pouco mimado. 
Quando começou a procurar em suas coisas mais lembranças do primeiro demônio em forma de mulher, encontrara coisas das quais nem se recordava. 
Como aquele anel de safira. 
Fora uma lembrança que Lilith deixara com Samael — queria que sempre que ele encarasse aquela pedra se recordasse dos olhos daquele que a traiu e, com isso, também se lembrasse das coisas que ela fazia com os que traíam a ela. 
A insistência de Lilith em permanecer com aquela vingança era realmente inspirador, de modo que, quando se completasse, a história nunca mais seria a mesma. 
E Ucker havia herdado isso dela, quando gerado dentro de seu corpo. Quando punha em sua mente que conseguiria algo, matava tudo ao seu redor até que não sobrasse nada, além dele, como opção.
De Lúcifer, havia herdado as habilidades, a modéstia, os piores pecados, a falta de paciência, a falsidade e a facilidade em manipular, a total destreza na arte de mentir. Como ele, Ucker era capaz de ter quem quisesse, de conquistar territórios, de matar pessoas sem remorso, de ser egoísta e egocêntrico. 
Desde a eternidade, ele se achava mais parecido com o pai do que com qualquer pessoa. 
Juntar uma alma humana dentro do corpo de um demônio gera um primogênito perfeito, com as piores — ou melhores — qualidade dos que cederam seus corpos.
Quem não conhecia seu pai?
Tão bem conhecido por querer mais do que poderia. Expulso das alturas, obrigado a cair para o caos. Mas ele se regenerou mais forte do que acreditavam. Construiu um império poderoso e teve um filho tão forte que poderia com facilidade herdar seu paraíso consumido em chamas e almas condenadas, perdidas, amaldiçoadas. 
E com o sangue de Dulce, Ucker seria capaz de fazer tudo o que bem desejasse. 
Era de vital importância fazê-la desejá-lo mais que o impossível. 
Ele sorriu para o sol que se punha atrás das montanhas, exalando a fumaça acinzentada para a brisa contrária a seu corpo, sem vê-la dançar para longe. 
Sua mãe teria orgulho do demônio que aquela pequena alma se tornou. 

Dulce estava terminando de amarrar seu espartilho quando a porta atrás de seu corpo cantou, estralando, liberando o corpo de Richard. Ela, assustada, virou metade do corpo para encará-lo, com os olhos arregalados e o coração batendo forte na artéria do pescoço. Ainda com as mãos no último laço vermelho daquele conjunto preto, ela escutou o som divertido da gargalhada dele, que caminhava lentamente por cima do piso brilhante para trás dela, ajudando-a no último retoque. 
Quando sentiu a ponta quente dos dedos de Richard bordando os seus, frios, ela deixou que os olhos caíssem para a ponta arredondada de sua sandália de saltos altíssimos. 
— Hoje é a noite que mais temos clientes — disse ele, soprando baixo contra a nuca dela. 
Dulce tinha os compridos fios presos em um rabo de cavalo frouxo que soltava mechas onduladas pela lateral de seu rosto bem maquiado; as íris azuis pareciam pular de suas órbitas, tão claras e cintilantes. 
Richard deu o último laço em sua lingerie, segurando a curva fina de sua cintura para fazê-la virar-se de frente para ele, encarando seu queixo, sua barba por fazer. Mirá-lo nos olhos sempre trazia algum pequeno desconforto em Dulce, principalmente quando ela se lembrava de que ele era... bem, seu cafetão. 
— Alysha comentou mesmo que a noite temática é a que mais interessa os homens — ela sorriu tímida, dando dois passos para trás, encarando-se no reflexo do espelho de corpo inteiro. 
A meia-calça preta e o short apertado e justo de couro preto deixava o vermelho das listras de seu espartilho ainda mais cintilantes sob a fraca luz daquele quartinho; a tiara de chifres de demônio ficava perfeita acima de suas largas e gordas ondas naturais, presas com um elástico também vermelho. As unhas estavam pintadas de preto, tanto as da mão quanto as do pé, e o vermelho natural de seus lábios estava ainda mais realçado graças ao brilho rosado que usava. 
Quando subiu os olhos para trás dos ombros, pelo reflexo, notou que Richard a analisava com um interesse maior que nos outros dias, quando ela fazia a prova diária de lingeries. 
— Que... — ele começou, puxando o ar, franzindo o cenho. — Que perfume você está usando? — ele encarou seus olhos pelo reflexo, cruzando um dos braços sob o peitoral coberto pela camisa social preta. Os olhos olivas de Richard faiscavam. 
— O mesmo de sempre... — disse ela, com um sorriso, virando-se nos calcanhares para ficar de frente para ele. Richard franziu o cenho e negou com a cabeça. 
— Não é. Você está com um cheiro peculiar...
— Um cheiro bom? — ela tentou, colocando uma das mãos na cintura. Ele a encarou de relance, puxando o lábio inferior com o indicador e o polegar.
— Me lembra de uma mulher que conheci há bastante tempo... É doce, mas ainda assim amargo. Bom para as papilas — ele abriu um sorriso minúsculo para o chão. Quando tornou a encará-la, Dulce sentiu uma onda de calor passar pelo interior de suas coxas. — Enfim — ele estalou a língua, soltando os braços do corpo e se guiando novamente para a porta do quarto. — Se já está pronta, pegue seu lugar na pista de dança e me arrume muito dinheiro. 

A música soava alta e ecoava nas paredes escuras da Burlesque. As garotas dançavam inspiradas, provocando aqueles mortais como se fosse o último dia de suas vidas. 
Dulce não se separava dessa maioria. Tocava seu corpo, suava as têmporas e excitava todos os olhos que tocavam nas curvas sinuosas de seu corpo coberto por poucos tecidos. 
Quando a porta se escancarou pela milionésima vez naquela madrugada, os olhos de Dulce faiscaram em excitação quando avistaram o corpo dele.
Estava coberto por uma jaqueta de couro preta e uma calça jeans igualmente escura; os pés escondidos por tênis escuros e sem cadarços estavam frios pela chuva que ensopava as ruas de Manhattan. Quando adentrou aquele cômodo, ele passou seus olhos escuros como a noite por todos os mínimos corpos expostos, sorrindo com perversão ao encará-la ali, posicionada no meio do balcão de vidro, dançando com extrema malícia. 
Ucker se excitou apenas pelas roupas que ela estava usando. 
O chifre vermelho reluzia na pouca claridade, seus olhos brilhavam como uma onça que se move lentamente pelo chão à caminho de sua presa. 
Mas, subitamente, ela se lembrou das palavras que ele proferiu na noite passada. O bolso traseiro de seu estreito short pesou, fazendo-a recordar-se também do anel que ele havia dado. As perguntas da manhã invadiram sua cabeça novamente: onde ele conseguiu? Por que deu a ela? Ele não espera que ela use, espera?
Com um sorriso maligno nos lábios, ela se virou de costas para ele e roçou a lombar e a bunda empinada no poste de pole dance, passando as mãos no cabelo. 
Ao seu lado, Angel, em um clichê absurdo, se vestia de anjo. A lingerie rosa era transparente, as asas brancas com plumas macias e aveludadas estavam tão bem presa às suas costas que até pareciam reais. As duas, ali, lado a lado, atraiam a maioria dos olhares famintos daqueles lobos solitários e infelizes. 
Ucker caminhou pelas pessoas que estavam ali como se elas não existissem. Seus olhos estavam vidrados na figura demoníaca de Dulce, naquele sorriso perverso que beirava o canto de seus lábios, no movimento singular de seu quadril, no modo delicioso que suas mãos percorriam aquela pele quente, úmida, excitada... A pele que ele almejava sentir novamente. 
Ele se sentou no único banco vago do balcão de vidro, onde do lado esquerdo de seu corpo o salto de Dulce batia sempre que ela se movia de um lado para o outro. 
Ela se abaixou, ficando de quatro, com o rosto próximo o bastante dele para que seu cheiro entorpecesse os sentidos dele, fazendo-o sentir saudade do toque de sua boca. 
— Como posso te ajudar hoje, senhor? — ela indagou, encarando o mínimo vão de pele que sobressaía entre os três primeiros botões abertos da blusa social preta dele. 
— Eu quero que você dance para mim de novo. 
— Hoje eu não posso... — choramingou ela, falsa, fazendo um biquinho com o lábio inferior. — Hoje minha carne pertence a todos esses homens... — ela riu perversa, tornando a ficar de pé, dançando com malícia, rebolando proposital e extremamente próxima dele. 
Ucker mordeu seus lábios, apoiando os pulsos no vidro, indo com a cabeça um pouco para trás. Ele encarou a saliência no bolso do short de couro dela, lembrando-se subitamente do presente que ele lhe dera mais cedo. 
Não estava em nenhum de seus dedos. 
— Você gostou do presente que eu te dei? — indagou, fazendo-a apoiar o queixo no ombro e abaixar os olhos para olhá-lo no rosto. 
— Eu fiquei curiosa para saber de onde você roubou — ela riu, mordendo os lábios, tornando a virar-se de frente para ele, sentando-se no balcão. As extremidades dos joelhos dela estavam encaixadas com as palmas das mãos de Ucker. Ele, então, começou a acariciá-la sem mover os braços, em um carinho simples e minúsculo, circular com a ponta dos dedos. 
Dulce arqueou o quadril e puxou o anel dali, deixando-o na palma da mão.
— Eu não vou usar isso — ela encarou a pedra preciosa brilhando. 
— Por que não? Combina com você — ele encarou fixamente os olhos dela, querendo penetrar sua alma. Dulce molhou os lábios, percebendo outro par de olhos em seu corpo. 
Quando virou o rosto para cima, percebeu os olhos olivas de Richard fuzilando-a. 
Ela, então, desceu do balcão e empurrou a cadeira de Ucker para o meio da pista. Algumas meninas gritaram, aplaudindo, enquanto Ucker soltava uma risada divertida da garganta. 
Dulce sorriu maliciosa, engolindo sua vergonha. Virou-se de costas e, ouvindo a música ser trocada, começou a rebolar, passando a mão na lateral do corpo, puxando suavemente os laços de seu espartilho que lhe apertava os seios para cima. Empinando a bunda para trás, sentiu os olhos dele ali, clamando por proximidade. E ela o fez, dando apenas um passo para trás para que suas peles estivessem em contato novamente. As mãos dele tocavam o interior de suas coxas, controlando-se para não ir além e ser expulso por ir contra as regras daquele lugar. 
Quando se virou novamente, deitou-se por cima dele, com os peitos próximos o bastante de sua boca para que ele enlouquecesse com o pensamento de abocanhá-los. 
O cheiro dela era tão bom...
— Eu não vou usar — disse Dulce, roçando o anel na nuca de Ucker — Porque, no fundo, você está certo. Aqui você é meu cliente e lá fora você não é nada além de um desconhecido. 
— Você faria o que fez comigo naquela primeira noite com um cara desconhecido? — ele sorriu com malícia, soprando uma risada no pescoço dela. Dulce tornou a ficar de pé, indo para trás de Ucker, passando as mãos pelas costas enquanto deitava o tronco, ficando com as pernas esticadas e a virilha livre para os olhos de curiosos. — Eu deveria ter cruzado com você antes, então...
Ela, mesmo sem querer, riu baixo. 
— Eu não aceito presentes, só dinheiro. E como você entrou na minha casa? — ela sussurrou na orelha dele, mordendo seu lóbulo. 
— Eu tenho meus métodos — ele fechou os olhos, jogando a cabeça para trás. Dulce passava as mãos por seu peitoral, arranhando-o enquanto, lentamente, desabotoava sua blusa para tocar sua pele quente, sentindo suas texturas se fundirem em uma só. 
Quando o tocou, Ucker sentiu uma onda de calor passando por seu corpo. As veias abaixo de seus olhos pareceram saltar e, conforme sua cabeça ainda se encontrava estirada para trás, o perfume e a pulsação de Dulce ficavam próximos demais de seu nariz, de seus dentes... A mão dela passeava em carinhos torturantes por seu peitoral, agora, nu, e as unhas compridas deixavam três rastros avermelhados que logo desapareciam. Ela começou a beijar lentamente a linha do maxilar dele, arranhando-o com os dentes, chupando-o a base da clavícula. 
Ucker rolou os olhos por baixo das pálpebras. 
— Eu daria minha vida para te ver usando apenas esse anel. Nua, excitada, com cor nenhuma exceto essa safira — ela sorriu, voltando-se para frente dele, sentando-se em seu colo, rebolando em seu quadril. Ela, delicadamente, segurou os pulsos dele e os colocou para trás da lombar, deixando-os unidos, segurando-o com seus dedos. 
Ele sorriu, excitando-se ainda mais com as recordações da noite passada. 
O movimento pequeno de vai-e-vem do quadril dela sob o dele causava delírio. Era um pecado não poder arrancar sua roupa e comê-la de quatro no chão da Burlesque naquele exato segundo. 
Ucker suspirou, molhando os lábios quando Dulce arqueou o quadril e apoiou as mãos espalmadas nos ombros dele, respirando baixo contra a pele de sua bochecha, os lábios úmidos e quentes roçando em sua pele. Quando chegaram próximos o bastante de sua boca, ela hesitou, parando. Tornou a sentar-se em seu quadril excitado, encaixando os dedos em seu cabelo, indo para frente e para trás com um pouco mais de força. 
De repente, as pessoas ao seu redor sumiram. Ela queria que hoje eles pudessem subir novamente aquele lance de escadas e ficarem sozinhos em um quarto para que pudessem repetir aqueles mesmos movimentos sem nenhum tecido escondendo suas excitações. 
Como despertando de um sonho bom, Dulce se afastou de Ucker e acompanhou enquanto ele, lentamente, abria seus olhos, fitando-a com luxúria. Ela se virou de costas, desatando o nó de seu espartilho de forma que todos os outros afrouxassem de uma única vez, como um ponto solto de linha. Frouxo, aquele tecido pesado e grosso escorregou pela curva de sua cintura e suas coxas sinuosas, caindo em um baque no chão. Quando se virou novamente, mostrou as duas tiras pretas em formato de X nos mamilos excitados. 
Ucker quis arrancá-los com os dentes e depois beijá-la até que sua pele ficasse roxa. 
— Quem sabe em um outro dia você possa me foder usando apenas aquele anel, senhor... — ela sorriu pelo canto dos lábios, mordendo-os enquanto espalmava as mãos nas coxas dele, encarando-o com os olhos para cima. Ela se ajoelhou no chão, aproximando a boca do volume entre suas pernas. Ucker riu em antecipação, delirando em prazer e luxúria. 
Ele a queria mais que o inferno. Queria agora.
— Mas hoje — ela inclinou a cabeça, tornando a ficar de pé em um estalo — eu não pertenço a ninguém. 
E ela virou de costas para ele, rebolando de volta para o posto alto no balcão de vidro, subindo com a ajuda de Alysha. 

“Certa vez um anjo me disse no Éden para tomar cuidado com meus desejos e pensamentos, ou eles poderiam me trair. E ter cautela principalmente com aquele que caiu, traz venenos nas palavras e é traiçoeiro como uma víbora. Sempre achei que os anjos exageravam muito com teu zelo pegajoso, seguindo à risca tudo que o criador os ordenava, sem sequer questionar o porquê... Mas de forma trágica, para meu completo e desastroso infortúnio, aquele anjo estava correto. 
Joguei-me nas entranhas da escuridão por minha vontade própria e ganhei muito poder depois disso. Quando me uni aos demônios lhes oferecendo minha carne, casei-me com Lúcifer em troca de teu conhecimento e poder. Mas cheia de lascívia me deixei levar pelas palavras doces e mentirosas do primeiro anjo caído. Lúcifer seduziu Eva somente para que a própria desse a luz a Caim e tentou ludibriar-me da mesma maneira, induzindo-me a raptar-te, minha pequena e negra alma de criança roubada do mundo. Possuí-te como meu, criado em meu útero e expelido por meu corpo, alimentada por meus seios para que fosse então o primeiro herdeiro do mundo subterrâneo, e o único vindo da primeira linhagem de demônios do universo. 
E logo após alcançar teu objetivo, quando minha pequena alma negra não passava de um recém-nascido, Lúcifer o quis roubar de mim para criar teus próprios planos de vingança contra aquele que o derrubou. Queria conquistar o mundo, destruindo-o, envenenando-o, e queria que minha pequena alma fizesse isso, criada como teu anticristo, a praga que devastaria a Terra. 
Mas eu não o permitiria tratar-te como uma marionete. Lilith tem a alma orgulhosa, algo que almejo ter passado para tua carne. Ninguém, nunca, terá o poder de nos confrontar, nos fazer abaixar a cabeça e aceitar sem ao menos tentar nos impor. Não nascemos e não fomos criados para assistir filmes, minha criança. Somos demônios, e você é meu filho. Meu único filho. Meu pequeno satã. 
Entreguei-te a Samael, meu pequeno e fiel escravo, que consumiu o corpo de um humano qualquer para submeter-se às minhas ordens de te criar da melhor maneira possível; da maneira que eu faria. O mantive distante o bastante do hades, para longe de meu rei, distante de tuas criaturas e teus planos. 
Levando dentro de si, meu filho, meu doce legado, meu veneno, um vírus contagioso e agressivo que se encontra acima de teu velho pai, para vencê-lo na escuridão e vingar tua amada mãe. 
Com a marca do animal negro, com a marca de Lilith; a primeira mulher de Adão.” 

Ucker caminhou para fora daquele ambiente segurando firme seu colar em mãos. Ele teria de se contentar com outra pessoa naquela noite, mesmo sabendo que nada se compararia à Dulce, ao seu gosto doce, ao seus movimentos, seu suor, sua pele roçando na dele... 
Ele saberia muito bem como manejar aquela cujo sangue é amaldiçoado graças aos ensinamentos mudos de sua mãe.
Certas vezes, quando a situação pede, Lilith sussurra em seu ouvido.
Há certo tempo aquela doce voz demoníaca nunca aparecera nas paredes de seu cérebro, mas, em certa ocasião, a voz o comandou estratégias de batalhas demoníacas das quais ele, mesmo com experiência, não conhecia — eram medievais.
Depois, sozinho, ele tentou ouvir aquela voz novamente. Fez força, fechou os olhos, se concentrou ao máximo, mas nada além do canto do vento soou em seus ouvidos.
Ele estava sentado em um morro, com a lua contornando sua silhueta de criatura noturna como um lobo uivante. O vento frio daquele outono empurrava suas vestes para trás de forma até um pouco agradável, refrescante em seu sangue quente. 
Quando parou de tentar, a voz soou. Fora apenas um sussurro, talvez uma pegadinha de sua mente, uma alucinação. Mas fora tão viva, tão nítida. Ele precisou virar para os lados para ter certeza de que estava sozinho. 
A voz disse para ele seguir para o extremo norte da cidade, onde mansões abandonadas ainda se encontravam aos poucos passos de serem demolidas ou consumidas por morcegos e vermes.
Refugiada no mundo, escondida dos anjos negros de Lúcifer, Lilith tinha uma morada em cada cidade de cada país existente. Naquela em especial, fora a que mais passou meses, podendo criar uma peculiar raiz.
Ele, como um bom filho obediente, seguiu a voz e caiu em um dos bairros que, antigamente, se encontrava entre os mais caros, os mais bonitos — entretanto, as casas que ainda sobreviveram ao tempo estavam sobre entulhos de granito, madeira e mato. Ele escutava os passos das ratazanas, o canto das corujas, a sinfonia do vento nas árvores de eucalipto no bosque pequeno que se estendia naquela extremidade da cidade. 
A casa que a voz o mandou ver era a maior, com um grande portão entreaberto que rangia com a brisa, cantando junto. Eram dois pilares como uma igreja, ambos apontados para o céu cinza. Era de um cimento comido pelo tempo, com manchas pretas. Gárgulas de demônios com chifres se encontravam nas quatro extremidades como Cérbero, o cão de guarda o hades. 
O jardim que talvez em uma era fosse verde com a luz do sol, hoje se encontrava em montes de terra suja e um aglomerado de entulho; as janelas grandes, protegidas com grades de ferro preto, estavam com as vidraças azuis quebradas, mofadas, empoeiradas. A porta alta de madeira estava quebrada no meio, como se uma criatura forte o bastante tivesse dado um único chute para parti-la ao meio e expelir quaisquer demônio que estivesse se escondendo naquela adorável mansão. 
Ucker caminhou por cima das pedras de cascalho e subiu os quatro degraus que separavam o jardim da varanda. Desconfiado, olhou para um lado e para o outro, sem detectar uma vida sequer, além dos animais asquerosos que rondavam aquela rua.
"Vamos, minha prole, adentre a casa...", a voz sussurrou em uma ordem quase doce, fazendo Ucker entrar naquele mesmo instante, sem nem hesitar, atravessando o grande buraco feito na porta.
A casa, por dentro, estava em tamanha má condição quanto o lado de fora, mas os olhos de Ucker conseguiam entender perfeitamente aquele arquiteto, vendo, por sua pupila, o que antes era aquele aglomerado de teias de aranha e poeira.
Os filetes de madeira podre que pisava antes eram de um tom escuro próximo do preto; à sua frente, uma grande escadaria de marfim com o corrimão coberto por veludo vermelho. O lustre posto acima de sua cabeça era contemporâneo, de cristal, com pequenos pontos de luz amarelada que brilhava perfeitamente, reluzindo as estatuetas que eram postas na prateleira da extrema esquerda, que hoje se encontrava com um dos lados caído no chão, coberto por pó amarronzado. Seguindo pela direta, encontrava um corredor com paredes de madeira e quadros que Lilith pintava. Eram figuras de sua memória: lugares, pessoas, animais, criaturas. 
Lilith era apaixonada por jaguares pretos. Ucker preferia os lobos. 
De alguma forma, estavam conectados até a era atual. A voz que soprava em sua cabeça era de Lilith e ele sabia disso. 
Alguns quadros, ainda que consumidos pelo tempo, tinham figuras que os olhos podiam compreender. Ucker passou a ponta dos dedos pela tela machucada, arranhada e partida, puxando as extremidades para que ficasse plana novamente. Era um bebê. Tinha grandes olhos azuis e um sorriso vermelho, com os caninos compridos demais para alguém da sua idade. Os cabelos ralos que cresciam no topo de sua cabeça eram negros como a noite e contradiziam com o tom marfim de sua pele aveludada. Ucker trouxe o rosto para a lateral, reconhecendo-se. 
Lilith apenas o abandonara para protegê-lo de Lúcifer, não que o desgostaste. Estando com ela, ele correria risco de vida, porque Lúcifer ainda a perseguia por ter roubado seu anticristo. Se ainda estivesse viva, com absoluta certeza se escondia. 
Ele virou o corpo para trás, escutando a madeira ranger. 
Passando para o outro cômodo, reconheceu uma sala de jantar. A mesa de banquete servia lugares para mais de doze pessoas. Era de madeira de lei escura, com detalhes traçados a mão, com desenhos de chamas, representando o inferno. As cadeiras estavam quebradas, jogadas nos cantos, destruídas como o segundo lustre que se postava no meio da sala. Com três batentes de mesma cor que as paredes de madeira escura, a cozinha tinha o chão de porcelanato branco imundo. Os balcões de mármore preto e os eletrodomésticos de madeira estavam revirados, consumidos de insetos e roedores. 
Ele se virou novamente, seguindo pela escadaria, indo para o segundo andar. Atravessou o corredor central e se deparou com um hall com quatro entradas. A primeira era um quarto de hóspedes, pequeno e com cheiro de mofo. O segundo, um banheiro grande o bastante para um time de futebol americano. O terceiro, um quarto de bebê. 
Ucker hesitou em adentrar aquele local e reviver coisas das quais não se lembrava e não queria se lembrar. Ele se virou para a última porta, entrando no quarto de Lilith. Ali, uma grande cama dossel estava com a cortina de veludo vermelho rasgada. O edredom, os travesseiros e as roupas do armário já haviam sido devorados por traças. A porta da suíte estava escancarada e a primeira coisa que ele viu quando virou seus olhos fora seu próprio reflexo no espelho de corpo inteiro. 
Ele não havia notado antes que estava em uma posição defensiva. Os dedos estavam em garras, os dentes estavam expostos, o cenho estava franzido e a coluna, encurvava para frente. 
Se algum barulho o alertasse, ele saltaria como um animal. 
Ucker relaxou, arrumando a postura, ficando ereto. Voltou-se para o quarto e seguiu para a mesinha de cabeceira com um pé quebrado, torta para a direita. Abriu a primeira gaveta, puxando a mão quando percebeu a movimentação de baratas. Ele franziu o cenho, pegando com extremo cuidado um papel amarelado pelo tempo, com as bordas remoídas e o borro de tinta preta em pontos específicos, onde a caneta falhara e tornara a cair com o dobro de tinta necessária. 
Ele pegou aquela carta em mãos e seguiu lendo pelo mesmo caminho que fizera momentos antes. Desceu as escadas e seguiu pelo lado contrário, indo para a extrema esquerda. Ele parou de ler para ver a segunda parte da mansão. 
Era apenas um corredor pequeno, com uma porta de aço gigante que ainda permanecia bem trancada, a única coisa na casa que não tinha sido completamente destruída. 
Estava trancada com um cadeado com um buraco para dedo. 
Ucker franziu o cenho e, sem nem hesitar, encaixou seu dedo ali. Ele tentou puxá-lo pela dor quando o sentiu ser perfurado, imaginando que algum roedor ou algum inseto o havia mordido, mas, depois, quando a porta pareceu destrancar como uma tumba, soprando poeira e desgrudando-se dos batentes, ele percebeu que era acionado pelo sangue da família Giansanti. 
A porta se moveu com extrema dificuldade, indo lenta demais, de modo que antes de totalmente aberta ele pudesse por sua cabeça para dentro. 
Ali, o cheiro de carne podre fez seu nariz arder e seu olho encolher. Era pior que qualquer lembrança que ele pudesse ter. Era um cheiro ardido de morte. Ele não sabia dizer há quanto tempo aquela carne apodrecia ali. Quando tentou entrar, seu corpo travou. O cheiro passava por sua traqueia e a irritava, fazendo-o tossir. Nem mesmo um demônio suportava tão mau cheiro. Ele tampou o nariz e, tateando a porta, encontrou um receptor de luz. Ele abaixou o pino em uma falha e minúscula esperança que algo iluminasse, mas fora estupidez acreditar naquilo. Havia uma pequena janela posta ao seu lado, onde a luz acinzentada entrava rala e iluminava apenas parte de seu próprio rosto, insuficiente para alcançar o chão. Ele, então, consumiu suas pupilas para o olho inteiro, deixando-o completamente preto, permitindo-o enxergar aquele porão. 
Corpos estavam amontoados, com os pulsos presos por correntes enferrujadas. Havia uma prateleira com vidros com conteúdos vermelhos, cujo cheiro não deixava mentir que era sangue. Os corpos postos ali estavam quase que completamente transformados em ossos quebrados, mas algo os fez durar mais que um humano qualquer conseguiria aguentar. Havia uma pequena cozinha, pratos e tigelas de água. 
Ele tornou a trazer a carta para perto dos olhos, começando a ler. 

“O zelo de uma mãe é a maior dádiva que uma criatura pode receber. Nenhum poder é forte o bastante, nenhuma raiva é tamanha para sobreviver às trevas sem os conselhos maternais daquela que se jogou no fogo por tua pequena e doce alma. 
Talvez na era que te encontra agora esse segredo tenha vindo à tona como a existência de um ser superior, mas terei minha consciência limpa caso te ensine os métodos que aprendi em meus milênios de existência.
Meu filho, meu doce demônio, ninguém será mais poderoso que tu. Nunca, em qualquer eternidade, alguém poderá te vencer. Ser o filho de Lilith te prega um veneno especial no sangue, que te eleva a patamares tão mais agudos que as outras criaturas noturnas. Mas não te consuma dessa afirmação, meu pequeno, pois a força de um demônio pode facilmente ser igualada com a ajuda de um simples líquido. 
Um sangue amaldiçoado.
Alguns humanos têm o sangue especial. Não há como defini-los, achando-os com facilidade — se neste milênio são escassos, imagino que nos dias atuais que tu vives estejam praticamente extintos.
Mas não desista, meu pequeno anticristo. A força que tu herdaste de mim é tamanha para conquistar o mundo das trevas e me salvar de teu maldito pai, que me persegue por ódio, por eu ter te envenenado com meu sangue, roubando-o de teus maliciosos planos.
Se tu, meu querido, encontrar algum amaldiçoado, tua língua ferverá. Tua garganta começará a tremer e teu corpo ficará tão quente que a alucinação do inferno ocupará teus olhos, circulando êxtase nas veias. O gosto é inimaginável e indescritível, proporciona um prazer imediato que não se encontra na energia dispersa em um ato sexual nem em mil anos. Tu te alimentas dessa forma, se desprende de um universo tão sujo e imprestável de forma que tuas asas sejam expostas em uma fração de tempo, deixando-te fora de si, enlouquecendo-te lentamente... É uma droga da qual qualquer demônio venderia tua negra alma para possuir. 
Não seja apressado. Não o mate de uma vez. Não o machuque, não o afugente, não o compartilhe. Esconda-o, alimente-o, alucine-o para que seja teu escravo. Algumas gotas, como todos os litros, proporcionam a mesma força pelo mesmo número de tempo. Tu deverá se alimentar dos mortais não-especiais da mesma frequência que fazia antes de encontrar teu amaldiçoado. 
Tu deves ser esperto, meu doce filho. 
Quando ainda me refugiava nesta cidade, tive a oportunidade de fazer uma pequena coleção. Em pequenos potes, eu guardava teus sangues. Eu me alimentava, os saciava o estômago, tomava teu veneno e os mantinha presos como reféns. 
Quando os agentes de Lúcifer, teu pai, me encontraram, eu os abandonei com a chave que está circulando em tuas artérias. Somente tu, meu primogênito, poderá abrir aquele calabouço e seguir a coleção de tua mãe. 
Não cometa o mesmo erro que eu. Não desfoque de tua mente teu objetivo principal: poder e força. 
Eu quero vingança, meu amado filho.
Quero que me vingue e conquiste Lúcifer e teu mundo inferior. Estou cansada de fugir, cansada de me esconder nas entranhas desse mundo. 
O que fiz, fiz por amor. 
Eu te amaldiçoo, minha astuta criatura, com a força da esperteza que tu herdou de tua mãe.”


Ucker despertou de seu pequeno transe, escutando a voz de sua mãe martelando em sua cabeça nas palavras que escrevera naquela carta, séculos antes do qual ele se encontrava agora. 
Estava escuro, o céu tinha um tom estranho de roxo, as luzes amareladas refletiam seu brilho na rua molhada. Algumas mulheres usavam roupas tão pequenas e apertadas que Ucker sentia vergonha de encará-las. Elas estavam recostadas nos muros, olhando o chão, a ponta fina e de seus saltos altos. O som de uma boate ecoava conforme ele se aproximava de uma delas, a com melhor cheiro, de aparência mais jovial e inocente. 
Ela fumava um cigarro, olhando para o chão, com a jaqueta de couro preta tocando alto de sua cintura reta e fina. A saia jeans escura batia quase um palmo e meio acima dos joelhos ossudos, da perna magra de cor pouco bronzeada. A blusa com decote grande deixava exposto os pelos louros e arrepiados de seu corpo. 
Quando notou que alguém parara de andar próximo o bastante dela, a garota elevou seus castanhos olhos maquiados de preto para ele. Seu cabelo comprido e escuro dançou em seus ombros, caindo para frente em ondas tão perfeitas que causavam o pecado da inveja em quem as encarasse por muito tempo. 
A garota abriu um sorriso pelo canto do lábio, soltando o braço que se encontrava cruzado abaixo do seio, procurando algum modo de se esquentar do frio. 
— Eu sou cara, vou logo avisando — disse ela, encarando-o com os olhos luxuriosos. — Mas para você eu fazia até de graça — ele riu, escutando o tom dela. 
Por seu cheiro, ele percebia que era seu primeiro trabalho. Sua primeira noite, seu primeiro homem, sua primeira relação... 
Ela não devia ter mais de dezesseis anos. 
— E fará mesmo — ele sorriu, esticando a mão para que tocasse a cintura fina da garota, caminhando com ela para a rua, esticando-a até o beco onde estacionara seu Camaro.
A garota sorriu, virando o rosto para ele antes de apressar um pouco o passo acima daqueles gigantescos saltos para espalmar as mãos no capô reluzente daquele carro, esticando as pernas e empinando a bunda. Bastou um centímetro para que ela estivesse completamente deitada ali, deleitando-se antes do tempo.
Virgens...
— É um carro muito legal — disse ela, assentindo, colocando-se ereta novamente. 
— Faz alguns anos que o tenho — disse Ucker, sem muita paciência. Atravessou na frente do automóvel e destravou as portas, abrindo a do motorista e sentando-se ali, escorregando pelo couro preto. 
A garota não hesitou um segundo sequer. Abriu a porta e deslizou pelo banco, cruzando as pernas enquanto sorria e tinha os olhos faiscando em empolgação. 
Quando ele deu a partida e o motor roncou, ele sentiu o cheiro da excitação dela e abriu um sorriso pervertido nos lábios vermelhos. 
Ela, sem ao menos pensar, aproximou-se dele e começou a beijar a linha de seu maxilar, acariciando a barba por fazer com as unhas, com a mão direita. Roçou seu nariz arrebitado no pescoço dele, mordiscando a pele enquanto abaixava a mão lentamente por seu peitoral, alcançando seu membro. Ela começou a acariciá-lo, passando os dedos em suas extremidades, contornando-o. 
Ucker acelerou, fazendo-a soprar uma risada contra sua pele. 
Ela, então, desceu os lábios diretamente para sua coxa, acomodando-se no banco enquanto abaixava o zíper de sua calça e desabotoava seu par de botões. Liberou a boxer cinza escura, começando a traçar um caminho de beijos por cima do membro de Ucker. 
Ele, passando ao lado da agitada Burlesque, lembrou-se subitamente de Dulce, começando a imaginá-la. 
Lembrou-se do modo que ela o tratou quando devolveu o anel — passando a mão em seu peitoral, mordendo seu pescoço, respirando seu cheiro. Lembrou-se do som de seus gemidos, de seus corpos colidindo com força, do grau máximo de êxtase quando ela sussurrava, completamente amaldiçoada, seu nome em meio ao orgasmo mais poderoso de sua vida. 
A menina continuava acariciando seu membro, e, agora, pensando em Dulce, sentiu-o enrijecendo, tomando forma, aumentando de tamanho. 
A garota pareceu sorrir, passando a mão por dentro do tecido quando sentiu os dedos dele entrelaçados em seus cabelos, empurrando-a levemente para sua excitação. Ela liberou o membro, passando a língua por toda sua extensão, sentindo sua nuca ser pressionada para que ela não o torturasse. 
Ucker mordeu os lábios, pensando em Dulce, fechando seus olhos por apenas um segundo quando o sinal ficou vermelho. Ele abaixou o queixo, encarando a menina movimentar sua cabeça, sentindo sua língua indo e vindo em movimentos tão prazerosos como alguém que já tinha certa experiência. Sua mão a auxiliava, acompanhando seus movimentos para cima e para baixo com a pressão ideal. Suas unhas curtas arranhavam suavemente seus testículos, arrepiando-o, entorpecendo-o. Ela baixou a língua até a proximidade do períneo, lambendo-o, pressionando-o com a língua, então tornou a sugá-lo com força, relaxando a garganta para que fosse o mais fundo que conseguisse. Fechou seus olhos com força, franzindo o cenho, chupando-o e estimulando-o com a mão. 
Ucker empurrou sua cabeça mais para fundo, sentindo seu membro roçando nas paredes da bochecha dela, seus dedos se juntando quando sentiam o suave macio dos lábios em sua parte lateral, chocando-se nos movimentos. 
O sinal tornou a abrir e Ucker pisou fundo no acelerador, fazendo a garota rir em meio ao sexo. Tornou a subir a cabeça, trabalhando somente na glande, masturbando-o com força e pressa enquanto sentia sua nuca ser pressionada para baixo. 
Ucker imaginou os olhos de Dulce. Seu corpo suado exalando seu perfume doce, os caminhos vermelhos que as unhas dele causariam em sua pele, o sorriso pervertido e os olhos felinos de alguém que se encontra completamente entorpecido em meio ao prazer do ato carnal. Imaginou-a gemendo seu nome, chupando-o como aquela garota desconhecida fazia. Imaginou seus lábios, seus doces lábios, o delicioso mover de sua língua, as pecaminosas mordidas de seus dentes, o encaixe perfeito de seus sexos e o deleite mútuo pela dor do prazer.
Ele, sem querer, soltou um gemido baixo, mordendo os lábios enquanto girava os olhos por baixo das pálpebras. 
— Porra, Dulce... — ele gemeu. 
Lembrou-se dos movimentos que ela fazia quando por cima dele, e, instintivamente, começou a mover o quadril para cima, instigando a garota a sugá-lo ainda mais. Ele molhou os lábios e abaixou a cabeça para acompanhar os movimentos dela, descendo as mãos de seus cabelos cacheados para a cintura, arranhando-a com força as costas, vendo-a ficar vermelha — o sangue virgem palpitando naqueles vergões. 
A garota soltou um gemido de dor, franzindo o cenho. Quando tentou retirar a boca, ele a pressionou para que continuasse. 
— Não para — ordenou ele. A garota prosseguiu, mesmo com dor nos caminhos vermelhos. — Nós já estamos chegando aonde eu quero. 
Ucker sentiu seu membro palpitante enquanto, em meio a atenção na rua e o entorpecido lado dos pensamentos presos em Dulce, imaginava que era ela quem estava ali, sugando o seu membro, roçando os lábios e o nariz em sua pele. 
Virando em uma esquina, adentraram um beco sem saída, escuro e consumido de escadas de incêndio. Quando o carro parou, ele desligou os motores e apagou o farol, podendo dedicar ambas as mãos a pressionar a cabeça da menina para que ela não parasse de sugá-lo por momento algum, nem quando gozasse. 
Ele se lembrou do choque entre seu quadril e a bunda de Dulce. Lembrou-se de como ela era quente e úmida por dentro, de como sua mão escorregava perfeitamente por aquelas costas suadas. Lembrou-se de seus pelos eriçados, do som de sua pulsação, do gosto de seu sangue...
Ele simplesmente não conseguiu segurar mais. 
Apertou o pescoço da garota com os dedos, puxando-a com força para cima enquanto abocanhava seu busto, arrancando sua pele. Quando ela abriu a boca para gritar de dor, ele grudou seus dentes em seus lábios e os puxou, engolindo-os em meio de um segundo. Com a mão livre, continuou masturbando-se enquanto tomava a artéria do pescoço dela em uma mordida só, arrancando sua pele, seu músculo e seus nervos.
Ela, já morta, não fazia mais mínimo barulho. 
Ele moveu o quadril para cima com força quando o orgasmo deus seus primeiros indícios. O pavio começou a queimar, elevando-o. 
Ele sugava o sangue da virgem com extrema força, sem ao menos deixar intervalos para poder deleitar-se com seu doce e inocente sabor. Mordeu-a novamente, de forma que arrancasse outra metade de seu pescoço, quase desgrudando a cabeça do corpo. Ele a chupou e soltou vários gemidos seguintes enquanto apressava o movimento da mão, estreitando os dedos, indo com sua força demoníaca, sua rapidez sobrenatural. Ele sentiu seu quadril explodir em prazer, bombeando endorfina para suas veias renovadas.
Seus dentes palpitavam, sua respiração estava completamente ofegante e seus olhos só conseguiam enxergar Dulce. 
A garota caiu morta acima de seu colo úmido de branco quando ele se saciou, respirando com a boca aberta. Passou o polegar no canto do lábio, puxando os vestígios de sangue para poder lambê-lo, sugá-lo até o mínimo. 
Encarando-se no retrovisor, percebeu suas veias dos olhos saltadas. As rugas dos milênios de idade foram desaparecendo lentamente; os cabelos escuros ganharam um tom mais brilhante, assim como as íris, a pele marfim. Ele sentia o sangue circular mais rápido, renovado tanto pela nova carne quanto pelo sangue virgem, que o trazia juventude. 
Ele sorriu, jogando a cabeça para trás, sentindo a bochecha intacta quente da garota tocando em seu membro ainda sensível. Ele fechou seus olhos, tendo em imaginação o rosto da garota consumida em deleite, delirando naquele pecado. 
Empurrando a garota para o lado, puxou a boxer e a calça para ficar devidamente vestido. Virou suavemente o rosto para encará-la, sentindo pena por ser tão nova. 
Seus olhos dóceis como os de um filhote estavam vidrados, com lágrimas. 
Talvez de ânsia por seu tamanho. 
Ele riu novamente, ligando o carro e seguindo para o extremo norte da cidade, largando o corpo para suas criaturas de estimação. 
Ele sorriu para o grande lobo, largando a prostituta virgem no chão para que sua matilha pudesse começar a comê-la e desfazer quaisquer vestígios de que fora atacada por algo que não fosse um animal. 
Ucker agachou-se no chão e passou a mão na cabeça do lobo de pelo negro e olhos claros, que olhava diretamente para ele, como se conseguisse entendê-lo. 
— Nós somos amigos, não somos? — indagou Ucker, inclinando o rosto, deixando os lábios entreabertos. — Eu sei que sim. Você gosta de mim — ele sorriu, soltando uma risada nasalada. Quando se colocou de pé, o lobo seguiu para o monte de carne sem sangue. — Até amanhã, criatura.




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Autor(a): Anna Uckermann

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08.You start to freeze as horror looks you right between the eyes; you’re paralyzed. Não havia se passado muito tempo desde que o turno de Dulce havia chegado ao seu fim. Ela já tinha posto suas próprias roupas enquanto caminhava pelo salão vazio a caminho da porta, contando as gorjetas que havia ganhado naquela noite.— Dulc ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 3



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  • Plopes Postado em 17/12/2015 - 19:18:03

    G-zuis que fic maravilhosaaaaaaa continuaaa

  • Raíssa Victória Postado em 29/10/2015 - 17:19:34

    Oi,tudo bem???Sei que demorei muuuuito pra vir,mas vou ler os caps e depois,quando eu fizer a critica eu te aviso,ok?! :*

  • Raíssa Victória Postado em 18/10/2015 - 14:20:39

    m.fanfics.com.br/fanfic/50104/criticando-fanfics-critica (Quer que eu critique [Fale o que acho] a sua fanfic?Se quiser,vai lá nesse link.Só quero te ajudar! :)


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