Fanfics Brasil - Capitulo 08 Hurts Like Satan

Fanfic: Hurts Like Satan | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 08

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08.
You start to freeze as horror looks you right between the eyes; you’re paralyzed.




Não havia se passado muito tempo desde que o turno de Dulce havia chegado ao seu fim. Ela já tinha posto suas próprias roupas enquanto caminhava pelo salão vazio a caminho da porta, contando as gorjetas que havia ganhado naquela noite.
— Dulce, pode vir aqui, por favor? — a grossa voz de Richard ecoou em uma Burlesque desabitada, fazendo-a cessar seus passos no mesmo segundo, virando-se para a escada com o queixo para cima, encarando a metade do corpo dele coberto por preto que se encontrava postado para fora da cabine onde passava a maioria das noites. 
Alysha soltou uma pequena risada maliciosa, fazendo Dulce virar-se para ela com o cenho, suavemente, franzido em confusão e curiosidade. A loira, que já se encaminhava para os fundos da boate, voltou estalando seus saltos no piso de porcelanato, parando bem à frente da amiga. 
— Dê o melhor de si — ela disse, piscando. Quando Dulce abriu a boca para tornar a fazer perguntas à amiga, ouviu o pigarreio de Richard. Ela assentiu e apressou o passo para o segundo andar. 
Sentado escorregadio na cadeira reclinável de couro, ele tinha as pernas abertas e os antebraços apoiados na mesa de vidro preto. Com um ar superior, virou apenas o queixo para encará-la parada na porta, com as mãos unidas na altura da cintura, os dedos entrelaçados e os lábios vermelhos e palpitantes por serem tão mordiscados em curiosidade. 
A cabine, por dentro, era toda revestida de preto. O vidro que dava uma perfeita visão de toda a Burlesque era escuro, e, à frente do corpo pálido de Richard, havia uma gigantesca mesa de escritório com um notebook acinzentado e enfeites pontiagudos como chifres, de ouro maciço.
Ele girou a cadeira, chamando-a com a cabeça, mandando-a, silenciosamente, fechar a porta. Quando o fez, Dulce percebeu o quão escuro era aquele cubículo preto extremamente gelado.
A música soava tão baixa que não passava de um zunindo, algo que poderia facilmente ser ignorado. Os únicos sons que predominavam ali era sua respiração e a pulsação acelerada na artéria de seu pescoço. 
— Como está indo no trabalho? — Richard indagou, endireitando a postura enquanto olhava fixamente para a garota.
— Estou indo bem... — respondeu, desconfiada das intenções dele. Suas vozes soavam como trovões naquele silêncio quase perturbador. — Por quê? Alguma reclamação? — ela franziu o cenho, logo mordendo os lábios.
— Não, nenhuma — ele disse em prontidão, negando com a cabeça enquanto desviava seus olhos olivas dos dela, azuis, e olhava diretamente para a ponta branca de seus dedos com unhas curtas. — O movimento aumentou; eles adoram carne nova. É só que... — Richard se levantou, fazendo Dulce enrijecer, prendendo a respiração. — Eu não posso colocar alguém assim no mercado sem saber se é de qualidade ou não.
— Se não estiver agradando, eu faço o possível para melhorar. Sempre — encarou os olhos olivas de Richard, que esboçou um pequeno sorriso lateral no canto da boca.
— Eu preciso aprovar pessoalmente — explicou, soando sugestivo. 
Richard segurou a cintura de Dulce e, com a mão pesada, puxou-a contra seu corpo duro feito mármore, fazendo-a soltar um pequeno grunhido pelo susto e o baque. Ele inclinou seu rosto para o dela, tomando seus lábios em um beijo que já começara intenso e frio; Dulce os deixou fechados, apenas sentindo a textura macia da boca dele contra a sua, negando-se a se entregar; espalmou as mãos no peitoril dele, empurrando-o com toda sua força — que, comparada a dele, era completamente mínima. O corpo de Richard estava prensando o dela contra a porta, fazendo, além de tudo, a maçaneta pressionar sua lombar. 
— Vamos, Dulce, não seja irritante — Richard sussurrou contra os lábios dela, que não parava de resistir.
Richard segurou os ombros de Dulce e a puxou para sua mesa, pressionando-a sobre o vidro de forma que seu tronco ficasse inclinado por cima dela. Desceu as mãos pela lateral de seu corpo, moldando os dedos em suas curvas, pressionando-a para atiçá-la a querê-lo também. Deslizou sua língua pelo pescoço dela, arranhando-a com os dentes, chupando a pele da clavícula. 
Dulce, por mais que tentasse resistir, não conseguia não sentir um arrepio de excitação percorrendo seu corpo enquanto ele a beijava daquela forma. Ela sentia sua sobriedade se esvaindo no ar conforme ele a apertava nos pontos certos, pressionando-a com aquele corpo tão duro e bonito. 
E ela também não podia negar que, sim, se sentia atraída por seu chefe. Aqueles grandes e redondos olhos verdes como oliveiras. 
Richard tocou a palma áspera da mão na pele branca e fina da cintura de Dulce, contornando as curvas enquanto, consequentemente, subia sua blusa, expondo rapidamente toda a pele que recobria suas veias.
Quando tocou uma de suas grandes mãos no seio dela, Dulce arfou, jogando a cabeça para trás enquanto mordia os lábios. 
— Isso é errado, meu Deus — ela gemeu, molhando os lábios, ofegando enquanto soltava baixos gemidos conforme a língua dele baixava de seu colo para a barra preta de seu sutiã, mordiscando-o, puxando-o para baixo. Tomou seu mamilo rosado com os dentes, mordiscando-o enquanto, com a outra mão, acariciava e apertava o seio oposto.
— Você, melhor que ninguém, sabe que tudo que é errado é melhor, Dulce... — ele riu contra a pele avermelhada de seu seio, fazendo-a arrepiar. 
Dulce se entregou. Segurou com força os cabelos da nuca de Richard e os puxou de forma que a boca dele desgrudasse de seu seio e voasse para seus lábios, abocanhando-a com tanta fome que poderia destruí-la em segundos. Seus narizes se roçavam e seus lábios começavam a perder o brilho, tornando-se opacos. 
Dulce espalmou suas mãos na mesa que prensava seu corpo contra o de Richard e escorregou-a pelo vidro, fazendo aquele singular ruído que o fez separar seus lábios para sorrir. Ela, escorregando um pouco mais, enquanto tomava impulso com as pernas e as encaixava em torno da cintura dele — sentindo suas grossas mãos percorrendo sua coxa, acariciando-a e apertando-a —, sentiu algo pontiagudo em seu pulso. Quando ele movimentou o quadril para que suas excitações se roçassem em um ato malicioso, o corpo dela foi para trás e aquela ponta perfurou sua pele, fazendo-a gemer de dor e puxar o pulso, desencostando suas bocas, cortando o beijo. 
Richard, ainda com as mãos bem presas nas coxas dela, franziu o cenho e encarou a gota escarlate que começava a ganhar volume, brilhando sob o alvo da pele de Dulce. 
— O que há de errado com o seu pulso? — ele indagou sem conseguir tirar os olhos da gota vermelha. Dulce, ainda meio perturbada pelas pontadas de dor, com o furo escondido pelas pulseiras, segurou o braço e o puxou para perto do peito, analisando-o. 
— É só um furinho por causa dessas... — ela se virou, encarando aquela pequena estátua. Era um touro com os chifres bem afiados. — Coisas que você tem em cima da sua mesa — ela se voltou para ele com um sorriso brincalhão nos lábios, percebendo-o concentrado demais naquele pedaço de seu corpo. — Mas não é nada... Já vi cortes piores. 
— Deixe-me dar uma olhada — ele pediu e, antes mesmo que Dulce pudesse negar e dizer novamente que estava tudo bem, Richard já havia agarrado sua mão e a aproximado o bastante de seu rosto. 
O cheiro doce daquele sangue atiçou seus sentidos. Fora como se uma onda de nostalgia passasse por suas veias, consumindo-o em uma vontade animalesca de prová-la uma única vez, o suficiente para sugar apenas aquela mísera gota, só para matar seu início de vontade. 
— Dizem que saliva ajuda na hora de conter um sangramento — Richard não a olhou ao dizer aquelas palavras, como sempre fazia. 
— Só quando o corte é muito ralo — disse Dulce, enojando tal ideia. Ele não chuparia seu ferimento só para ajudar na coagulação. 
Mas Richard ficou com os ouvidos surdos. Os olhos estavam focalizados no tom escarlate daquela gota que já começava a escorrer por seu braço e Dulce pressentiu que algo ruim iria acontecer. Ela tentou puxar seu braço de volta, mas Richard já o tinha nos lábios. 
Passou a língua lentamente pelo caminho vermelho, assistindo enquanto o sangue se espalhava pelos mínimos cantos de sua língua, fazendo-a clamar por mais. 
O gosto do sangue dela era diferente dos quais já havia provado. De repente, ele sentiu como se um soco de energia fosse golpeado em sua nuca. Seus músculos começaram a tremer, sua garganta esquentou e seus caninos afiaram, tornando-se quatro vezes maiores, mais afiados e palpitantes. A língua se tornou áspera e, quando tornou a tocar na pele de Dulce, ela arrepiou de medo. 
Seu coração bateu mais forte quando percebeu que ele estava arrancando suas pulseiras com os dentes como se fossem feitas de papel, deixando-as cair no chão em um baque que era tão surdo para ele quanto para ela. Quando tentou puxar novamente a mão, ele a segurou com força, afundando os dedos em sua pele, deixando-a com relevos. 
— A porra lenda é real — ele rosnou com a voz muito mais grossa que o normal.
Quando ele levantou a cabeça para encará-la — tão lenta e assustadoramente como em seus piores pesadelos —, Dulce notou que suas pupilas haviam tomado os olhos, tornando-os inteiramente negros. Os dentes outrora tão brancos estavam avermelhados; a língua áspera, fina e repartida como a de uma cobra estava esticada para fora, pingando sangue. 
Ela gritou para ele parar, tentando de todas as formas tirá-lo do meio de suas pernas, empurrando-o com os joelhos ou com os calcanhares, mas ele estava petrificado, sorrindo para ela, abocanhando seu pulso como se fosse ouro.
Seus dentes extremamente afiados roçaram na pele dela, arranhando-a e perfurando-a em um corte maior, mais fundo, que liberava mais sangue amaldiçoado. 
Ela sentia a excitação dele aumentar no meio de suas pernas. 
Dulce estava apavorada, recuando para trás, para o vidro blindado que a impedia de se afastar mais daquele monstro.
Sua garganta ardia pelo tanto que gritava, mas a Burlesque estava vazia. Todos os empregados haviam ido embora. 
Ninguém caminhava naquela rua a tal hora da madrugada. Estava vazia, deserta; ali existiam somente eles dois. 
Aquilo aterrorizou Dulce.
Ela puxou o joelho para a barriga de Richard, empurrando-o com o máximo de força que conseguia, sentindo o vidro espremendo suas costas. Com o pulso livre, empurrava-o, enquanto, com o outro, o puxava. 
Dulce sentia que podia quebrar seus ossos sem que ele movesse um centímetro. 
Ela começou a chorar, gritando, desesperada. Pedia por Deus que ele parasse com aquilo, que ele a deixasse viver, mas, com absoluta certeza, Richard não pararia. 
Ele desgrudou a língua e os lábios do pulso dela, encarando-a uma última vez, deliciando-se com aquele imenso pavor. Tocou de uma forma quase delicada a pele molhada de sua bochecha, sentindo-a pressioná-la para esquivar-se, e sorriu com aquele desespero.
Aproximando os dentes do pescoço dela, o abocanhou apenas uma vez, no local exato. Sentiu o medo dela expelindo seu sangue com mais facilidade, o choro e a agonia dela exalando aquela pequena cabine com o cheiro do medo. 
Aquele sangue fez modificações em seu corpo. 
Richard se sentia invencível. Ele sorria e, quando a mordia de novo e sugava um pouco mais, sentia o prazer fortalecendo seus ossos. 
Por mais que Dulce tentasse ao máximo se esquivar daquele monstro, todas as suas tentativas se convertiam em falhas vergonhosas e mais dor para sua pele aberta. Ela tinha os dedos entrelaçados nos pulsos dele, tentando, sem parar, afastá-lo dali, mas não conseguia. Ele era forte demais. 
Ela ainda chorava, com os olhos trêmulos, e começou a pedir que a morte chegasse logo e não fosse tão dolorosa como aqueles primeiros momentos. 
Ela sabia que iria morrer. Ele era forte demais, monstruoso demais e estava faminto demais. 
Dulce fechou seus olhos, franzindo o cenho e enrugando os lábios, sentindo o coração perder força enquanto ele a sugava com tamanha velocidade, arrancando sua vida. 

Ucker começou a se sentir inquieto. Ele franziu o cenho para a noite e farejou o ar, procurando algo que o deixasse daquela forma. Alguma criatura noturna da qual ele sentia afeição, por exemplo, poderia estar sentindo essa agonia, essa dor, fazendo-o sentir também. 
Ucker, por ser filho legítimo de Lilith, sente-se mais conectado com criaturas noturnas que a maioria dos demônios. Ele pode sentir sua fome, sua sede, sua raiva, sua dor. Por isso elas também se sentem atraídas por ele, obedecendo-o, sendo um exército tão poderoso quanto a própria natureza.
Em tese, essa conexão deveria ser boa, mas, sempre que um animal está à beira da morte, Ucker consegue pressenti-la. Normalmente ele se guia até o local onde a criatura agoniza, então assiste, pacientemente, enquanto aquele manto negro da morte envolve sua alma e a suga de volta para as profundezas do subterrâneo.
Assistir, às vezes, torna-se menos doloroso que esperar com os olhos fechados. No escuro o medo fica mais aflorado, os instintos ficam mais sensíveis. Assistir enquanto a morte chega, então, é um ótimo método para não temê-la. 
Mas Ucker, por ser um demônio, não tinha medo da morte, não tinha medo do inferno, não tinha medo de seu pai, não tinha medo de briga. Não tinha medo de nada. Mas, obviamente, desgostava de algumas qualidades que tinha por ser o herdeiro. 
Se conectar profundamente com aquelas criaturas era uma das várias coisas que ele passara a odiar com o decorrer dos milênios de sua existência.
Seu coração começou a bater mais forte e ele se colocou de pé naquela pedra, olhando para o horizonte da cidade, sentindo o vento cantando na beirada de sua blusa preta, fazendo-a balançar para os lados, assim como os fios escuros de seus cabelos. 
Ele sentiu o peito inteiro queimar em medo. 
Olhou para trás, com os caninos expostos e as unhas em garra. Ele franziu o cenho, olhando para baixo. 
Mas que porra...?
Então, como um sussurro distante, abafado pelo vento e pela chuva, ele a escutou chamar seu nome. 
Ucker franziu ainda mais o cenho, parando de respirar, desejando que o vento parasse de soprar para ter certeza que a voz de Dulce realmente soara em seu ouvido ou se fora outra brincadeira de sua mente. 
Mas então ela a chamou — e, dessa vez, com mais força. 
Então ele percebeu que sua criatura noturna era, na verdade, Dulce. Ela quem estava sentindo aquela aflição e aquela dor. 
A pontada de agonia cresceu dentro o peito dele, fazendo-o querer gritar com força, mas ainda assim sentir aquilo. 
Era imensurável. Esmagava seus ossos e comprimia seu ar de forma que um nó se formasse em sua garganta, apertando-a ao máximo, impedindo-o de engolir.
Ucker saltou aquele morro como um puma, esticando as pernas e os braços. Previu sua queda e flexionou os joelhos quando os pés tocaram o solo rochoso. Com o olhar possuído por suas pupilas demoníacas, ele correu pela noite, o mais rápido que conseguia. O vento frio cortava sua pele quente, que exalava o vapor daquele contato como se fosse um asfalto quente refrescado por chuva. 
Ele tinha os dentes expostos e as costas ardiam — as asas negras e compridas querendo saltar, expondo-se para o mundo. Mas ele seria mais rápido com os pés. E conforme se aproximava, maior era sua aflição e dor. Ele sentiu os olhos arderem, sentiu vontade de começar a gritar e implorar para o inferno que aquela sensação passasse. 
Ele se controlou para não puxar os cabelos e ceder os joelhos ao chão. 
Atravessou uma rua quase deserta e já estava no meio da cidade. As pessoas e placas que passavam por ele só viam um pequeno vulto negro que exalava vapor quente — já Ucker não via nada além de borrões difusos. 
Quando se aproximou da rua da Burlesque, sua audição captou gritos fracos. Gritos que eram tão dóceis quanto o som de uma sinfonia infernal, o barulho de anjos cantando. 
Ele parou subitamente, respirando ofegante, com a boca aberta e o lábio enrugado para cima, mostrando suas presas afiadas e gigantescas. Ele chutou a porta de vidro, quebrando-a em mil pedaços minúsculos.
Uma luz vermelha soou, piscando, enquanto uma sirene alta o bastante o irritava os tímpanos.
Quando olhou para cima, percebeu uma leve movimentação na cabine posta no segundo andar. Correndo, ele subiu as escadas em uma velocidade sobrenatural. 
Ali, na visão nítida de seus piores pesadelos, ele encarou uma Dulce pálida, com os lábios sem cor e os olhos quase opacos, a respiração tão fraca que não passava de um singelo sopro. O pulso arrebentado, o pescoço mordiscado, os cabelos bagunçados e o corpo que pertencia a ele desnudo, tocado, violentado.
Quando encarou o desgraçado que havia feito tal coisa com sua amaldiçoada, conseguiu, de prontidão, reconhecer aquele maldito demônio em sua forma original. Com chifres negros na testa, os olhos escuros como a noite, a pele pálida brilhante e dura como mármore, impenetrável para qualquer arma humana; todos os dentes estavam afiados como os de lobos, os caninos cresciam para baixo, em quase três vezes maiores e mais afiados que o de humanos. 
Dulce o encarou e, como um feixe de luz, pareceu sorrir em meio ao seu transe, como se tivesse acabado de ver um anjo. 
Ucker primeiro a encarou jogada no chão, entre a vida e a morte, então encarou novamente o demônio que se alimentava com o um carrapato da sua humana amaldiçoada. 
Foi o bastante para ele perder o controle. 
A raiva era tamanha, de uma forma que ele jamais havia sentido. 
Seu corpo tomou conta de sua mente e a transformou em um vácuo negro, sugando todos seus sentidos sóbrios, convertendo-os em ira e ódio. Em apenas um segundo, seus dentes cresceram ainda mais em sua gengiva, rasgando-a, fazendo-a sangrar; suas asas negras foram expelidas com tamanha força que encurvaram sua coluna para frente e rasgaram sua blusa, deixando-o côncavo enquanto o som de ossos estralando tomava conta daquela cabine; seus olhos foram tomados por vermelho puro, de um tom escarlate brilhante que só pertencia ao herdeiro de Lilith; seus chifres negros e disformes cresceram em sua testa, firmes como diamantes. Seu sangue correu com mais força nas veias, deixando-as saltadas e brilhantes sob sua pele extremamente branca e dura. 
Em um milésimo, ele havia se tornado outra pessoa. Um monstro possuído pela ira.
— ELA É MINHA! — urrou com a voz completamente irreconhecível, grossa como nunca havia sido antes. Ele franziu o cenho, pulando no pescoço daquele outro demônio.
Suas unhas ficaram maiores, afiadas como garras negras, e penetraram com certa facilidade a pele do pescoço de Richard. Suas asas se eriçaram como espinhos, as penas outrora aveludadas se tornaram ásperas e afiadas, negras como o manto da morte, apontadas na direção de Richard, deitado no chão, encarando com ódio os olhos vermelhos do filho de Lilith. Ele tentava, inutilmente, socar e perfurar o tórax de Ucker, mas sua pele era muito mais dura que um demônio comum. Os chifres de Ucker cresceram um pouco mais, rasgando a pele de sua testa, e, conforme ele arranhava os ombros e o colo do demônio mais fraco, um urro de ódio nascia e saía por sua garganta, ecoando nas paredes daquele local. 
Ele segurou o pescoço de Richard e o elevou, virando-o e jogando-o contra o vidro blindado, vendo-o quebrar em milhões de fragmentos. O chão tremeu e o teto fraquejou. Ucker pulou em cima do demônio mais novo novamente, sentindo-o arranhar com força a lateral de sua cintura para rasgá-la, socando-a para quebrar seus ossos. Richard rosnava, mostrando os dentes, e, mesmo com o pescoço preso pelo antebraço de Ucker, ele ainda tentava mordê-lo o pescoço e arrancar sua artéria. 
A brisa noturna invadia aquele cômodo; o cheiro de chuva e sangue impregnava as paredes de suas narinas. 
O ódio consumiu Ucker enquanto ele sentia a dor de Dulce palpitando seus músculos. 
Bastou virar, suavemente, o pescoço para ver se Dulce se recuperava, que Richard abriu as pernas e chutou a lateral da costela de Ucker, fazendo-o cair de lado. Deitando-se por cima do herdeiro de Lilith, o mais novo o golpeou com um soco no alto de seu chifre, a fim que quebrá-lo para usá-lo como arma contra o peitoral de Ucker. 
Duro com um diamante e inquebrável como tal, aquele soco só causou um pequeno desconforto; Ucker rosnou, subindo a nuca para abocanhar a frente do pescoço de Richard. Arrancou sua pele, cuspindo-a para o lado, e, quando teve a oportunidade, afundou suas unhas ali, puxando o osso da garganta do demônio mais novo.
Richard recuou antes de ter mais ossos quebrados. Deu um pulo para trás, ficando agachado no batente da janela quebrada, segurando com a mão ensanguentada um vidro estilhaçado. Seus dedos grossos estavam pintados com o sangue amaldiçoado da garota que tinha os olhos rodando agonizados pelo teto, deitada com as pernas abertas e o corpo machucado; os lábios pálidos estavam entreabertos em uma tentativa falha de puxar mais ar para seus pulmões fracos. 
— O filho de Lilith vive... — ele rosnou, mostrando suas presas, mas os olhos demonstravam seu choque. Depois olhou novamente para Dulce. — E vemos que ele tem uma pequena protegida... — ele riu; um som amargo e rouco. 
Ucker rosnou novamente, em alto e raivoso som, saltando para cima de Richard, agarrando seu pescoço enquanto caíam daquela altura. O baque das costas de Richard no chão da Burlesque fez com que alguns cacos de vidro saltassem. 
Ucker começou a socar o rosto de Richard, a fim de desfigurá-lo. Socava com força, a ponto de sua mão ficar avermelhada. Mas a pele do desgraçado, graças ao sangue da sua amaldiçoada, estava mais dura, mais firme, mais forte. Assim como seus ossos, seus golpes, seus sentidos. 
Ucker sentiu ainda mais raiva, urrando quando virou o queixo de Richard. O estalo fora alto o bastante, como uma madeira quebrando, mas ainda assim não fora suficiente para matá-lo. 
Richard tornou a empurrar Ucker, que voou para a parede, segurando-se ali, com as garras negras fincadas no gesso em cinco buracos profundos. 
As veias de seus olhos estavam saltadas, vermelhas e roxas. Os dentes estavam palpitando, as feições se convertiam em puro ódio e repulsa. As asas ainda estavam apontadas para frente, envolvendo seu corpo coberto apenas por uma calça jeans como se fosse uma cúpula afiada e eriçada, que reluzia branco e grafite. Suas penas pareciam pequenas adagas. 
Ucker estava possuído por ódio. Completamente possuído.
Antes de liberar suas próprias asas — visivelmente menores e com menos penas que as de Ucker —, Richard o olhou e sorriu. 
— Eu sei onde está sua amaldiçoada e não irei descansar até que ela inteira esteja dentro de mim — proferiu, voando como um raio quando ouviu outro urro de raiva saindo de Ucker. 
Ele tomou impulso da parede e voou atrás de Richard, seguindo-o para a escuridão acinzentada de um céu com nuvens carregadas com água e raios. Seguia um pouco distante, sentindo a água congelada molhar seus cabelos, cortar sua pele. 
Estava movido à raiva, acompanhando o bater rápido das asas do infeliz que tentara matar Dulce. 
Então, subitamente, lembrou-se dela, parando de voar. Olhou para baixo, ouvindo os trovões, e não viu nada além de pontos brilhantes e arranha-céus escuros pela madrugada. 
Ele mergulhou na escuridão e esticou as asas para o vento cortá-las ao seu favor, atravessando como se fosse um pedaço de aço plano. Conforme o chão de aproximava, ele abriu as asas e as bateu apenas uma vez, indo o mais rápido que conseguia para a Burlesque, onde, postados à frente da porta de vidro quebrada, quatro viaturas de polícia estavam estacionadas. 
Ucker as amaldiçoou. 
Ele voou para um beco, descendo o mais rápido que conseguia, controlando-se ao máximo para que as asas fossem recolhidas e os olhos amenizados, os chifres encolhidos e os dentes normalizados. Encontrando-se sem blusa, pouco se fodeu para o resto de sua aparência, correndo de volta para a entrada, acompanhando o exato momento que tiravam Dulce, já desacordada, deitada em uma maca, de dentro daquele pequeno inferno particular. 
Um policial parou ao lado dele, encarando seu peitoral.
Ucker tinha a respiração descompassada e o supercílio cortado — onde Richard tentara quebrar seu chifre para cortar seu peitoral e arrancar seu coração. Os cabelos estavam molhados, assim como a calça jeans e os tênis. 
— Você estava aqui quando o ataque aconteceu? — o policial indagou em uma voz distante. 
Ucker só conseguia encarar os olhos fechados de Dulce, o pescoço enfaixado e mobilizado por aquela coleira amarela. Os pulsos estavam sangrando e sujavam sua pele tão branca, deixando-a manchada. 
Ele deveria gostar daquilo. Deveria gostar de sangue, do cheiro, do sabor, da aparência. Deveria gostar de tê-la desacordada, em um modo muito mais fácil de ser persuadida que se caso estivesse consciente. 
Ucker não pensou quando começou a caminhar para a ambulância. 
Sentiu uma mão quente em seu peitoral, o impedindo de andar, e, quando o olhou, Ucker lançou um olhar de ódio.
— Você não pode ir com a garota a não ser que seja algum parente e me comprove isso — disse o senhor robusto, com uma barba por fazer. Ucker hesitou, mordendo o interior das bochechas enquanto travava o maxilar, acompanhando a ambulância fechar suas portas e começar a correr pelas ruas desertas. — Eu vou perguntar mais uma vez — disse o policial, colocando a mão em seu cinto. — Você estava aqui quando o ataque aconteceu?
— Não — ele respondeu seco, com ódio. Não sentia nada, além disso: ódio. — Eu moro aqui perto e escutei o barulho; só quis ver o que estava acontecendo — o policial assentiu. 
— Você machucou sua testa — disse, apontando para tal lugar. Ucker levou a ponta dos dedos e sentiu o úmido do sangue, vendo-o manchar a ponta de seus dedos palpitantes. 
— Devo ter batido em algum lugar — ele ainda estava ríspido demais. 
— Vamos, entre na viatura. Eu te levo para o hospital. 
— Eu não quero. Não preciso — ele negou, dando um passo para trás.
— Isso pode infeccionar; está fundo — tentou de novo.
— Eu não preciso, caralho! — ele gritou, franzindo o cenho. O policial o encarou com os olhos arregalados em desdém e as sobrancelhas erguidas. 
— Tem certeza que não estava aqui na hora do acidente?
— Eu não sou imbecil; é óbvio que eu sei onde estava na hora que essa merda aconteceu.
— Garoto, eu acho melhor você controlar o seu tom de voz porque...
— Eu não estou me sentindo bem — disse Ucker, colocando a mão no machucado. — Essa porra está ardendo... — murmurou, mentindo. O policial engoliu e assentiu, virando-se para seu colega. Quando de costas para Ucker, este tirou a mão da cabeça e correu o mais rápido que pôde na direção que a ambulância seguiu. 

Depois de quase três horas e meia, Dulce finalmente estava sozinha no quarto de hospital. Ucker estava esperando do lado de fora, com as asas expostas e os pés paralelos ao teto daquele lugar. Ele sentiu apenas o cheiro de sua garota, então recolheu sua figura original e pulou para o batente da janela dela, em um estalo tão silencioso que mais parecia uma folha seca se partindo. 
Com imensa facilidade, destravou os fechos da janela e a abriu, adentrando o quarto com os pés nus e o corpo gelado pelo vento, frívolo pelo ódio. 
Ele encarou sua pequena amaldiçoada com os olhos fechados e um curativo branco enrolando seu pescoço. O pulso enfaixado, a mesma agulha de soro com medicamentos que ele não queria saber o nome. 
Esticou seu polegar e o tocou suavemente na bochecha da garota que, em um pulo, arregalou os olhos e puxou o pescoço para longe, sentindo-o palpitar. 
Quando seus olhos azuis se focalizaram na figura de Ucker, ela quis gritar. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente e ela sentiu o corpo tremer. Ela o encarava por trás de uma grossa cortina de água salgada. O nó em sua garganta tornou a crescer, e quando ela trouxe a mão machucada para tampar os lábios, lembrou-se da dor das dentadas daquele monstro. 
Lembrou-se de seus olhos, de sua língua, e relacionou tudo ao homem que estava parado à sua frente. 
Quando ele tentou aproximar novamente a mão dela, Dulce gemeu e encolheu as pernas, fechando os olhos com força, chorando mais do que já chorara em toda sua vida. Seus dedos tremiam, seu corpo ardia, o medo a possuía lentamente. 
— Não. Toca. Em. Mim — chorou ela, implorando. Quando abriu os olhos cristalinos novamente, o encarou com os seus levemente arregalados.
E sentiu medo. Uma avalanche de sentimentos que ela possuía dentro de si, todos convertidos em dor e pavor.
— Dulce, me deixa explicar. Me deixa ao menos... — ele tentou novamente, fazendo-a gritar um pouco mais alto. Ele deu um passo para trás, travando o maxilar. — Pelo Diabo, larga de ser tão medrosa, porra! — ele rosnou, rolando os olhos. 
A garota tremeu, mordendo os lábios com força. Seu rosto estava molhado, sua mente possuída por aquelas imagens, aquele demônio.
— Sai daqui — pediu ela, sussurrando. 
— Dulce, eu...
— Sai daqui! — ela gritou, empurrando o cobertor enquanto impulsionava o tronco para frente, franzindo o cenho, reunindo coragem para se aproximar daquela coisa. 
Ele molhou os lábios e assentiu, estalando a língua, enquanto ouvia passos apressados de enfermeiras. 
— Da próxima vez — ele esticou o indicador no rosto dela — eu não penso em salvar a porra da sua pele de um demônio que não tem autocontrole. 
E então partiu, com a mesma facilidade que adentrou aquele quarto. 
Quando a enfermeira abriu a porta, nada além do choro aflito da garota e o canto do vento habitavam aquele quarto. 

Ucker gritou de ódio enquanto arremessava uma mesa de madeira no chão, vendo-a estraçalhar em mil pedaços. Seus olhos estavam possuídos de vermelho, seus dentes estavam afiados, seus chifres estavam apontados para o céu e suas veias saltavam em roxo e vermelho. 
— PORRA! — ele gritou, chutando a parede da sala da casa de sua mãe. Ali, abriu-se um caminho para ratazanas, onde alguns poucos insetos ainda sobreviventes correram pelo piso de madeira. — DULCE! — ele gritou seu nome com a força que o diabo havia lhe dado, arranhando sangue nas paredes de sua garganta. 
Ele urrou mais uma vez, empurrando um armário de louças para o chão, escutando todas as porcelanas quebrarem. Ucker correu para o corredor da extrema esquerda, ainda ofegando em ódio, quase espumando, e esmurrou a porta de aço com o máximo de sua força. Chutava e socava, gritando, pensando em Richard, pensando em Dulce. 
Odiava mais aquela filha da puta do que a situação em si. Odiava aquela porra de mente humana tão pequena e irritante que temia o que era subterrâneo. Temia o demônio às avessas que a salvou da morte. A salvou do caralho da morte! E ela ainda tinha medo? Ela o recusava?
Ele rosnou, batendo na porta com as duas mãos, vendo-a afundar em seus pulsos. 
Fechou os olhos, mordendo e rasgando o próprio lábio inferior, franzindo o cenho quando se lembrava do modo que ela o olhou...
Estava completamente apavorada. Sentia asco, sentia repulsa. Repulsa por quem teve cuidado com ela! Por quem não havia pensado em matá-la sequer duas vezes, como aquele bastardo havia feito! Ele a salvara, inferno! 
— COMO ELA OUSA?! — ele urrou. — COMO ESSA FILHA DA PUTA OUSA?!
Ele rosnou novamente antes de enfiar seu dedo com ódio no pequeno botão que o furaria em uma pequena bolha. Quando a porta abriu um pequeno vão, ele já correra para as garrafas da coleção de sua mãe. 
Puxou as correntes que ainda prendiam os pulsos esqueléticos daqueles antigos amaldiçoados, destroçando seus ossos, quebrando-os em mil partículas infinitas. Ele chutou a parede de pedras, vendo-a abrir um buraco. 
Virando-se com os dentes expostos para as garrafas, ele capturou uma nas mãos e bateu o gargalo no próprio braço, vendo o sangue colorir sua pele pálida. Ele passou a língua ali, sentindo aquele prazer e aquela força instantânea que o sangue de um amaldiçoado carrega. Ele encaixou o vidro quebrado nos lábios, sentindo o ardor do corte, sentindo o quente do sangue escorrendo por sua garganta. 
Tomou aquele conteúdo em um gole só, jogando a garrafa no chão assim que estava terminada. 
Partiu para outra, mordendo o vidro do gargalo, engolindo-o junto com o sangue, misturando-se com seu próprio, das gengivas e da língua. 
Ele estava se fodendo para a dor. Ele estava se fodendo para aquela porra de coleção. Ele estava se fodendo para aquela maldita casa. Ele estava se fodendo para a filha da puta medrosa de Dulce.
Sentia ódio dela. Sentia ódio de si por tê-la salvado. Sentia ódio. Apenas ódio.
Quando a segunda garrafa terminou, ele partiu para outra. E outra, e mais outra. Até que todo o sangue amaldiçoado que restava naquela casa estivesse dentro dele. 
Com a boca ensanguentada e os olhos vermelhos como o inferno, ele respirava com dificuldade enquanto olhava encurvado para a porta. 
Já tinha mais força por ser o único filho de Lilith, então, agora, com diversos sangues amaldiçoados no sistema, poderia destruir Richard. 
Poderia fazê-lo ser um pedaço de merda no chão. Poderia fazê-lo engolir seu próprio corpo, comendo-o esquartejado, engolindo suas tripas. 
Ele sorriu com aquela visão, sentindo uma gota de sangue cair no chão. Olhando para baixo, apoiou o peso no corpo nas mãos e nos joelhos, encurvando as costas quando as asas negras saíram como duas navalhas de suas costas, eriçadas e abertas em quase quatro metros de largura além de seu corpo. 
Quando se colocou de pé e olhou para o teto, pronto para destruí-lo com o baque de seu corpo, ele escutou a voz de sua mãe como o zunindo de um mosquito. 
Moveu o queixo com rapidez, estalando o pescoço para trás. Fechou os olhos, gemendo que ela parasse.
Mas Lilith era orgulhosa e inquieta. Ela continuou soprando no ouvido de seu filho até que ele começasse a gritar de aflição, ajoelhado no chão, com as mãos no ouvido, tampando-os. 
— PARA COM ISSO! — ele gritou, encolhendo o corpo, encostando a testa no chão. — PARA! PARA! PARA! — ele gritou o mais alto que pôde, escutando um trovão quebrar bem acima de sua cabeça. — SAI DA MINHA MENTE, PORRA! — ele socou o chão. 
A chuva caiu como canhões, quebrando o chão, inundando tudo à sua volta. 
Ucker arqueou a cabeça, olhando com a boca entreaberta para o vão da porta. 
Ali, em meio à sua confusão e seu ódio, ele conseguiu ter o vislumbre de uma mulher com um vestido comprido e cabelos gigantescos que tinham um brilho vermelho. 
Sua boca ensanguentada, agora, estava entreaberta de confusão.
— Mãe? — ele sussurrou. — Mãe, é a senhora?
Ele se colocou de pé, apoiando os dedos no chão para tomar impulso, batendo as asas eriçadas nas paredes enquanto subia as escadas com os joelhos bambos.
Quando chegou ao seu topo, encarou as unhas compridas dos pés nus de sua mãe, o branco cristalino de sua pele. Tentando tocá-los, ela deu um passo para trás, recuando. Ucker estava ajoelhado diante da figura de Lilith, encarando-a por baixo, sem conseguir ver seu rosto sombreado. 
— Eu não tinha a intenção... — ele disse, abaixando a cabeça, reverenciando-a. Tentou beijar seu pé esquerdo, mas ela deu outro passo para trás. 
Quando Ucker tornou a levantar a cabeça, Lilith estava distante demais para que ele pudesse tocá-la. 
— Não — pediu ele. — Não vai embora. Eu posso caçá-los para você — disse, referindo-se aos amaldiçoados. — Eu posso pressenti-los. 
— Você não pode — respondeu ela, a voz somente em sua cabeça. A ruiva de vestido à sua frente não moveu os lábios. — Ninguém pode. Nem mesmo eu posso. 
— Me perdoe, mãe, me perdoe. 
— Você não tem controle — a ruiva rosnou, mostrando seus dentes. Ucker sentiu-se envergonhado, ajoelhado no chão, e abaixou a cabeça novamente. — Você é uma criança estúpida. 
— Não... — ele gemeu, começando a chorar. — Eu não sou — Ucker fechou os olhos, sentindo o corpo inteiro arder em arrependimento.
— Eu te enojo. 
Quando levantou a cabeça, a mulher havia sumido. Os vislumbres desapareceram, a chuva se tornou mais forte. Ele olhou para o lado, procurando-a, mas não a encontrou. Levantou-se com dificuldade, com o corpo e a boca molhados de sangue, e seguiu pela sala que havia pagado para que pudesse ser habitada novamente. 
Encarou os móveis revirados, sentiu o ódio perambulando pelas paredes. 
O sussurro de Lilith voltou. 
“Mas você é meu filho. E é de vital importância que eu te ajude, e não te repulse.”




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Autor(a): Anna Uckermann

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09.My favorite inside source; i’ll kiss your open sores. You’re gonna stink and burn. Richard pousou no chão como se tivesse sido arremessado, rolando uma ou duas vezes antes de se chocar com uma parede de tijolos vermelhos, deixando um rastro preto e gosmento no chão — seu sangue. Ele respirava de boca aberta, sentindo dor, com o cenho franz ...


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Comentários do Capítulo:

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  • Plopes Postado em 17/12/2015 - 19:18:03

    G-zuis que fic maravilhosaaaaaaa continuaaa

  • Raíssa Victória Postado em 29/10/2015 - 17:19:34

    Oi,tudo bem???Sei que demorei muuuuito pra vir,mas vou ler os caps e depois,quando eu fizer a critica eu te aviso,ok?! :*

  • Raíssa Victória Postado em 18/10/2015 - 14:20:39

    m.fanfics.com.br/fanfic/50104/criticando-fanfics-critica (Quer que eu critique [Fale o que acho] a sua fanfic?Se quiser,vai lá nesse link.Só quero te ajudar! :)


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