Fanfic: Encanto - Mine-DyC --Finalizada | Tema: Vondy

Dulce não viu pollito ir embora porque continuou trancada no quarto o resto do dia. Cora, a empregada, lhe levou algumas refeições e foi algumas vezes até lá para ver se precisava de algo. A senhora não era do tipo carinhosa, mas ainda assim não podia dizer que era tratada mal. Frieza e distância eram a melhor coisa que poderia querer.

A casa era mergulhada num silêncio assustador, bem diferente do que ela imaginava que fosse ser a casa de um músico. Não ouviu nada além de sussurros esporádicos entre Christopher e Cora. Era impossível não morrer de tédio. O armário estava repleto de roupas dele, por isso tinha roupas limpas, mas não possuía livros ou um rádio. Nada para tirá-la daquele mundo por alguns momentos.

Já era noite quando Cora abriu a porta do quarto.

- O patrão Urckermann saiu, criança. – ela disse – Se quiser, seu jantar pode ser servido na sala ou no jardim.

- No jardim, por favor. – candy respondeu tão rapidamente que ficou difícil esconder sua vontade de sair um pouco, respirar ar puro.

Cora assentiu saindo enquanto candy tentava achar uma roupa do outro que lhe servisse melhor para sair da casa. Mesmo que fosse no quintal, que era rodeado por muros. Optando por uma T-shirt preta e uma samba-canção da mesma cor, ela saiu de seu calabouço.

Com os pés descalços, ela sentiu a grama fria e o vento fresco e sorriu. Abrindo os braços como se quisesse voar, ficou se balançando de um lado para o outro. Imaginava como seria se fosse livre novamente.

Um pigarro fez com que ela voltasse ao normal e sorrir sem graça. Cora a observava com uma bandeja nas mãos, esperando que ela estivesse sentada, pronta para se alimentar. E foi o que candy fez assim que viu o olhar severo da mulher.

- Se precisa de mais nada, eu vou me recolher. – Cora disse para ela

- Na verdade... eu gostaria de saber uma coisa. – candy falou – Eu posso sair do quarto quando o... o senhor Urckermann estiver em casa?

- Isso você precisa perguntar a ele, criança.

- Você sabe para qual lugar ele foi?

- Os de sempre, imagino. Só espero que desta vez ele não beba o suficiente para trazer outra estranha para casa. – respondendo isso, ela se retirou, com os grandes quadris balançando de um lado para o outro.

Dulce decidiu se concentrar mais em sua comida e se pegou cantarolando por mais de uma vez enquanto colocava um pedaço de carne na boca. Quando terminou, levou a bandeja para a cozinha e lavou a louça, na sede de ter algo para fazer.

Caminhando um pouco pela casa, candy viu que ali havia vários exemplares de livros que ela sempre sonhou em ler, ou até mesmo já havia lido. Os CDs e os DVDs pareciam igualmente interessante e perdeu a noção do tempo lendo cada sinopse, cada nome, cada capa. Pegou um exemplar de `Razão e Sensibilidade`, bem conservado e com uma linda capa de veludo. Jane Austen era sua autora favorita e nunca havia lido este livro em inglês.

Deitou-se no sofá e começou a ler. Sabia o começo, o meio e o fim. Mas, saber o que ia acontecer lhe parecia ser a melhor coisa, já que não fazia ideia do que aconteceria consigo. Se perdeu por entre as letras, as personagens, a trama. Estava ali, no país onde tudo se passara e não via nada de tão mágico. Tendo esperanças de que algo tão lindo e sincero acontecesse com ela também, adormeceu com o livro aberto em cima do peito.

Não ouviu a porta ser aberta e nem mesmo o vulto que se aproximava na escuridão da noite como um predador. Já passava das três da manhã e candy estava absorta demais em seu sono para acordar. Até que sentiu um corpo cair sobre o seu e logo os beijos sedentos lhe acordaram. Pescoço, rosto, orelha, lábios. Ela era venerada por lábios quentes e úmidos.

- natalia. – ele sussurrou antes de continuar beijando-a

Abriu os olhos, confusa, e encontrou Christopher com os dele fechados e a respiração pesada, desejosa. O cheiro de álcool era forte demais, mas ele continuava sendo forte demais. Tentar se livrar do corpo dele foi inútil e apenas fez com que as mãos fortes a segurassem pela cintura, mantendo-a presa no sofá.

- Eu senti sua falta, amor. – Christopher continuou

- Não, Christopher... Eu não... – ela tentou dizer, no entanto foi calada por um beijo.

A mão esquerda dele parou em seu rosto, num carinho doce e possessivo enquanto sua língua pedia passagem para aprofundar o beijo. Dulce não conseguiu evitar com que sua pele ficasse arrepiada, mesmo com sua cabeça gritando que aquilo era errado.

- Christopher, por favor. – ela choramingou mais uma vez - Eu não sou a natalia.

Ele parecia não ouvir.

A urgência aumentou e logo a blusa de Dulce estava sendo aberta, botão por botão.

- Por favor.... Christopher... por favor...

Desistindo de tudo, candy fechou os olhos e tentou não gritar. A sua hora tinha chegado e agora ela precisava ficar quieta.

- Eu te amo, meu amor. – ele sussurrou, indo para os dois últimos botões.

Então, a porta abriu novamente, num baque feroz e decidido. Ela sentiu-se livre do corpo de Christopher e abriu os olhos. Viu o garoto se debatendo, gritando loucamente enquanto tentava atingir a pessoa que lhe segurava.

- Acorda para a realidade, Christopher! ACORDA! - a voz gritava para ele enquanto o encurralava na parede. – Não é a natalia! natalia!

Aos poucos, ele pareceu cair na realidade e a cada segundo seus olhos transbordavam maior quantidade de dor. O homem continuou segurando-o e candy não conseguia ver seu rosto, mas podia jurar que a voz lhe era conhecida.

- Eu... eu... – Christopher gaguejou e não conseguiu achar as palavras, tão pouco conseguiu olhar nos olhos de Dulce.

- Vai tomar um banho que eu vou fazer um pouco de café. – o outro mandou firmemente

Mesmo bêbado, Christopher obedeceu. Parecia perturbado, estava em uma dimensão onde a fantasia e a realidade se chocavam. Não fazia ideia do que pensar e a voz autoritária do amigo só fez com que ele fosse para seu quarto.

candy, que estava encolhida do sofá, respirou fundo quando Christopher sumiu da sala. Então, olhou para o estranho. Ele suspirou cansado quando a encarou e deu um sorriso torto, um misto de desculpas e prazer em conhecê-la.

- Eu sou o pablo. – ele disse por fim, sem se aproximar. – Você deve ser a Dulce. O pollito falou sobre você, mas não tivemos tempo de vir ontem e... Olha, me desculpe. Nós devíamos saber que o Christopher surtaria.

- Tudo bem. – ela o interrompeu com a voz um pouco mais forte – Não precisa pedir desculpas.

- Não trouxe suas roupas, também. Foi tudo meio de repente. – pablo continuou a falar.

- Como você soube que... que ele...

- Ele me ligou, bêbado e feliz, dizendo que ia para casa que a natalia estava o esperando. – o amigo explicou, passando a mão pelo cabelo. – Não consegui chegar antes dele. Me desculpe, de verdade.

- Você, provavelmente, deve se desculpar com o Christopher. Atrapalhou ele. - Dulce disse se levantando. – Ele tinha o direito.

- E você não parecia querer.

- Eu disse que ele tinha o direito, não que tinha o meu consentimento. – ela retrucou.

- Nem direito ele tem, Dulce. – pablo falou sério. – Vou fazer o café.

- Eu te ajudo. – a garota disse indo até ele. – Duvido que um astro saiba como fazer um café para o amigo bêbado.

- Eu ia tentar. – pablo falou, deixando com que ela passasse na frente e riu.

pablo pegou a cafeteira e encheu de água enquanto Dulce colocava o pó de café. Mais colheres que o necessário e sem açúcar iriam deixar Christopher sóbrio, ou quase isso. Ela se encostou na bancada de mármore preto. Tentou não parecer cansada, mas o sentimento parecia sair por cada poro de seu corpo.

- Dias difíceis? – ele perguntou, parando na bancada, do outro lado.

- Ano difícil.

-Sua história é um enigma, não é?

- Mais comum do que eu gostaria. – ela disse.

- Nem tão comum assim. Meninas que viveram o que você viveu, não são resgatadas por um astro rico. – pablo falou.

- Eu não fui resgatada, fui comprada.

- Para de falar isso, candy. – o garoto brigou. – Você vai perceber que o Christopher não é assim.

A garota ficou quieta e pablo pôde observá-la com mais cuidado. Ela era tão bonita quanto pollito havia lhe falado, mas não parecida com natalia. O fato de que Christopher sentia falta da namorada, era óbvio; o fato dele ter confundido Dulce com ela, não tão óbvio.

- Você é muito bonita. – ele disse, provavelmente sem pensar. Ou por ter pensado demais.

A cafeteira apitou e candy pegou rapidamente o café antes que ele percebesse que havia corado. Era melhor não responder - neste caso, pelo menos. Colocou numa caneca uma quantidade monstruosa de café e ficou parada, com dúvida.

- Deixe comigo. - pablo falou, pegando a caneca das mãos dela. – Seria melhor se você fosse dormir, parece cansada. Vou ficar com o Christopher o tempo todo e você pode trancar a porta.

- Faça que ele tome tudo e dê uma aspirina também, ele vai ficar com dor de cabeça. – candy disse insegura.

-Pode deixar, vou dizer a ele que mesmo sendo um incrível babaca, você se preocupou com ele. – pablo brincou e saiu para encontrar o bêbado favorito.

Quando entrou no quarto, encontrou Christopher sentado na cama, ainda com a toalha molhada nas mãos. Se percebeu que o amigo estava lá, não demonstrou. Talvez estivesse perdido demais em sua própria mente.

- Christopher...

- Não, pablo. Sem sermões, por favor. – ele interrompeu o amigo rudemente.

- Eu trouxe café. – pablo falou para acalmá-lo.

- Preciso de um remédio ou de uma garrafa de whisky. O efeito do álcool está passando.

- Claro. Eu te dou uma garrafa do seu melhor whisky e sento pra assistir você agarrar aquela garota e...

- Já entendi, pablo! – Christopher quase gritou.

Respirou fundo e pegou o remédio na mesinha de cabeceira da cama. Tomou junto com o café e se deitou na cama.

– Eu preciso dormir.

- Ótimo, chegue pra lá. – pablo disse, tirando a blusa.

Christopher parou para olhar a cena e riu.

- E você está...

- Indo dormir com você, gostosão. A candy está com o único quarto disponível da casa. – pablo se explicou. – Mas, se quiser que eu vá tentar dividir a cama com ela, eu posso...

- Deita e cale a boca. – Christopher mandou, emburrado.

pablo observou o amigo bater com a cabeça, que já doía, no travesseiro, numa tentativa de deixá-lo mais confortável. Sentiu saudades de quando tomaz era a criança do grupo. Christopher era apenas trabalhoso demais. Jogou-se na cama e sentiu o corpo comemorar pelo descanso. Ainda assim era difícil de dormir. Ficou pensando na burrada que o amigo havia feito e, sem querer, jogara todos na mesma roda. Se ele havia se encantado e ficado perdido com ela, imaginou como ficaria poncho com sua queda por brasileiras. Provavelmente, como o lobo dos desenhos animados, uivando como um louco.

- pablo. – Christopher o chamou com a voz sonolenta – Não quero que a chame de candy.