Fanfic: Um olhar de amor AyA (Adaptada) | Tema: AyA - Ponny

Anahi havia temido o momento de fazer aquela ligação para a polícia por tanto tempo que presumira que seu estômago ficaria revirado por horas, se não dias, depois dela. Mas ela não se sentia fraca nem trêmula. Bem ao contrário. Sentia-se muito mais leve, como se pudesse correr montanha acima e não perder o fôlego ao chegar ao topo.

A alfazema plantada na frente da casa de hóspedes havia florecido por completo e ela podia sentir o aroma conforme o sol a aquecia e aquecia também as flores e uvas que cresciam nas videiras por toda a estonteante propriedade de Napa Valley. Sorrindo, ela se aproximou das plantas com a tesoura e havia acabado de começar a cortar um farto buquê quando ouviu um barulho repentino atrás de si.

O instante que seu cérebro levou para perceber que Alfonso não a ficaria espiando foi um segundo longo demais para que ela saísse do caminho da mão que tapou sua boca.

A tesoura caiu quando o homem a puxou com força em direção ao corpo.

- Sua vadiazinha, eu vi você brincar de casinha com aquele cara.

Rodrigo.

Como ele a encontrara ali?

Anahi se esforçou para controlar o pânico. Se deixasse o medo dominá-la, não poderia pensar direito o suficiente para lutar contra ele. Para lutar pela vida que merecia.

No lugar do medo, ela liberou a fúria.

Porque não pretendia fugir dessa vez.

A mão do ex-marido estava macia e suada sobre o rosto dela quando ele sibilou em sua orelha:

- Você está implorando para ele fazer todas aquelas coisas sujas, sua vaca imunda?

Ele estava ainda mais furioso do que no dia em que fora ao apartamento dela. O orgulho dele devia estar muito ferido por tê-lo acertado com a lata de tinta. E, depois de viver com ele por tantos anos, Anahi sabia como seu cérebro funcionava: ele imaginava que ela ainda não havia procurado a polícia, que estava assustada demais para contar a alguém o que ele tentara fazer com ela.

Ela sabia o que ele esperava que ela fizesse. Ele esperava que ela aceitasse o que ele lhe impusesse. Esperava que ela se encolhesse. Assim como ela devia ter feito durante todos aqueles anos que passaram juntos. Ele nem precisara usar a força durante o casamento para fazê-la render-se a ele. Tudo que precisara fazer era olhar para ela como se ela não valesse nada... e ela acreditava nele.

Bem, ela sabia bem melhor agora o quanto valia. E quem era.

Anahi usou o desprezo dele por ela a seu favor e mordeu a palma da mão dele com o máximode força que tinha. Sentiu gosto de sangue quando ele gritou de dor.

Ela aproveitou a chance e deu um chute para trás, esperando acertar as "joias" dele, e mergulhou para pegar a tesoura.

Anahi quase a pegara quando seu cabelo foi puxado para trás, com força suficiente para arrancar uma lágrima de seus olhos. De alguma forma, ela prendeu o choro de dor, sabendo, agora, que Rodrigo ficaria excitado com aquilo.

- Eu rastreei seu carro e subornei o motorista do guincho para dizer onde o tinha pegado - ele se gabou - Mas não pensei que você já estaria na cama com outro cara quando eu chegasse aqui.

Ele puxou o cabelo dela de novo, tão forte que a visão de Anahi quase escureceu de dor.

- Conte o que ele está fazendo com você. Agora!

Ela sabia o que aconteceria quando lhe contasse a verdade. Ele bateria nela de novo. Ela via o quanto ele queria aquilo.

Meu Deus, havia doído tanto na primeira vez, mas Anahi sabia que tudo de que precisava era chegar alguns centímetros mais perto da tesoura. E, então, garantiria que a situação mudasse.

Para sempre.

- Você não aguentaria saber o quanto ele é bom. O quanto é melhor que você,

Assim como esperava, o punho dele voou contra ela. Mas, desta vez, ela não estava com medo, não estava apenas tentando fugir como naquela noite horrível quando ele fora a seu apartamento. Não conseguiu se mexer muito para evitar um soco, mas o choque de ser atingida foi ofuscado pela vitória de agarrar a tesoura alguns segundos depois.

O punho dele estava quase no rosto dela mais uma vez quando ela se abaixou, virou e mirou a ponta afiada das lâminas no homem para qual ela uma vez havia feito juras diante da família, tudo porque não fora corajosa o suficiente para confiar no próprio coração.

Ela por fim confiava nele. E não deixaria ninguém tirar de si o amor que merecia.

Quando o atingiu com a ponta da tesoura afiada bem ao lado do machucado escuro e do corte que ela deixara nele quando fora atacada no apartamento, o berro de dor de Rodrigo o fez cambalear para trás... diretamente no caminho de Alfonso. O punho dele acertou em cheio o centro do maxilar de Rodrigo; o som de osso batendo em osso soou tão alto e terrível no vinhedo antes tranquilo.

Rodrigo chegou a ficar vesgo enquanto cambaleou para trás, mas Alfonso não parou ali. Continuou jogando o punho contra o rosto do ex-marido de Anahi até ele parecer um boneco, com a cabeça balançando no alto do pescoço magro.

Uma voz na mente de Anahi, uma voz baixa, dizia-lhe que devia segurar Alfonso antes que ele fizesse um dano permanente. Mas, antes que pudesse, as pernas de Rodrigo cederam.

Ele atingiu o chão com força e ela esperava que estivesse inconsciente, devido ao barulho que sua cabeça fez ao chegar à terra, mas ele ainda piscou na direção dela, gemendo enquanto uma linha de sangue escorria de sua boca.

Alfonso estava abaixado ao lado dele, com as mãos em sua garganta, um instante depois.

- Peça desculpas á Anahi.

Ela nunca vira Alfonso assim, sem qualquer controle. Sim, ela sempre soubera o quanto seu amante era forte e poderoso, mas ainda era impressionante vê-lo protegê-la daquela forma.

Como Rodrigo não pediu desculpas rápido o suficiente, Alfonso apertou as mãos na garganta dele até ele começar a tossir.

- Vou lhe dar uma última chance de pedir desculpas á ela.

Rodrigo começou a revirar os olhos, mas Alfonso não o deixaria desmaiar e sacudiu-o até que ele gemesse de novo.

- Peça desculpas agora. Ou então...

A ameaça na voz grave de Alfonso fez Rodrigo abrir os olhos e encarar Anahi.

- Desculpe, Anahi.

Ela não conseguiu falar, conseguiu apenas balançar a cabeça, concordando.

Rodrigo começou a desmaiar de novo, mas Alfonso o sacudiu.

- Ainda não acabamos.

Ela nunca vira o ex-marido parecer tão acabado. Seu rosto estava sangrando e machucado, ele estava chorando e tinha terra misturada ao muco que escorria do nariz.

- Você vai se aproximar dela de novo?

Alfonso enfatizou a pergunta batendo a cabeça de Rodrigo na terra algumas vezes.

- Não. - Rodrigo choramingou. - Nunca. Nunca mais vou incomodá-la.

Os olhos dele por fim se reviraram completamente e ele desmaiou. De uma vez.