Fanfic: Que Os Anjos Caiam Sobre Mim | Tema: Anjos caídos
São nove horas da manhã de uma segunda-feira, como todas as segundas-feiras, muito chata. Apesar de ser o primeiro dia das
férias escolares, hoje é um dia extremamente chato porque minha mãe resolveu que não estou apta a viver sozinha em casa quando não tenho a escola para me distrair da minha solidão, depressão, distúrbio mental, ou qualquer outro termo que se encaixe em meu atual estado de espírito. Por esse motivo, ela está me mandando para passar as férias com meu nada adorável pai, em Saint Angel, uma minúscula cidade ao sul do nosso estado, Diamond Hills.
Eu não estou nem um pouco animada a ir para Saint Angel por dois motivos: 1) meu pai me odeia e 2) eu odeio o meu pai. Por que eu odeio meu pai? Isso é simples, além de ter abandonado a mim e a minha mãe quando eu tinha 5 anos por nenhum motivo real, ele ainda pensa que eu sou louca. Eu e minha mãe também pensamos que sou louca, mas só meu pai consegue me fazer sentir mal por causa disso. A única coisa que gosto da ida a casa de meu pai, é o fato de que ele tem livros maravilhosos que falam sobre anjos. E essa minha obcessão por anjos é o que faz meus pais e eu acreditarmos que sou louca.
O fato é que sempre sou pega em algum canto olhando para cima implorando para que os anjos presentes apareçam para mim, para que eu possa ter um vislumbre de sua magnificência. Também já fiquei internada por ter tentado o suicídio, isso porque eu pensei que se morresse eu veria os meus tão amados anjos.
- Diene! Vamos querida, já está na hora! - minha mãe grita lá de baixo.
Desço as escadas quase correndo, tentando tropeçar para que eu possa sentir a força do meu anjo da guarda me protegendo, mas não sinto nada. Minha mãe está na soleira da porta, que está aberta, com a minha mala em uma mão e a outra estendida para mim. Ela tem um olhar perturbado, cansado... Sinto pena dela. Não deve ser fácil trabalhar incansavelmente sem folga, em uma casa enorme, para uma velha rabugenta e odiosa e ainda ter que cuidar de uma filha que conversa com o vazio e pode a qualquer momento cometer suicídio... As vezes sinto raiva de mim mesma... Queria poder ser uma filha melhor para minha mãe, ajudá-la e não dar o trabalho que ela não merece. Seguro sua mão e digo:
- Eu vou tentar aguentar ficar lá dessa vez mãe, não vou fazer nada que atrapalhe você ou o Olavo...
Ela simplesmente me beija no rosto, isso quer dizer que não devo me preocupar, pois eu não a atrapalho nunca, mesmo que eu esteja de fato impedindo que ela tenha uma vida normal. Esse é o amor de mãe, mais puro e verdadeiro. Mesmo que um filho dê todo o trabalho do mundo, seja louco ou o que for, ela sempre vai amá-lo, vai fazer o mundo parar de girar se isso for fazer seu filho feliz.
Entramos no táxi a caminho do aeroporto. Minha mãe terá de viajar comigo até Saint Angel, pois ela tem medo que eu tente me jogar do avião ou coisa parecida. E isso sou eu, fazendo minha mãe gastar mais o dinheiro que ela não tem, para me levar em segurança até o homem que fez ela a mulher mais infeliz do mundo.
- Diene, nada de brigar com o seu pai dessa vez. Mesmo que ele te faça sentir mal, tente ser boazinha querida... Você sabe que vai ser difícil eu ir te buscar de novo antes da hora.
- Mãe, eu prometo que não estragarei tudo de novo. Não quero e não vou atrapalhar mais ainda você. - digo olhando em seus olhos cheios de lágrimas.
- Você nunca me atrapalha... O problema é que meu trabalho me impede de te dar mais atençao, de cuidar melhor de você, ser uma boa mãe.
- Você é a melhor mãe do mundo. Eu que estrago tudo sendo... Louca.
- Você não é louca. Você apenas tem sentimentos e desejos que as outras pessoas não entendem...
Ambas sabemos que sou louca, mas mãe é assim, diz pequenas mentiras para que seus filhos não se sintam mal por serem do jeito que são.
Porém, eu não me sinto mal por ser assim, pelo contrário, eu sou feliz assim. Eu busco aquilo que mais desejo ter, nem sempre busco de forma segura, mas a cada tentativa eu sinto que estou mais próxima do meu objetivo. E enquanto meus olhos não enxergarem um anjo, eu não descansarei.
Finalmente o avião pousa em Lagoona, a grande cidade próxima à pequena cidade de Saint Angel que nem mesmo tem um aeroporto. E lá está meu pai, me esperando com aquele mesmo olhar impaciente de todas as vezes que o visito. Minha mãe me segura pelo ombro enquanto me leva até ele.
- Oi Olavo, - diz minha mãe secamente - bom, você sabe, se precisar de alguma coisa me ligue, e por favor tente ter mais paciência com a Diene.
- Não precisarei de nada e vai ser difícil ter paciência com essa menina. Só aceito que ela passe as férias comigo porque, como pai, eu sou obrigado.
- E eu também só aceito vir para cá porque, como filha, eu quero que minha mãe possa trabalhar em paz. - solto fulminando meu pai com os olhos.
- Filha, por favor... - minha mãe começa.
- Tudo bem Suzan, já estou acostumado com essa menina. - ele diz indiferente - Vamos logo, tenho mais o que fazer.
Dou um último beijo em minha mãe e digo que ficarei bem, que não estragarei tudo com uma crise de histeria como nas últimas férias em que, depois de ouvir uma série de desaforos de meu pai, eu destrui meu quarto na casa dele e ameacei me jogar da janela, nada demais... Minha mãe me da um sorriso, ela é tão linda... Ela deve ter as feições de um anjo. Esse é meu último pensamento antes de meu pai me puxar pelo braçao a caminho do estacionamento, onde seu majestoso carro nos espera. Meu pai é um homem muito rico, mora nessa pequena cidade para ter privacidade e fugir do alvoroço da cidade grande. O motivo de ele ser tão rico, eu desconheço e na verdade nem me interesso, por mim ele poderia morrer durante a noite que eu nem perceberia. Não sou uma pessoa má por pensar dessa forma sobre meu pai, porque diferente da minha mãe, ele me odeia, me ignora tal como você ignoraria um verme e nas horas em que fala comigo, é somente para me humilhar. Tudo bem, eu consigo viver com isso, eu só posso odiá-lo de volta e seguir minha busca...
Entro no carro branco e imediatamente ele começa a se mover em direçao à estrada que nos levará a Saint Angel. Fecho meus olhos e começo a imaginar a biblioteca de meu pai, todos aqueles livros contando histórias maravilhosas sobre anjos... Lá temos as mais variadas desde contos até livros que nos ensina a sentir a presença desses seres celestiais e são esses que eu mais adoro. Penso comigo mesma que esse mês será ótimo, pois meu pai não nota minha ausência, portanto poderei gastar horas escondida com um desses livros e conversando com os seres que não posso ver ou ouvir, mas que sei, estão me vendo e me ouvem implorando para vê-los.
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Autor(a): xphoenix
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Chego à casa de meu pai e vou direto para meu quarto. Ele está diferente do que era na última vez que estive aqui. Lembro com um sorriso que no verão passado, após meu pai gritar aos quatro ventos que eu era louca, inútil, pior que um verme, entre outras coisas, eu comecei uma verdadeira destruiçao nesse quarto. ...
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