Fanfics Brasil - Perdoe-me Que Os Anjos Caiam Sobre Mim

Fanfic: Que Os Anjos Caiam Sobre Mim | Tema: Anjos caídos


Capítulo: Perdoe-me

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 Chego à casa de meu pai e vou direto para meu quarto. Ele está diferente do que era na última vez que estive aqui. Lembro com um sorriso que no verão passado, após meu pai gritar aos quatro ventos que eu era louca, inútil, pior que um verme, entre outras coisas, eu comecei uma verdadeira destruiçao nesse quarto. O abajur da mesa de cabeceira tinha virado mil pedaços de vidro depois que o joguei na parede, a própria mesa de cabeceira foi atirada pela porta, que estava aberta, e quase acertou no meu pai, eu abri as portas do armário com tal ferocidade que elas se soltaram das dobradiças, rasguei e joguei todas as roupas pelo quarto, destruí o edredom com uma tesoura e finalmente gritando blasfêmias eu tentei me atirar pela janela. Meu pai alegou que só me salvou da queda pela minha mãe, pois por ele eu poderia ter caído, morrido e ido para o inferno. Quem sabe se eu fosse mesmo para o inferno eu não o encontraria lá depois de alguns anos?


 Mas agora, o quarto não tinha mais abajur ou mesa de cabeceira, o armário não tinha mais porta alguma e não havia qualquer vestígio de que por ali haveria uma tesoura. Tranco minha porta, e começo a desfazer a mala com pressa, penduro as roupas no armário e vou para o banheiro, louca para tomar um banho e subir até a biblioteca. Termino rápido e muito silenciosamente subo as escadas até o andar que dá acesso à biblioteca. Entro e vou para minha prateleira favorita. Leio os títulos com curiosidade, apesar de já ter lido a maioria dos livros, porém dessa vez há um novo nome que chama minha atençao: "Anjos Caídos". Não é a primeira vez que vejo esse termo, porém isso me chama a atenção e decido que esse será o primeiro livro da temporada.


 Saint Angels é uma cidade afastada e é cercada por florestas  densas e aconchegantes. Posso me embrenhar nelas e permanecer por horas sem me incomodar em voltar para casa. Por isso, pego o livro e o escondo na minha bolsa, desço até a sala onde está meu pai e digo:


 - Olavo, vou sair por aí ok?


 - Quem se importa? Vá logo.


 Animada com essa resposta, saio pelos fundos da casa, passando pelo quintal que dá acesso a floresta. Pego uma trilha, que por vezes segui, rumo ao meu local favorito em todo o mundo. O pequeno Lago Astúria, rodeado por árvores enormes , é perfeito para quem quer ficar sossegado sem ser interrompido em meio a natureza.


 Alguns anos antes, pouco antes de ter tentado o suicídio aos 15 anos, li em um livro que os anjos amam a natureza, por isso se alguém quer encontrá-los, florestas próximas a lagos, rios e riachos, são o local perfeito para procurar e invocá-los. O problema é que muitas vezes tentei. Eu tinha certeza que ali eu veria um anjo, que ali eles me atenderiam e por pelo menos um segundo eu veria um deles... Mas não. Fui frustrada e então me convenci de que a única forma seria morrer. É claro! Se eu morresse um deles viria me buscar e me levar ao Paraíso, não iria? Durante meses, angustiada, planejei e me preparei para minha morte. Morrer não seria terrível, seria um presente, mas temia por minha mãe. Ela me amava, ela sentiria minha falta... Sua filha única morta... O que seria dela?


 Porém, com desculpas ridículas como: "ela vai ficar bem, vai poder ter uma vida normal", eu tomei coragem, escrevi um  bilhete pedindo perdão e me explicando. No banheiro da minha casa peguei uma das lâminas e cortei meus pulsos. Foi uma sensação terrível e quase imediatamente me arrependi. Gritei por minha mãe mas ainda faltava horas para que ela voltasse do trabalho. Desci as escadas correndo loucamente, sentindo uma dor lancinante e alcancei o telefone.


 Disquei o número da casa de Nora, a velha para quem minha mãe trabalhava. Disse que havia me machucado e imediatamente minha mãe veio ao meu socorro. Quando ela chegou eu estava estirada no chão, tentando inutilmente estancar o sangue com papel higiênico. Ela gritou, chamou uma ambulância e eu fui levada as pressas para o hospital.


 Depois disso, minha adorada mãe entrou em uma depressão que me matava por dentro, como pude ter feito isso com ela? Para me desculpar, aceitei fazer as sessões de psiquiatria, embora chegasse lá e apenas ouvisse o psiquiatra tentando me fazer falar.


 Hoje eu e minha mãe estamos recuperadas desse episódio e decidi que vou encontrar outra forma de alcançar meu objetivo. Chego no Lago, sento-me à sombra de um grande pinheiro e abro o livro. Começo a folheá-lho e um capítulo me chama a atençao:


• ANJOS QUE SE APAIXONAM POR HUMANOS PODEM CAIR•


 Meu coração começa a palpitar muito rápido, imagino "será que é possível? Um anjo apaixonado por mim... Caindo, sendo meu!" Olho por todos os lados desesperada. Um vislumbre, uma luz, um som! Algum sinal de que você está aí! Por favor! Eu preciso! Onde...


 Nesse momento, de alguma forma eu percebo que minha obsessão não é apenas uma obsessão ridícula de adolescente desconplexado. É mais. É um necessidade.  Como se eu precisasse de algo para sobreviver, algo que perdi há muito tempo.  A verdade vem a mim com tal convicção que sei que é real. É como um déjavu. Uma sensação que veio à tona ao ler a frase " um anjo pode cair ao se apaixonar por um humano".


 Finalmente eu entendo. Finalmente eu sei que não sou louca. Minha mente está clara agora... Esse livro era o estopim, o gatilho que eu precisava para entender, me lembrar... Me lembrar de quê exatamente? Eu ainda não sei...


 Começo a chorar loucamente, lágrimas caem sobre o livro. Me sinto devastada. Céus, como pude pensar dessa forma? Pensar que eu tenho uma ligaçao com um ser celestial? Nem por um momento eu devia...


 - Eu não sei o que está havendo comigo! Não mais... Eu sou louca, não sou? Eu só queria saber como vocês são, vê-los... Eu não entendo por quê! Deus... Não me deixe mais pensar sobre isso. Eu não quero mais! Não quero mais querer tudo isso, sei que é impossível, mas não entendo por quê sou assim. Perdoe-me!


 Foi a primeira vez que algo assim aconteceu. A primeira vez que falei diretamente com Deus. Eu sempre implorava aos anjos, nunca a Deus... Eu queria os anjos. E apesar de ter pedido para não mais pensar nisso, a sensaçao de entendimento não sai mais de mim.


 



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Autor(a): xphoenix

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