Fanfic: Como tudo aconteceu. — FINALIZADA. | Tema: Portiñon, Dulce e Anahí. AyD.

POV ANAHÍ

Eu estava parada, de frente para o espelho, olhando para o meu rosto e o meu corpo. Eu já tinha tirado o vestido, estava apenas de lingerie. Olhava cada parte do meu corpo, de frente e atrás, buscava defeitos. Tanto em meu corpo, como em meu rosto. O problema de ser traída, é que começamos a achar que a culpa é inteiramente nossa. Primeiro, achamos que o nosso físico deixou a oferecer, depois, achamos que fomos nós, emocionalmente que falhamos. Mas a culpa sempre recai para traída e não para traidora.

Eu sei que nos últimos meses as coisas andaram um pouco complicadas. O sexo era um fator que pesava muito. Não tínhamos mais disposição para transarmos. Bem... Eu, pelo jeito. Já que Dulce estava se esfregando com a assistente. Em muitos momentos, até tentei forçar um clima, mas ela estava empenhada demais em transar com a cadela da Rose, tanto que seu desejo por mim, tinha morrido.

Eu sei que existe um momento em que o relacionamento esfria. Mas olhando para o passado, eu nunca imaginei que o meu relacionamento esfriaria. Éramos tão quentes! Qualquer motivo era para fazermos sexo loucamente. E os anos foram passando, juntamente com a maternidade, e tudo foi se tornando tão frio... Tínhamos tentado até um terapeuta! No início, Dulce não quis, mas com minha insistência cedeu. Ela nunca ficou completamente á vontade, sempre negava os problemas. Dizia que tudo estava muito bem. Agora eu sabia o porquê. Eu supria suas necessidades emocionais. Rose suas necessidades carnais. Miserável.

O telefone tocou. Olhei para ele, em cima do criado-mudo na base, ao lado da cama que continha às malas com as roupas de Dulce. Vesti o meu robe e caminhei até o telefone, me sentei na cama, o tirei da base e atendi.

“Alô?” falei, pegando a minha taça de vinho ao lado da base, dando um gole.

“Filha?” era Marichelo, sua voz soou um pouco preocupada. “Você está bem? Sua voz parece estranha”.

“Estou ótima.” Menti, eu não tinha chorado ainda, eu não conseguia, me sentia seca por dentro, porém, tinha algo dentro de mim que parecia um redemoinho.

“Como foi a noite de autografo de Dulce? Bem?”

“Tudo como programado, mãe”. Eu respondi, olhando o líquido escuro da minha taça. “Algum problema? Aisha?” perguntei receosa.

Minha mãe riu. “Não, nenhum problema. Mas ela é motivo de eu ligar. Ela quer falar com você antes de dormir”.

Eu sorrir. O meu primeiro sorriso da noite. “Pode passar pra ela”.

Aisha, minha filha. Minha preciosidade. O meu bem maior. Era a coisa mais bela da minha vida, com os seus cinco anos de idade. Era uma mistura de mim e Dulce. Quando procuramos um perfil de doador para inseminação artificial, queríamos um com as características semelhantes à de Dulce, e encontramos. Apesar de ter os meus olhos azuis, cabelos castanhos claros quase loiros, o que lembrava muito eu, na infância. O seu rosto era oval, com saliências nas bochechas, o nariz e a boca de Dulce. Ela se parecia muito com a Dulce, principalmente na personalidade. É incrível como o vínculo afetivo entre mãe e filha, mesmo que não seja geneticamente, faz com que a filha se pareça com a mãe. E era assim que acontecia com Aisha. Minha branquinha esperta.

“Mamãe?” chamou Aisha no outro lado da linha.

“Oi meu amor. Como você está?” perguntei com um sorriso nos lábios, porém, meus olhos começaram a lacrimejar ao escutar a voz doce da minha filha.

“Bem. Você tá bem, mamãe? Parece que tá triste.” Disse Aisha, claramente preocupada, sua voz amuou-se também.

“Estou bem, meu amor”. Tentei melhorar minha voz, porém, estava mais rouca que o habitual.

“Não mente pra mim, mamãe”. Incrível como ela era esperta. “Eu sei que está triste, cadê a mamãe Dulce? Ela tem que cuidar de você”.

Nesse momento, eu não consigo mais controlar as minhas lágrimas. A dor explodiu dentro de mim, me fazendo ter um choro compulsivo. Eu não queria que minha filha escutasse o meu choro, não queria que ela sentisse e nem percebesse a minha angustia.

“Mamãe, o que você tem?” perguntou Aisha, sua voz angustiada.

“Nada, meu amor. Mamãe está muito cansada, o dia foi muito longo. Eu tô morrendo de saudade de você.” Eu disse, sugando o meu nariz. “Você promete que será boazinha com os seus avôs? Amanhã cedinho irei busca-la, certo?”.

Os meus pais tinham se mudado para o Havaí recentemente. Segundo eles, era pra ficar próximos de sua neta e de mim, mas eu sabia que era pelo clima sempre tropical.

“Certo...” ela deu uma pausa, então falou “Mamãe... Eu te amo muito e também tô com saudade”.

Eu prendi a respiração para controlar o choro, até que respondi mais controlada. “Eu também te amo meu amor, você é a razão do meu viver. Boa noite”.

Minha filha desligou, e eu chorei até a exaustão. Os meus soluços podiam ser escutados pela casa. O vinho não me foi mais atrativo. Eu chorei, gritei, estourei a taça contra a parede, eu queria morrer, queria afundar na minha dor. Deixei o meu corpo cai da cama. Por que ela tinha feito isso comigo? Eu a amava tanto. Eu era a mesma apaixonada de dez anos atrás. Apesar das complicações do matrimonio, Dulce era o amor da minha vida, e ela tinha me apunhalado pelas costas, depois de tantas coisas que passamos e vivenciamos.

Eu não merecia isso. Eu sempre fui uma esposa fiel, leal, companheira, presente, amiga... Nunca pensei que ela seria leviana desse jeito. Que ela quebrasse a confiança que era a base do nosso relacionamento por uma mulher mais nova, oito anos que eu, inferno!

Eu não merecia isso. Eu abri mão da minha adolescência, da minha juventude para dedicar a minha vida a ela. Meu mundo girava em torno dela, mesmo almejando conquista, foi ao lado dela... Eu não conseguia imaginar mais um mundo, um futuro, uma vida sem Dulce. E no entanto, a realidade me obrigava a pensar.

Eu tinha que ser forte, pela minha filha. Minha filha seria a minha base, a minha força.

A dor era esmagadora. Minha cabeça latejava, meu peito sufocava, deixando-me com falta de ar. Me sentia sem chão, a única coisa que eu queria, era dormir e acabar com esse tormento. Eu não queria mais sentir! Eu não queria sentir essa dor que me matava.

“Eu não quero! Eu não quero! Faça parar, meu Deus!” eu gritei, deixando as minhas lágrimas jorrarem, me deixando cega. Quanto mais eu chorava, mais a dor me consumia.

Levantei-me, cambaleando, foco... Pela Aisha. Abri o criado-mudo e tirei um pote de remédio da tacha preta. Tomei um, á seco mesmo. Precisava me controlar. Não queria que Dulce me visse nesse estado. Ainda ao meio ás lagrimas, busquei uma vassoura, pá e um pano pra limpar o estrago com a taça, depois da limpeza, rumei para o banheiro, precisava de um banho.

Depois do banho, me senti revigorada e mais calma. Sabia que era o efeito do remédio. Vesti-me com minha camisola, prendi meus cabelos, sentei-me na poltrona ao lado da cama e escutei um carro parar na garagem... Era Dulce chegando.