Fanfic: Adorável Cinderela *AyA*Ponny* | Tema: Ponny,AyA

Olhou a lista dos telefonemas que tinha recebido e depois os relatórios da nova incorporação.

Aquele foi um belíssimo negócio. Tinha usado toda sua capacidade de negociação para consegui-lo além de uma boa dose de espionagem industrial, mas valeu à pena.

A imensa propriedade que adquiriu em breve estaria transformada em mais um condomínio de luxo para abrigar os ricos e afetados clientes que estavam sempre de olho nos novos lançamentos da Ernest Herrera.

Enquanto folheava os estudos preliminares de terreno e mananciais, Alfonso pensou em seu avô.

Ernest Herrera era um homem grandalhão, direto e um tanto rude. Arrastou o sotaque caipira até a morte e, mesmo não sendo do tipo sorridente, que faz questão de agradar os clientes, era justo, honesto e tinha um afiado senso de avaliação de potenciais: se sentisse que alguém não tinha dinheiro para comprar alguma coisa, simplesmente se recusava a fazer negócio, até que a pessoa se interessasse por algo que coubesse em suas posses.

Detestava os ricos. Dizia que eram cheios de coisa e que não tinha aberto um negócio para agradá-los, mas para dar moradia às pessoas decentes. Pessoas ricas, para ele, evidentemente não se enquadravam nessa categoria. E foi isso exatamente que lhe deu renome como corretor e garantiu que sua pequena imobiliária sobrevivesse às muitas crises de mercado que derrubaram a maioria dos seus concorrentes.

Muitas vezes Alfonso se perguntava o que o avô diria se soubesse que agora ele só negociava com a classe mais abastada e que o lema, "Dar moradia às pessoas decentes" havia se transformado em "Dar mansões aos que podem pagar".

- Bom dia, Anahí! - cumprimentou Minerva Willbert, abrindo a porta.

- Bom dia, como está á perna hoje?  Trouxe suas roupas e também passei na mercearia do Sam e ele mandou algumas coisas. Onde as coloco? - perguntou a moça, que usava um macacão largo e sujo de graxa.

- Na mesa da cozinha, meu bem. Não sei o que faria sem você!  E é tão ocupada, com o bar e a oficina...

Ela sorriu.

Minerva Willbert falava essas coisas com orgulho. Conhecia a garota desde criança e sabia muito bem o duro danado que a pobrezinha dava para viver: desde que o pai desandou a beber depois que a mãe fugiu com um vendedor do Oregon, foi Anahí quem tomou conta do bar e não deixou que fosse à falência.

A oficina mecânica veio depois, numa tentativa de ganhar uns trocados a mais. Não foi fácil enfrentar os bêbados e desocupados que passavam o dia jogando bilhar e ainda conseguir tempo para terminar os deveres escolares.

Quem a ajudava? Minerva!

Na época da fuga da mãe, o pai vivia bêbado, perturbando a cidade inteira. Vagava pelas ruas berrando o nome da mulher, a quem chamava de "traidora" e xingava de todos os insultos que sabia, a plenos pulmões.

Quando todos se esgotavam, inventava algum na hora, como foi o caso da "árvore tentada"  expressão que, embora ninguém soubesse o que queria dizer, logo foi incorporada ao repertório de xingamentos da cidade.

Minerva invariavelmente ajudava a garota a levá-lo para casa e enfiá-lo debaixo do chuveiro gelado para acalmar a bebedeira. Depois ficava com ela, que na época tinha apenas 13 anos, até que o pai começasse a roncar.

Anahí pensava que nada que fizesse na vida seria suficiente para pagar os favores que aquela mulher lhe tinha feito.