Fanfics Brasil - 4ª FASE Capítulo 6: FANTASMA Dulce Problema X Christopher Solução - Adaptação

Fanfic: Dulce Problema X Christopher Solução - Adaptação | Tema: Vondy / Ponny / Meio chaverroni


Capítulo: 4ª FASE Capítulo 6: FANTASMA

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4ª FASE


Capítulo 6: FANTASMA


Dulce PDV


– 150! – Alguém berrou ao longe.


Fitei Christopher, que me encarou e, em seguida, desviou o olhar. Um nó se formou em minha garganta. O dilema estava presente. Se eu desse algum lance por ele, estaria colocando todos os meus planos a perder. Além de que seria constrangedor me esgoelar por alguém que, certamente, não correspondia meus sentimentos.


– 200! – Procurei a dona da voz e não foi surpresa nenhuma encontrar Lucy, sorridente, próxima ao palco.


Deixá– la beijar o Uckermann era pior do que apanhar. Minha cabeça girou em confusão e eu não conseguia alinhar devidamente os prós e contras.


– 300!


– 350!


Puta merda! Se houvesse um jeito...


– Dul,Você está bem? Tá ficando verde. – Alertou– me a fofolete. No momento em que meus olhos focaram minha mochila nas mãos dela, tive A IDÉIA! Agitei– me de imediato.


Puxei, o mais rápido que pude, minha prima para longe da multidão, enquanto os lances ainda ecoavam no bar.


– Any, rápido, faz alguma coisa! – Tentei respirar, mas a recente idéia latejava na minha cabeça, fazendo– me perder o foco de todas as outras coisas. – PÁRA O LEILÃO! – Ofeguei.


– Hein? – Começou a tremer.


– Pára pelo tempo que conseguir, não vou demorar! Minha vida está em suas mãos! – Arranquei– lhe a mochila e disparei em direção ao banheiro feminino.


– Como? NÃO VOU CONSEGUIR! – Berrou.


– CONFIO EM VOCÊ! – Disse– lhe o mais alto que pude, antes de me jogar porta adentro.


Anahí PDV


PARAR O LEILÃO? Arregalei os olhos. PARAR O LEILÃO? Quiquei de nervosismo.


– 400! – A oferta me fez girar e fitar o palco onde meu cunhado ia ser leiloado.


– 500!


CARAMBA!


Dulce devia estar enlouquecendo de ciúmes ou, simplesmente, enlouquecendo, o que já era suficiente para acabar tudo em merda. Ela parecia ter um plano pra evitar o desastre que estava por vir e tudo que eu precisava fazer era parar o leilão. Mas como?


– Eu não consigo! – Choraminguei, suando. – Não consigo! – Pulei, aflita.


– 600! – Ao ouvir o valor, estaquei e respirei fundo.


EU CONSIGO! HORA DE MORFAR!


Olhei à minha volta, à beira do desespero. Então, notei que, a dois passos de distância, de costas para mim, estava o careca metido que ofendeu Marius, horas atrás. Ao lado dele, uma moça com toda pinta de vagaba, beijava o namorado musculoso. Em um impulso maluco, apertei, com força, a bunda da moça.


– Ei! – Reclamou ela, virando– se.


Olhou– me de relance e fiz minha melhor cara de ingênua. Logo em seguida, encarou o careca, que entendeu erroneamente seu olhar e sorriu malicioso.


Sorri, satisfeita, com o que veio a seguir.


Dulce PDV


Abri a mochila em um único movimento. Depois, joguei tudo que lá havia em cima da pia.


– Seguranças! – A voz nervosa no microfone era da tal Cindy. – Briga no meio do bar! – Paralisei com o fato. – Acalmem– se, pessoal, o tumulto logo será contido! Por favor, não entrem em pânico!


– Any. – Murmurei, satisfeita.


Minha prima tinha mesmo super poderes, isso eu tinha que admitir. Os minutos que levariam para conter a arruaça, seriam o tempo necessário pra que eu mudasse da água pro vinho.


Sem me importar com mais nada, tirei as roupas que estava usando e vesti as peças escolhidas a dedo para o encontro com Vincent. A calça frouxa, a blusa larga com capuz e o tênis me tornaram quase irreconhecível. Christopher nunca havia me visto com aqueles trajes. Quando procurasse pela Dulce produzida, nada encontraria.


Mesmo com o cabelo preso e escondido por trás do grande capuz, meu rosto ainda se mostrou um problema. Claro, meu plano não era perfeito. Ainda assim, peguei o restante do dinheiro que ganhei no racha e enfiei em bolos dentro dos bolsos. Recolhi minhas coisas às pressas, metendo tudo dentro da mochila, que foi escondida em uma das cabines atrás do vaso sanitário.


– Tudo bem, gente, tudo bem. Ninguém está ferido, vamos manter a calma e continuar o leilão. – Anunciou a líder de torcida. – Quem vai beijar Christopher Uckermann?


Esfreguei o rosto, ansiosa e trêmula, pois, se meu plano falhasse, a humilhação seria maior do que se eu tivesse admitido ao Uckermann que estava enciumada. Por um segundo, pensei em desistir da insanidade.


Droga! O que estou fazendo?


Vacilei, dando um passo atrás. Era hora de ir para casa?


– 700! Ele é meu! – A cretina que berrou, cutucou, intimamente, a garota de má reputação e encrenqueira, com a qual eu lutava para reprimir dentro de mim, já há algum tempo.


De repente, todo o receio se dissipou.


– 800!


Estava pronta para encarar a parada. Saí do banheiro correndo, aflita, pelos valores estarem aumentando tão rápido.


– 900! – Burra, fiquei na ponta do pé, procurando a futura defunta que falou aquilo. Outra vez, dei de cara com o bagaço da Lucy.


Filha da mãe!


– 1.000! – Gritei, escondendo o rosto. Enquanto os estudantes procuravam a responsável pela oferta, fui serpenteando, disfarçada, até a mesa mais próxima do palco.


Lá, estavam os amigos skatistas de Poncho. Todos supostos maconheiros, risonhos até demais. Tratei de me misturar entre os quatro malandros, que não se incomodaram com a minha presença.


– 1.050!


Arregalei os olhos, chocada.


– 1.200! – Berrei, disfarçando a voz e escondendo– me atrás do magricelo alto, que fumava um cigarrinho suspeito.


– É muita grana, meu irmão! – Murmurou para mim, o malando que me servia de escudo, em um tom preguiçoso.


– 1.300!


– 1.400!


– 1.450!


– PORRA! – O xingamento saiu involuntário. Não agüentei. Puxei do rosto do malando os ósculos escuros, monstruosamente grandes, empurrando– os contra minha face, enquanto subia na mesa.


– 1.500! – Ofereci, sem pensar.


Todos me olharam, intrigados. Fui muito ovacionada. Sorri, já sentindo o gostinho de vitória. As meninas e os irmãos de Christopher observavam, atentos, há alguns metros de distância. Nenhum deles me reconheceu, nem mesmo Alice.


– 1.600! – Disse Lucy, imitando meu ato, subindo em uma mesa há uns 4 metros de mim. Foi aplaudida por suas amigas fuleragens. O sorriso cretino que sustentou, me fez ferver. Eu era um vulcão prestes a entrar em erupção.


– Alguém dá mais? – Perguntou Cindy. – Vamos, meninas, alguém dá mais?


Bufei.


– 1.700! – Gritei, com a voz bem grossa, evitando olhar diretamente para o Uckermann.


– É isso aí, chapa! – O skatista soltou a fumaça de seu cigarrinho perto do meu rosto, me fazendo tossir e ficar meio zonza.


Os cochichos no local, começavam a me aborrecer. Não consegui entender os murmúrios, mas alguém pareceu ter dito – por que a sapatão quer beijar o Uckermann?


– 1.700 dólares? – A líder de torcida exploradora de homens, sibilou, animada. – Dou– lhe uma....


– Espera! – Claro, só podia ser o bagaço da Lucy. Revirei os olhos, ao ver as amigas enchendo suas mãos de grana. – 1.800! – Anunciou alto, sacudindo o dinheiro.


Coloquei a mão no peito. Meu coração tripudiou revoltado. Os berros dos estudantes retardados, só terminaram de cravar a facaem mim. Com a boca entreaberta, fitei Edward no palco, todo escroto, movendo a cabeça de um lado para outro, como se procurasse um rosto em meio à multidão.


– 1.800! Dou– lhe uma, dou– lhe duas...


– PÁRA! – Gritei, explodindo de raiva. Retirei dos bolsos tudo que eu tinha, as notas amassadas eram difíceis de contar. Mesmo sem ter certeza do valor, berrei: – 1.900!


Chutei os copos na mesa, para me dar mais espaço. Ajoelhei– me e passei a contar a grana ali mesmo, enquanto era motivo de risada para quase todos. A fumaça que me circundava, dificultou as coisas. Fiquei meio grogue.


Ainda remexia nas notas, quando ouvi:


– 2.000!


Minhas mãos tremeram. Não tinha como competir com aquilo.


– 2.000! – Repetiu Lucy. – É minha última oferta! – Piscou pra mim, sabendo que eu não tinha como cobrir a porra da oferta.


Cindy comemorou o sucesso do seu leilão e já estava pronta para encerrar a safadeza.


Engoli seco, encarando Christopher, que mantinha– se indiferente a mim, como se realmente não me conhecesse. O bagaço da “EX” dele, batia palmas, saboreando a vitória. Foi nesse momento que vi tudo vermelho e perdi o controle.


– 2.000 dólares! Dou– lhe uma.. – Cindy ainda tagarelou, mas ignorei, arrancando o tênis do meu pé direito e, com toda a força, lançando– o contra Lucy. O tênis atingiu, milagrosamente, a cara dela e ricocheteou para o palco. A carniça cambaleou e, em seguida, caiu no chão. Uma porção de gente foi socorrê– la. Gargalhei, sem remorso.


Olhei pro dinheiro na mesa, constatando que tinha exatamente 2.000 dólares. Me arrependi de ter gasto 1.000 dólares comprando os móveis para o novo quarto.


Lucy recuperou– se com ajuda.


– Christopher vai ser vendido! Dou– lhe uma, dou– lhe duas, dou– lhe...


– DOU MAIS! – O grito rouco e estranho, até me espantou. Dessa vez, o maldito EDIZINHU prestou alguma atenção em mim. Ergueu as sobrancelhas, confuso. De repente, estavam todos encarando– me, bobos, como se eu fosse uma doente mental. Cá entre nós, eu sou uma doente mental! Como eu entro nessas? Segurei firme, as notas, quase desamassadas, no alto da cabeça e cavouquei os bolsos da calça com a outra mão, pedindo por um milagre. – Dou 2.000 e ... – Arfei. – E... – Xiii... Ferrou! Por sorte, achei algo no fundo do bolso. Sabia o que era só pelo tamanho. – 25 centavos! –Exclamei, exibindo a moeda para a galera, que caiu em uma estrondosa gargalhada. – MUITO BEM, MEU LANCE É 2.000 DÓLARES, 25 CENTAVOS E... – Fitei o skatista ao meu lado. – ...UM CIGARRINHO! – Puxei o bagulho da boca dele.


Cindy balançou a cabeça, incrédula. Depois, finalmente, anunciou:


– 2.000 dólares, 25 centavos e unzinho! Dou– lhe uma, dou– lhe duas, dou– lhe três! VENDIDO PARA A... – Analisou– me com desdém, como se não tivesse certeza do meu sexo. – PARA AQUELA PESSOA! – Apontou para mim.


ESPERA, EU VENCI?


– EU VENCI! – Pulei, chacoalhando todo o corpo em comemoração. – ISSO! DÁ– LHE, GAROTA!


Saltei da mesa. Corri para o palco, jogando o dinheiro nos pés de Cindy. Vibrei de felicidade. Agora sim, os gritos e aplausos valiam a pena ouvir. Soquei o ar algumas vezes, em puro êxtase.


– BEIJA! BEIJA! – Ovacionou o público medíocre.


BEIJAR?


Congelei, do dedão do pé ao último fio de cabelo. Porra, como eu sou burra! Fiquei tão focada em não permitir que alguém comprasse o UCKERZINHU que acabei por esquecer completamente as conseqüências, ou melhor, o beijo. O que tenho na cabeça? Merda? Então, alguém, por favor, puxe a descarga!


Cabisbaixa, me escondi ainda mais atrás dos óculos grandes e capuz.


– Vamos acabar logo com isso. – Sussurrou Christopher, desinteressado. Ele também estaria achando que eu era sapatão? Que povo de mente limitada! Ninguém pode simplesmente ter um jeito de vestir original?


Suei com as pernas tremendo. Pronto, eu ia ser descoberta. Trinquei os dentes. Será que ainda dá pra ir naquela sessão de descarrego?


As mãos firmes do Uckermann seguraram meus ombros, virando– me de frente para ele. Mantive a cabeça baixa e os punhos cerrados, sem conseguir respirar. Se o beijasse ali, lógico que o mané notaria que era eu. Notaria? Distinguiria o sabor dos meus lábios? A dúvida me incomodou mais do que deveria.


– BEIJA, BEIJA...


Ele tentou erguer meu rosto com os dedos, porém, resisti com dificuldade.


O jeito que me tocava era diferente do que estava acostumada. Faltava o fogo em suas mãos que tendia a incendiar– me.


Como a mais covarde das criaturas, afastei– me abruptamente. Empurrei Cindy para o lado e lhe tomei o microfone.


– Não posso beijar esse homem! – Disfarcei a voz, obrigando– a a ser grossa e com algum sotaque sulista. Expirei antes de continuar. – Sou apaixonada por aquela mulher! – Apontei, severamente, para Lucy.


O “OH” em coro ecoou no bar. Ela balançou a cabeça negando, aturdida.


– Nós temos um caso, não é, baby? – Prendi o riso, vendo– a arfar de constrangimento. O bagaço passou a ser o centro das atenções e futuras fofocas em toda Dartmouth.


Não me deixei distrair pelo zumbido das insinuações. Ainda estava preocupada em ser desmascarada. Christopher tocou meu ombro esquerdo e um choque percorreu meus membros.


Tô fodida! Pensei na hora.


Teria falado demais? Ele me reconhecera? Meu estômago fez um barulhão. Não tive coragem de me virar. Então...


– ROUBARAM! – Alertou alto, um homem na entrada do bar. – ROUBARAM AS MOTOS!


Iniciou– se um pandemônio, todo mundo tentou sair ao mesmo tempo.


Poxa, roubaram todos? Graças a Deus, não vim com a minha Ducati. Me safei!


Girei o calcanhar e o Uckermann já não estava atrás de mim. Ele saltou do palco, tentando passar pela multidão à sua frente. Não deixei de notar meu tênis na sua mão, será que era isso? Estava tentando me devolver o sapato?


Dei de ombros e tratei de escapar em meio ao parangolê.


Christopher PDV


Empurrei, com força, dois sujeitos à minha frente. Ao passar por eles, meu olhar vasculhou a rua tumultuada. Aliviado, avistei minha Suzuki estacionada, exatamente onde havia deixado.


– DROGA! – Vincent socou o ar, gritando, furioso. Sua gangue estava igualmente irritada. Ninguém ousou chegar perto.


– Parece que roubaram apenas os veículos deles. – Explicou– me Poncho, aproximando– se.


– Como assim?


– Não faço idéia. Deve ser pessoal. – Comentou. – Quem fez isso, arranjou um problemão! – Observávamos a ira tóxica do grupo.


– Vamos embora. – Sussurrei. – Chega de confusão por hoje. – Falei, sendo fuzilado pelo olhar de Guns, um dos motoqueiros revoltados.


O peso do tênis na minha mão esquerda fez– me lembrar da garota, meio garoto que quase beijei. A skatista caloura devia ser muito louca pra dizer que tinha um caso com Lucy. Podia apostar que ela não deixaria barato. Algumas pessoas levam esse lance de reputação muito a sério. Tentei esquecer o assunto, mas a sensação de que conhecia a skatista não me abandonou. Saco, que diferença fazia? Deveria estar voltando minha atenção para as prioridades, ou seja, meu futuro quase inexistente com Dulce Maria Saviñón. A sorte dava– me as costas a cada dia corrido e eu já não tinha certeza do que estava fazendo.


– Cadê a Dulce? – Perguntei, assim que Any apareceu.


– Foi pra casa há muito tempo. – Respondeu de imediato.


Dulce PDV


Corria para casa só de meias, segurando o sapato que restou. Tentava controlar a crise de riso, porém, era extremamente difícil. Às vezes, não acreditava nas maluquices em que me metia.


Aumentei a velocidade, tentando chegar em casa antes dos outros. Podia ouvir apenas o chacoalhar da mochila nas costas, o vento nos cabelos e as minhas risadas irregulares. A rua, vazia e silenciosa, era um alívio. Ao dobrar a esquina, vi uma comitiva de motos rasgar o silêncio da noite com o ronco dos motores. Imediatamente, reconheci as máquinas. Era impossível não identificá– las.


– Vincent! – Cuspi desgostosa, ainda correndo.


As motos passaram barulhentas por mim, fingi não vê– las. No entanto, uma delas ficou para atrás, as outras sumiram de vista.


Bufei, irritada. Era tudo o que eu precisava: o playboy me enchendo o saco! Me arrependi de ter me livrado dos óculos e baixado o capuz.


A moto fez uma manobra, levantando poeira do asfalto e parou à minha frente, bloqueando o caminho. Ia abrindo a boca para reclamar, mas ele retirou o capacete.


– Carona?


– Lógico! – Respondi, subindo rápido na moto. – Ei, Jake, quem são os outros?


– Velhos parceiros Quileute, trabalhavam para mim em Verona. Chegaram hoje da Europa.


– Hmmm...você sabe que agora está encrencado, certo? – Alisei a máquina abaixo de nós. – Está mesmo disposto a iniciar uma guerra?


– Sempre estou. Não tenho nada a perder. Além disso, ninguém me afronta do jeito que o sujeitinho fez. – Zombou, acelerando.


Graças a carona de Black, cheguei à casa antes dos outros. Desesperada, me livrei das roupas, colocando– as no fundo do cesto e vestindo algo confortável.


Mal sentei no sofá e os outros invadiram o apartamento, tagarelando alto.


– MUNDIÇA, TUDO COISA DE MUNDIÇA! – Marius jogou as mãos pro ar. – Odeio essas festinhas provincianas. Que saudade da Itália... os homens daqui são orangotangos, até as bichas são de quinta! – Gemeu, fazendo careta. – TPM total, é só o que digo a vocês! TPM...Tudo Pobre Mesmo!


– O que aconteceu? – Banquei a desentendida, ficando de pé em um pulo.


– Roubaram as motos do pessoal do Vincent. – Disse– me Christopher, preocupado.


– Ah... – Revirei os olhos, como se já não soubesse.


– E você, o que...


– AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH! – Christian rompeu meus tímpanos, subindo em cima do sofá, como uma mulherzinha, agarrado, óbvio, ao porco bizarro.


– O que foi? – May amedrontou– se.


– Sangue! – Com a voz fantasmagórica, indicou a entrada da cozinha.


Meus olhos saltaram para fora. Não tinha percebido aquilo. Havia mesmo manchas vermelhas no chão. Estremeci.


Todos, exceto o bisonho, fomos checar. Em círculo, ficamos em volta da pequena poça vermelha. O espantoso é que havia um rastro que levava a cozinha e outro ao corredor.


– O cú...cú... – A bichona começou a gaguejar, trêmulo. – O cú– lpado se...se...acuse! – Mordeu o punho.


(o cu ....kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ri quase morri com essa)


Trocamos olhares entre nós. Lógico, não havíamos feito aquilo.


– É o fantasma! – A idiotice só podia sair da boca do serial killer. Eu não era medrosa, mas aquilo quase me fez molhar as calças.


De repente, o ambiente tornou– se, desagradavelmente, silencioso. Os pêlos dos meus braços eriçaram– se.


Só para piorar a situação, Marius foi atingido pela histeria agudíssima.


– EU SOU VIRGEM! EU SOU VIRGEM! – Aterrorizado, abriu os braços para o nada.


– Que merda é essa que tá falando? – O Uckermann perdeu a paciência.


– Nos filmes de terror... – Abraçou– se a Poncho. – ...os virgens sempre sobrevivem! – Explicou o lunático. – Na verdade, sou mais rodado que pneu de buzão, mas... não custa tentar. – Brincou com os cachinhos do maníaco por limpeza.


– Sendo assim, Tocinho, você vai sobreviver, você é tão puro! – Christian alisou o porco, despedindo– se.


– NÓS VAMOS MORRER! – O pavão chacoalhou Any, depois May. – VAMOS MORRER! – Veio em minha direção. – VOU MORRER POBRE... – Olhou para as roupas que vestia. – ...MAS CHIQUE! – O desgraçado chegou até mim. – VAMOS MORREEEEEEEEEEEEEEER...


Dá para agüentar? Não! Dei– lhe um tapa que o fez girar.


– Cala essa boca agourenta! – Exigi, sacudindo a mão com dor.


– Obrigado! – Agradeceu Christopher, aliviado.


– Eu te odeio... – A bichona esfregou a face, choramingando. – ...tomara que você morra primeiro, sua draga uÓ! Catiroba azeda!


– Pelo amor de Deus, ninguém vai morrer. – O suposto maconheiro, com os dedos lambuzados do líquido vermelho, nos acalmou. – Isso é catchup! – Garantiu, cheirando o troço.


Fui a primeira a invadir a cozinha, surpresa em encontrar a geladeira escancarada, restos de comida espalhados e o frasco de catchup aberto, jogado no chão.


– Viram só? – May indicou a bagunça. – Não há o que temer.


– Ainda assim, alguém entrou aqui! – Corrigiu Christopher, intrigado.


Ele passou a seguir o rastro de catchup e nós o acompanhamos. Uma fileira de covardes, um se escondendo atrás do outro.


– Cuidado! – Pediu a fofolete, quando chegamos ao corredor que levava ao sótão.


– Um ladrão? – Indaguei baixinho ao meu namorado, quero dizer, ex– namorado... Espera eu decidir?


Ele não respondeu. Apenas abriu a porta e nós subimos as escadas, tentando enxergar além da escuridão.


– Que estalo foi esse? – Perguntou minha prima, tensa.


– Er...foi o Tocinho! Eu juro! – Christian riu. – Ele é danado!


Fala Sério!


– Shhh! – Pediu silêncio, meu Uckermann aborrecido. Involuntariamente, apertei, com força, seu braço.


Já estávamos dentro do sótão. A escuridão intensificou nossos temores.


– Acende a luz! – Sussurrei.


Christopher obedeceu e a fraca iluminação não foi o suficiente para Alice parar de tremer, atrás de mim.


– Queria tanto ter um bonequinho...sabe...assim, másculo e forte para me defender...HU!...OHOHOHOHOHO! – Comentou o pavão, acariciando o braço do bisonhento.


– MERDA! NEM NA HORA DA MORTE SE TEM SOSSEGO! EU VOU DESCER O CACETE NELE, ESTOU AVISANDO, HEIN!?– Esbravejou o bonequinho, quer dizer... o Christian, irado.


– DESÇA! DESÇA O CACETE TODINHO EM MIM! VAMOS BRINCAR DE POKÉMON, ENTRE NA MINHA POKÉ– BOLA! HU!...OHOHOHOHOH! – O viado era masoquista. Fato.


– Fiquem quietos! – Ordenou Christopher, dando um passo à frente, como se tivesse percebido algo.


Incapaz de soltar seu braço, o segui. Caminhou devagar até a cômoda velha, largada no canto esquerdo. Inclinou– se para olhar atrás dela, então, aconteceu...


– SAIAM!


– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH! – Gritamos de susto. Any desabou no chão, ao meu lado.


Esfreguei os olhos para ter certeza de que estava mesmo vendo aquilo.


– O que...quem... – O Uckemann não estava conseguindo formular a pergunta.


Dava para entender a reação dele, afinal, estávamos diante de um garoto que devia ter uns 7 ou 8 anos de idade. Maltrapilho, com roupas sujas, largas, e rasgadas. Um gorro imundo cobria– lhe a cabeça. Segurava um sanduíche grande e a boca estava suja de catchup.


– O que está fazendo aqui? – Por fim, falou o Uckermann, agarrando o garoto pelo braço.


– Me solta, seu cabeçudo! – Esbravejou o trombadinha.


– Viram só? – Christian gargalhou. – Não é só eu que acho! – O panaca se achou o máximo.


Ergui as sobrancelhas, observando nosso hóspede incomum chacoalhar– se todo, tentando fugir.


– Que menininho mais bonitinho, gut– gut do titio Marius. – O intrometido disse, com a voz melosa.


– SAI PRA LÁ, BICHONA! – Resmungou o pequeno mal educado. Gargalhei.


Horrorizado, a bicha pôs a mão na boca e quase lacrimejou.


– Eu te odeio, seu pivete uÓ! – Choramingou como sempre.


– Nossa! Como ele sabe tanto sobre nós? – Minha irmã falou, levantando Any com ajuda de Poncho.


– É, e ele fede! – O bisonhento fez careta.


– Rá! Olha só quem fala, o cheirador de porco! – O pirralho revirou os olhos.


– Quem quer matar ele primeiro? – O serial killer levantou a mão e Marius também.


– NUNCA VÃO ME PEGAR VIVO! – Gritou o garoto, dando um chute certeiro no meio das pernas de Christopher, que tombou para trás, mais vermelho que pimenta. Podia jurar que vi uma lágrima ameaçar escorrer de seu olho esquerdo.


O baixinho disparou para fora do sótão, e nós ficamos rindo da expressão dolorosa do Uckermann.


– Vão... – Enxugou a testa suada. – ...pegá– lo! – Murmurou, com a voz embargada.


E assim fez a cambada. Aproximei– me de UCKERZINHU e lhe dei um tapinha nas costas, dizendo:


– Quanto será que você vale agora? – Zombei, sem piedade. – O garoto é bacana, né?!


O idiota xingou baixo, ao sair andando de forma hilária.


Christopher PDV


De uma coisa eu tinha certeza: ia matar aquele mini– delinqüente. Desci as escadas, furioso, depois, marchei apara sala barulhenta.


– CUIDADOOOOOOO! – Alguém alertou.


Espantei– me ao ver o Toicinho, literalmente, voando em direção ao meu rosto. Em um impulso, desviei e, consequentemente, o porco atingiu a Saviñón desavisada atrás de mim.


O baque de seu corpo caindo no chão foi audível. Ao vê– la estendida, esfregando a face, quase consegui sentir culpa. Porém, estava com dor demais pra sentir qualquer coisa.


– TOICINHOOOOO! – Meu irmão jogou– se ao solo, socorrendo o animal, que estrebuchava. Já Bella...bem...estrebuchou um pouco também.


Ajoelhei– me, tentando ajudá– la.


– PEGUEI ELE! PEGUEI! NÃO VAI MAIS ATIRAR FILHOTINHOS EM NINGUÉM, MOCINHO! – Any avisou, com os braços em volta do mini– delinqüente. O carinha ainda tentava resistir.


Afaguei o rosto do meu frango e perguntei:


– Você está bem?


– Não! – Choramingou Christian. – Acho que ele quebrou a patinha. Cabeçudo, faz respiração boca– boca nele! – Pediu, lacrimejando. O fuzilei com o olhar.


– Vamos levá– lo ao veterinário! – May interveio.


– Boa idéia. – Animou– se o animal. Não o que estava machucado, e sim, o que eu tenho que chamar de irmão. – Vamos logo!


Enquanto ele e May saíam apressados, repeti a pergunta para minha Dulce, imóvel no chão.


– Você está bem?


– Oh...ai...hmmm...– Gemeu estranhamente.


Marius ria descontrolado de alguma piada que, com certeza, eu havia perdido.


– Christopher... – Gemeu outra vez. As risadas do lunático tornaram– se mais escandalosas. – ...estou tão mal...não consigo me mexer...aiiii...


– Está tudo bem, Dulce, vou te levar ao pronto– socorro.


– NÃO! – O pavão se intrometeu. – Está maluco? Vai dizer o que? Que ela sofreu uma tentativa de porcocídio?


– Digo qualquer coisa. – Respondi, erguendo– a do chão. Pressionei– a contra meu peito.


Curiosamente, Saviñón encarou Any com um olhar suplicante.


– Ela está bem, Christopher, só tonta. Leve– a para meu quarto.


Não queria deixar transparecer meu lado super– protetor, por isso, obedeci minha cunhada.


Coloquei meu frango deitada sobre a cama de casal, rindo do quarto, excessivamente rosado.


– Vai conseguir dormir aqui? Não é alérgica a essas coisas de mulherzinha? – Ironizei, forçando minhas mãos a se distanciarem do corpo dela.


– Hmmm... – Estudou o local. – ...não é tão ruim quando você se esforça pra gostar. E quando digo esforço, quero dizer muito, muitooooooo esforço mesmo! O quarto tem personalidade. – Sorriu.


Essa era, sem dúvida, uma resposta a qual eu não esperava. Tinha notado que Dulce mudara um pouco desde que a deixei, mas algumas coisas surpreendiam– me ao extremo. Ela tentando ser compreensiva? Bem, isso era novo para mim.


Caminhei até o pé da cama, onde ergui seu tornozelo, verificando o machucado.


– Está doendo?


– O que? – Sentou– se, confusa.


– O tornozelo! – Revirei os olhos. Como ela podia esquecer?


– Ah... – Fez pouco caso. – ...não muito!


Da primeira vez que avaliei o local, por estar extremamente preocupado, não dei por falta da pulseira com pingente de frango, que lhe dei no dia dos namorados. Agora, no entanto, o vazio ali parecia gritar pra mim. Não consegui desviar o olhar por um longo tempo.


Por que aquilo me incomodava tanto? A ausência do presente era esperada. Afinal, não éramos mais namorados.


Dulce encolheu a perna, juntando– a ao corpo e passou os braços em volta dos joelhos.


– Estou bem. – Disse– me, em um fio de voz.


Uma pergunta martelou em minha cabeça: ela ainda teria a tatuagem que fizemos em Verona?


Porque eu ainda tinha a minha. Na verdade, gostava muito dela. A dúvida mostrou– se dolorosamente persistente.


– Hmmm...é melhor ver se não tem nenhum machucado em sua cabeça, pode ter ferido quando caiu. – Pronunciei lentamente, indo me acomodar atrás dela, numa tentativa patética de satisfazer minha curiosidade. Dulce não se mexeu no momento em que me pus de joelhos na cama.


A princípio, verifiquei realmente o couro cabeludo dela. Depois, procurei por um galo ou coisa parecida. Então, disfarçadamente, ergui o longo cabelo e fitei sua nuca.


Lá estava ela, a tatuagem “UCKERZINHU”. Li mentalmente.


Fui incapaz de conter o sorriso que escapou da máscara de indiferença, a qual sustento com dificuldade.


A pirralha pigarreou, fazendo– me soltar seu cabelo. Comemorei a descoberta intimamente.


– Está tudo bem. – Confirmei, gentil.


– E você?


– Eu o que?


– Ainda tem a tatuagem?


Fui pego de surpresa. É, parece que não sou tão discreto como imaginei. Forcei– me a responder de forma vaga, mas não encontrei as palavras adequadas. Bella virou– se para me encarar e eu enrijeci, constrangido.


– Então? – Seus olhos estreitaram– se.


Dei de ombros, incapaz de dizer a verdade.


– Ah... – Baixou a cabeça, estudando as próprias mãos.


O silêncio foi absoluto. Ouvia apenas minha própria respiração descompassada. Era impossível não tentar imaginar o que se passava pela cabeça da garota diante de mim.


Nervoso, passei a mão pelo cabelo, ficando de pé rápido demais. O silêncio me enlouquecia.


Contradizendo minha atitude de minutos atrás, dei– lhe as costas e puxei o colarinho da blusa para que ela visse minha tatuagem. Esperei um pouco. Depois, girei, ficando de frente para ela.


O impossível aconteceu, o silêncio entre nós foi ainda maior.


– Dói pra tirar. – Sibilou muito séria, porém, seus olhos cintilavam.


– Verdade. – Confirmei, enfiando as mãos no bolso.


– Mas... – Suspirou. – ...vale a pena mandar tirar.


Assenti.


– Quando?


– Quando o que? – Fiquei confuso.


– Vamos tirar as tatuagens? – Disse, roendo a unha do dedão.


– Hmmm... – Precisei de um segundo pra esconder a dor. – ...Quando quiser. – Fechei a cara.


– Segunda? – Agora, ela já estava roendo outra unha.


– Segunda! – Assenti.


– Sabe... – A voz dela tremeu um pouco. – ...nós tivemos coragem de fazer essa loucura porque estávamos bêbados. Talvez... só talvez, devêssemos repetir o ato, você sabe, pra...


– Espera! – Interrompi. – Quer marcar pra ficarmos bêbados e retirarmos a tatuagem?


Dulce riu e isso me fez rir também.


– Soa realmente estranho. – Comentou ela.


– Verdade... mas... quer saber? Não é má idéia. – Fui sincero. Já que era pra me livrar da tatuagem, o melhor era estar mesmo bem bêbado.


Saviñón refletiu por um curto momento, então, falou:


– Certo! Vamos fazer isso!


– Segunda? – Perguntei mais uma vez.


– Segunda!


– À tarde? – Sugeri.


– À tarde!


– Temos um encontro? – Fiquei confuso.


– Temos um encontro! – Confirmou.


– E ficar bêbados?


– E ficar bêbados! – Ela sorriu.


– Pra tirar as tatuagens? – Não custava deixar as coisas claras.


– Pra tirar as tatuagens!


– Devemos parar com esse ping– pong de frases?


– Devemos parar com esse ping– pong de frases!


– Está ficando estranho?


– Está ficando estranho! – Confirmou, explodindo em uma risada.


Ambos ficamos um tempo rindo de nós mesmos.


– Bom domingo! – Me despedi, olhando pro relógio de pulso. Já passavam das 4h da manhã.


Saviñón acenou levemente. Saí, fechando a porta atrás de mim. Ofeguei, lutando arduamente contra o SAD. Nesse momento, podia jurar que ouvi risadas vindas de dentro do quarto.


Pus a mão na testa, feito bobo, rindo também. Podiam existir criaturas mais complicadas que nós?


A primeira coisa que fiz quando acordei, por volta das 9h, foi tentar resolver a pendência do mini– delinqüente. Any, com sua paciência invejável, o convenceu de que nós não lhe faríamos mal. Ele acabou por dormir no sofá. Já meu frango, se virou no quarto com a prima.


Entrei no apartamento das garotas, imaginando que todos ainda estariam dormindo. Fiquei estarrecido ao perceber que, tanto meus irmãos quanto as garotas Saviñón, estavam lá, em volta do moleque.


– Christopher, você não vai acreditar nessa história! – Poncho, sentado ao lado da namorada, disse, fascinado.


– Sempre atrasado, né? Zé Roela! – Zombou Christian.


– O que aconteceu? – Perguntei, me aproximando. Não pude deixar de notar Dulce, encostada ao lado da janela, fitando o chão.


– Conta pra ele, Geléia! – Ordenou Any.


– Geléia? – Franzi a testa.


Após bufar, ele começou...


– Eu sou Geléia, cabeçudo! – Apontou pra si mesmo. – Vocês estão morando na minha casa e têm que sair!


– Primeiro, Geléia não é nome de gente! Segundo, como é que é?


– Ele mora no sótão há cerca de três meses, mal acredito que tenha sobrevivido. – May comentou.


– Lógico que sobrevivi, oxigenada. A velhinha do primeiro andar me dá comida todos os dias.


– Espera! – Balancei a cabeça, aturdido. – Então é você que anda assustando as garotas?


Ele assentiu.


– Parece que ele faz isso há algum tempo. – Poncho sorriu. – Por isso, ninguém queria alugar o apartamento. A senhora, diga– se de passagem, muito estranha do primeiro andar, deve tê– lo ajudado a espalhar a história do apartamento mal assombrado.


Fitei o moleque fedido, totalmente incrédulo.


– Como foi parar lá no sótão, para começo de conversa?


– Pela outra entrada. Aquela que tem no corredor, lá embaixo, bobão. Subi por ela até o terraço, depois achei a porta que traz pra dentro da minha casa. – Revirou os olhos, como se aquilo fosse óbvio.


– Isso explica o fato dele saber tanto sobre nós. – May esclareceu.


– Escuto tudo que acontece aqui. Vocês gritam mais que feirantes! – Mostrou a língua.


– Onde estão seus pais, garoto? – Questionei, cruzando os braços.


– Foi o que perguntei a ele. – Any sustentava um semblante triste.


– Não tenho esse negócio aí. – Respondeu, carrancudo.


– Como não tem? – Insisti.


Geléia virou o rosto sem querer responder.


– Vou chamar a assistência social. – Declarei, pegando o telefone.


– NÃO! – Se pôs de pé, irritado. – Não vou voltar pro orfanato! Não podem me obrigar! – Tentou correr, mas Christian o impediu, segurando– o.


– Coitadinho, gente. – Any, com o coração mole demais, o defendeu.


– Christian está certo, o garoto não pode ficar por aí sozinho. – Meu irmão mais novo mostrou algum bom senso. – Olha o estado da criança, é magro e mal– cheiroso.


– Eu não fedo, seu Lombrigão! – Esbravejou, mostrando novamente a língua.


Suspirei, colocando o telefone de volta no lugar.


– Não vai ligar? – Disse May.


– É domingo. – Respondi contrariado, lembrando– me do detalhe. – Vamos ter que esperar até segunda. – Confesso que não sabia como resolver aquilo.


Estreitei os olhos em silêncio, enquanto o moleque xingava os demais, ainda tentando fugir. De certa forma, entendia o porquê dele não querer voltar pro orfanato. Vivi em um e posso garantir que é um dos piores lugares do mundo. Havia algo nele que me lembrava alguém, o jeito de falar, as reações, o gênio ruim...


– Eu vou te bater! – Geléia irritou– se, mostrando o punho cerrado para o bisonho.


Foi aí que a ficha caiu.


– Dulce! – Ri. Ela piscou os olhos, confusa. – Ele é você! – Sorri, apontando para o pirralho.


Gargalhamos. Saviñón, como eu já esperava, reagiu, mostrando– me o dedo do meio.


Christian riu, roncando feito seu porco e acabou deixando o garoto escapar. Ele correu em direção à porta da frente. Fui mais rápido e bloqueei a saída com o corpo.


– Não vai a lugar algum, pirralho! – Sorri, satisfeito.


O que eu não esperava era que o mini– delinqüente desse um pisão no meu pé. Rosnei, furioso, agarrando o pé.


– Definitivamente, parece com você, Dulce! – Encarei, chateado, o pivete, que me afrontou com sua carinha de zangado.


Agora, só meu frango ria, divertindo– se com minha expressão de dor.


– Eu gosto dele. – A voz dela soou sincera e suave.


Suspirei, tentando ter paciência. Ajeitei a postura e falei, relaxando:


– Se o Geléia vai ficar conosco até segunda, precisamos dar um jeito nesse mal– cheiro!


– Droga, não vou tomar banho! – Ele cruzou os pequenos braços.


Gemi, pensativo.


– OLHA AQUILO! – Gritei, parecendo assustado, enquanto apontava para a janela. Todos, incluindo o mini– delinqüente, caíram na minha. Enquanto o carinha estava distraído, o agarrei. Joguei o pequeno corpo no ombro e saí porta fora.


– ME SOLTA, CABEÇUDOOOO! – Esbravejou, debatendo– se. Nem liguei.


Assim que abri a porta do meu apartamento, me deparei com Toicinho, correndo ao meu encontro. Correndo é só força de expressão, porque ele mancava engraçado, com a pata traseira engessada. O mais absurdo não era a pata engessada, nem os adesivos e fitinhas coloridas pregados no gesso e sim, as pequenas asas de nylon nas costas.


– Como você está, amigão? – Meu mano mais velho apareceu, sorrindo para o filhote.


– O que fez com ele? – Questionou o voador, aproximando– se também.


– Sabe como é... agora com essas asas, ele está prevenido para possíveis novas acrobacias aéreas. – Explicou o idiota, animado.


Sério, às vezes, a burrice dele me assusta.


Aproveitei que estava a sós com meus irmãos e o mini– delinqüente e decidi ter uma conversa de homem para homem com ele.


– Muito bem, trombadinha, a parada é a seguinte: ou você toma banho sozinho ou um de nós vai te forçar. O que escolhe?


Calou– se por alguns segundos, então, respondeu:


– Tudo bem, eu tomo sozinho.


Receoso, o coloquei no chão, deixando– o livre.


Meus manos, assim como eu, ficaram parados, observando o Geléia dar alguns passos atrás, estudando o ambiente.


– O banheiro é ali! – Apontei.


Da forma mais ridícula possível, ele separou as pernas e, de punhos erguidos, disse:


– Idiotas, nunca vou me render!


Nós suspiramos.


– Vou pela esquerda, Christopher pela direita e você, pelo meio, Edward. – Poncho explicou, já entrando em ação.


– Qual é a direita? – O bisonho fiou indeciso.


Como era de se esperar, o moleque nos fez correr atrás dele por todo o apartamento. O carinha era escorregadio, não conseguíamos pôr as mãos nele. Chegou a passar por debaixo de nossas pernas, umas duas ou três vezes. Era inacreditável que três homens grandes não conseguissem segurar um menino de 7 ou 8 anos. Duas coisas eu tinha que admitir. Primeiro, ele era perigosamente inteligente; segundo, o garoto tinha raça.


Eu já estava pensando em desistir, quando o bisonho decidiu usar uma tática de futebol para cercarmos o trombadinha. Quase funcionou. Cheguei a tocar nele, mas o malandrinho escapou e tudo que me sobrou nas mãos, foi seu gorro fétido. Nesse momento, meus irmãos cessaram a perseguição. Analisaram, cuidadosamente, o Geléia. Embasbacado, comecei a perceber o mesmo que eles.


Dulce PDV


– O Marius não vai acordar? Que viado folgado! – Falei, bebendo um pouco de suco.


– Ele disse que está meditando. Nunca vi ninguém meditar, folheando revistas de moda e bebendo margaritas. Garantiu que vai pensar em um jeito de arranjarmos dinheiro pra pagar a última parte da reforma da loja. – Any, tristonha, mostrava– se preocupada.


– Nós somos fracas, burras e impulsivas. Nem acredito que desperdiçamos tudo que tínhamos com a anta do Christian. – May revoltou– se.


– Nós? – Any ergueu uma sobrancelha, em protesto.


– O que precisam é de uma costureira particular e fiel. – Intervi, pouco interessada. Pasmas, as garotas olharam– me, de boca aberta. – Que foi? – Tive até medo.


– Por que ela está sendo mais inteligente que nós? – A sebosa resmungou.


– A terrorista da moda está certa, precisamos de uma costureira exclusiva. Assim, nosso trabalho não será mais roubado. – Os olhos de minha prima brilharam.


– LIQUIDAÇÃO! – A bichona se materializou atrás de mim, assustando– me.


– Onde? Cadê! – Minha irmã agitou– se.


– Ô lôra burra! – Deu um peteleco na testa dela. – Nós é que vamos fazer a liquidação, raxa! Pegaremos os modelos que a boneca de vudu nos roubou e venderemos pela metade do preço, bem em frente à loja dela. Vai ser da galáxia! HU!... OHOHOHOHOHOHOHOHO!


Aplaudi, rindo.


– Boa! Vão virar camelô! – Ridicularizei.


A palavra fez os três estremecerem.


– O tempo está curto. Precisamos criar uma nova coleção, não vou adiar a data de inauguração. – May esfregou a testa.


– BEM DOIDA! – Criticou o pavão. – – Não dá tempo.


– Vai ter que dar. – Fofolete determinou– se.


QUE POVO BESTA!


– Qual o nome da grife? – Perguntei, já me arrependendo.


Eles deram as mãos como se tivessem sido atingidos por um raio.


– O NOME! – Disseram juntos, perplexos.


Ótimos empresários, não tinham nem um nome.


– Que tal ‘PERDEDORES’? – Ri. – Melhor, ‘VAGABUNDOS’?


– Eu sou gay. Mais respeito, por favor... – Marius bateu no peio. – ...nasci com DNA fashion! Vai se chamar... – Abriu os braços desmunhecando. – BEM DOIDA!


– Cruzes! – Fiz careta.


O Uckermann atravessou a porta, abruptamente.


– Não posso dar banho no Geléia. – Desembuchou, balançando a cabeça.


– Por quê? – Fofolete admirou– se.


Suspirou antes de continuar.


– Ele, na verdade, é ela. É uma menina!


– O que? – Falamos juntas. Meu queixo despencou. Como não havíamos percebido?


Trocamos olhares, intrigados, sem saber o que dizer. O telefone tocou diversas vezes até cair na secretaria eletrônica. Então, ouvimos:


[– Alô? Anahi, Maite? Cancelem o vestido de noiva. – A voz chorosa parecia – me familiar. Edward ficou imediatamente tenso. – Não vai mais haver casamento, Carlisle e eu rompemos... – O choro foi mais audível. – Deus...ele sumiu.]


A ligação caiu.


Só reconheci a voz da mosca morta quando ela pronunciou o nome do meu pai. Coloquei a mão na testa, esperando raciocinar.


Vi vultos à minha volta, as vozes misturavam-se e o único que consegui ver claramente, foi Christopher, mexendo no celular, apreensivo.


Meu pai não ia mais casar? Como? Por quê?


Com as duas mãos na cabeça, esperei que minha consciência percebesse o fato mais importante. Ele sumira.


(Continua...)


***



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Autor(a): Anna Uckermann

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4ª FASE Capítulo 7: MOMENTÂNEA DESORDEM Dulce PDV Os minutos que correram a seguir foram confusos para todos. Liguei diversas vezes para o meu pai e, infelizmente, ele não atendeu nenhuma das chamadas. Christopher conversou com a mosca morta e a convenceu de nos explicar o acontecido. Ele pôs o celular no viva-voz e, tanto os irmã ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 247



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  • loucas Postado em 14/12/2016 - 23:05:23

    Essa fanfic é perfeita demais pra ficar abandonada então por favor postaaaa mais

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 11:13:34

    posta por favor

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:37:22

    posta amore

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:37:10

    ENTÃO VE SE POSTA LOGOOOOOOOOOOOOO

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:36:56

    chantagem? BEM DOIDA, não seria capaz ^_^ MENTIRA! SIM! É UMA CHANTAGEM!

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:36:08

    se postar de novo deixo você com 280 coments ^_^

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:35:41

    comentei bastante linda agr pode postar hehuheuheuheuheuehuehe

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:35:14

    possta

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:35:05

    postta

  • lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:34:56

    postaa


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