Fanfic: Dulce Problema X Christopher Solução - Adaptação | Tema: Vondy / Ponny / Meio chaverroni
4ª FASE:
Capítulo 8: PROBLEMA X SOLUÇÃO
Dulce PDV
– Dulce Maria Saviñón! – Christopher parecia chocado. – Não podia esperar eu acordar?
Ruborizei terrivelmente. Podia até sentir minha face arder.
– O que? Você não... está... – Enxuguei o suor da testa, saindo de cima dele. – Nunca! Nunca! – Estremeci, querendo encontrar alguma coerência em minha declaração. – Era só um favor. – Disse-lhe por fim. Depois, expirei, calando-me.
Evitei encará-lo. Mesmo assim, notei os lábios dele cerrarem, como se prendesse o riso enquanto sentava-se.
– Um favor? – Seu tom era zombeteiro e isso me fez roer as unhas ali mesmo, obrigando-me a ficar de boca fechada. Anta do jeito que eu sou, não seria uma grande surpresa se falasse algo que intensificaria o momento constrangedor. – Um favor... – Repetiu refletindo, enquanto coçava o queixo. Para o meu terror, UCKERZINHU olhou a palma de sua mão e leu meu recado em voz alta: – Só te desculpo se me desculpar. Sou uma imbecil, você já sabe disso! Não sou boa com palavras, por isso, espero que entenda minha atitude de quase meia-irmã.
Arregalei os olhos, nervosa. Após ser pega tirando-lhe a roupa, minhas palavras ganharam sentidos maliciosos e totalmente diferentes dos que eu havia planejado. Aflita, tentei lhe explicar, mas, infelizmente, só meus lábios se mexeram. Minha voz foi pro espaço. Sacudi as mãos, frenética, enquanto Christopher me olhava com uma expressão indecifrável.
Como se o universo estivesse disposto a me ajudar, o celular do Uckermann tocou em cima do criado mudo. Logo que fitou o aparelho e estendeu a mão para pegá-lo, expulsei toda a aflição que me apertava o peito.
– Oi, está tudo bem? Queria mesmo falar com você. – Ele se levantou e caminhou até o banheiro. Antes de passar pela porta, sussurrou para mim. – Fica aí, já volto. – Em seguida, trancou-se.
Pisquei os olhos, confusa. Que merda era aquela? Christopher de segredinho no telefone? Muito suspeito.
O que eu fiz? Bem, o que qualquer pessoa faria, eu acho... Fui colar meu ouvido na porta, na esperança de ouvir algo. Não deu nem tempo de chegar ao banheiro, pois logo ouvi vozes vindas da sala.
– Não pode, ele está dormindo! – Reconheci a voz rouca do bisonhento.
– Relaxa, Chris, não vou demorar. É rapidinho.
EPA! Voz de mulher!
– Desculpa, Lucy, é que... não é um bom momento. – Disse o suposto maconheiro. Ele parecia nervoso.
Que porra a biscalinha estava fazendo ali?
– Deixem de bobagem, meninos. Até parece que é a primeira vez que venho acordá-lo. – Retrucou a cretina.
Senti pontadas de ciúmes só de imaginar Christopher e Lucy naquele quarto. Não pude deixar de fazer careta. De repente, a maçaneta girou.
– NÃO! – gritaram os Uckermann babacas. A porta tremeu um pouco, como se alguém se jogasse à frente dela. E eu não duvidava nada que tivesse sido os dois, só para proteger o safado do irmão.
– Parem com isso, poxa! Estou ficando chateada. O que tenho pra falar com ele é importante!
Cerrei o punho, irada.
Ah, eu sim, vou dar um bom motivo pra você ficar chateada! Murmurei arquitetando.
Ri enquanto tirava rapidamente minhas roupas, jogando-as no chão. Motivada pelo ciúme e instinto nato de competição, fiquei só de lingerie. Olhei para os lados e logo avistei uma camisa de Christopher em cima de uma cadeira. Ainda podia ouvir a ridícula Lucy tagarelando, no momento em que eu me socava dentro da camisa. Baguncei os cabelos, deixando-os totalmente desgrenhados. Fui até a porta e, ao pegar a maçaneta, ri mais uma vez de mim mesma... O que eu estava fazendo era um tanto patético, mas, quem liga? Para sacanear uma biscalinha cara de pau, vale tudo!
Abri a porta, bocejando e me espreguiçando. Fitei os barulhentos e tive que reprimir a gargalhada, pois me encaravam surpresos. Tive o prazer de ver os olhos de Lucy quase saltarem para fora.
– Que rápido! – Murmurou Christian, pensativo. – Cabeçudo é um coelho?
– Dá pra falarem mais baixo? Estamos tentando dormir. – Pedi, bocejando outra vez. Pela primeira vez na vida, senti que poderia ganhar um Oscar.
– Preciso falar com Christopher. – Disse a sujeitinha por entre os dentes.
EITA, PORRA! ELA ESTAVA FURIOSA!
Ponto pra mim!
– Outra hora, biscalinha.
– Biscalinha? – Poncho perguntou, parecendo deslocado.
– É uma mistura de biscate com galinha. – Sussurrei para ele e lógico que Lucy ouviu.
– Entregue isso a ele! – A retardada jogou uma folha de papel na minha cara e eu a deixei cair. Depois, Lucy saiu do apartamento, batendo a porta.
Poncho e Christian abriram a boca ao mesmo tempo para falar e eu os impedi.
– Shhh! Esperem! – Bati também a porta na cara deles.
Ri alto, tanto da reação da biscalinha como dos otários na sala. Era tão bom colocar Lucy no lugar dela, ou seja, fora das nossas vidas! Sentia-me muito intimidada por aquela perua, pois ela teve uma relação descomplicada com Christopher e eu a invejava um pouco por isso. Porém, naquele momento, me sentia à frente no jogo. Não pude deixar de dar uma dançadinha em comemoração.
O Cullen pigarreando atrás de mim, fez-me estagnar. Fechei os olhos e respirei fundo.
PRONTO! AGORA SIM, EU MEREÇO UM PRÊMIO! CONSEGUI TRANSFORMAR UMA SITUAÇÃO RUIM EM UMA SITUAÇÃO TERRÍVEL!
Virei-me lentamente, com as mãos começando a suar. Christopher me olhou dos pés à cabeça e pude ver a mais pura confusão em seu rosto. Também havia algo mais, só que eu não conseguia decifrar.
– Eu tenho uma boa explicação para isso. – Minha voz saiu levemente trêmula. Não ajudou em nada ele ter olhado para minhas roupas no chão.
LEGAL, AGORA ELE TEM CERTEZA QUE SOU UMA TARADA!
– Está com vontade, hein?! – Falou com os olhos semi-cerrados e um sorrisinho desconcertante.
– Lógico que não! – Me defendi da melhor forma possível. – Você deveria estar me agradecendo agora e não fazendo piadinha!
– Deveria?
– Sim!
– Humm! – Tentou fingir que estava entendendo.
– Vim te agradecer pelo quarto e te encontrei dormindo, no entanto, você estava todo se coçando. Era horrível!
– Como? – Indagou aturdido.
– É verdade, se coçava assim. – Cocei os braços e pernas como louca. – Você deve ser alérgico à tinta que usou. Só que estava muito cansado para sentir. Se debatia feito um peixe fora d’água.
– Me debatia? – Enrugou a testa. Revirei os olhos.
– Dããã! Sim! Por que eu mentiria? – Chacoalhei seus ombros. – Foi horrível, não aguentava ver, estava ficando todo vermelho, não imagina o estado em que se encontrava – Fui tão teatral que beirava o drama. – Por isso, eu totalmente solidária e sem nenhuma intenção maliciosa, tirei suas roupas sujas de tinta para que não piorasse. Você é muito mal agradecido. Há essa altura, podia estar cheio de bolhas.
Bem, aquilo soava mais convincente e menos constrangedor que a verdade.
– Alergia... – Christopher balançou a cabeça, assimilando minha história. Eu cruzei os dedos escondidos atrás de mim, torcendo para que ele acreditasse. – Eu estava me coçando, certo? – Mordeu o lábio inferior, depois perguntou. – E por que tirou suas roupas?
Engoli o nó preso na garganta e tratei de começar a me coçar.
– Você passou a coceira pra mim quando toquei em suas roupas...ai... – Passei as unhas fortemente por todos os lugares do meu corpo, fingindo-me de aflita. – ...por isso, tive que tirar as roupas, mas não está adiantando muito.
Minha nossa! Que história mais furada!
Lembrete mental: me matar!
Christopher gemeu, pensativo, por uns cinco segundos. Christopher, disse:
– Sabe... estou mesmo sentindo essa coceira. – Coçou o braço direito.
FALA SÉRIO!
Estreitei os olhos, desconfiada. Era impossível ele estar sentindo algo. Mesmo assim, o cara continuou se coçando.
– É melhor tirarmos toda a roupa, ela deve estar contaminada. – O Uckermann não tirou o olho da camisa que eu usava e desabotoou novamente a calça.
Cruzei os braços, sendo pega pela minha própria mentira. De duas uma: ou eu sou uma excelente mentirosa a ponto de mexer com o cérebro dele, ou o safado estava se aproveitando da situação.
Em qual das hipóteses apostaria suas fichas?
– O que é isso? – Perguntou, olhando pro papel no chão.
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, Christopher abaixou-se e pegou a folha dobrada ao meio.
– Sua biscalinha deixou isso aí. – Informei carrancuda.
Abriu o papel e, lógico, me colei a ele para ler também.
[ Uckermann, é melhor devolver nossas motos em 48h ou você e sua gangue sofrerão as conseqüências.
Vincent C. ]
– Desde quando somos uma gangue? – Ironizei.
– Desde que o Vincent meteu na cabeça que fomos nós que roubamos aquelas malditas motos. – Respondeu, amassando o papel.
– Então é melhor ir falar com Jake.
Ele me encarou aturdido e logo depois, entendeu...
– Ah, droga! – Passou as mãos pelos cabelos. – Por favor, me diga que ele não fez isso!
Apenas dei de ombros, sorrindo. Não culpava Black, o playboy merecia aquilo. Christopher pegou o celular e eu sabia que iria ligar para o amigo. Aproveitei sua distração, peguei minhas roupas e escapei, antes que tivesse de dar mais explicações.
Ao entrar no apartamento da Barbie, avistei a Geléia dormindo no sofá. Aproximei-me, sem hesitar. Ela estava dormindo profundamente, tão tranqüila que não pude deixar de me perguntar como conseguia. Mesmo sendo uma mini-delinquente, como dizia o Uckermann, era apenas uma criança. Ela sabia que Christopher a levaria à assistência social quando o dia amanhecesse e, mesmo assim, conseguia se manter serena. Talvez, ela não pensasse no futuro, apenas vivia um dia de cada vez. De todos ali naquele apartamento, provavelmente a Geléia era a única que sabia o verdadeiro sentido de sofrimento e abandono.
De repente, minha consciência se voltou contra mim e fui obrigada a confessar que passei tempo demais me julgando sofredora e agora, estava ali, diante de mim, uma pequena criatura que já sofrera mais que eu. Senti-me tola. Sabia que não era diferente de todo mundo. Geralmente, temos a tendência à ver nosso sofrimento como se fosse o maior, mas quando nos deparamos com pessoas realmente sofredoras, levamos um grande tapa na cara, ao constatar que sempre existe alguém que sofre mais.
Talvez ela não pense no futuro.
Outra vez esse pensamento me abordou. Imaginei que tipo de futuro ela teria. Ficaria em um orfanato, dia após dia, esperando que algum casal se interessasse por ela. Não sabia como funcionava aquele universo, mas quando tentava visualizar, sempre associava a uma loja de animais. Pequenos seres em vitrines invisíveis esperando que alguém os leve para casa. Os bonitos e saudáveis são os primeiros a serem escolhidos. Já o feinhos e doentes ficam para trás, rejeitados e sem expectativa de futuro, sem saber se um dia sairão das gaiolas.
Tive que engolir o nó em minha garganta. A visão mental era perturbadora. Talvez eu nunca fosse compreender totalmente o sentimento de gratidão que Christopher, Christian e Poncho tinham por Ale. Mas, naquele momento, com os olhos fixos em Geléia, entendi em parte. E essa parte da compreensão fez-me ver o motivo pelo qual Christopher nunca conseguia dizer não à sua mãe adotiva, ou porque me enfrentava sem pestanejar sempre que eu estava disposta a arruinar a vida dela. Não adiantava, ele sempre a defenderia e protegeria, pois ela o tirara de sua própria vitrine invisível.
Suspirei.
Não importava o que eu fizesse, meu ódio pela mosca morta ia estar sempre entre nós. Uma barreira quase palpável. Eu sabia que ela não era a bruxa malvada da Branca de Neve, pois já tinha me ajudado algumas vezes. Mesmo assim, não conseguia eliminar o sentimento de raiva dentro de mim. Após a conversa com meu pai ontem, vi que podia conviver com o casamento dele, porém, não podia forçar uma convivência totalmente pacífica com Ale. A palavra madrasta repelia as tentativas de mudar minha opinião, não importava quem estivesse assumindo aquela posição, agiria da mesma forma, odiaria com a mesma intensidade. Era uma sensação da qual eu não tinha total controle. Não entendia porque agia assim, mas às vezes tinha a estranha sensação de estar lutando em vão contra paredes que se fechavam à minha volta. Tentava manter minha mãe viva nas minhas lembranças e nas do meu pai. Temia não lembrar dela hoje com a mesma intensidade que lembrava ontem, tinha medo de perder detalhes que antes eram nítidos quando eu fechava os olhos. Medo de seu nome já não ser mais pronunciado em meio à nossa família. Estive tão impotente diante da doença e morte dela, que era horrível me imaginar impotente, agora, tentando mantê-la presente no dia-dia dos Saviñón. A chegada de Ale ao nosso cotidiano modificou tudo e essa mudança me causava mais medo que qualquer outra coisa, pois, mais uma vez, me fazia ficar impotente diante de tudo.
Fechei os olhos e tentei não pirar. Nesse momento, me veio em mente a imagem de Christopher, Victor e Ale. Haviam dois homens em minha vida que amavam aquela mulher mais do que eu podia entender. Talvez, só talvez, eu fosse forte suficiente para lutar contra mim mesma e conseguir gostar ao menos um pouco da mosca morta. Isso, provavelmente, seria meio caminho andado para conquistar definitivamente o Uckermann. Não tinha certeza se conseguiria, mas sabia que poderia tentar. Estava mais que na hora de guerrear contra meus fantasmas interiores. Se eu vou vencer essa batalha? Bem, acho que vou descobrir em breve.
Sentia-me muito confiante, desde que li o bilhete de Christopher. Procurei me agarrar àquela confiança, pois precisaria dela.
Geléia mexeu-se no sofá e isso trouxe meu foco de volta à ela. Ali estava algo que eu podia controlar, acho, podia evitar que a menina voltasse para sua vitrine. Como minha Blanca dizia: para todo problema existe uma solução.
Mas o que faria a seguir? Ela precisava de pais e eu não sabia onde arranjar isso. Era melhor eu me concentrar em um problema de cada vez ou acabaria não conseguindo resolver nada.
Tudo bem, Dulce, faça a lista: evitar que a Geléia volte para o orfanato; convencer o cabeça dura do Christopher a apoiar isso; tentar ser gentil com a... argh... mosca morta; arranjar um emprego...
Quando pensei na palavra emprego, me lembrei imediatamente do folheto que li no bar durante a calourada. Música Country era algo de outro mundo para mim, não tinha certeza se podia tocar aquilo. De qualquer forma, na Quarta-feira, iria ao bar, dar uma olhadinha e ver como funcionava esse lance.
Era melhor ir dormir, pois a Terça-feira estava chegando e eu tinha o pressentimento que ia ser dureza.
Logo que o dia amanheceu, saltei da cama e procurei por Geléia, que ainda dormia.
– Ei, moleca, acorda! – A sacudi levemente.
– O que é? – Perguntou, abrindo os olhos, sonolenta.
– Daqui a pouco, o Christopher vai aparecer aqui para te levar à assistência social e... .
A garota não me deixou terminar de falar. Levantou-se rápido e tentou fugir. Precisei agarrá-la com força.
– Me solta! – Reclamou, chacoalhando-se.
– Droga! Fica quieta!
– Não! – Mordeu meu braço que a envolvia.
– Aiiii... – A soltei, irritada. Se você pensa que ela se importou, engana-se. – Se tocar em mim de novo, eu vou te bater, sua esquisitona! – Exibiu o pequeno punho cerrado.
– Esquisitona? Olha só quem fala! – Cruzei os braços e Geléia fez o mesmo. – Está querendo levar um chute, tampinha?
– Tente! – Desafiou, correndo em direção à porta. Sorri ao vê-la lutar com a maçaneta. Óbvio que eu tinha trancado.
– Procurando por isso? – Balancei as chaves.
Ela me encarou nervosinha, porém, indefesa.
– Eu tenho um plano... – Me joguei no sofá. – Mas você terá que ser boazinha comigo, projeto de gente! – Pisquei para ela.
Christopher PDV
Acordei cedo disposto a tratar do problema da mini-delinquente. Não podia mais esperar, ela precisava de ajuda.
A porta do apartamento das garotas estava entreaberta, por isso, adentrei sem bater. Não me surpreendi nem um pouco em ver todos reunidos na sala, em volta da mesinha de centro, tomando café da manhã, inclusive meus irmãos.
– Sempre atrasado! – Provocou Christian com a boca cheia de pão.
Fingi que nem ouvi, não estava transbordando paciência.
– Cadê a menininha? – Indaguei.
– Olha eu aqui! – Marius levantou a mão, sorridente.
Revirei os olhos.
– Estou falando da Geléia.
– Ela saiu com a Dulce faz um tempinho. – Disse Any.
– O que? – Minha voz saiu mais alta do que eu esperava.
Eles olharam entre si como se me escondessem algo e eu não gostei nada daquilo.
– Onde a Saviñón foi? – Falei altivo.
– Ela pegou uma grana emprestada comigo e se mandou. – Explicou Any, receosa.
– Não acredito que deixaram! Alguém aqui além de mim sabe que a Dulce é louca? – Me irritei.
– Relaxa, Christopher... – Poncho interveio. – ... logo, logo, ela aparece por aí. Vem comer alguma coisa.
– Isso mesmo, bofe, coma! Coma aqui gostosinho. – A bichona mordeu o dedinho sensualmente. Christopher gargalhou alto. – O pokémon só ri, porque já sai de casa comido, todo dia. HU!...OHOHOHOHOHO!
Meu irmão empurrou o viado para fora do sofá e ele caiu no chão, sentado.
– Bate, mundiça! Bate em que te ama! Um dia tu ainda vai ser meu! – Choramingou.
O bisonho levantou-se exasperado e, foi exatamente nesse momento, que o pavão esticou o braço e deu um tapa na bunda do meu mano, gritando:
– AÍ DENTROOOO! HU!...OHOHOHOHOHOH!
Não pude evitar, ri muito da cara chocada de Christian. O lunático masoquista, nem um pouco bobo, tratou de se esconder atrás de May, que estava quase engasgando com o cereal.
– EU... VOU... – O bisonho estava ficando vermelho. – TE... PEGAR...
– Gostei do duplo sentido dessa frase. – Comentou Marius, implorando por uma sentença de morte.
– Olá! – Falou meu frango, passando por mim sozinha. Todos paralisaram ao sentirem falta do mesmo que eu: Geléia.
– Dulce, er... será que você não esqueceu de nada por aí? – Indagou May. Já Any, estava totalmente pálida. Talvez minha declaração de que a pirralha era louca estivesse passando pela cabeça deles agora.
– Não. – Respondeu, se aproximando de Poncho e tomando-lhe o pãozinho das mãos. – Por que? – Mastigou, sorridente.
– Onde está a menina? – Pela minha visão periférica, vi Marius querendo levantar o braço outra vez, então, o encarei furioso. Isso foi suficiente para ele se encolher, abraçando May.
– Nossa! Alguém acordou com o pé esquerdo. – Saviñón fez pouco caso.
– Dulce, vou repetir. Onde está a Geléia?
– Morreu. – Disse simplesmente.
O som de espanto que saiu de minha boca foi o mesmo que todos os outros fizeram.
– Como assim morreu? – Any, aflita, se aproximou.
– Morreu. – Repetiu a pirralha.
– Não é hora para brincadeiras, Dulce! – lógico que perdi um pouco o controle. A garota estava sendo muito irresponsável.
– Posso explicar, antes do Sr. mandão dar um chilique de mulherzinha? – Aborreceu-se.
Esperei, torcendo para que a mini-deliquente não estivesse mesmo morta.
– É o seguinte... – Saviñón pigarreou, como se estivesse procurando as palavras certas para continuar. – A Geléia está mesmo morta para a própria segurança dela... – Abri a boca para resmungar e ela me impediu, enfiando o maldito pão em minha boca. – ...mas, tenho o prazer em lhes apresentar a pequena, irritante e punk monstrinha... – Assobiou alto, depois berrou. – NESSIE!
Arregalei os olhos ao ver a menina atravessar a porta em cima de um skate. Precisei me esquivar para que ela não se chocasse contra mim. A criança percorreu a sala em uma velocidade nada segura e o pessoal se animou ao vê-la.
– Não podia ter dado a ela um nome normal? – Reclamei.
– Não! – Exclamou Dulce, satisfeita. – Normal é chato!
A mini-Dulce parou, pisou no skate, fazendo-o subir e o pegou no ar.
– Agora é Nessie, cara! – Apontou pro boné com o nome bordado.
Fitei meu frango, depois, a sua miniatura e balancei a cabeça, incrédulo. Reprimi um sorriso ao perceber que a Geléia... quero dizer, Nessie estava limpa e com roupas novas. Uma calça jeans, camiseta, tênis e o tal boné azul. Tudo bem que a roupa não era apropriada para uma menina, mas resolvi não dar importância aquilo. Já Anahi...
– Não acredito... – voltou do corredor com umas sacolas que deviam estar escondidas lá. – ...quem comprou essa porcaria! – Fuzilou a prima com o olhar.
– Foi ela que escolheu. – Dulce, defendeu-se, apontando para a mirin.
– É isso aí, é show! – Disse a mesma, chegando junto.
– Você! – Any apontou, raivosa, para a responsável por aquilo. – É uma terrorista da moda e criou uma mini-terrorista. Vou passar mal... – Cambaleou. – ...vou ter um derrame! – Poncho veio ajudá-la.
– Caracaaaaa... – Christian pulou. – Eu sempre quis andar de skate! Me ensina?
Nessie assentiu e os dois foram pro corredor.
– Ei, não temos tempo para isso. Nós vamos sair agora. – Alertei.
– Não entendeu ainda, bocó? – Saviñón começou a tagarelar. – Nessie não vai para um orfanato. Vai ficar aqui até arranjarmos um lugar melhor pra ela.
A encarei, confuso. Nesse momento, vi, através da porta escancarada, meu irmão passar no corredor, em cima do skate, totalmente desengonçado. Logo que ficou fora do meu campo de visão, ouvimos um baque que fez o chão tremer. Com certeza, o idiota tinha se chocado contra uma parede. O que eu não esperava era ouvir o grito:
– MANEIROOOOO!
Bufei e continuei a conversa com a pirralha.
– Me diga que você está brincando. Essa garota não tem condições de ficar aqui. É loucura!
– Loucura é a deixarmos ir parar em qualquer lugar. Além do mais, não estou pedindo sua permissão. – Fechou a cara.
– Ela precisa de ajuda, de uma família. Esse é um assunto já resolvido.
– BEM DOIDO! – Dulce esbravejou e Marius não gostou. – Ela não vai a lugar algum. Deixa que resolvo esse assunto. Vou ajudar Nessie, sem que ela tenha de voltar para a vitrine.
Ok, a parte da vitrine eu não entendi, mas ela só podia estar querendo me contrariar de propósito. Era típico. Duvido que realmente se importasse com a menina.
– Não vou discutir isso com você! – Dei um passo em direção à porta. Infelizmente, a garota se pôs à minha frente, bloqueando-me.
Foi aí que vi, não sei como, o porco, com pata engessada e tudo, passando em frente à porta em cima do skate, super rápido. Um segundo depois, Christian e Geléia passaram correndo atrás dele, pelo corredor. Então, ouvi ao longe:
– TOICINHO! VOCÊ É DOIDO, SEU DANADO? –lógico, tinha que ser o bisonho.
– DEIXA, ELE É RADICAL! – Nessie gritou em algum lugar.
– Eu já disse... – Saviñón falou por entre os dentes. – ...eu resolvo esse assunto.
A fitei sério, tentando entender qual era a dela.
– Está me dizendo que vai cuidar da criança?
Ela apenas assentiu, zangada.
– Dulce, não consegue cuidar nem de si. – Afirmei, determinado.
Dulce PDV
Merda! Christopher não estava colaborando! Era hora de mudar de tática.
– Posso falar com você a sós? – Perguntei, olhando pro grupo de bisbilhoteiros que comiam, nos assistindo como se fôssemos personagens de uma tele-novela.
Não esperei que respondesse, o arrastei para a cozinha, puxando pela manga da camisa.
Sentei na ponta da mesa e ele cruzou os braços, há menos de meio metro de distância de mim. Não precisava da permissão dele, só precisava de sua ajuda. Ia ser dureza enfrentar aulas, trabalho e ainda achar um lar para a monstrinha. A missão necessitava de um trabalho em equipe e o único que ameaçava pôr tudo a perder era justamente o cara que eu nunca conseguia dobrar.
Meu plano A era bater o pé no chão e impor minha decisão. Como não estava resultando em nada, tive que mudar para o plano B, ou seja, apelar... e muito!
Lembrei das dicas mais eficazes que UCKERZINHU havia me dado durante as aulas de sedução no verão passado.
Joguei o cabelo pro lado e me senti patética.Segura a barra, mulher!
O cara pareceu nem notar minha investida desastrosa.
Ok, você consegue! Convenci a mim mesma.
– Sabe, Christopher... – Cruzei as pernas. Ai, caramba! O que estou fazendo?
– Hum? – Gemeu impaciente.
Essa porcaria só é fácil nos filmes! FATO!
– Se fizermos um bom trabalho em equipe... – Enrolei um pouco. – ...vamos conseguir... quero dizer, Nessie pode se safar do orfanato. – Falei manhosinha. Como não sei ser assim, minha voz se arrastou como se estivesse dopada.
– Dulce, não temos condições de cuidar da menina. Ela tem necessidades que não podemos suprir.
– É por pouco tempo!
– Todo mundo aqui estuda ou trabalha. Quem vai ficar com a Ge... Nessie durante o dia?
PERFEITO! Ele tinha que perguntar o que eu não sabia responder?
– Você tem uma cabeça grande, também deve ter um cérebro grande. Pense! – Lhe lancei meu melhor sorriso. Infelizmente, ele balançou a cabeça negativamente, mas eu sabia que aquilo não era uma decisão definitiva.
Armei-me de coragem e o puxei para junto de mim.
– Podíamos fazer um acordo. – Sussurrei, arrumando a gola de sua camisa.
– Acordo? – Questionou baixinho e hesitante. Segurei o riso ao perceber que ele estava distraído com a isca.
– Sim, você me ajuda nessa parada... e... eu.... – Passei a arrumar seu cabelo. – ...te dou uma ajudinha quando precisar. Sabe, tipo:uma mão lava a outra.
Christopher refletiu. Massageei os ombros dele, esperando que decidisse.
– Podemos nos meter em um problema se acolhermos Nessie aqui. É contra a lei. – Murmurou, fechando os olhos e relaxando sob minhas mãos.
– Ninguém vai saber, por isso, a fiz trocar de apelido. Devem conhecê-la como Geléia ou qualquer outro nome e não como Nessie, nossa prima. – Tentei ser o mais persuasiva possível. – Além disso, ela só vai ficar por aqui uma semana, no máximo. – Sorri.
Ele abriu os olhos e vi, através deles, vestígios de uma rendição. Não perdi tempo.
– Lembre-se... – Sussurrei em seu ouvido – ...vou ficar te devendo uma. .
Gemeu, lutando contra si mesmo. Felizmente, desistiu de ser chato e disse:
– Tudo bem. Mas por pouco tempo, certo?!
Não tive tempo de vibrar, os bisbilhoteiros na porta aplaudiram como se assistissem a uma peça de teatro...
– Adoro essas cenas dramáticas. – Marius partilhou um lencinho com Anu quando disse isso.
– Bravo! – Apoiou a fofolete.
O Uckermann colocou o cabeção para funcionar e armou um esquema maneiro de dias e horários. Assim, todos ficariam um pouco com Nessie. Nossas aulas eram quase todas nos mesmos horários e não podíamos contar 100% com Mai e Marius, pois eles ficavam boa parte do dia fora, cuidando do lance da boutique. O esquema do meu cabeçudinho tornou-se nosso maior aliado, nos permitindo fugir um pouquinho do estresse da universidade, sem afetar gravemente os estudos.
Em Dartmouth foi tranquilo, as aulas teóricas me enchiam um pouco o saco, mas as práticas compensavam. O problema é que havia um alvoroço silencioso rondando o campus. Os alunos cochichavam nas salas, corredores, banheiros e principalmente nas lanchonetes. Tentei ficar alheia, mas, infelizmente, não consegui. Entre os murmúrios, distingui palavras e nomes como: motos, Vincent, Lucy, amantes, confusão,Uckermanns, etc...
Procurei encaixar esses nomes e palavras em frases e todas indicavam que teríamos problemas em breve. O tamanho e gravidade deles? Cara, só esperando para saber. Senti a falta do playboy e sua corja de babacas em Dartmouth. Nem mesmo Lucy estava nas redondezas.
No meio da aula de percepção musical, não aguentei de preocupada e catei no celular o novo número de Christopher. Digitei uma mensagem:
Para: Cabeçudo
De: Dulce
[KD O JAKE COM AS MOTOS?].
Menos de dois minutos depois, o aparelho vibrou. Li disfarçadamente.
Para: Dulce
De: Tesudo
[ONTEM LIGUEI PARA ELE, SÓ QUE O CACHORRO ESTÁ COM O CEL DESLIGADO. NA PORTARIA DO FLAT ONDE ELE MORA, ME DISSERAM QUE JACOB VIAJOU PARA LOS ANGELES E SÓ VOLTA AMANHÃ. ]
Christopher digitou tesudo? Estranhei, não tínhamos mais esse tipo de intimidade. Sorri com a possibilidade de estarmos tendo algum progresso. Não tive nem tempo de responder, pois uma nova mensagem chegou.
Para: Dulce
De: Tesudo
[Opa... foi mal pelo “Tesudo” é a força do hábito. Rsrsrs ]
Revirei os olhos e escrevi:
Para: Cabeçudo
De: Dulce
[NEM SINAL DO VINCENT. ISSO É BOM OU RUIM? ACHA QUE BLACK VAI DEVOLVER AS MOTOS?]
Um minuto depois, a resposta veio.
Para: Bella
De: Tesudo
[ELE VAI TER QUE DEVOLVER. NÃO SE PREOCUPE. ISSO É UM PROBLEMA MEU E DELE, ENTÃO, RELAXE!]
Fui rápida no gatilho. Queria ter falado aquilo em voz alta.
Para: Cabeçudo
De: Dulce
[TECNICAMENTE, ISSO É PROBLEMA DE TODOS AGORA, JÁ QUE O CARECÃO ACHA QUE SOMOS UMA GANGUE! ESTÁ PRONTO PRA BRIGA, UCKERZINHU?]
Ele demorou tanto tempo pra responder que cheguei a achar que não queria mais falar no assunto. O meu celular vibrou, atiçando-me.
Para: Dulce
De: Tesudo
[ASSIM QUE JAKE CHEGAR, IREMOS, OS DOIS, DEVOLVER A PORCARIA DAS MOTOS. ISSO EU GARANTO! JÁ TENHO PROBLEMAS SUFICIENTES, NÃO VOU FICAR PERDENDO MEU TEMPO COM ESSE JOGUINHO DE “TERRITÓRIO”. VOU ARRANJAR UM LUGAR FORA DE HANOVER PARA CORRERMOS.]
Sorri e escrevi:
Para: Cabeçudo
De: Dulce
[CORRERMOS? ESTÁ ME INCLUINDO?]
A resposta veio num piscar de olhos.
Para: Dulce
De: Tesudo
[VAI SONHANDO, PIRRALHA!]
Chateada, enviei:
Para: Cabeçudo
De: Dulce
[PARA SEU GOVERNO, ESTOU ESTALANDO O DEDO MINDINHO! VC SABE O QUE ISSO SIGNIFICA!]
Ri alto quando vi que ele respondera rapidinho.
Para: Dulce
De: Tesudo
[OLHA A MINHA CARA DE PREOCUPAÇÃO :-)]
Achei que o bate-papo acabaria ali. No entanto, outra mensagem apareceu no visor.
Para: Dulce
De: Tesudo
[E AS TATUAGENS? DESISTIMOS?]
Digitei com cautela:
Para: Cabeçudo
De: Dulce
[HOJE, ÀS 19:30. PREPARE-SE!]
Por que fiz isso? Simples, queria ter um encontro oficial com Christopher. Uma chance de estar com ele longe de nossa família. Como qualquer boa jogadora, estava apenas pegando os lances ruins para transformá-los em boas jogadas. Essa noite eu teria que marcar um gol. UCKERZINHU ia comer na minha mão!
Quase um minuto depois, ele respondeu:
Para: Dulce
De: Christopher
[OK!]
Epa! Cadê o tesudo?
– CELULAR CONFISCADO! – Berrou a professora ao pé do meu ouvido. Lutei com ela em vão, a cretina conseguiu tomar-me o aparelho.
– FILHA DA... – Tanto ela como os alunos fitaram-me. Então, com um sorriso amarelo, fui obrigada a completar. – ...SENHORA SUA MÃE. BICHINHA TÁ BOA?
Chutei a carteira da frente.
(...)
Eu estava pronta. Desci as escadas, vestida pra marcar meu “gol”. Calça jeans preta bem justa, minhas botas favoritas, blusa vermelha com alguns botões abertos, criando um bom decote, jaqueta de couro e cabelo preso em um rabo de cavalo, cuidadosamente feito por Any, assim como a maquiagem de tonalidades escuras em meus olhos.
Ao passar pela sala, ouvi:
– A draga já vai dar...
Vire-me para afrontar Marius, sentado de pernas cruzadas no sofá.
– O que disse?
– Que você já vai dar... uma voltinha. HU!... HOHOHOHO! Essa raxa tem uma mente, viu...!
– Onde está May e Any? – Perguntei intrigada.
Ouvi um estrondo vindo do quarto de minha irmã. Parecia um vaso pesado caindo no chão.
– Tentando convencer a mini-draga a pentear o cabelo. – Explicou sacudindo a mão, enojado.
– O que vão fazer essa noite?
– Experimentar uns vestidos, tomar umas biritinhas e falar mal dos outros... você sabe, o de sempre. – Brincou com o cachinho em sua testa.
Ignorei e saí sem me despedir. No corredor, me preparei pra bater à porta dos Uckermann. Sobressaltei quando ela foi abruptamente aberta pelo lado de dentro.
– Samara! Estava escondendo essa roupinha sexy no seu poço? – Perguntou Christian com uma empolgação diferente.
Mexi os dedos da mão esquerda rente ao rosto do mané, dizendo:
– Manda eu parar!
– Pára!
Parei, deixando apenas o dedo do meio ereto.
– Você tem 7 dias antes de morrer!
– Mêda! – Se encolheu, fingindo tremer.
– Vamos? – Christopher apareceu, incrivelmente perfumado. Não era só eu quem tinha caprichado no visual. Ele estava... ufa... todo bom!
– Eita, demorou! Vamos, cambada! – Christian puxou-me pelo braço.
– Espera! – Fiquei confusa. – Onde o chimpanzé pensa que vai? – O encarei, perplexa.
– Ô mulher da pá virada! – Resmungou. – Com vocês, Winehouse!
Fitei Christopher, com os olhos arregalados.
– Planejei quase tudo. Não quero que as coisas fiquem fora de controle. Temos a estranha tendência de nos meter em situações nada agradáveis. Meu mano aqui vai garantir que não passemos dos limites bebendo e, claro, nos levar para tirar as tatuagens no momento propício. – Explicou muito sério.
EPA! ISSO FOI FALTA! UMA TREMENDA RASTEIRA!
O bisonho não estava incluído no meu pacote de noite romântica. Engoli o grito que subia pela minha garganta e resolvi dar o troco, equilibrar as coisas. Se o Uckermann queria tornar minha noite menos agradável me impondo à presença do irmão sem massa cefálica, eu iria pagar aquilo na mesma moeda.
– Tá bom! – Sorri sarcástica. – Também tenho um convidado especial. – Chutei a porta do apartamento das meninas. Então, falei alto. – Anda, Marius! Vamos dar!
O maluco veio correndo.
– Oba, eu adoro dar... HU!... OHOHOHOHOH!...umas voltinhas por aí.
– AH, NÃO! – Os rapazes lamentaram.
Fomos todos no jipe de Christian até Manchester. Achei que iríamos a um bar ou coisa parecida, porém, quando adentramos o parque de diversão, comecei a desconfiar que Christopher estivesse tirando sarro da minha cara.
– Rá, rá, rá! Já ri, agora vamos embora! – Pus as mãos na cintura, chateada.
– Não é brincadeira. Pensei em um lugar onde pudéssemos beber... – Apontou para as barracas que vendiam canecas de chopp enormes e cachorros-quentes. – ...mas que fosse tranquilo.
Parecia que o Uckermann estava evitando qualquer local que proporcionasse um clima. A atitude dele me incomodou, só que eu não estava disposta a desistir logo no primeiro tempo.
Ficamos sentados em volta de uma mesa grande de madeira, com canecas gigantes de chopp e umas batatas fritas para ajudar. O parque até era legal, tinha vários brinquedos, bastante gente se divertindo, mas o que me chamava a atenção realmente era o ringue de patinação no gelo, há alguns metros de nós.
– Vamos patinar? – Perguntei, toda animada.
Os três imbecis fizeram careta, olhando pro gelo.
– Qualé, gente! É massa! – Apontei pro local.
– É coisa de ralé, eu não me misturo com a mundiça! – O fresco do Marius empinou o nariz.
– Só tem criança lá! Por favor, né?! – Christopher comentou, dando um gole na bebida.
– Já sei! – Dei um tapa na mesa. – Vamos virar essas canecas. Se algum de vocês esvaziarem elas antes de mim, não falamos mais no assunto, só que... – Esfreguei as mãos. – ...se eu ganhar, vamos todos curtir no gelo.
– Tou dentro! exclamou Christian, pegando seu copo.
– Tá dentro? Ui, eu me... – Tapei a boca do viado.
Ele não se aguenta, tem sempre que fazer piadinha de duplo sentido!
– Anda, gente! – Insisti.
Por fim, cederam.
– No três... – Informou o meu ex-atual-futuro-namorado. COMPLIQUEI? – ...vou ganhar de qualquer jeito – lá estava ele se achando o rei da cocada preta.
– Um...dois...
– Três! – Berrou o bisonho.
Enquanto eles bebiam apressados, peguei minha caneca e joguei o chopp todo no chão.
– Ei! – Reclamou meu ex-atual-futuro... xi...
– Falei esvaziar a caneca, não tenho culpa se são burros. Dãããh! – Sorri exibindo-a vazia. – VAMOS PATINAR! – levantei-me triunfante.
(...)
Sabe quando eu achei que Christopher Uckermann era bom em tudo? Bem, eu estava redondamente enganada.
– WOOOOOW! – Alarmou ele, indo ao chão pela quarta vez. E o melhor foi que levou Christian e Marius junto!
– Não desistam... – Cantarolei, patinando em volta deles.
O trio desastroso tentou se reerguer. O serial killer foi o primeiro a conseguir ficar de pé. O viado folgado se agarrou à perna da calça dele, procurando equilíbrio... e foi aí que a calça de Christian arriou, indo parar em seus pés.
– Porra! – Ele grunhiu, tapando a frente do samba-canção vermelho.
Gargalhei.
Christopher, de joelhos e lutando pra ficar em pé, tentou puxar a calça do irmão pra cima, o qual se desequilibrou e caiu sobre ele.
– Morri! – Murmurou, sendo sufocado pelo peso do amante de porcos.
– Odeio esse gelo uÓ! – Indignou-se o pavão, deslizando de quatro.
Tem alguma coisa que ele não odeie?
Minhas risadas misturaram-se com as dos outros patinadores.
– Tenham um pouco de dignidade! – zombei, ajudando Christian a erguer as calças.
Ele rolou pro lado e pude estender a mão para ajudar meu Uckermann a levantar. Lentamente, o atrapalhado ficou de pé, meio inclinado para frente, com joelhos flexionados. Temeu cair novamente.
– Essa foi uma péssima idéia. – Murmurou entre dentes.
– É fácil, Uckergayzinho, só precisa pegar um pouco de impulso!
Má, o puxei pela mão, patinando rápido.
– NÃÃÃÃOOOOOOO! – gritou assustado. Quando soltei sua mão, ele praticamente mergulhou de cabeça na pista.
Ri alto. Tudo bem que foi judiação, mas era tão bom vê-lo indefeso e sem seu ar de sabe-tudo.
Patinei até o corpo estendido e parei há poucos centímetros de sua cabeça.
– Está vivo?
Christopher ergueu debilmente a mão, procurando por mim com o rosto colado no gelo.
– Hummmmm... – gemeu sem conseguir dizer nada.
Voltamos para nossa mesa, felizes. Tudo bem, só eu estava feliz. Os manés, irritados, andavam como se tivessem borrado as calças. Um se apoiando no outro, gemendo a cada passo dado.
– Bebida? – Ofereci de bom grado, chacoalhando a caneca.
Acredite, nós bebemos com gosto até ficarmos bem soltos. E quando falo bem soltos, quero dizer a ponto de Christopher e eu pararmos no pula-pula, junto com a criançada, que estava ficando meio grogue com nosso bafo.
Marius se apaixonou por um cavalinho de madeira no carrossel e não queria mais largar dele. Já Christian, sumiu. Até parece que me importo.
Christian PDV
MUAAAAAAAAHAHAHAHAHA!
Na surdina, serpenteei por entre as pessoas. De olho na winezinha e no cabeçudo. Eles estavam muito doidos e isso era tudo que eu precisava para pôr meu plano em ação. Escondi-me atrás de uma barraca, há metros de distância dos dois e filmei tudo que podia. Aquelas imagens iam direto pro site.
Foi nesse momento que senti braços agarrarem minha cintura por trás. Virei-me abruptamente e dei de cara com:
SEM PREGAS!
– Me dá uma chance? – A desgraça do meu ódio fez biquinho.
Empurrei com força a oitava praga do Egito.
– FICA LONGE! – Ordenei ameaçador. – PUTA-QUE-PARIU! VÊ SE ME ERRA!
– Olha, você está filmando? Fabuloso! Me filma! – Fez pose com dedo na boca. Logo depois, colocou as mãos nos joelhos.
– Vai tomar no olho do seu...
– Não adianta tentar me agradar agora. – Me interrompeu, soprando as unhas.
Só tinha vontade de apertar o pescoço magricela e torcer até ele ficar sem cor.
ESPERA! TIVE UMA IDÉIA.
– Tenho uma missão pra você! – Ri.
– Soldado Marius Pintolar se apresentando para o serviço! – Bateu continência e depois soltou um beijo.
Bati a capa da câmera na cara do fresco.
– Quero que a Dulce e o Christopher façam as maiores palhaçada possíveis, preciso gravar a bagunça. Vai lá e dê seu jeito! – Mandei carrancudo.
– BEM DOIDO!
– Você vai fazer o que eu mando ou vou te encher de porrada! – Ameacei, estalando o punho.
– Já que você está pedindo com tanto carinho... – Se encolheu.
Christopher PDV
– Um... dois... três! – Marius bateu fortemente na mesa.
Dulce e eu soltamos uma dose de vodca dentro da caneca de chopp e viramos tudo de uma só vez. Só consegui tomar metade e meu frango também.
– SHOOOOOOW! – Saviñón disse, jogando as mãos pro alto e soluçou.
– Tem mais! – Christian trouxe outra cerveja.
Estranhei, mas me apossei da bebida.
– Olha... – Apontou o pavão. – ...uma máquina de karaokê, vamos lá! É só colocar uma moedinha!
Ignorei.
Meu irmão curiosamente mexeu no bolso grande da calça cargo.
– Vamos cantar! – Ele incentivou.
– Isso mesmo! – Apoiou o viado.
O que foi isso?
Marius e Christian concordando?
– QUEM CHEGAR LÁ PRIMEIRO ESCOLHE A MÚSICA! – gritou a pirralha, saindo em disparada.
Meu irmão e seu novo chamego correram atrás dela, tentando alcançá-la. Os segui só pra garantir que Christian não colocaria nada da Celine Dion.
Gritavam e se xingavam, empurrando-se, enquanto tentavam escolher uma música.
– Madonna! Madonna! – Esbravejou a bicha.
– Não, primeiro a música do Titanic. Eu que coloquei a moeda.
– Vai à merda, Christian, bota aí Bon Jovi! – Dulce tentou empurrar meu mano.
De repente, uma música começou a tocar e eles estagnaram surpresos. O que eles queriam? Haviam apertado todos os botões.
Black Eyed Peas - Lets Get it Started
Meti-me entre eles, olhando pra tela do karaokê, onde a letra conhecida passava. Tomei o microfone da mão do Marius e eu mesmo, zoando, comecei a cantar:
– In this context, there's no disrespect
So when I bust my rhyme
You break yo necks
We got 5 minutes for this to disconnect
From all intellect and let the rhythm effect–
(Neste contexto não há falta de respeito
Quando solto as minhas rimas, vocês partem seus pescoços
Temos 5 minutos para desligar
De toda a inteligência e
Juntar o efeito do ritmo)
Christopher enfiou o cabeção à minha frente e berrou no microfone:
– Apt to lose this inhibition
Follow your intuition
Free your inner soul
And break away from traditio
(Obstáculos não funcionam
Segue a tua intuição
Liberta a alma e rompe com a tradição)
A biba muito doida, puxou minha mão só pra cantar, desafinado:
– Coz when we beat out, girl it's pullin without
(Porque quando tocamos, garota,
É encantador)
Dulce, tendo uma crise de riso, também teve sua vez:
You wouldn't believe how we wow shit out.
– Burn it till it's burned out.
Turn it till it's turned out.
Act up from north, west, east, south.
(Não acreditarias como nós, como nós atuamos
Queima até estar queimado
Gira até estar girado
Exiba-se no Norte, Oeste, Leste e Sul)
No refrão não deu outra, cantamos todos juntos, batendo palmas.
– Everybody, (yeah) everybody, (yeah) lets get into it, (yeah) get STOOPID
(come on) get retarded, (come on) get retarded, (yeah) get retarded
Lets get retarded (ha), lets get retarded in here
Lets get retarded (ha), lets get retarded in here
Lets get retarded (ha), lets get retarded in here
Lets get retarded (ha), lets get retarded in here
(Todo mundo, (yeah) todo mundo, (yeah) vamos nessa.
(yeah) torne-se estúpido
Vamos animar, vamos animar, vamos animar
Vamos animar (ha), vamos animar isso aqui,
Vamos animar (ha), vamos animar isso aqui,
Vamos animar (ha), vamos animar isso aqui,
Vamos animar (ha), vamos animar isso aqui ...
Marius PDV
COISA DE MUNDIÇAAAAA!
QUIS GRITAR!
Que coisa de pobre, morri! Morri de novo! E acho que vou ressuscitar só pra morrer outra vez!
Meu bonequinho aproveitou a distração da draga e do gostosão para sacar a câmera e filmar os dois se esgoelando no microfone, que há essa altura, já devia estar cheio de baba dos bebuns.
Christopher tentou virar-se pro irmão. O impedi rapidamente, fazendo-o olhar para frente, enquanto os distraía cantando:
– Lets YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA YA...
Ô coisa uÓ! Meu pai me acuda!
Assim vou ser barrada na próxima Parada Gay! Como pode?! O que eu não faço para agradar meu bofe escândalo?
Christopher e Dulce, distraídos demais, nem notaram meu picachu filmando cada ação deles.
Aproveitei e dei uma apalpada na bundinha do caçador. E EU SOU BESTA? O melhor é que ele nem notou. Tão distraidinho o bichinho, né?! HU!...HOHOHOHOHOH. Explodi de felicidade, nem apanhei! Yhaooo!
Quer saber? Já estava na hora de eu me dar bem! Posso ouvir um coro de aleluia?
ALELUIA, ALELUIA, ALELUIA, ALELUUUUIAAA!!
Eu não arraso?! Joga purpurina no ar!
– Ei, cara, o sem pregas pegou na tua bunda! – Meu bonequinho me dedurou? Trágico!
Christopher encarou-me surpreso, com os olhos avermelhados por causa da biritagem.
– E foi? – hum...acho que ele gamou.
Sorri calorosamente. Christian, minha perdição, começou a cantarolar entre risadas altas, zombando do irmão...
– TU É GAY, TU É GAY QUE EU SEI! UH! UH!TU É GAY, TU É GAY QUE EU SEI!
O caçador escândalo revirou os olhos e deu uma microfonada na cabeça dele.
– Ei... – Memetizinhu reclamou, esfregando a cachola. – ...tem que bater é nele, pow! – Apontou para mim.
Coloquei a mão no peito, fingindo-me de ofendida. Mostrei a língua pra ele, totalmente por cima da carne seca, ou seja, me dando bem com Chriszinho.
– Vamos na roda gigante? – Christopher perguntou para a raxa uó. Ela estava mais bêbada que a Britney Spears quando raspou a cabeça. Chriszinhu rebocou a parceira de copo. Fiquei pra trás?
Hum... talvez eu tenha uma chance com o caçador. Nunca engoli a história de que ele havia jogado a May da escada por causa de seu namoro com a draga. Além disso, os olhares dele para mim eram sempre matadores.
Fui trazida de volta à realidade pelos rosnados produzidos pelo meu baby.
– O que foi? Está com ciuminho, Pollitozinhu? HU!...OHOHOHOHO!
Ele pegou uma pedra grande no chão e ameaçou jogar em mim.
CRUZES!
– CHRISZINHUUUUU! – Saí gritando atrás do meu novo bofe.
Dulce PDV
Christopher e eu dividíamos o mesmo assento na roda gigante. Ele parecia estar se divertindo a valer. Inclinei-me para analisar Marius, na cadeirinha abaixo da nossa. O imbecil fitava o chão, à procura de Christian, que desaparecera. O maldito viado ia ficar em nosso encalço? Ódio!
– Vai vomitar, Saviñón?
– Pode deixar que se eu for fazer isso, você será o alvo. – Brinquei.
A roda não girava muito rápido, era tranquilo.
– Opaaa... – O Uckermann provocou, rindo enquanto fazia nossa cadeira balançar perigosamente.
Agarrei-me à barra de ferro na minha frente, nervosa.
– Pára com isso! – vociferei.
– Não se preocupa, é seguro!
Olhei para baixo e a altura o desmentiu.
Só para me irritar, o idiota mexeu-se novamente, fazendo-nos balançar pra frente e pra trás.
– Juro que quando eu descer daqui, vou te dar um chute. – Minhas mãos congelaram na barra.
Fomos nos aproximando do chão. Respirei aliviada, soltei a barra e ergui a mão para dar um tapa atrás da cabeça de Christopher. Não sei como ele preveu meu ato, mas deteve minha mão.
– Sempre tão irritadinha. – Disse, pousando gentilmente minha mão em sua coxa.
– Você provoca. – Me defendi em voz baixa.
Voltamos a subir lentamente. Ambos ficamos em silêncio, apreciando a paisagem do parque.
– Acho que às vezes gosto de te ver brava, fica muito engraçadinha. – Confessou sem me olhar.
Por alguma razão, ri. Estávamos chegando à parte mais alta, quando Christopher voltou a balançar a cadeira. Estremeci.
– É seguro, Dulce!
– Não é não!
– Eu garanto!
E foi nesse exato momento que tudo ficou escuro. A roda parou em um solavanco.
– AAAAAAAAAHHH! – Meu grito de terror se misturou aos berros das demais pessoas na roda.
Um grito sobressaiu a todos os outros. Foi impossível não reconhecer a voz.
– VAMOOOS MORREEEEEEEEER! – lógico que era Marius.
Que homem pra falar em morte! Deus me livre! Agourento.
– O que aconteceu? – Estava apavorada, totalmente rígida.
– Fica calma. – Pediu o Uckermann.
As pessoas na roda gritavam por socorro. Olhei para baixo e vi muitas luzes vindas de lanternas apontando para nós.
– ESTÁ TUDO BEM! – Alertou um funcionário.
Meus olhos se acostumaram com o breu e a luz da Lua ajudou, iluminando suavemente o parque.
– NOS TIREM DAQUI. – Alguém pediu.
– ACALMEM-SE, O PROBLEMA É COM O GERADOR. ACONTECEU UM PEQUENO ACIDENTE... .
– Que tipo de acidente? – Perguntou Christopher, sem deixar o homem terminar de explicar.
– NADA GRAVE. ALGUÉM JOGOU UMA PEDRA NO GERADOR. ESTAMOS CONSERTANDO.
Curiosamente, Christian apareceu do nada e berrou:
– EITA, AINDA BEM QUE EU NÃO FUI AÍ, HEIN? ATÉ A PROXIMA VIDA, PESSOAL!
Pronto, o otário plantou o terror no povo.
– AIIIIIIIII, MEU DEUS DO CÉU... – O viado choramingou. – SEU MOÇO, EU QUERO DESCER! ALGUEM ME SOCORRE! EU SABIA QUE NÃO DEVIA TER VINDO A ESSE PARQUE DE POBRE! SABIA! VIM DE TÃO LONGE PRA MORRER COM A LISEIRA, NO MEIO DOS PÃO COM OVO.
– CALA ESSA BOCA, SUA BICHA HISTÉRICA. – Uma voz masculina ecoou.
Christopher, ao meu lado, riu.
– É ISSO MESMO, ESTÁ ATERRORIZANDO AS PESSOAS! – Uma mulher interveio.
– CALEM A BOCA VOCÊS, RALÉ! – Marius irritou-se. – SÃO TODOS FEIOS E GORDOS, NÃO VÃO FAZER FALTA AO MUNDO! MAS EU VOU, PORQUE EU PISCO! – A voz embargou no final.
Sua declaração desencadeou uma vaia coletiva.
Christian, lá de baixo, liderou a torcida:
– SE JOGA! SE JOGA! SE JOGA! SE JOGA!
O pessoal que se sentiu ofendido, acompanhou:
– SE JOGA! SE JOGA! SE JOGA! SE JOGA! SE JOGA!
Até Christopher estava gritando aquilo. Ele devia estar adorando a adrenalina do momento caótico.
– ODEIO VOCÊS, BANDO DE PÃO COM OVO! SUBALTERNOS, CAFUÇÚS! – A bicha viajou nas ofensas.
– Marius... – Disse-lhe me inclinando, na tentativa de vê-lo. – ...quem fala o que quer, escuta o que não quer. – Ri.
– NÃO VOU MORRER HOJE, NEM MORTA! – Declarou com convicção.
– PELO AMOR DE DEUS, QUE BICHA BURRA! – uma mulher gargalhou.
– Ô GENTINHA MISERÁVEL! EXPLODAM! EXPLODAM TODOS! – Retrucou.
Tentei relaxar na cadeira, pois a discussão de Marius com a população, ia se estender até consertarem o gerador.
– Está tudo bem? – Indagou Christopher.
Assenti, segurando forte no ferro. Ele não acreditou em mim e tentou me tranquilizar. As mãos dele foram desprendendo vagarosamente meus dedos da barra. Tensa, o observei pôr minhas mãos frias entre as suas.
– Não vai acontecer nada. – Sorriu singelo. – Não fique olhando pra baixo. Vai ficar enjoada.
– Er... – Tenho certeza que era para eu falar algo, mas nada me ocorreu.
– Ali! – Apontou pro céu. – Fique olhando pra cima, enquanto dão um jeito de nos tirar daqui.
Lifehouse - Where I Want To be
Pareceu-me uma boa idéia. Suspirei, fitando o céu parcialmente limpo, as estrelas pareciam gotas de luzes próximas à imponente Lua. Evitei pensar muito e me concentrei no brilho que irradiava de vários lugares lá em cima. Senti paz em meio à branda escuridão. O contorno das nuvens e o vento suave em meu rosto, tudo muito... lindo. Por uns dois minutos, ficamos calados, apenas esperando que nossos corpos abandonassem a tensão do momento. Funcionou como mágica.
– É legal o que está fazendo pela Ge...Nessie. – O homem ao meu lado sussurrou.
Sorri sem saber o que responder.
– Acha que vamos cair daqui ou coisa parecida? – questionei, mudando de assunto.
– Não.
– E se fôssemos? Quero dizer, e se soubesse que nossas vidas acabariam nesse minuto? – As palavras eram para serem pensamentos silenciosos e íntimos. Por algum motivo, brotaram como uma pergunta, no mínimo, estranha.
O fitei, notando que também observava o céu. Desejei ter sido capaz de conter as bobagens que falei.
– É... difícil saber. Não posso ter certeza do que passaria pela minha mente.
Mordi o lábio, pretendendo manter a boca fechada.
– E você, Dulce? O que faria?
A verdade saiu facilmente. Simples como respirar.
– Aproveitaria meus últimos momentos.
– Humm... acho que está certa. Uma boa forma de se despedir da vida seria justamente desfrutando-a até o último segundo.
Girei a cabeça sorrindo pra ele e o encontrei encarando-me. Em um gesto carinhoso e cuidadoso, Christopher passou o braço à minha volta, inclinando a cabeça até que sua testa repousasse em meu ombro esquerdo.
– O que está fazendo? – Minha voz saiu entrecortada.
– Tentando descobrir como me sentiria se estivesse aproveitando agora meus últimos minutos.
Ele pareceu concentrado e eu rocei sutilmente minha face em seus cabelos perfumados.
– Está fazendo da forma errada. – Adverti em um cochicho.
No momento em que o Uckermann ergueu a cabeça, nossos rostos ficaram à centímetros de distância. Nem a falta de luz foi capaz de ofuscar o brilho intenso de seus olhos. Suas sobrancelhas uniram-se, expressando uma tortura silenciosa que ecoou em mim. Seja lá o que Christopher estivesse sentindo, doeu no meu peito, como se eu fosse uma extensão de seu corpo.
Sorri, na esperança de que ele relaxasse. Deu certo. Ele retribuiu com seu mais esplendoroso sorriso.
– Deixa eu te ajudar a descobrir o que sentiria. – Minha voz tremeu um pouco, em uma mistura de timidez e nervosismo.
Permaneceu imóvel, facilitando as coisas para mim. Meus dedos trêmulos tocaram seus lábios. Os contornei, sentindo a temperatura do meu corpo variar entre o frio e o calor.
Deus! Como eu sentia falta daquela boca!
Ousei, afagando-lhe a face. Christopher não fechou os olhos, pelo contrário, os manteve abertos e totalmente concentrados em mim. Incapaz de negar à minha pele um contato maior, rocei a ponta do meu nariz no seu. Era tão difícil viver sem aquele toque! Desfrutando de um momento que podia não se repetir, fiz uma linha invisível com o nariz, do queixo dele até a orelha. Por alguns segundos, fiquei totalmente absorta pelo cheiro familiar e cativante do homem que tinha mais de mim do que qualquer outro no mundo.
Não houve uma guerra interior entre o coração e a razão. Eu estava vazia de sentimentos controversos, não tinha pensamentos irônicos ou piadas para maquiar minhas neuras. Éramos só Dulce e Christopher. Mal nos tocávamos e ainda assim, era tão íntimo quanto um casal fazendo amor.
Como se lesse meus pensamentos, esfregou devagar sua bochecha na minha, em um gesto muito significativo, mais profundo do que se tivesse dito: estou aqui, com você.
Não havia como não sentir a intensidade do momento. Impulsionada pelo sentimento que rompia lentamente dentro de mim, levei minha boca até seu queixo, onde depositei um singelo e despreocupado beijo. Afastei meu rosto do local e nossas bocas ficaram alinhadas.
Nem sequer pensei em resistir. A boca dele chamava-me, conhecia-me e, por isso, passei a ponta da língua no lábio inferior de Christopher, o qual retribuiu a carícia. Também tive o prazer de sentir o toque macio e úmido da língua dele.
Repeti o ato, só que dessa vez, meu alvo foi o lábio superior. Como da primeira vez, fui compensada com a mesma carícia deliciosa. O movimento seguinte foi conseqüência da intimidade quase casta de nosso semi-beijo. Lambi a boca dele e fique feliz quando ele a abriu, juntando sua língua à minha. Fechei os olhos e não havia pressa na forma como nossos lábios moviam-se, não existia motivo para desperdiçar a chance de saborear vagarosa e torturantemente a boca um do outro. Eu era capaz de prolongar aquilo por horas, quem sabe, dias... Em alguns momentos, respiramos delicadamente apenas pelo nariz, só para não descolarmos os lábios e não nos privar da umidade, sabor e textura de um ato, que pareceu implorar para ser consumado.
Entreguei-me às sensações de prazer proporcionadas por aquele beijo sensacional. Nossas peles irradiavam cumplicidade, confiança e, principalmente, química. Simples e certo como um 1+1=2. Problema x Solução.
Senti que a roda gigante voltou a se mover, não fiquei triste com isso. Eu tinha conseguido, em meio àquele incidente, o que buscava há tempos. Se não estivesse com a boca ocupada, seria capaz de gritar:
GOOOOOOOOOL!
Nos separamos suavemente, sem nenhum movimento brusco e sem trocar palavras desnecessárias. Saímos do brinquedo, enquanto as pessoas à nossa volta tagarelavam coisas que eu não conseguia prestar a mínima atenção, devido o meu estado de transitório de sonho para realidade.
Não andei, flutuei até a mesa onde estávamos antes de nossa pequena aventura. Em momento algum, Christopher soltou minha mão. Não sabia o que isso significava e, para ser sincera, estava me lixando para os significados. Fiquei cheia de pensar tanto no futuro. Decidi viver o momento, afinal, não era sempre que algo tão perfeito acontecia comigo. Agarrei-me com unhas e dentes àquela sensação que fazia-me bem, descartando qualquer pensamento que estragasse meu momento.
Loucura? Não! Eu já sofri o bastante nos últimos 10 anos para saber que, se eu não aproveitasse os pequenos prazeres com medo de enfrentar as conseqüências do amanhã, certamente já seria meio caminho andado para uma existência medíocre.
Christian trouxe duas canecas de chopp tinindo de geladas e, depois daí, tudo ficou bastante confuso.
CONFUSO MESMO!
(.......................................................................)
– Aiii... – gemi, abrindo os olhos doloridos.
A primeira coisa que vi foi o teto do meu novo quarto. Suspirei aliviada, estava em casa. Issoera bom! Olhei pro lado e arregalei os olhos ao ver Christian deitado ao meu lado. E de cabelo laranja?
OH, NÃO, O QUE EU FIZ?
Aterrorizada, virei o rosto pro outro lado, então....
– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH! – gritei ao ver que Marius também estava na minha cama, assustador com o cabelo rosa!
Eles acordaram com meu grito e quando se viram, não deu outra...
– AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!
SÓ PODIA SER UM PESADELO!
– O QUE? ONDE? CADÊ? – Perguntou UCKERZINHU, levantando-se do chão tão rápido, que mal consegui ver de onde surgiu. Porque o cabelo dele estava verde?
Ele cambaleou com as mãos na cabeça e, ao abrir os olhos, se deparou com a cena grotesca na cama.
Cobri o rosto com o edredom e só para garantir, gritei outra vez, na esperança de acordar. Não adiantou. Botei a cabeça pra fora, quase chorando.
– O QUE ESTÁ ACONTECENDO? – O bisonho perguntou, aturdido. – EITA PORRA, DULCE! TEU CABELO TÁ ROXO!
– CAÍMOS NA PROMISCUIDADE! SÓ PODE! – Marius mordeu um travesseiro. – PEGUEI UMA DRAGA? AAAAAAAAIIIIIIIIII... ME METRALHEM!
– Calma... – Christopher pôs uma mão na testa, cansado, tentando nos acalmar. Olhou para nós e respirou fundo. – ...ao menos, estamos quase vestidos. – Informou.
Verifiquei e era verdade. Só os rapazes estavam sem camisa.
– Você sabe que isso não significa nada. – Christian pareceu mais preocupado com o fato do pavão estar no recinto do que qualquer outra coisa.
O infeliz, como não conseguiu ficar de bico fechado, exclamou:
– Eu falei que tu ia ser meu bonequinho! HU!...OHOHOHOHOHOH! EM FIM, PEGUEI TODO MUNDO! FIM DE PAPO! – Sorriu, batendo palminhas.
– Vou ter um derrame do coração! – O bisonho colocou as duas mãos do peito.
– PERAÍ! Ainda estou com a tatuagem? – levantei o cabelo.
O serial killer olhou rapidamente.
– Está!
– Se não fomos à loja tirar as tatuagens... –Christian coçou a cabeça. – ...o que fizemos ontem após o incidente na roda gigante? Não consigo me lembrar! E por que raios estão com os cabelos coloridos?
– Caçador, o seu está verde! Eu gostei! – O viado lhe deu uma piscadela.
– CHEGA! – Fiquei de pé na cama. – EXIJO UMA RECAPITULAÇÃO! AGORA!
(Continua...)
***
MAS UM <3
Autor(a): Anna Uckermann
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4ª FASE Capítulo 10: ACERTO DE CONTAS Dulce PDV Quando chegamos ao pequeno hospital local, Poncho já havia sido internado. Ficamos à espera de notícias por cerca de uma hora. O clima tenso me manteve alerta na sala de espera. Tentei focar minha atenção na chuva densa que batia contra as janelas de vidro próximo à ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 247
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loucas Postado em 14/12/2016 - 23:05:23
Essa fanfic é perfeita demais pra ficar abandonada então por favor postaaaa mais
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 11:13:34
posta por favor
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:37:22
posta amore
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:37:10
ENTÃO VE SE POSTA LOGOOOOOOOOOOOOO
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:36:56
chantagem? BEM DOIDA, não seria capaz ^_^ MENTIRA! SIM! É UMA CHANTAGEM!
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:36:08
se postar de novo deixo você com 280 coments ^_^
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:35:41
comentei bastante linda agr pode postar hehuheuheuheuheuehuehe
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:35:14
possta
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:35:05
postta
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lalavdlove Postado em 18/02/2016 - 01:34:56
postaa