Ouvi o som claro de sirenes vindo pela rua. Preocupada com Maite e Ucker, fiquei quicando na ponta dos pés. Zora estava batendo os dentes, o cabelo atingindo seu rosto no vento forte do fim de outono. Ela estava de minissaia e um top de um ombro só. Eu estava estendendo meu casaco para ela quando Ucker apareceu na calçada, arrastando a Maite.

— O carro está pra lá — disse ele, apontando para a direita. — Vamos antes que a polícia chegue.

Maite estava tropeçando, com o vestido levantado até as coxas e a boca sangrando.

— Ai, meu Deus! — exclamei, tentando alcançá-la para ver o que tinha acontecido.

— Pro carro — disse Ucker, me fazendo seguir em frente. Anahi me puxou e andamos rápido, Zora usando meu casaco como capa. O carro estava a apenas um quarteirão, e entramos apressadamente, uma após a outra. Maite se sentou no banco da frente e virou para trás, limpando o lábio ensanguentado.

— Eu levei um soco. De um cara.

— Sério? — perguntei, horrorizada.

— Ela aguentou firme — disse Ucker, saindo da vaga de estacionamento. — Nem caiu.

— Por que ele te bateu? — perguntou a Anahi.

— Foi um acidente. Ele mirou no babaca ao meu lado.

— Ele pediu desculpas? — perguntei, imaginando o que eu faria se levasse um soco. Choraria. Sem dúvida. Maite sorriu, com o lábio já inchando.

— Não se preocupa, o Ucker fez ele se arrepender. Valeu, Ucker — disse ela.

— Tudo bem. Agora, onde está o carro da Zora?

— A gente veio a pé — respondeu Anahi. Ele suspirou.

— Vocês não deviam andar sozinhas à noite.

— Obrigada, papai. Ele nos olhou pelo espelho retrovisor.

— Dulce, cadê seu casaco?

— Com a Zora.

— E o casaco da Zora?

— Eu vim sem. Só a Dulce estava de casaco.

— Quer dizer que a única que trouxe um casaco foi a que estava de manga comprida? — Ucker balançou a cabeça. — Pelo menos a Dulce tem juízo.