Encarei-o, não gostando nem um pouco do rumo daquela conversa.

— Quer dizer, olha o que teve que acontecer pro Ucker te notar. Ele teve que te “salvar”. — Grant fez sinal de aspas no ar com os dedos. Eu nunca tinha reparado como os olhos dele lacrimejavam, como as olheiras dele eram escuras. — Você faz o Ucker se sentir másculo. Ele quer cuidar de você, como um cachorrinho abandonado na beira da estrada.

Será que ele tinha alguma ideia de como estava me insultando? Que era absoluta e totalmente grosseiro me dizer aquelas coisas?

Mas parte de mim sabia que ele estava certo. Talvez Ucker não me igualasse a um cachorrinho. Mas foi minha ingenuidade que chamou sua atenção no início, e o fato de que eu precisava de um protetor. Isso também aconteceu na noite anterior, na boate. Eu não queria ouvir o Grant dizer isso em voz alta, pois me fazia achar que eu tinha conquistado o afeto do Ucker por falta de alternativa, por ser fraca.

— E como é que essas coisas podem te ajudar? A Anahi não costuma fazer caridade.

— Não, mas aposto que ela gosta de sexo selvagem. Se você e eu tivéssemos planejado tudo, você podia ter dito pra Anahi que a gente transou de comum acordo, mas foi violento pro seu gosto, de um jeito que o Ucker ouvisse “sem querer”. Que eu puxei seu cabelo e te dei uns tapas.

A Anahi ia ficar com tesão, e o instinto protetor do Ucker ia despertar na hora. Encarei-o, chocada.

— Você pensou bastante nisso, hein? — Eu não queria pensar nem um pouco no assunto. A ideia de dizer que o Grant puxou meu cabelo era próxima demais da realidade do que aconteceu, e fiquei com nojo.

— É. A gente nem ia precisar transar. Só precisava dizer que tinha transado.

— Porque você não quer realmente transar comigo, quer?

Ele balançou a cabeça.

— Você também não.

Eu não queria. Mas também não queria ouvir isso. Não queria a confirmação de que ele estava disposto a me usar como substituta inferior da Anahi, mesmo que eu já soubesse disso