Acendeu também a luz do corredor e bateu na primeira porta.

— Sou eu, abre.

Ucker me puxou para as sombras do corredor, longe da sala de estar. Ele girou a maçaneta e colocou a cabeça para dentro do quarto.

— O que ela estava fazendo?

Não consegui ouvir a resposta nem ver dentro do quarto. O que eu vi foi a mãe do Ucker tropeçando em direção a ele com a mão levantada. Sem pensar, puxei seu braço pra baixo. Ucker virou bem a tempo de ser atingido na cabeça. A mãe dele simplesmente deu um soco na cara dele.

— Ai, meu Deus! — deixei escapar. Eu nunca tinha visto ninguém apanhar tão de perto, e não conseguia apreender que era sua própria mãe fazendo aquilo. Sua própria mãe. Fiquei parada atrás dele, impotente, procurando o telefone no bolso e me perguntando se devia chamar a polícia. Mas Ucker simplesmente levou o soco e deu um suspiro de irritação. Ele estendeu a mão e segurou o pulso dela enquanto ela levantava o braço para o golpear novamente.

— Para — ele disse, num tom gentil, não irado. Era como se ele estivesse falando com um animal assustado. — Vamos sentar.

Ela perdeu a firmeza e a raiva pareceu sumir. Então deixou o Ucker levá-la de volta para o sofá.

— Quem é você? — ela me perguntou com os olhos vidrados, enquanto afundava nas almofadas floridas. A mão foi em direção ao chão para procurar a cerveja. Ela derramou a bebida na hora de pegar a lata e lambeu o líquido do braço antes de dar um longo gole.

— Sou a Dulce.

— Namorada do Ucker?

Senti que ele estava tenso ao meu lado, mas eu estava determinada a não tornar a situação mais difícil ainda para ele. Ele fez um sinal para os irmãos saírem do quarto, e dois garotos, um no fim da adolescência, com síndrome de Down, e o outro pequeno e magrelo, com a pele escura e o cabelo enrolado, entraram na cozinha sem fazer barulho. Balancei a cabeça.

— Somos amigos. — Era a descrição menos complicada do que éramos, já que eu não sabia muito bem o tipo de relacionamento que tínhamos.