Ótimo. Tudo que eu queria era voltar para o nosso dormitório e chorar na minha cama, mas Anahi estava tirando um cochilo pós-sexo. Era algo ousado para mim, mas decidi aceitar a oferta, mesmo sabendo que seria um incômodo para ele.

— Quero, se você não se importar.

— Claro, sem problemas. Vou só pegar as chaves. — Ele fez uma careta. — E uma camiseta. Está frio lá fora para outubro.
Ele voltou para o quarto e, quando saiu, Anahi estava com ele.

— Dulce, você está bem? — Ela correu na minha direção, o cabelo louro voando, vestindo uma calça de pijama masculino e um moletom enorme. — O Ucker me contou o que aconteceu. Seus braços me envolveram, e eu me deixei abraçar, grata pelo contato e pela preocupação. — Que babaca. Se eu encontrar o Grant, vou cortar o pinto dele e enfiar goela abaixo. Vamos ver se ele gosta de um pau entalado na garganta. Sua veemência me fez sentir melhor.

— Eu devia ter... — comecei, mas depois parei. Eu devia o quê? Eu não devia ter feito nada diferente. Eu só estava sentada na minha poltrona, e ele fez um monte de suposições e eu disse não, e essa era a verdade. Eu não ia me culpar por ele ter levado um soco na cara.

— Não, foda-se isso — disse Anahi. — Você não fez nada de errado. E me desculpa por ter te deixado com aquele idiota.

— Já volto — disse Ucker com o telefone tocando na mão. Ele entrou no quarto enquanto Maite saía, com o cabelo bagunçado e a maquiagem borrada.

— O que está acontecendo?

— O Grant tentou estuprar a Dulce — disse Anahi, numa voz tão alta e direta que não consegui deixar de me encolher.

— O quê? Tá brincando. — Maite podia ser irmã da Anahi. As duas eram altas, bronzeadas e definidas. Estavam fazendo faculdade de educação e provavelmente iam acabar como organizadoras de casamentos e esposas de caras que jogam golfe, enquanto eu queria estudar medicina para ser médica-legista. Eu ficava mais à vontade com os mortos que com os vivos.