Fanfics Brasil - Capítulo 1 Folhas de Outono

Fanfic: Folhas de Outono | Tema: Original


Capítulo: Capítulo 1

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What do you say to taking chances?


(O que você diz sobre se arriscar?)


What do you say to jumping of the edge?


(O que você diz sobre saltar da beirada?)


Never knowing if there’s solid ground below


(Sem saber se há chão abaixo)


Or a hand to hold, or a hell to pay


(Ou uma mão para segurar, ou um preço a pagar)


What do you say?


(O que você diz?)


 


 


Belo Horizonte, Minas Gerais


 


O escritório da Agência Brasileira de Inteligência, localizado na avenida Afonso Pena, estava pilhado naquele dia. Agentes corriam de um lado para o outro, levando e trazendo informações, pilhas e pilhas de papéis sendo carregadas por salas e corredores do prédio. Os carros que chegavam transitavam como formigas pelo estacionamento, que aparentava não ter mais vagas disponíveis. A única vaga aparentemente disponível, localizada próxima ao hall dos elevadores, era reservada.


Melissa Botelho estava a mil, enquanto procurava um lugar para estacionar seu Honda City. Nunca vira aquele estacionamento tão cheio. Ela sabia que era porque a operação Sodoma e Gomorra estaria sendo iniciada oficialmente naquele dia, após quase um ano e meio de preparativos, então todos estariam bastante apreensivos.


Depois de 3 ou 4 voltas pelo estacionamento e uns 3 ou 4 xingamentos entre os dentes, ela finalmente viu um carro dando ré e liberando uma vaga próxima ao hall dos elevadores, quase ao lado da vaga reservada. Melissa acelerou e estacionou seu carro numa única manobra.


Finalmente, ela pensou.


Conferiu o relógio em seu pulso e viu que ainda tinha 20 minutos antes de iniciar seu expediente, então aproveitou para ajeitar a roupa e retocar a maquiagem pelo espelho retrovisor. Feito isso, pegou sua pasta no banco do carona e saiu do carro, quase sendo atropelada pelo enorme e reluzente Volvo S60 de Dolores Guerra, que vinha encostar na vaga reservada. Ela deu um pulo para trás, assustada, mas Dolores nem mudou sua expressão facial. Parou o Volvo, saiu e começou a andar de modo firme e decidido na direção dos elevadores.


- Se você quer pôr sua vida em risco, Melissa, deixe para fazer isso quando estiver em campo. – Dolores colocou, sem olhar para trás, apertando o botão do elevador.


Melissa pôs a mão no peito e deu um risinho abafado. Dolores era a tenente-coronel no comando do escritório mineiro da ABIN, mas tinha lá seu senso de humor. Com sessenta e tantos anos e uma aparência que misturava Fernanda Montenegro com Miranda Priestly, de O diabo veste Prada, Dolores Guerra era amada, odiada, admirada e desprezada por seus subordinados. Mas Melissa gostava de trabalhar com ela. O senso de justiça daquela mulher era algo impressionante.


- Muito obrigada pela sutileza, Dolores. – Ela disse, também aproximando-se do elevador.


Dolores a olhou.


- Essa é uma palavra que não consta no meu dicionário, Melissa.


- Sei disso. – Melissa concordou.


As portas do elevador se abriram e as duas entraram. Dolores apertou o botão do décimo segundo andar e, depois de alguns segundos de silêncio, puxou assunto.


- Está nervosa?


Melissa pensou um pouco, olhando para o espelho do elevador.


- Não sei dizer. – Ela respondeu – Um pouco, talvez. Estamos preparando esta operação há muito tempo. Tenho medo de estragar tudo.


- Por quê você diz isso? – Dolores pareceu indignada.


Melissa torceu a boca.


- Ah, sei lá. Tentar capturar Douglas Patrono é como tentar capturar o vento. Foi difícil achar o cara, e vai ser mais difícil ainda segurá-lo.


Dolores cerrou os olhos um pouco, como se a estivesse avaliando.


- E você não pensou que foi por isso que te coloquei neste caso?


O elevador parou e abriu as portas. Dolores se dirigiu para sua sala, olhando por cima do ombro e terminando de dizer a Melissa:


- Eu precisava de alguém que desse conta do recado.


Melissa ficou alguns segundos congelada onde estava, com cara de paisagem. Dolores não era o tipo de pessoa que fazia elogios, mas ouvir aquilo dela era o suficiente para abrir um champanhe e virar o fim de semana comemorando. Mas Melissa não ficou muito tempo sozinha, pois seu amigo Gustavo Dias chegou e a tirou de seu devaneio.


- Bom dia, Melissa! Preparada pra guerra? – Ele estava esfuziante.


- Oi?! – Melissa, ainda perdida.


Gustavo riu.


- Você está a um milhão de quilômetros daqui, Melissa! O que se passa nessa cabecinha atribulada? – Ele deu dois petelecos na cabeça dela.


Melissa afastou a mão dele, rindo.


- Me deixa, Gustavo! – Ela começou a caminhar em direção à sua sala, e Gustavo a seguiu – É que a Dolores está toda amorosa hoje. Não me acostumo à essa idéia.


- Não creio. – Gustavo, sério.


- Pode crer. Ela até me fez um elogio.


Gustavo entrou na sala de Melissa e se sentou sobre a mesa.


- Você ser elogiada não é surpresa pra ninguém. Até o papa te elogiaria, se pudesse. – Ele apontou a parede oposta, cheia de fotos que mostravam Melissa ao lado de várias pessoas importantes, como os ex-governadores Aécio Neves e Antônio Anastasia, o prefeito Márcio Lacerda, um dos marechais da ABIN de Brasília, o pastor Jorge Linhares e alguns outros militares e famosos – Você é a menina dos olhos da Dolores. Nós, pobres mortais, é quem padecemos por não receber o menor reconhecimento.


Melissa colocou sua pasta sobre a poltrona no canto da sala, olhando para Gustavo com cara de desaforo.


- O drama mandou abraços.


Gustavo cruzou os braços, fingindo não se importar.


- Mas você é boa agente, mesmo. – Ele olhou para as próprias unhas – Herdou isso do seu pai.


- É, talvez. – Melissa empurrou Gustavo da mesa e se sentou – Quero dar mais uma lida nas fichas do pessoal do Douglas antes de sairmos.


Melissa sabia que a missão que ela tinha pela frente não seria fácil. Resumindo de forma bastante simples, ela teria que se infiltrar no “quartel-general” de Douglas Patrono, ganhar sua confiança, descobrir seus planos e, então, frustrá-los. Douglas era herdeiro da Máfia italiana em Minas Gerais e, desde que seu pai morrera, 5 anos antes, triplicara seu poder e sua fortuna e, até onde a ABIN sabia, mais por força e violência do que por seus dons como administrador.


Gustavo se aproximou.


- Não acho legal você ir sozinha. – Ele colocou, falando sério desta vez.


Melissa levantou os olhos.


- Já conversamos sobre isso.


- Já. Mas continuo não achando legal. – Ele se sentou – Não me importa se você é a melhor agente do nosso estado, Melissa. O cara é perigoso. Você viu a ficha dele.


Melissa olhou nos olhos dele, abrindo um sorriso compreensivo. Gustavo e ela se conheciam havia muito tempo, e haviam criado uma amizade muito sólida ao longo dos anos. Era comum um se preocupar com o outro.


- Gustavo... Confie em mim, ok?


- Melissa...


- Não, Gustavo, é sério. Venho dando duro há muito tempo pra Dolores me colocar em um caso grande, e finalmente consegui.


Gustavo suspirou.


- Não estou dizendo que você não merece, Melissa, é só que...


- Sala de reunião, agora. – Dolores apareceu na porta, anunciando – Deixem o namoro pra depois.


- Não somos namorados. – Gustavo e Melissa disseram ao mesmo tempo.


Dolores deu de ombros e se virou, o barulho de seus scarpins de salto alto ecoando no corredor. Gustavo e Melissa se encararam.


- Não vamos deixá-la esperando, não é? – Gutavo se levantou, ajeitando o paletó.


- Não, senhor. – Melissa concluiu, pegando as fichas dos envolvidos na operação dentro de sua pasta.


Os dois seguiram até a sala de reunião e se acomodaram na ponta da mesa, do lado oposto ao de Dolores. Outros agentes foram chegando e se sentando, também. Dolores estava no canto da sala, sentada numa poltrona de couro, com as pernas cruzadas. Depois de alguns instantes, ela se levantou e se aproximou da cabeceira da mesa, apoiando-se sobre o móvel com as duas mãos, como um general que está a planejar um ataque ao campo inimigo.


De fato, ela estava mesmo fazendo isso.


- Bom dia, senhores. – Ela começou.


Um Bom dia tímido ecoou pela sala, proferido pelos agentes. Dolores assentiu.


- Não temos por quê delongar muito. Todos sabem que hoje se inicia oficialmente a operação Sodoma e Gomorra. Estamos preparando esta empreitada há quase dezoito meses, e finalmente começaremos a ver os resultados.


Ela pegou um controle sobre a mesa e apertou um botão, ligando o retroprojetor que pendia do teto. O aparelho projetou na parede branca atrás de Dolores a foto de um homem bonito, na casa dos 30 anos, com terno preto e óculos escuros, saindo de um consultório médico e entrando num Mercedes-Benz sedã. Tinha a pele branca e os cabelos louro-escuros espetados de forma rebelde, e uma semelhança incrível com o ex-agente secreto americano Edward Snowden.


- Este, senhores, é o nosso objetivo. – Dolores apontou o homem da foto – Douglas Patrono, filho de Edgar Patrono e herdeiro da Máfia italiana em nosso estado. Há muito tempo sabemos de seus negócios escusos, principalmente tráfico de drogas e agiotagem, e temos acompanhado o aumento monstruoso em sua fortuna pessoal e em seu... “poderio”. Mas temos observado que, nos últimos cinco meses, ele vem se mostrando displicente com relação aos seus gastos. – Ela olhou para o rosto de cada agente presente – Infelizmente, nunca conseguimos ligá-lo a nenhuma de nossas evidências nem descobrir seu “centro de operações”, porém, há poucos meses, nosso agente Christian Coelho, infiltrado na comunidade do tráfico da pedreira Prado Lopes, teve acesso a um “negócio” envolvendo Douglas e acabou descobrindo sua localização e alguns de seus contatos. – Ela apertou um botão do controle e a foto na parede mudou, mostrando um hangar do aeroporto da Pampulha com dois jatos à frente – Este hangar é de uma companhia chamada Eclipse Táxi Aéreo, registrada em cartório por Edgar Patrono, e o Boeing 737 que vocês vêem na foto está legalmente registrado na ANAC em nome de Douglas. Pelo que o Christian conseguiu se informar, o “negócio” será feito em dinheiro vivo, o que impede que a transação seja rastreada, e as “mercadorias”, sejam quais forem, chegarão a Belo Horizonte neste avião.


Os agentes prestavam toda a atenção em Dolores. Melissa fazia algumas anotações nas fichas em cima da mesa.


- Mas isso está para mudar. Christian conseguiu interagir com um contato de Douglas e informou conhecer um despachante aduaneiro no aeroporto da Pampulha que poderia receber o avião e “facilitar” a entrada das mercadorias, burlando a fiscalização. O próprio Douglas solicitou uma reunião com o tal despachante.


Dolores começou a caminhar devagar, dando a volta na mesa, até se postar por trás de Melissa, pousando as mãos nos ombros da agente.


- O que ele não sabe é que a despachante será a nossa estimada agente Melissa Botelho. – Dolores esperou que todos olhassem para Melissa, que se encolheu na cadeira – Ela será encarregada de ganhar a confiança de Douglas para exercer o “cargo” e, quem sabe, descobrir os fornecedores e os clientes dele. E quando estiver tudo esclarecido, colocamos as mãos nele.


Os agentes assentiram com a cabeça. Dolores olhou em volta.


- Isso é só um resumo da operação. Cada um cuidará dos detalhes que lhe cabem. Alguma dúvida?


Todos fizeram que não com a cabeça.


- Ótimo. – Dolores concluiu – Estão dispensados.


Todos se levantaram para sair, mas Dolores sinalizou a Melissa que ficasse. Quando o último agente saiu e fechou a porta, Dolores se postou diante da janela, com as mãos cruzadas às costas, numa atitude pensativa. Melissa continuou onde estava.


- Você está pronta? – Dolores perguntou.


- Estou. – Melissa respondeu.


Dolores fez que não com o dedo indicador.


- Não. Você está realmente pronta? – Ela perguntou de novo.


Melissa esboçou responder, mas realmente não sabia. Dolores prosseguiu:


- Não preciso nem mencionar a importância de pegarmos esse homem, Melissa. Ele é responsável por quase cinquenta por cento do tráfico de drogas na região metropolitana, em especial nos bairros de classe mais alta. – Ela fitou Melissa – Isso poderia nos valer uma bela promoção.


- Eu sei, Dolores. – Melissa respondeu, confiante – Já estudei os perfis de cada um dos envolvidos e sei como lidar com cada um deles.


- Ótimo. – Dolores voltou a olhar pela janela, observando o trânsito pesado da avenida Afonso Pena – Não mencionei na reunião, mas o Christian me ligou de novo hoje cedo. Parece que essa carga que o Douglas vai receber é de heroína e chega em alguns dias, vinda diretamente da Colômbia. Coisa grande. – Dolores esfregou o dedo indicador no polegar, como se estivesse se livrando de uma sujeirinha – Você precisa dar um jeito de se aproximar dele e conseguir informações.


- Nunca te decepcionei, Dolores. – Melissa recolheu as fichas que estavam em cima da mesa – Não vai ser a primeira vez.


- Acho bom. – Finalizou Dolores, tirando uma sujeirinha imaginária da lapela de seu terninho, indicando a Melissa que o assunto estava encerrado.


A agente juntou seus papéis e se dirigiu para a porta.


- Melissa. – Dolores a chamou.


A agente se virou, mas Dolores continuava olhando pela janela, pensativa.


- Seu pai ficaria orgulhoso de te ver assim.


Melissa abaixou os olhos, engolindo em seco.


- Obrigado, Dolores. – E saiu.


Melissa sabia que não podia decepcioná-la em hipótese alguma. Dolores havia assumido o papel de protetora sobre ela muito cedo, já que o trabalho na ABIN havia tirado o pai dela precocemente. Ela decidiu não pensar muito sobre isso.


Voltou para sua sala e espalhou as fichas dos envolvidos na operação Sodoma e Gomorra sobre sua mesa. Dentro de poucas horas, iria se encontrar com eles pela primeira vez. E dentro de pouco tempo, ela esperava, estariam todos presos.



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Autor(a): matheusbraga

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