Fanfic: A Secretária Misteriosa *AyA*Ponny* | Tema: Ponny,AyA

Capítulo I

Na manhã de seu trigésimo aniversário, Anahí Portilla parou, pensativa, diante do espelho.

Em torno da boca pôde constatar pequenas rugas, e em volta dos olhos, quando sorria, discretos pés-de-galinha. Misturados aos cabelos dourados, que caíam até pouco abaixo dos ombros, alguns fios brancos insistiam em se sobressair.

Teve vontade de arrancá-las, mas hesitou. Agora era uma mulher adulta, beirando a meia-idade, e precisava se lembrar disso.

Tocou a pele macia do rosto. Havia sido difícil protegê-la sempre do sol e do vento, mas o sacrifício não fora em vão: aparentava uma idade bem menor do que seus trinta anos.

Dona de um corpo esbelto, saúde e felicidade, o que mais Anahí poderia querer?

Os últimos seis anos tinham sido desgastantes, e agora faziam parte do passado. A morte do marido, René, lhe havia deixado um pesado encargo: os filhos gêmeos, Gabriel e Nate, e o sogro, Raul.

Por eles, trabalhava como louca, tornando-se um modelo de eficiência.

Vivia apenas em função da felicidade da família, pouco sobrando para a mulher vibrante que trancara dentro de si. Com a morte do marido, suas ilusões haviam se desvanecido.

Às vezes tinha a sensação de que toda sua sensualidade partira com ele. Não que Anahí se achasse infeliz, mas faltava-lhe algo. Nem mesmo um namorado conseguia trazer-lhe de volta a alegria de viver, a euforia, que já foram suas marcas registradas.

Havia Rodrigo, Anahí pensou ao examinar os músculos abdominais ainda fortes que lhe davam uma Cintura invejável, sempre atencioso com as crianças, mas ele era tão... sem graça! Se concordasse em ficar ao lado dele, deveria se resignar ao simples papel de esposa e mãe.

No entanto, Anahí não se considerava tão acomodada como Rodrigo. Ela queria agarrar um mundo de aventuras com as mãos, queria reencontrar alegria, prazer, possuir tudo o que a vida pudesse oferecer.

Casar-se com Rodrigo era uma decisão prática e até previsível. Por outro lado, sabia que agindo assim não ia encontrar a resposta para os próprios anseios. Tinha-lhe um carinho especial, e sabia que ele a queria bem.

Mas segurança não é tudo para que um casamento se torne feliz. Pouco importava a Anahí se teria dinheiro suficiente para pagar suas dívidas, não queria de jeito nenhum abandonar a esperança de apaixonar-se outra vez, de uma maneira tão intensa que nada mais faria sentido.

O chamado do sogro a despertou dos devaneios matutinos.

- Já estou indo, Raul.

Depois de vestir o blazer azul-marinho, Anahí espalhou a base clara pelo rosto, seguida de pó-de-arroz e de um batom discreto. Prendeu o cabelo num coque, o penteado ideal para a mulher que não quer chamar atenção sobre si.

Ao invés de realçar o contorno dos olhos azuis, escondeu-os atrás de óculos que não precisava usar. O tom acinzentado das lentes fotocromáticas anulava a vivacidade daquele rosto, tornando-o sombrio e extremamente sério.

De propósito, durante os últimos três anos, todas as manhãs repetia o mesmo ritual, transformando a mulher atraente que era numa outra, austera, quase sem nenhuma vivacidade.