Fanfic: Renascer da Esperança | Tema: Levyrroni

De repente, os sons abafados das vozes e das risadas, o tilintar de copos e talheres, lhe pareciam terrivelmente importunos. William se levantou, largou algumas notas sobre a mesa e olhou para Lucas.

— Comprei um apartamento. Fica a poucas quadras daqui.

Lucas estava de pé antes que William terminasse de falar.

— Então vamos.

Naquele instante, pela primeira vez desde que tudo se passara, William começava a imaginar que a vida volta­ria a normalidade.

Horas mais tarde, os dois amigos estavam sentados, um de frente para o outro, na sala de estar do dúplex de 15 cômodos de William. A vodca e o uísque tinham cedido espaço ao café forte.

As três paredes de vidro proporcionavam uma visão magnífica, mas nenhum deles prestava atenção. Só im­portava saber a visão que William tinha da alma de uma mulher ardilosa.

— Então estavam saindo há algum tempo.

William assentiu.

— Sempre que eu estava em Nova York.

— E você tentou terminar o relacionamento.

— Sim. Ela era bonita. Muito sexy. Mas quanto mais a conhecia... Pode parecer loucura, mas era como se Kay usasse uma máscara e aos poucos a deixasse cair.

— Não é loucura — disse Lucas um tanto sério. — Existem mulheres por aí que fariam qualquer coisa para agarrar um homem com dinheiro.

— Ela começou a mostrar um lado que eu não tinha visto antes. Só se importava com posses, tratava as pes­soas feito lixo. Taxistas, garçonetes... — William bebeu um pouco de café. — Eu quis sair dessa.

— Quem não sairia?

— Pensei em parar de ligar, mas sabia que não seria correto. O mais decente seria dizer que tudo tinha aca­bado. Então liguei, convidei Kay para jantar. — O rosto ficou impassível. William foi até uma das paredes envidraçadas e olhou para a cidade. — Bastou uma frase para que ela começasse a chorar. Disse que estava esperando um filho meu.

— Acreditou nela?

William voltou-se para Lucas.

— Éramos amantes há alguns meses, Lucas. Você te­ria feito o mesmo.

Lucas suspirou e levantou-se.

— Tem razão. — Ficou calado por um instante. — Então, o que você fez?

— Disse que a sustentaria. Ela disse que se eu real­mente me importasse com o bebê, a convidaria para mo­rar comigo.

— Meu Deus...

— Sim, eu sei. Mas ela estava esperando um filho meu. Ao menos era o que eu acreditava.

Lucas suspirou novamente.

— Claro.

— Foi um pesadelo — disse William, estremecendo. — Acho que ela se imaginou segura para deixar a más­cara cair completamente. Travava meus criados feito es­cravos, gastou uma fortuna na Tiffany... —- Ele cerrou o queixo. — Eu não queria nada com ela.

— Nada de sexo? — perguntou Lucas de pronto.

— Nada. Para começar, eu nem conseguia compreen­der porque tinha dormido com ela. Kay achou que eu tinha perdido o interesse por causa da gravidez. — Fez uma careta. — Começou a falar como as coisas seriam diferentes se não estivesse grávida...

William rumou para a mesa onde estava o serviço de café. Antes de chegar à mesa, resmungou qualquer coisa em grego e tomou a direção de um armário na parede.

— O que quer beber?

— O que você servir.

A resposta trouxe um arremedo de sorriso aos lábios de William. Ele serviu quantidades generosas de conha­que num par de copos de cristal e estendeu um para Lu­cas. Ambos beberam.