Fanfic: Marcas do silêncio | Tema: Violência, professor, estupro

O telefone tocava pela terceira vez, fazendo uma menina loira correr de um lado para outro nos quartos, se atrapalhava com as roupas que carregava nas mãos. Era a segunda vez que  revirava a casa atrás do celular que sempre desaparecia quando ela mais precisava dele. Colocava um monte de roupa para um lado e outro monte para o outro, enquanto sua mãe aparecia em frente à porta.

- Cloe! Que bagunça!

- Mãe, viu meu celular? – Cloe falava tirando as milhares de roupas que sobravam para fora do armário, fazendo sua mãe caminhar lentamente até a poltrona ao lado dela. – Eu odeio quando você tenta arrumar meu quarto, fica mexendo nas minhas coisas e depois eu não encontro nada...

A mãe de Cloe, senhora Marta, apenas estendeu o celular em frente à loira, fazendo a filha soltar um sorriso maroto.

- Cinco minutos Cloe. – Sra Marta esbravejou, girou os calcanhares e seguiu em direção ao quarto do filho mais velho, que saia do mesmo com a mochila nas costas e um par de luvas penduradas na mesma.

- Vamos fedelha.. – O irmão de Cloe apareceu na porta, fazendo a garota revirar os olhos e sair do quarto bagunçado com a mochila em uma das mãos.

- Sou só quatro anos mais nova que você Vitor! – Esbravejou Cloe.

Vitor pegou as chaves de cima da cômoda, dando um beijo na bochecha de sua mãe e saindo da casa, fazendo Cloe imitar o irmão e o seguir.

O carro estacionou em frente ao colégio, fazendo Vitor sair do carro em poucos segundos e logo depois Cloe descer.

- Eai cara, preparado pra hoje? – Kevin apareceu ao lado de Vitor, fazendo Cloe se aproximar dos dois. – Bom dia pequena.

Cloe sorriu, se perdendo nos olhos castanhos de Kevin, que saíra apressado com Vitor em direção à parte de trás do colégio onde praticavam luta.

- Terra chamando Cloe!

A loira despertou com uma mão em frente ao seu rosto,  a fazendo encarar a face de sua melhor amiga que mantinha uma expressão desconfiada.

- Depois de três anos ainda continua babando pelo amigo do seu irmão.

- Cala a boca Mel. – Cloe girou os olhos, fazendo a amiga gargalhar. – Isso foi ano passado...

- Então a garota que eu vi completamente estática com um sorriso gigante ao ver ele não era você?

Cloe lançou um olhar mortal para Mel, fazendo a morena sorrir de forma marota.

- Tá pode ser... – Sussurrou Cloe envergonhada. – Ele é muito mais velho que eu.

- E você é a irmãzinha do amigo dele. Suas chances são tipo, 0%. – Mel gargalhava sem parar, fazendo Cloe girar os olhos e ambas caminharem em direção ao colégio. – Tirando o fato de você ainda nunca ter beijado ninguém.

- Será que podemos cortar as partes de minha vida particular?

Mel fez uma menção que ficaria em silêncio, fazendo as duas entrarem no colégio e irem em direção ao segundo andar, entrando no quinta sala.

É claro que Cloe tinha uma queda mais do que óbvia por Kevin, mas seria como uma fã fanática tentar se aproximar de seu ídolo dos sonhos. As únicas palavras que já trocou com Kevin foram apenas “oi” e “tchau”, já que seu amado irmão sempre estava por perto e não gostava que Cloe os atrapalhasse com infantilidades.

O colégio não estava quase nada diferente do que ano passado, apenas alguns alunos novos em sua classe, e outros tantos antigos que ela adorava tê-los por perto. O que fez as duas depositarem os olhos na última fileira do canto, onde estavam sentados três garotos que discutiam empolgados sobre algum jogo.

- Não mudaram nada nessas férias... – Murmurou Mel, fazendo ambos os garotos fitarem as meninas e elas sentarem nas cadeiras a frente.

- Olá girls. – Joe, o garoto mais baixinho sorriu.

- Não tínhamos visto vocês.. – Ian ajeitou-se na cadeira, levando os dois braços em direção à nuca de forma relaxada. Possuía os cabelos um pouco mais escuros que os de Cloe e os olhos castanhos claros, o que Cloe tinha certeza que fazia Mel suspirar.

- Oi Cloe!

Léo, o garoto moreno de olhos escuros, tirou os fones e sorriu de forma marota. O que fez Cloe perceber que muitas meninas da sala sorriram naquele momento. Léo, era o tipo de garoto popular que só ficava com meninas mais velhas, mas isso não impedia as outras garotas de tentarem alguma coisa.

- Vocês vieram juntas?

- Não. Encontrei a Cloe na frente do colégio babando pelo Kevin..

Cloe empurrou à amiga, enquanto a mesma dava sinceras gargalhadas.

- Ainda? – Murmurou Léo de forma emburrada.

- A deixe ter seu amor platônico.

Não deu muito tempo para rirem das piadas de Mel, já que a diretora entrava na sala mais empolgada que todos os outros anos de começo de ano letivo. Todos se arrumaram em suas cadeiras, enquanto a mesma se dirigia ao centro da sala.

- Bom dia alunos, bem-vindos a mais um ano letivo. Esse ano tivemos uma pequena mudança na grade de professores... A professora Olga que lecionava história teve uma mudança de cidade e não ensinará mais aqui.

Alguns sussurros foram ouvidos, já que a maioria dos professores ensinavam os mesmos alunos há anos.

- Quem vai substitui-la será o professor Henrique Lemos, possuía experiência na área há alguns anos e é graduado pela melhor instituição de ensino superior do país. Espero que o recebam bem.

A diretora se retirou, dando espaço logo em seguida, para um homem alto e de incrível postura entrar na sala. Possuía os cabelos negros e olhos castanhos cristalinos, que não passavam despercebidos por seu rosto com traços grossos, belos e frios. Caminhava como um comandante de uma ala militar, o que fez alguns alunos se ajeitarem de forma mais formal na cadeira sem nem perceber.

Largou alguns livros com força sobre a mesa e apoiou-se na mesma em direção aos alunos, erguendo seus olhos.

- Olá, sou o Professor Henrique Lemos e ensinarei história para vocês.

De repente sua expressão se suavizou, mostrando um belo sorriso em direção aos alunos, fazendo as garotas sorrirem de volta e os meninos relaxarem na cadeira.

- Para vocês me conhecerem melhor e não ficarem tão tensos eu irei me apresentar, e depois quero que cada um se levante e faça o mesmo. – Henrique sorriu, fazendo a maioria dos alunos apenas concordar com a cabeça. O professor apoiou-se na mesa em frente aos alunos e falou de uma forma amigável. - Eu morei quase minha vida inteira na Alemanha, até voltar para os Estados Unidos e me formar em história. Depois viajei para alguns lugares e depois decidi voltar para fazer o que amo, lecionar. Tenho 32 anos, sou divorciado e não tenho filhos.

O professor se apresentou de forma natural, e logo depois um a um, todos se levantaram de suas classes e se apresentavam quase igual ao professor.

- Ele parece um general. – Sussurrou Joe.

- Eu queria um general assim... – Suspirou Mel, fazendo o professor a fitar com um sorriso e ela retribuir formando-se um silêncio constrangedor na sala.

- Sua vez.

Henrique falou calmamente, fazendo Mel dar um salto da cadeira e ajeitar as vestes.

- Olá, eu me chamo Mel como todos já sabem, tenho dezesseis anos, nasci aqui mesmo e morei sempre aqui. – Alguns alunos riram baixo fazendo Mel sorrir em direção ao professor que retribuiu com um sorriso fraco. - Moro com meus pais, gosto de fazer natação, e espero gostar desse novo ano.

O professor fez uma menção concordando para ela sentar-se, anotou algumas coisas em sua agenda, e pousou naturalmente o olhar na garota ao lado.

Mel cutucou sua amiga, fazendo Cloe levantar a cabeça completamente perdida e fitar o professor que esperava paciente para ela levantar-se.

Cloe sorriu de forma envergonhada, levantando-se da cadeira e lançando os cabelos loiros para trás. Os olhos analistas do professor percorreram quase todo seu corpo, desde as pernas pouco grossas ao volume da blusa que cobria os pequenos seios de Cloe. Seu rosto era lindo, incrivelmente belo e encantador, o que fez um profundo sentimento de curiosidade e admiração pairar sobre a cabeça do homem de olhos negros.

- Eu me chamo Cloe, tenho catorze anos...

- Catorze? – Interrompeu o professor.

- Estou dois anos adiantada. – Cloe sorriu de forma ingênua, fazendo uma das meninas sussurrar alguns apelidos estranhos que chegaram ao seu ouvido, que ela decidiu por certo ignorar.

- Está bem, continue.

- Eu me mudei há dois anos, morava no interior de São Paulo. – Cloe ficou em silêncio, sentindo suas bochechas ruborizarem e Henrique sentir uma excitação fora do comum. – Eu não sei mais o que dizer...

- Tudo bem, pode sentar.

Cloe sentou rapidamente, fazendo Mel se aproximar da amiga.

- Achei que iria desmaiar.

- Sabe que eu odeio falar em público. – Cloe sussurrou, enquanto outros alunos se apresentavam.

- Se saiu muito bem Cloe.

Léo sorriu em sua direção fazendo Cloe retribuir e voltar a olhar para frente, onde sem ela perceber, os olhos do professor olhavam angustiantes em sua direção.

O sinal bateu antes do esperado fazendo os alunos vibrarem e levantarem em direção a saída. As meninas se despediam do professor que educadamente recebia com muito grado todo o carinho e a atenção.

- Essas meninas não podem ver carne nova. – Murmurou Joe decepcionado. – Não é Mel?

O garoto olhava pro lado, onde Mel já se encontrava próxima ao professor com o maior dos sorrisos.

- Você podia disfarçar que gosta dela sabia?

Joe despertou de seus pensamentos, ouvindo a voz doce e implicante de Cloe.

- Não vai se juntar a ela?

A loira apenas balançou a cabeça negativamente e seguiu com Joe para fora da sala em passos lentos.

- E quando vai se declarar para o Kevin?

- Tá brincando né? – Gargalhou nervosa.

- Você sempre desvia do assunto.

- Nunca. É uma boa resposta? – Joe ficou em silêncio, apenas girando os olhos. – Além disso, você acha mesmo que ele ia se interessar por mim?

- E por que não?

Cloe parou de caminhar, fitando Joe de uma forma abismada. É claro que Joe sabia que a loira não era a beldade em pessoa, possuía poucos atributos físicos pela sua pouca idade e estatura, mas não só Joe quantos muitos outros já comentaram sobre a beleza exaustiva de seu rosto, junto a uma pureza que só ela possuía no olhar.

- Deixa pra lá.

Ambos continuaram caminhando lentamente e em silêncio, até o estacionamento dos carros onde Vitor estava junto com outros amigos e algumas meninas em volta. Cloe se despediu de Joe e se aproximou em passos lentos, fazendo Vitor a encarar da mesma forma todas as vezes que ela interrompia alguma coisa.

- Vou esperar no carro.

A loira sussurrou, entrando no carro e jogando a mochila para trás, observando com uma expressão emburrada seu irmão se aparecendo da forma mais irritante possível para as garotas em volta. Mas o que a irritava ainda mais, era o fato de Kevin estar ao lado e fazer a mesma coisa.

- VITOR A MAMÃE ESTÁ NOS ESPERANDO! – Cloe berrou irritada, estando prestes a sair do carro quando uma caminhonete preta parou ao lado.

- Oi Cloe. – A janela foi abaixada, fazendo o rosto amigável do professor Henrique surgir por trás da película escura.

- Oi professor... – A loira mostrou um meio sorriso, recebendo um olhar do professor de quem esperava mais. – Desculpe por aquela hora, eu só não gosto muito de falar em público.

- Tudo bem, temos que respeitar nossos limites não concorda?

Cloe balançou a cabeça positivamente, fazendo o professor fitar os jovens mais a frente que pareciam gargalhar de qualquer coisa.

- Está esperando alguém?

- Meu irmão. – Falou Cloe impaciente com a demora de Vitor.

- Bom vou indo, só queria lhe entregar isso... – Henrique estendeu uma agenda a Cloe, fazendo a loira segurar sem hesitar. – Acho que se esqueceu na aula.

- Obrigada.

Ela sorriu fazendo o professor colocar os óculos escuros e subir o vidro do carro, dando partida ao lado oposto que Cloe morava. A garota apenas jogou a agenda em cima da mochila no banco de trás e gritou novamente para o irmão.

“Por que ele sempre faz questão de me irritar?” – Murmurou em pensamento.