Fanfic: Folhas ao Vento | Tema: Romance
A tarde era parecida como essa. O sol já dava os primeiros sinais de seu desaparecimento no horizonte, e a escuridão da noite começava a domar tudo. As luzes da cidade se acendiam -uma forma de tentar fugir da desolação noturna- e a vizinhança ficava à beira da estrada, jogando conversa fora. No bairro onde eu morava – de classe média – havia uma boa estrutura. Esgoto, água encanada, iluminação publica e até uma praça. Nessa praça eu me encontrava todas as tardes com todos meus amigos e outras crianças. Jogávamos futebol lá. Havia uma quadra de futsal recém-inaugurada, então nós, aproveitávamos pra brincar de campeonato. Todo mundo queria ser do Flamengo, ou do Vasco...
- Não quero saber do que os pirralhos queriam ser. Foco na Catarina! – Falou Larissa me interrompendo.
- Ou você ouve tudo, ou nada. Esse episódio foi muito especial, portanto, contarei cada detalhe. – Retruquei.
- Tudo bem... – Se conformou Larissa.
- Enfim, continuei, nesse dia eu tava na quadra, encostado em uma das grades, vendo tudo isso. De repente chegou João, um magricelo de cabelos loiros, que vivia com a blusa do Flamengo e – modéstia parte – era um bom jogador,e me falou:
- Porra Pedro! Se acordar, você parece aqueles doidos que ficam olhando pro nada, aff. Nosso time perdeu, tu tira quem?
- Tiro Guilherme (o goleiro).
- Caramba! Ele só me tirou porque eu sou gordo. – Murmurou Guilherme.
- Não, eu te tirei porque sou melhor goleiro do que jogador. Você sabe disso. – Retruquei.
- Vamos começar logo isso! Parem de mimimi. – Falou João.
O jogo começou . Os pés dos meninos sambavam perante a bola. Cada drible, levava aos gritos da torcida improvisada de algumas crianças ali presentes. Lembro que eram quatro jogadores em cada time. Um goleiro e três atacantes. É claro que eu não vou falar a escalação de cada um, isso seria enfadonho. No entanto, o jogo ia bem. Ora a bola estava a favor do meu time, ora contra. Seria uma tarde normal como as anteriores. Seria...
De repente, se ouviu barulhos que estralavam repetidamente. Um barulho ruidoso, que trazia consigo pavor. No inicio, pensei que fosse fogos de artifícios, mas essa ideia mudou quando alguém gritou “É tirooo!”. Então começou um verdadeiro corre-corre. Crianças, mães, pais correndo desesperados em busca de um abrigo. Os gritos de desespero tomaram conta do espaço, me perturbavam. Em poucos segundos, toda a praça e a vizinhança tinham desaparecidos; evaporados pelo medo de uma bala perdida, e metidos em qualquer buraco que fosse seguro, caso a residência estivesse longe. De longe, ouvi Guilherme gritar “Corre Pedro, tu vai morrer!”.
Meus pés não se mexiam, meu corpo estava paralisado. Não por medo, mas pelas lembranças. As lembranças lançaram-me em uma cadeia de pura angústia. Nesse momento, o tempo havia parado, ou talvez eu tivesse perdido a noção dele. Me acocorei, pus as mãos na minha cabeça e chorei. Um choro, não de medo, como disse, mas das setas, que sem dó, as lembranças lançavam e atingia meu peito. As lágrimas começaram a escorrer lentamente na minha face e caindo no chão da quadra. E o barulho dos tiros se aproximava gradativamente. Eu estava sozinho na quadra.
“Filhaaa voltaa!”...“Filha...”,”volta...”... Esse grito ecoou no meu ouvido. Meus olhos se arregalaram, e lentamente levantei a cabeça, sem que as lagrimas cessassem. Fitei uma menina, mas não consegui ver nitidamente seu rosto, minha visão estava turva por causa do choro. Percebi que ela estava olhando pra mim, imóvel, com um ursinho pendurado na mão. Devia ter a mesma idade que eu, oito anos. O vestido lilás, e o cabelo curto eram acariciados pela brisa que passava. A sua mãe, provavelmente, estava clamando pela sua volta. Mas por que aquilo? Por que a garotinha não voltava aos braços da mãe?
Olhei para o inicio da rua, um carro se aproximava em altíssima velocidade, dali saiam os tiros. Logo atrás desse carro, uma viatura da policia o perseguia. Entendi porque a mãe da menina gritava desesperadamente: se a menina, não se movesse, iria morrer atropelada – já que a garota estava no meio da estrada me encarando – o futuro era quase iminente. E eu, eu morreria com uma bala perdida, se continuasse parado ali. No outro dia, a minha cara e a cara da menininha, estariam estampadas nas capas de jornais, noticiando nossa trágica morte. Porém tomei uma decisão, não deixaria o fato de três anos atrás acontecer novamente, sem que eu fizesse nada.
- E o que aconteceu há três anos? – Me interrompeu, Larissa, mais uma vez.
- Te conto quando acabar... Continuando, eu não deixaria aquilo acontecer. Foi aí que eu decidi salvar minha vida, e a vida da menina, que eu sequer conhecia. Os carros se aproximavam, a ela me encarava, e meus pés continuavam ficados no chão. Não me lembro bem como consegui me mover depois. Lembro apenas que me levantei e corri, corri como alguém que está numa maratona. Meus pés estavam tão ligeiros, que nem triscavam no chão. Faltava milésimos de segundos para o carro dos atiradores atropelar a menina. Eu cheguei ao meio fio, e me joguei sobre ela. Um branco veio em minha visão. Planávamos no ar, eu só não sabia se estávamos no céu, ou superando a Lei da Gravidade.
“Filha!!!...” esse foi a última coisa que ouvi. Quando abri meus olhos a menina e eu, nos encontrávamos deitado no asfalto. Meu pulo foi tão forte e longo, que conseguir trazê-la quase ao meio fio da outra margem da estrada. Uma mão apoiava a cabeça dela, e outra na coluna, sua cabeça estava recostada no meu peito.
- Ai...ai, você tá bem? – Perguntei.
- Sim. O-obrigada. - Respondeu ela, trêmula.
- Catarina! Menino! Vocês estão bem? Graças a Deus que não aconteceu nada com vocês! Filha! Por que você ficou parada?
- Mamãe, ele me salvou. Eu fiquei assustada...
- Minha filha, não faça mais isso... – respondeu a mãe com os olhos cheios d’agua.
Ela nos levantou cuidadosamente, e nos deu um abraço.
- Qual o seu nome garoto? – Perguntou a mãe de Catarina.
- Pedro, senhora. – Me apresentei.
- Obrigada Pedro. Você é um herói. Filha, agradeça a ele;
- O-obrigada Pedro. – Respondeu Catarina, com um leve sorriso no rosto e as bochechas rosadas, por vergonha; com os olhos fitos no chão.
- De nada. – Respondi as duas, com um sorriso desajeitado.
Olhei para o fim da rua, e os carros já tinham desaparecido. A vizinhança aos poucos se acalmou. Pouco tempo depois os atiradores foram presos e minha fama de herói correu por todo vizinhança.
- Carambra Pedrin! Que história! Jamais eu imaginaria que essa foi a primeira vez que você viu Catarina. Imaginei que vocês tivessem se conhecido numa pastelaria. Mas isso foi muito melhor. – Falou Larissa, emocionada.
- Pastelaria? O que tem haver pastelaria com o nosso primeiro encontro? – Indaguei.
- Sei lá. Coisas da fome... Mas o que aconteceu há três anos?
- Bem, meu pai...
- Vish, esse assunto do seu pai é delicado. Você me falou pouco dele, e só pelo o que você me contou, eu sei que esse assunto é duro. Se não quiser falar, te entenderei.
- Acho que essa é a hora mais apropriada pra eu te falar tudo sobre ele. Tem que ser agora.
Autor(a): jeffb
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Larissa insistiu para que eu não contasse, mas era necessário. De uma forma ou de outra ela saberia, seja eu falando, ou minha mãe, caso tocasse no assunto. - Pedro, você não precisa me contar nada. – Falou Larissa. - Larissa, você vai saber de qualquer jeito. Não me interrompa mais! – Exclamei. - Tudo bem. ...
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