Fanfic: Folhas ao Vento | Tema: Romance
Larissa insistiu para que eu não contasse, mas era necessário. De uma forma ou de outra ela saberia, seja eu falando, ou minha mãe, caso tocasse no assunto.
- Pedro, você não precisa me contar nada. – Falou Larissa.
- Larissa, você vai saber de qualquer jeito. Não me interrompa mais! – Exclamei.
- Tudo bem. – Falou Larissa, sem contestar.
- Bem, pouco falei do meu pai pra você. O nome dele era Paulo. Eu e ele tínhamos uma boa relação, como qualquer relação paterna. Jogávamos futebol, jogávamos no videogame ...Enfim, ele era o meu heroi, literalmente. Mas ele morreu... Não morreu por doença, ou por condenação de morte. Morreu quando tentou me salvar de uma bala...
Ele era policial, mas não me lembro bem a patente dele – minha memória é muito falha – ele ia trabalhar no turno vespertino. No mesmo turno eu estudava. Mamãe trabalhava de manhã, então ele ficava comigo durante esse período, e quando ele ia trabalhar, me deixava na escola. Contava eu com cinco anos na época da morte dele. Recordo que nas manhãs, eu me acordava cedo, e nós saiamos para caminhar. Na verdade ele, porque tinha que estar em forma. Certa manhã, o sol estava claro, as nuvens esparsas, um vento varria a rua; o clima estava perfeito. Logo, eu e ele fomos para a caminhada rotineira, mas eu ia quase arrastado – ainda sim, me divertia bastante. Sabe aquela praça que eu mencionei quando conheci Catarina? Pois é, não foi muito longe de lá. Mas voltando a história...
- Pedro, vamos apostar uma corrida? - Perguntou meu pai.
- Sim papai. – Respondi.
- Está vendo aquele poste ali? Quem chegar primeiro ganhará. – instruiu ele.
Então começamos a correr. Eu, com minhas perninhas pequenas, tentava ultrapassa-lo. As vezes ele deixava, talvez pra me incentivar mais. Mas ele era alto, e um tanto forte, mesmo andando, ainda era rápido. Ele ria, e eu ria também. Então sai na disparada, e ele lamentava propositalmente “Oh não! Parece que o Pedro vai ganhar do papai! Que garotinho rápido!”.
Corri mais um pouquinho e toquei no poste.
- Papai, eu ganheeei! Obaaaa! – Falei eufórico.
Meu pai paralisou. Seus olhos castanhos ficaram fitos em algo, no horizonte, na minha frente. Os lábios estavam levemente decaídos.
- Papai, ganhei... – Falei mais uma vez.
- Pedro, não se mova! – Falou meu pai, num to sério.
- Por que papai? – indaguei.
Não foi preciso responder. Olhei para o meu lado, e tinha um individuo armado, com uma arma de fogo. Um sujeito mal encarado, de cabelos encaracolados, mestiço. Olhei de cima a baixo. E foi só ai, que entendi a situação. Ele estava escondido atrás do poste, na espreita, para assaltar alguém. E eu, infelizmente, tive o azar, de estar no local errado, na hora errada. Apesar de me localizar no lado dele, a arma estava apontada para meu pai.
- Me passa tudo o que tem! – Intimou o bandido.
- Eu não tenho nada, minha carteira deixei em casa. Olha, se quiser leve até essas roupas, mas não toque no meu filho! – Falou meu pai, com a voz firme, porém trêmulo e desarmado.
- Que história é essa? Sai pra caminhar e não traz dinheiro? – Indagou o assaltante.
- Eu só vim pra caminhar, não trouxe nada além dessa roupa. - Respondeu meu pai.
Eu fiquei calado, não ousava nem soltar um pio. Meu coração estava pra sair pela boca. Meus pés, enraizados no chão. Eu sei que estava pálido. E quando o bandido falava, eu olhava pro bandido. Quando meu pai falava, eu olhava pro meu pai. Eu não sabia o que fazer. Estava tudo confuso. Uma arma, mirada pro meu pai... O que poderia acontecer?
- Qual o seu nome? – Perguntou o bandido.
- Paulo, Paulo Honório da Conceição. – Respondeu meu pai.
- Ora, ora, ora. Quem temos aqui?! Se não é o policial Paulo. – Ironizou o individuo.
- Desculpa, eu não te conheço. – Falou meu pai.
- Ah não me conhece seu Paulo? Vou me apresentar. Se lembra daquela apreensão de drogas na favela da Roçinha? Pois é. Lembra que houve tiroteio também? Então... Meu filho, sim, meu filho, foi baleado por um policial.
- E como tem convicção que eu atirei?
- FODA-SE! Policial pra mim é tudo igual! E você era um dos policiais que estavam ali presente.
- Qual era o nome do seu filho?
- André Silva.
- André Silva... Ora, ele era um dos maiores traficantes daquele morro.
- Mas era meu filho, vocês vieram e estragaram tudo. Veja só, ao que eu me subordinei a fazer! Sai roubando por ai, como um bandido qualquer. Quando você matou meu filho, eu jurei que iria me vingar de cada policial, envolvido ou não na apreensão. Antes eu tinha uma vida de luxo. Eu que ensinei o André a fazer todos os esquemas! Então veio um Zé Ninguém e tirou a vida do meu menino .
- Não tenho culpa, apenas fiz meu trabalho.
- Pois agora irei me vingar. Não se preocupe, não terei culpa, apenas farei meu trabalho. E aproveitando essa ótima ocasião que seu filho está aqui presente, vou pagar na mesma moeda. Irei poupar sua vida. Mas a do menino, bem, ele vai se encontrar com meu filho...
O homem colocou a arma na minha cabeça, e ficou olhando pro meu pai.
- Pa-pai. – Falei, com os olhos marejados.
Meu pai olhou pra mim, trêmulo.
- Te vejo quando morrer garoto...
Cerrei os olhos na tentativa de diminuir a dor, caso a bala penetrasse no meu crânio.
- Adeus. – Falou o marginal.
Ele atirou... E eu não havia sentido nada. Abri o olho lentamente. Na minha frente estava meu pai, como o corpo virado na minha direção, em forma de uma barreira, entrei mim e o bandido. Ele esticou seus lábios, imitando um sorriso. Desse leve sorriso, saiu sofregamente, sangue. E o sangue saia da boca, passava pelo queixo, e por fim, caia no chão. O seu olhar, era sereno; os olhos estavam voltados pra mim, como se quisesse me dizer algo. Alguns segundos depois, ele se ajoelhou perante mim, já sem forças nas pernas. O sangue agora parecia ser incessante. Ele havia sido atingido nas costas. E a blusa branca, ao pouco foi se tingindo de um sangue que anunciava sua morte. Ele pegou minha mão, apertou-a e disse, quase sussurrando:mãe. Meu campeão.
E dizendo isso, caiu com o rosto em terra, aos meus pés. Vendo isso, desatei a chorar. As lagrimas jorravam. “Papai!”, “Papai” eu gritava. Debrucei-me sobre o corpo dele.
- Papai, você não pode morrer...Volta papai, volta! – Eu clamava.
Um vendo frio acariciou-me, como se quisesse me consolar, em vão. Fiquei chorando, mexendo no corpo dele. E vendo, o buraco aberto nas costas dele, pela bala. Com um tempo, alguns outros pedestres ouviram meu choro, e se depararam com cena. A rua ficou lotada de curiosos. A policia foi acionada. E sobre o bandido, bem, ele tinha fugido. Talvez estivesse ao com uma bala. Mas pouco depois ele foi preso. E eu ainda tentava entender o que havia acontecido, entre os soluços do meu piedoso choro. E foi que meu pai me salvou e morr...
- Pare Pedro, pare! –Me interrompeu Larissa, chorando .
- Você deveria saber... - Falei com uma voz fraca, e cabisbaixo.
- Pedro, preferia não saber... Vem aqui.
Larissa me deu um abraço apertado. As lagrimas dela se diluíram na minha camisa.
- Pedro, sinto muito por tudo isso. Sei isso é um assunto traumático, eu não deveria ter perguntado. – Continuou ela.
- Larissa, não precisa se desculpar. E foi por esse motivo, que três anos depois, eu fiquei plantado naquela quadra, no tiroteio. – Falei.
- Entendo.Vamos falar de coisa boa. Quando vai responder Catarina? – Perguntou ela, desfazendo o abraço, e enxugando os olhos.
- Agora mesmo. – Respondi
- Bem estou indo, se precisar de mais alguma coisa, é só me chamar.
- Tudo bem.
Eu a acompanhei até a porta, dei novamente um abraço, e nos despedimos. Larissa realmente tinha se tornando uma das minhas melhores amigas, uma irmã. Não contei a ela, mas aquela foi a primeira vez que contei sobre a morte do meu pai pra alguém e não chorei. Talvez a presença dela me acalmasse, mas me doeu muito vê-la chorando. Contudo foi preciso que ela soubesse.
Bem, agora só faltava achar meu celular para eu responder Catarina, minha nova namorada.
Autor(a): jeffb
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Procurei o celular, mas tal objeto parecia fugir de mim. Procurei no meu quarto, na cozinha, no banheiro – não é costume meu levar o celular para o banheiro, foi só para verificar se eu tinha deixado lá. Por fim, sentei-me no sofá. Já estava a ponto de lhe redigir uma carta, não foi necessário. Achei- o, est ...
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