Fanfic: Folhas ao Vento | Tema: Romance
Procurei o celular, mas tal objeto parecia fugir de mim. Procurei no meu quarto, na cozinha, no banheiro – não é costume meu levar o celular para o banheiro, foi só para verificar se eu tinha deixado lá. Por fim, sentei-me no sofá. Já estava a ponto de lhe redigir uma carta, não foi necessário. Achei- o, estava de baixo de uma almofada. Não demorei pra pegar-lo; em poucos instantes eu já estava digitando minha resposta. Graças a Deus que meu celular não era lento, caso contrário, já tinha lhe tacado na parede.
Minha cabeça se encontrava tão cheia, que em certo ponto da minha réplica eu já não sabia o que digitar, não por falta de palavras, mas pelo excesso delas. Tudo o que se passou há pouco foi demais para mim. Uma antítese de sentimentos se misturava no meu cérebro: amor e alegria pela declaração de Catarina, tristeza e sofrimento pela lembrança da morte do meu pai. Eu sabia que, no mínimo, minha resposta teria de ser grande, talvez nem coubesse nos limites de caracteres do WhatsApp.
Apesar dos sentimentos confusos, eu já guardava o meu amor pela Catarina antes mesmo de sair do Rio. Eu a amava. E isso iria lhe contar, lhe contaria tudo, desde a primeira faísca até a chama imensurável do meu amor. Pra falar a verdade, não diria uma chama imensurável, porém, sem o calor que fosse capaz de derreter os meus neurônios, fazendo-me ficar suspirando pelos cantos, como fazem os genuínos apaixonados. Quando eu morava lá, não podia ficar assim, e por isso, soube guardar esse fogo sem sofrer, sem me queimar, sem machucar ninguém e nem chamar a atenção.
Os meus raciocínios de um adolescente de quinze anos guiavam meus dedos, o texto parece infindável. Li e reli para que a minha querida leitora não dormisse caso minhas palavras estivessem enfadonho demais. Tirei o desnecessário, e o tamanho do conteúdo diminuiu.
Que estranho! Tantos anos falando com Catarina e hoje, especialmente hoje, eu tinha receio de lhe enviar uma declaração de amor em resposta a sua. Qual o medo? Se eu sabia que ela me amava? Não havia pretextos, eu teria de enviar bom ou ruim, interessante ou chato. A verdade é que enviei. E depois que enviei, reli mais duas ou três vezes, e me pareceu tão bom que até Machado de Assis, o mestre dos romances, me aplaudiria. Exagero. Talvez Tomás Antônio Gonzaga; eu era Dirceu, e Catarina, Marília. Exagero novamente. Por que trazer à memória autores do Romantismo e do Neoclassicismo se eu sequer me baseei em um deles?
Eis o teor da minha resposta:
“Cara Catarina, eu confesso que fiquei ansioso pra abrir a carta. Meu coração estava aos pulos, quase saindo pela boca. Eu já estava pálido e trêmulo. Eu esperava que na sua correspondência sanasse a minha dúvida referente a sua tristeza. E quando li aquele papel, com suas letras graciosas, a sua meiguice na escrita, quase infarto. Você só não sanou minha dúvida, mas me deu um presente, o melhor presente que algum homem pode receber: o amor da mulher amada. Sim Catarina, e para sanar com sua dúvida – e angústia caso tiver-, eu te amo. Catarina, eu sei que relerá essa parte, então direi novamente: EU TE AMO!
E como na sua carta, irei contar boas verdades, sobre mim mesmo. Lembras-te do dia em que nos conhecemos? Na rua? No quase acidente fatal? Pois é. Foi lá onde tudo começou, não o amor, todavia os nossos primeiros olhares. Seus olhos no meu, na mais divina pureza e agradecimento. Não obstante, nos tornamos amigos. Lembro daquela manhã como se fosse hoje, um dia após aos nossos primeiros olhares. Minha fama de heroi corria solta pela vizinhança, minha mãe estava orgulhosa de mim, e até havia me repreendido para que na próxima vez que eu ouvisse um tiro, era pra correr. Do nada você chega, pensei que era pra me agradecer de novo, estava enganado. Você seria minha vizinha. Fiquei muito feliz, e nessa felicidade surgiu nossa amizade.
Anos se passaram a fio, e nossos laços se fortaleciam mais e mais. Lembra que fazíamos bolas de barro? E que eu sujava sua boneca? Sim, foram bons momentos. Crescemos. Tornamos-nos confidentes um do outro. O primeiro beijo, você sabia quem havia me dado. E eu também sabia quem lhe dera o seu. Uma pena que não foi eu. Andávamos de bicicleta no final de tarde, ríamos, jogávamos, conversávamos, não namorávamos.
A amizade evoluiu para o amor. Eu guardava tudo, receoso pelo mesmo motivo que você guardava o seu amor por mim. Desperdiçamos tempo com nosso medo. Lembro-me no dia em que te falei que viria morar em Brasília. Eu mesmo enxuguei suas lágrimas e te acalmei. Meu coração e o seu estavam tristes, inconsoláveis. Eu não queria te deixar, foi preciso.
Mas hoje, depois de quase dois anos longe de você, sinto como se estivesse aqui. Me dói saber que não estar, pra eu te abraçar e te dizer o quanto que te amo. Catarina, eu te amo, talvez até antes de você me amar. Não tenha dúvidas disso. E sim, eu estarei disposto à tudo por nós. E apesar desse abismo que nos separa, eu quero namorar contigo. Tu és minha princesa! Te amo! E farei de tudo, para brevemente estar ai com você.”
Suspirei, e ri. Um riso doce de satisfação. E agora? O que seria? Onde estava Catarina naquele momento? Imaginei a alegria quando ela lesse. Pouco refleti sobre esse namoro, sobre o futuro dele. Mas o futuro só pertence a Deus. Se for pra ser, será. E que seja eterno enquanto dure.
Deixei o celular no sofá, e fui tomar um banho. Já havia escurecido, e minha mãe acabava de chegar. Depois do banho, lhe contei o que tinha acontecido, e ela ficou tão radiante quanto eu.
Autor(a): jeffb
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Dormi. No dia seguinte, sábado, ao me acordar, peguei imadiatamente o celular. Eu estava esperando a tréplica, isto é, a emoção de Catarina descrita em mensagem. Olhei, mas não havia chegado nada. Mal acreditei. Ela não demorava a responder. Minha mensagem nem tinha nem sido visualisada. Me preocupei um pouco, mas não d ...
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