Fanfic: Dominados - Vondy | Tema: Hot,Vondy

Capítulo 35

Christopher

Levantei-me com os contracheques em mãos. Tinha uma impressora, que também era scanner, na nossa sala. Resolvi tirar uma cópia daqueles documentos para mim; podia precisar deles depois. Não havia dúvidas de que Dulce estava correndo atrás de resolver a situação, portanto não me meteria naquilo. Só assistiria ao rumo dos acontecimentos. Sei que ninguém vai diminuir o meu salário mesmo...

Dulce chegou quase duas horas depois. O relógio indicava seis e quinze da noite, e era quase certo de que pegaríamos horário extra, só para variar. Alfonso,o seu capacho nerd, veio junto, e ambos ficaram discutindo sobre o projeto com ar de que sabiam exatamente o que fazer. Fiquei os observando por algum tempo, mas precisei me concentrar no trabalho. Não ia adiantar me meter naquele início, a minha parte só viria após a conclusão da planta.

– Christopher, falou com o pessoal do desenvolvimento? – Dulce chamou a minha atenção. Sua expressão estava no modo profissional, totalmente impassível.

– Sim, falei ontem com o coordenador, Sr. Gandia. Eles estão às ordens, disse até que ia mandar alguém especializado para trabalhar com exclusividade. Só estão esperando a planta.

– Vai demorar ainda, mas estamos pensando em utilizar o programa de uma vez, desde a planta.

– Ótimo, posso falar com ele na segunda-feira logo pela manhã.

– Certo... Obrigada.

Olha só... Até educada ela tinha ficado. Que bicho a mordeu? Eu nem a tinha mordido! Não que tivesse faltado vontade...

Belinda apareceu na sala antes de ir embora. Ainda estava visivelmente desconcertada, e evitou Dulce o máximo que conseguiu. Liberei-a de uma vez, pois tudo o que tinha de ser feito poderia esperar até a segunda.

Alfonso estava com pressa para deixar o expediente. Dulce percebeu e acabou o liberando também. Voltamos a ficar sozinhos, e a adrenalina já circulava pelo meu corpo mesmo diante do silêncio esquisito que se formou entre nós. Fiquei na minha.Havia voltado a me concentrar nos cálculos de novo quando Pascoal entrou na sala sem bater, carregando consigo um monte de pastas.

– Aqui estão – falou apressadamente, colocando-as em cima da mesa maior. –Na vermelha, tem o assunto do treinamento que vocês darão na segunda-feira com os coordenadores – sacudiu a pasta vermelha e depois pegou a azul. – Na azul, têm algumas pendências mais trabalhosas, coisas que ninguém conseguiu resolver e será o dever de vocês solucioná-las. Nas outras há apenas informações sobre a função da diretoria. Sr. Bittencourt irá fazer uma avaliação com vocês sobre essas informações na semana que vem. Ah... – tirou um envelope do bolso. – Um par de convites para uma festa daqui há três semanas. Tem todo ano, é como se fosse a confraternização das maiores construtoras do estado. Claro que a CMG tem de ser representada, e neste ano vocês serão os nossos representantes. Ordens do Sr.Gandia.

A minha cara já estava tão franzida que chegava a doer. Olhei para a Dulce, ela parecia tão pasma quanto eu. Conferi a hora no relógio que ela havia pendurado na parede: eram quase oito horas da noite de uma sexta-feira. O que aquele filho de uma égua estava querendo mesmo?

– Alguma dúvida? – Pascoal perguntou cinicamente, sorrindo de leve.

Eu detestava aquele cara. Incompetente, burro, chato e sem-noção. E feio.

Nunca vi ser mais asqueroso.

Fui incapaz de responder alguma coisa. Dulce também.

– Ótimo. Não tem mais ninguém no andar e eu preciso ir agora... Por favor, desliguem as luzes que estiverem acesas – falou e saiu rápido, como se quisesse evitar a nossa onda de ódio.

Assim que o maldito fechou a porta, Dulce se levantou da cadeira e correu até ela, como se quisesse alcançá-lo. Parou com a mão na maçaneta. Podia até ver fumaça saindo da cabeça dela.

Levantei-me também.

– Eu vou matá-lo! – gritou, rangendo os dentes. – Eu mato esse filho da pu/ta!

– Aí você vai presa e eu fico com o cargo na direção – respondi simplesmente,curvando-me para dar uma olhada nas pastas que ele havia deixado.

Dulce rosnou alto.

– Vou matá-lo e incriminar você!

Encarei-a. Ela estava falando sério?

Devo ter feito uma cara tão estranha que ela acabou relaxando um pouco. Soltou a maçaneta e suspirou profundamente.

– Estou brincando, Christopher. Às vezes você me olha como se eu fosse uma psicopata.

Não evitei um riso.

– Às vezes você me olha como se você fosse uma psicopata!

Ela se aproximou, pegando a pasta vermelha.

– Não dá... – balançou a cabeça. – Não vai dar, Christopher. Desse jeito vai ser impossível terminar o projeto. Como vou me organizar para este treinamento na segunda-feira se fiquei de criar a base no fim de semana?

– Não se preocupe. Posso dar o treinamento sem problema algum.

Dulce me olhou como se eu fosse muito estúpido.

– Ficou louco? Vão pensar que não tenho cacife para tal, e então você ficará na vantagem!

– Mas você está fazendo o projeto e eu só vou pegá-lo depois. Não é justo!Deixo isso claro para Pascoal...

– Ele é um idiota, Christopher. Não dá. Entenda, preciso fazer tudo o que ele solicitar. Dar o melhor de mim.

– Você está dando o melhor de si, Dulce – falei sinceramente.

– Não é o bastante – concluiu. Prendeu os lábios de um jeito lindo e depois os soltou. O movimento me deixou hipnotizado.

Ela abriu a pasta vermelha. Havia uma apostila de umas quinhentas páginas dentro dela. Puts...

Nossas reações foram iguais; soltamos um suspiro de cansaço.

– Amanhã estarei aqui – ela definiu, mas seu timbre não mostrou firmeza no que dizia.

– Mas amanhã é sábado!

– E daí? Aqui tenho mais tranquilidade para trabalhar.

Não era justo. Não mesmo.

– Olha... Dulce... – aproximei-me dela e lhe tomei a pasta das mãos. Depositei-a sobre a mesa. – Vamos fazer isso juntos. Certo?

Dulce balançou a cabeça em negativa.

– Me escute... – continuei calmamente. – Deixa a base para depois, ligue para o Alfonso e peça para te ajudar. Amanhã a gente se encontra e organiza o treinamento, não deve ser tão difícil assim. Esses treinamentos são inúteis, você sabe que são. Já fomos a vários.

– Não faço nada mal feito, Christopher. Se for para fazer, quero que seja o melhor de todos.

– Está certíssima. Também sou assim, só quis dizer que não devemos nos estressar em demasia. Está bem?

Dulce cerrou os olhos com força. Levou a mão à cabeça como se sentisse dor.

– Você está bem? – tomei a liberdade de chegar ainda mais perto, só que ela se afastou um pouco.

– Sim... Certo. Então... Amanhã nós estaremos aqui?

– Que tal na minha casa? Ou na sua? Ficamos mais a vontade.

Juro que não tive segundas intenções com aquela proposta, mas Dulce entendeu errado. Encarou-me com severidade, irritadíssima e decepcionada.

– Você está me deixando doente, Christopher... – murmurou e se sentou,apoiando a cabeça nas duas mãos. Nunca a vi daquele jeito tão vulnerável. Acho que o cansaço finalmente havia lhe atingido.

– Olha para mim, Dulce... – ela se ergueu e apoiou as costas no encosto da cadeira. Ofereceu-me seus olhos castanhos. – Falo sério. Vamos fazer isso juntos, sem estresse. Não quero te prejudicar. Quero ser justo, e que vença o melhor.

– É assim que eu penso.

Sorri.

– Fico feliz – respondi e ofereci uma mão a ela. Dulce a segurou encenamos um cumprimento que significou muito para nós.

– Vamos dar conta – murmurou. Seu semblante já havia voltado a ficar

decidido, firme e profissional. Do jeito que devia ser. Do jeito que eu gostava.

– Sim. Vamos dar conta.

Alguma coisa muito esquisita aconteceu dentro de mim quando ela finalmente,depois de só ter me oferecido irritação e palavras rudes, sorriu de leve. Bem de levinho, mas, ainda assim, havia sido um sorriso.

Uma raridade diante de mim.