Quando chegamos ao hospital um médico veio quase correndo em nossa direção, a maneira que ela olhava para ela dava a entender que já se conheciam, vi preocupação em seu olhar.
– Obrigada por trazê-la. – Ele disse direcionando-a a um quarto, ele andava rápido e eu tentava acompanhar.
– O Senhor a conhece? – Perguntei.
– Claro, ela é minha paciente. Aguarde aqui. – Parei e fiquei pensando no que ele disse sobre ela ser paciente dele, Swan escondia alguma coisa e cada vez isso ficava mais claro.
Fiquei na sala de espera por quase uma hora, estava quase indo atrás daquele médico. Era a primeira vez que eu ficava preocupada com algo além da empresa, toda vez que via um enfermeiro passando pensava ser para me dar alguma informação, mas não.
Levantei-me e fui até a janela olhar a rua.
– Moça? – Ouvi uma voz atrás de mim e me virei. – A senhora é parente dela? Achei que ela fosse sozinha.
– Não sou parente, sou chefe. – Respondi.
– Ok, ela já esta acordada, se quiser ir vê-la se quiser, mas se precisar ir pode ir também, ela se vira bem sozinha, acredite. – Respondi que iria vê-la e o segui até a sala.
Olhei pela porta aberta e ela estava tomando soro e uns fios ligados em seus braços.
– Achei que tivesse voltado a trabalhar, obrigada. – Ela disse sorrindo.
– Swan que susto você me deu garota. – Falei me sentando ao seu lado, numa cadeira.
– Consegui te deixar preocupada? Não acredito. – Ela disse fazendo gracinha.
– Nem no hospital você deixa de ser palhaça? – Perguntei e ela negou. – O que você tem?
– Nada. – Ela respondeu seca virando o rosto para o outro lado. Levantei-me e fiquei próxima a ela.
– Me conta Emma, eu tenho direito de saber.
– Não tem não. Você tem direito de saber coisas da empresa, mas não da minha vida pessoal Regina. – Ela respondeu seca.
– Você trabalha comigo, sério que acha que eu não preciso saber o que você tem? E se eu não estivesse com você hoje?
– Alguém me encontraria e me traria pra cá de qualquer forma. – Ela disse dando de ombros, aquilo estava me irritando de tal forma.
– Me fala logo o que você tem ou eu vou até ali perguntar para seu médico. Aliás, como assim você vive sozinha? Cadê sua família? – Despejei as perguntas articulando com as mãos.
– Você não precisa saber! – Ela disse com a voz falha, a encarei e seus olhos estavam marejados.
– Me fala! Você é a primeira pessoa na qual eu me preocupo em anos garota. Eu posso ajudar. – Falei sincera.
– Não você não pode. Porque eu vou morrer Regina, morrer. Alias, posso morrer a qualquer momento, ninguém para a morte. – Ela disse e lágrimas desceram de seus olhos.
– Como assim morrer Swan? Não fala besteira. – Falei atropelando as palavras.
– Septicemia. Já ouvi isso? – Ela disse secando as lágrimas, neguei e ela continuou. – É quando agentes infecciosos contaminam o sangue e se disseminam por todas as regiões do corpo. E minha resistência é baixa. Um dia eu posso estar perfeitamente bem e em outro não. De uma hora pra outra tudo fica ruim dentro de mim, entende? Eu faço tratamento, mas eu sei, o médico sabe, todo mundo sabe que as chances de uma vida longa são mínimas. A qualquer hora eles podem atacar meu coração, por exemplo, e ai “bum”, acabou. – Ela falava com propriedade e creio que nem notava as lágrimas descendo de seus olhos. – E quanto à família, eu tinha mãe e ela morreu disso.
– Porque não me contou isso antes? – Perguntei digerindo aquilo. – Você não deveria ter feito isso.
– Por quê? – Ela disse nervosa. – Não disse por que não queria receber esse olhar de pena que está me dando agora! Porque você não me contrataria se soubesse da minha situação! – Ela disse evitando me olhar.
– Claro que contrataria! – Falei mesmo sabendo que não era verdade.
– Você está mentindo Regina! – Ela disse virando o olhar pra mim. – Se soubesse que eu estava doente, você pensaria “porque contratar alguém que esta fadada a morte?”, você sabe que pensaria. E acha que eu mandei currículo lá atoa? Eu sempre ouvi muita gente falando que você era a pior pessoa do mundo e por isso eu quis trabalhar com você! Achando que pelo menos uma vez alguém iria me tratar como qualquer outra pessoa. Alguém não se preocuparia, não sentiria dó.
– Não sou essa pessoa má que todos falam! – Rebati sentindo um nó se fechar na minha garganta.
– Agora eu tenho certeza que não Regina. Mas sinceramente eu não quero que se preocupe. Eu vivo sozinha, sempre vivi desde a morte da minha mãe, porque essa doença não machuca só a mim, ela sai destruindo todos a minha volta. Eu sei disso porque acompanhei a regressão da minha mãe dia a dia, toda a luta dela, e isso doía nela e doía em mim. Ela não queria que eu passasse por aquilo e eu não quero que alguém passe também. Eu entrei na sua empresa achando que conseguiria, mas não deu. Não vou continuar lá, relaxa. – Ela terminou e se virou para o outro lado da cama. Não sabia o que dizer, era informação demais. Imaginei a dor que ela deveria estar sentindo, meus olhos marejaram, ninguém merecia isso.
– Eu quero que você continue trabalhando. – Falei por fim. Eu achei que ajudaria ela a ter uma vida normal, mas à medida que o tempo for passando, vocês vão notar que foi ela quem me ajudou.
– Oi? – Ela disse se virando.
– É isso Emma, você foi até mim achando que conseguiria trabalhar, então você vai trabalhar e me aguentar. Não importa o que você diga, eu vou te ajudar.
– Eu não quero. Eu não posso Regina. Tenta entender. – Ela falou me olhando e negando com a cabeça.
– Eu não estou pedindo, estou avisando. Quer queira ou não, eu vou estar por perto sempre. – Falei encerrando o assunto. Não sabia ao certo o que estava acontecendo comigo, mas no fundo senti que estava fazendo algo bom, que não estava sendo a megera que todos pintam.
TRECHO DO DIÁRIO DA EMMA
“Regina apareceu na minha vida e senti tudo em mim mudar. Eu queria lutar mais, queria viver mais só para poder vê-la todas as manhas. Mas doía cada pedacinho de mim pensar que ela estava disposta a estar ao meu lado, porque eu sabia que isso doeria em cada pedacinho dela. 01/2012”