— Sim — riu Any — e tenho o coração a mil por hora, mas mesmo assim
quero seguir adiante. O que tenho que fazer?
— Entre no carro que contarei…
— Cara está lá dentro? — Perguntou Any uma vez dentro o carro.
— Sim, na mesa que está mais perto da porta da cozinha, à esquerda do
palco — explicou-lhe Poncho lhe entregando uma caneta.
— Não, obrigado, levo duas na bolsa…
— É um microfone — explicou-lhe Poncho.
— Quer que o deixe sobre a mesa?
— Quero que o deixe cair baixo a mesa — particularizou Poncho. —
Estou advertindo-a que se eles verem, estamos perdidos. Não somos os únicos
a saber como são os jogos deles.
Any estava começando a dar-se conta de que Cara não era imbecil.
— Muito bem, vou me aproximar e cumprimentá-la e me assegurarei de
deixá-lo em um lugar onde não possa empurrar com o pé. O que acha?
— Muito bem, mas tenha certeza que ninguém se dará conta dele.
— Terei muito cuidado.
Poncho estava se arrependendo. Any era valente, mas valentia não era
a única coisa que importava naquela missão. Recordou como tinha salvado a sua
vida na noite que tinham detido Cara. Any poderia ter morrido. Após o
incidente, Poncho não tinha dormido bem. Estava se dando conta que não
podia viver sem ela.
— Por que me olha assim? — sorriu Any com curiosidade. — Não sou tola.
Prometo que não falharei.
— Não era por isso — respondeu Poncho. — Está certa de que quer
seguir adiante?
— Muito certa.
— Muito bem — respondeu Poncho. — Que desculpa vai dar para estar no
café?
— Justamente depois que você me chamou, liguei para Johnny, o dono, e
falei que tinha um poema novo. Afirmei que tinha vergonha de ler diante de
muita gente e ele me falou que hoje não havia muita gente e que passasse
quando quisesse.
— Improvisa muita bem.
— Estou o observando há anos — brincou Any. — O certo é que tenho um
poema novo para ler. Assim, Cara não suspeitará.
Poncho a beijou com paixão.
— Não vai acontecer nada.
— Diz isso para me tranqüilizar ou para tranqüilizar você? — sorriu Any.
— Aos dois — respondeu Poncho com ternura voltando a cabeça. — Ao
trabalho.
— O que faço quando Cara sair?
— Pegue um táxi e volte para casa. Nos vemos lá. Se ocorrer alguma coisa
que acredite você ache suspeita, não saia do café e me chame pelo celular,
certo? — disse Poncho entregando um papel com seu número de telefone.
— Entendido.
Any saiu do carro e aspirou a fresca brisa da noite. Alisou seu casaco e foi
para a porta do café. Não havia dito a Poncho que seu novo poema era sobre
ele.
Ao entrar, não olhou ao seu redor e foi diretamente à mesa onde estava
acostumada a sentar. Levava a caneta apertada em uma mão. Quando se sentou,
olhou ao seu redor e viu Cara em uma mesa com outra mulher. Sorriu-lhe e Cara
franziu o cenho.
«OH, OH», pensou Any mantendo o sorriso e levantando-se para
aproximar-se de sua mesa.
— Tive a impressão de tê-la visto e vejo que não me enganei — saudou-a
alegremente. — Não sabia que costumava vir aqui. Brody não me falou nada.
Cara a olhou com receio.
— Você vem muito aqui?
— Muitíssimo — respondeu Any sinceramente. — Johnny adora o que
escrevo.
— Você escreve? — perguntou Cara assombrada.
— Poesia — sorriu Any.
— Você? — disse Cara em tom insultante.
A mulher que a acompanhava, mais velha do que ela, não dizia nada.
Any sentiu medo e lutou para que não notassem. Suas mãos soavam. Nesse
momento, Johnny foi falar com ela limpando as mãos no avental.
— Olá, Any! — saudou-a. — Não tem com que preocupar-se. Além destas
duas senhoritas, outros são os de sempre. Com certeza vai ser fenomenal.
— Agora que falei com você me sinto muito melhor — respondeu Any.
— São amigas tuas? — perguntou Johnny olhando a Cara com interesse.
— Cara é a noiva de meu chefe — respondeu Any.
— Que sorte têm alguns — murmurou Johnny em voz baixa.
Cara relaxou e sorriu.
— Sou Cara Domínguez — apresentou-se. — E esta é meu amiga Dedura.
Johnny se aproximou da mesa para apertar a mão e Any fingiu que perdia
o equilíbrio e aproveitou para deixar cair a caneta baixo a mesa.
— Perdoe-me — desculpou-se Johnny.
— Não tem problema.
— Então, suba no palco e nos deleite com seus poemas. O capuchino com
baunilha como sempre?
— Sim, e grande!
— Por conta da casa — disse Johnny.
— Obrigado — exclamou Any.
— De nada. Encantado de conhecê-las, senhoritas.
— O mesmo digo — respondeu Cara olhando Any com muito menos receio
— Então escreve poesia, né? Gostaria muito de ouvir.
— Não sou muito boa, mas o público daqui está acostumado a ser muito
paciente. Até mais tarde.
Cara sorriu e a outra mulher não disse nada.
Any tirou o casaco e subiu no palco tentando ignorar que seu joelhos
tremiam. Rezou para que Poncho ouvisse a conversação das duas mulheres.
Assim que ligou o microfone e tirou o papel do bolso, Cara e sua amiga
começaram a falar a toda velocidade.
Jodie sorriu para o público e começou a ler. Não devia estar tão mal, pois as
pessoas pareciam prestar atenção nos seus versos. De fato, quando terminou
de lê-los, ouve uma salva de palmas.
Cara e sua amiga estavam muito concentradas em sua conversação e não
fizeram caso. Any voltou para sua mesa e tomou seu capuchino de costas para
a mesa onde estavam Cara e a outra mulher para que acreditassem que não as
estava vigiando.
Alguns minutos depois, Johnny se aproximou dela e deu um tapinha nas
costas.
— Foi genial — exclamou. — Uma pena que sua amiga não tenha escutado.
— Não gosta muito de poesia — respondeu Any.
— Suponho que terá sido isso. Nem sequer terminou o café.
— Já foram?
— Faz cinco minutos — continuou Johnny. — Melhor.
— Obrigado pelo convite, Johnny, e pelos ânimos.
— Eu gostaria, se não importar, que me desse uma cópia desse poema.
Any o olhou com os olhos muito abertos.
— De verdade?
Johnny encolheu os ombros.
— Pareceu-me muito bom e tenho um amigo que tem uma pequena publicação
de poesia e eu gostaria mostrar a ele.
— Obrigado, Johnny! — disse Any entregando a folha de papel.
— De nada, aviso assim que souber de alguma coisa — disse Johnny. — Esta
caneta é sua?-acrescentou tirando o microfone caneta do bolso. — Estava de
baixo da mesa de suas amigas e estive a ponto de pisá-lo.
— Sim, é meu.
— Espero não ter quebrado. Caso não funcione mais me avise, assim lhe dou
outra.
— Não tem problema nenhum, Johnny, não é mais que uma caneta — disse Any com indiferença.
— Vou chamar um táxi para você.
— Ótimo.
Any esperou que chegasse o táxi com a cabeça cheia de esperanças, e não
somente por Poncho.
— Quebrou? — perguntou Any para Poncho uma vez a sós em sua casa.
— Levarei-o a laboratório para que olhem-respondeu Poncho.
— Ouviu bem?
Poncho sorriu encantado.
— Ouvi tudo e gravei. Sem você jamais teria obtido toda esta informação.
Só há um problema.
— Do que se trata?
— A Cara não gostou nada de sua poesia.
— Pouco me importa, mas Johnny me falou que vai mostrar meu último
poema a um editor que é amigo dele. Ele gostou bastante.
— Eu também — disse Poncho.
Any ficou nervosa, mas imaginou que era impossível que Poncho
soubesse que o poema era inspirado nele, assim que se limitou a dizer obrigado.
— Cada dia me convenço mais de que sou feita para a espionagem —
murmurou.
— Pode ser que tenha razão, mas um passo em falso, pode ser fatal — disse
Poncho tomando sua mão. — Não gosto disso, mas tenho que voltar para o
escritório e escutar atentamente a fita. Amanhã tenho uma reunião com minha