Fanfic: Quando a Vida Escolhe ❥ | Tema: AyA

“Algum dia em 2007...”

Narrado por Anahí 

O dia está tão lindo, e mais uma vez me encontro parada em frente ao meu enorme guarda roupa, enquanto decido entre tantas peças de roupas a que irei para a aula hoje. Desde que conheci Alfonso, já quase três anos, todos os dias passo horas em frente ao espelho, busco qualquer detalhe que não esteja de acordo, mesmo que todos os dias eu seja obrigada a ir vestida em um uniforme jeca, como tudo nessa cidade. Nunca suportei aquele colégio, não via à hora de me formar e sumir dessa cidade horrível, que cheira porcos de longe. Tudo o que mais queria era ir morar em Nova Iorque, e a única coisa que sempre me prendeu aqui ainda além dos estudos era meu pai, com uma saúde sempre tão debilitada que tenho medo de ir embora e ele não suportar a dor da saudade, sempre fomos tão companheiros. Já com a minha mãe costumo viver em desavenças, nossas ideias não batem. Vive dizendo que eu tenho que ser igual Dulce Maria, filha da nossa vizinha, que por sinal vive dando em cima do meu Alfonso. Sendo ele agora o maior motivo de me manter aqui nesse fim de mundo.

A família Herrera é muito querida na cidade, são donos de uma pequena vendinha no centrinho. Possuem dois filhos, Christopher e Alfonso. Lindos de morrer, e como já deixei claro, Alfonso é meu. Sempre via ele quando ia com meu pai até a padaria, mas nunca dei muito crédito, sonhava com um garoto bem diferente de Poncho, apelido carinhoso que eu o dei, já que Alfonso é velho demais. Mas quando ele entrou na minha turma no primeiro médio, quando a Diretora do Colégio Belo Futuro resolveu abrir uma vaga para bolsista, fui reparando mais nele que vivia me cercando. No início eu o achava caipira e ogro demais, até que de um jeito ou de outro acabei me encantando. Minha mãe tem pavor dele, se soubesse que desde o primeiro dia que eu o vi me apaixonei, acredito que já teria me mandado há muito tempo para o exterior. Apesar de morar em uma cidade xucra, minha família tem muito dinheiro. E o meu sonho é estudar fora, viajar para outros lugares, conhecer novos estilos de vida, novas culturas. Sempre quis ir morar com a minha avó, e a tia Cameron, irmã da minha mãe e filha mais nova dos meus avôs, bem diferente do restante da família. Tenho certeza que se ela soubesse sobre Alfonso, seria a única a me apoiar. Mas tendo Alfonso já não sei mais quais planos farei no futuro. Ele é daqueles que não pensa grande, provavelmente será um vendedor de rosquinhas na padaria dos pais, e minha mãe jamais aceitaria que eu tivesse um futuro assim.

Faltam dois dias para a formatura, estou tão nervosa. Hoje é o último dia de aula, todos irão com roupas de lazer, por isso não consigo me decidir entre o vestido azul turquesa, ou da cor de gelo. Consigo imaginar Alfonso me dizendo que o azul combina com meus olhos, é isso, já decidi. Bem, quero muito contar sobre meu amor por Alfonso para minha família, espero que consiga dizer antes da formatura. É, isso mesmo. Tenho apenas dois dias. Porque se não terei que ir junto com a minha avó quando ela retornar para Nova Iorque, é o sonho da minha mãe, e era o meu também. Posso escutar a buzina ao lado de fora, mamãe me leva todos os dias no colégio, desde quando escutou boatos de que eu estaria indo até o colégio com o filho do padeiro, não suporto mais viver com medo de expor meus sentimentos. 

Narrado por Alfonso

Meu dia não começou muito bem, avisei minha mãe que precisava de uma roupa nova para usar hoje no colégio, e ela disse que meu pai não tinha dinheiro para esse luxo. Por sorte meu irmão Christopher tem algumas roupas legais que me servem. Agora estou aqui mexendo no guarda roupa dele, tentando achar alguma coisa interessante. Anahí sempre me vê de uniforme, ou com o avental da padaria cobrindo minha roupa, quando vem aqui vez ou outra com a empregada de sua casa, sempre com a intenção de me ver um pouco aos finais de semana. Sou apaixonado por ela, nunca pensei que um dia ela me daria bola, sempre tão linda e filha dos Portilla, a família mais respeitada aqui no vilarejo. Sendo o senhor Enrique o único advogado que pega causas em troca de galinhas ou trapos velhos, para não acabar com o pouco de dignidade que resta em algumas pessoas, só para que não saiam do escritório dele com sentimento de ter ido pedir um favor. Sempre tão nobre. Bem diferente da esposa Marichelo, nunca cumprimenta ninguém e vive carrancuda.

Estou tomando coragem de chamar Anahí para dar uma volta comigo depois do baile, já que após a colação o colégio irá dar uma festa apenas para os alunos, seria perfeito se conseguíssemos sair de lá e dar uma volta, já que nunca conseguimos nos falar fora das aulas, porque a mãe dela me odeia. Mas todos irão imaginar que estamos no colégio, então não teremos com o que nos preocupar. Às vezes penso que estou sonhando alto em imaginar minha vida com Anahí, ela é praticamente meu oposto, em tudo. Seu sonho é ir morar longe daqui, enquanto o meu é ficar ao lado dos meus pais, os ajudando até quando for possível. Ela tem dinheiro, não precisa trabalhar. Enquanto minha família é humilde, somos ricos apenas no companheirismo e dedicação um com outro. Tenho medo de perdê-la, por isso faço tudo o que ela quer, desde o primeiro dia em que ela sorriu para mim, não consegui mais deixar de imaginar meu futuro ao lado dela.

Minha mãe sabe do meu amor, diz que é coisa de adolescente e que logo vai passar. Que não devo criar expectativas porque Anahí nunca iria ficar comigo. Mas eu sei que ela me ama, e que irá falar com seus pais sobre nós dois. Ela não vai ir embora, ela disse que ficaria aqui por mim, e eu acredito nela. Ah! Aqui está a camisa, é perfeita. Preciso só pedir para que minha mãe dê uma leve passada com o ferro. Assim que chegar ao colégio irei chamar Any para que possamos combinar sobre a noite do baile. Tenho certeza que será uma noite inesquecível para nós dois. Algo me diz que irá marcar nossa vida para sempre, parece clichê, mas acredito mesmo nisso. Oh droga, preciso correr. Faltam apenas vinte minutos para o fechamento do portão. Tenho que correr quatro quadras até chegar no Belo Futuro, onde todos os outros chegam com motorista particular, é um saco ser o único bolsista, parece que vivo em outro planeta.

ESTRÉIA EM 01.02.2016 💕