Fanfic: Quando a Vida Escolhe ❥ | Tema: AyA

- Bom, podem ficar tranquilas que tudo não passou de um grande susto - o médico esclarecia para mim e para minha mãe após a porta do quarto ter sido encostada - O Enrique teve indícios de um infarto.

- Oh meu Deus - levei minha mão até a boca assustada. Apesar de já estar quase certa de que era isso, escutar da boca de um médico me deixou apavorada.

- Fique calma Anahí - Calma? Diz isso porque não é seu pai! Era isso que eu teria dito se não estivesse tão melindrosa com essa notícia - O pré infarto surge porque há uma redução no fluxo sanguíneo para o coração, e isso pode ter conseqüências graves. Por isso para evitar maiores danos vou recomendar uma dieta mediterrânea à base de peixes marinhos, azeite de oliva e soja. Frutas, cereais e legumes são fundamentais, e também exercício físico diário é claro.

- Doutor, o que causou isso nele? - senti o olhar severo de minha mãe cair sobre mim, mas não me deixei intimidar - existe uma causa?

- Não fiz nenhum exame detalhado, mas acompanho seu pai há um bom tempo e sei que não é caso de obesidade, sedentarismo, colesterol alto, tabagismo, enfim... - ele me encarou - Por isso a resposta mais plausível para sua pergunta é estresse, e é claro que ninguém fica estressado de um dia para o outro. Provavelmente ele passou por uma serie de acontecimentos, e hoje a continuidade disso o afetou, exaurindo suas forças, o fazendo cair em um estado de exaustão, de estresse propriamente dito. E se isso não for revertido, a conseqüência pode ser fatal.

Senti meu peito se comprimir, talvez minha mãe estivesse certa. Eu era a culpada daquilo tudo. Por minha culpa meu pai quase teve um infarto e sabe Deus o que poderia ter acontecido. Eu não sabia mais como lhe dar com tanta coisa acontecendo. Minha mãe me odiava, Alfonso deveria estar decepcionado comigo e agora meu pai, será que não consigo fazer nada direito? A voz de minha mãe dispersou meus pensamentos.

- Faremos o possível para não aborrecê-lo, não é Anahí? - balancei a cabeça mecanicamente e esperei o médico descer o último lance de escada para então questionar minha mãe.

- Por que estava gritando? - minha voz saiu quase em um sussurro, estava com medo da resposta.

- Seu pai estava contra sua ida para a casa da sua tia - meus olhos se fixaram aos dela interessada - E então eu expliquei o motivo da minha decisão, contei que você nos enganou e enquanto estávamos aqui em casa feliz por ter concluído essa etapa da vida festejando com seus amigos, você nos enganava transando com o filho do padeiro - ela cuspia as palavras com desprezo.

Tentei me colocar no lugar da minha mãe por um segundo, e consegui ver o quanto ela estava magoada com a minha atitude. Eu realmente era digna de tanto ódio, eu menti para as pessoas que só queriam a minha felicidade. O único problema era que não era isso que estava deixando ela tão abalada, o problema era ter sido com o filho do padeiro. Porque se ela tivesse me pegado com qualquer outro garoto filho de suas amigas fúteis, estaria tudo bem.

- Então ele começou a passar mal - ela continuou com os olhos ainda fixos nos meus - Foi sua culpa Anahí, como se sente? Ainda está pensando em lutar por esse pobretão? Vai mesmo matar seu pai de vergonha e decepção?

- Eu não queria causar isso mãe, você sabe!

- Então filha, eu espero que faça o que é certo - sua voz agora havia se tornado doce, e por um instante tive vontade de cair em seus braços e pedir colo, mas era Marichello, nunca me deu isso e talvez nem soubesse dar.

- Eu vou arrumar as minhas coisas - murmurei sentindo o nó na garganta.

- Faça isso querida - senti as mãos de minha mãe deslizar por meus cabelos - Só queremos sua felicidade, isso tudo vai passar. E vai ver que ele nunca a amou de verdade, só iria te usar minha filha, ele está apenas interessado no nosso dinheiro, assim que for embora ele irá pular para outra tentando dar o golpe.

Eu sabia que aquilo era mentira. Que Alfonso jamais ficaria com alguém por dinheiro. Mas não adiantaria eu debater isso agora. O melhor que eu podia fazer era ir para meu quarto e ajeitar tudo. Agora o que eu mais queria era sair desse lugar, não queria ver Alfonso, seria muito cruel. O melhor era partir no dia seguinte ainda cedo, porque com certeza ele viria me procurar. Desejei boa noite para minha mãe e segui para meu quarto. Passei a madrugada inteira desfazendo meu guarda roupa. Ao todo estavam cinco malas enfileiradas próximas da porta. Claro que não tinha tudo ali, meu guarda roupa ainda estava abarrotado, mas lá eu compraria coisas novas, até porque é outro clima. Seria perda de tempo e espaço levar tudo. Apeguei-me a pequenos detalhes como ursinhos ganhados de Alfonso, minha caixinha com cartas e bilhetinhos, nossas fotografias, meus livros preferidos, CDS... Enfim, coisas pessoais que eu jamais poderia comprar lá.