Passaram duas semanas desde nosso encontro. Fiquei horas no flat pensando nela. Falei com Calvin se ele a tinha deixado em casa e ele
confirmou. Encontraram com Maite na chegada. Ele a ouviu dizer algo sobre uma falta de segurança no prédio devido à porta de entrada estar
quebrada. Eu havia notado isso quando estive lá a primeira vez. Ele disse ainda que ela insistiu em devolver meu paletó, mas que ele a orientou
a ficar com ele, como cortesia. Tudo bem. Tenho muitos outros.
Pedi a Calvin que cuidasse pessoalmente do problema de segurança no portão no dia seguinte. Pelo que ele me disse o zelador é muito
relapso e só se importa com os alugueis, não dando a mínima para a segurança e conforto dos seus inquilinos.
Naquela noite depois do flat, cheguei tarde novamente e não encontrei Luma acordada. Como estava em férias de verão constantemente
fica irritada de ter que ficar apenas com a babá. Claro que ela estava furiosa de manhã cedo, mas fiz suas panquecas e tudo ficou bem. Vou
levá-la amanhã ao zoológico, conforme prometi a duas semanas. Estou devendo isso a ela.
Hoje, Calvin me informou que as duas haviam mudado de apartamento. Não que eu fosse um maldito controlador e estivesse vigiando
seus passos, mas ainda me sinto responsável por ela. Eu não sei exatamente de onde vem esse desejo de protegê-la.
Conforta-me saber que ela está em lugar mais tranquilo e menos perigoso. Calvin me passou o endereço e lutei internamente entre ir até
lá ou me manter a distância, embora a cada dia ela penetre mais e mais em meus pensamentos. Para meu próprio bem resolvo manter
distância.
Deixei Dylan de plantão no prédio de Anahi, desde ontem à noite, mas não na porta do apartamento, e sim ao redor do prédio, onde ele
pudesse observá-la ao sair de casa. Pelo menos por enquanto, apenas para ter certeza de que tudo ficará bem. Afinal agora ela e Maite estão
em uma moradia um pouco mais segura e não posso usar isso como desculpa, como anteriormente. Apenas por mais alguns dias, só para
saber como é sua rotina e que não colocará sua vida em risco novamente. Eu prefiro acreditar que é isso e não uma obsessão com essa mulher
na qual não me deixa trabalhar ou me concentrar direito.
Ela não voltou ao clube, graças a Deus. Hoje ela foi retirar seus documentos após a mudança, uma vez que foram roubados e esteve em
um restaurante elegante ao ontem à noite, Saveur Supreme, onde costumo ir de vez em quando. Segundo Dylan, ela não estava acompanhada e
ficou pouco tempo. O que será que foi fazer lá? Infelizmente, Dylan teve que sair para atender a um chamado de sua esposa. Parece que a filha
está doente e ele não chegou a entrar no restaurante. Voltou pouco tempo depois e Anahi já havia saído.
Detesto incompetência, mas não pude fazer nada. Tinha que considerar que a filha encontra-se doente e esperando por ele. Se fosse
Luma e eu fosse um empregado, teria feito o mesmo. Apesar de ele ter me avisado, fiquei enfurecido, pois não tive tempo de enviar alguém em
seu lugar.
Decido dispensar Dylan ainda hoje e eu mesmo ficar e fazer a vigília. Não há razão para manter meus empregados vigiando-a quando
não pretendo vê-la mais. Não devo e não quero fazer disso uma obsessão.
Mas apesar de meus esforços não consigo esquecê-la, não consigo esquecer seu perfume, seus lábios, aqueles cabelos macios.
Com muito esforço volto minha atenção ao contrato importante que tenho com um grupo japonês. Ouço uma batida na porta e respondo
com impaciência, pedi para não ser incomodado. Penélope entra com uma embalagem de terno em sua mão.
— Desculpe Sr. Herrera, sei que pediu para não ser incomodado, mas uma jovem deixou isso na recepção.
— Uma jovem? — meu coração salta no peito. Ela está aqui? Como ela é? — pergunto ansiosamente.
— Eu não sei senhor, mas posso perguntar?— ela diz apreensiva pelo deslize de não ter se informado antes.
— Ela está lá embaixo? — pergunto bruscamente. — Porque não a mandaram subir?
Vejo que Penélope fica nervosa com minventores, recém-formados, estagiários, repórteres ou mesmo garotas atrás de uns dos CEOs mais importantes do país. Então é absolutamente
normal que a segurança seja rigorosa.
— Apenas deixou isso e foi embora, Sr. Herrera — ela explica. — Ela também pediu que entregasse isso ao senhor.
Penélope me estende um papel dobrado.
Intrigado eu peço que ela se aproxime para que eu possa analisar a embalagem. Era o que eu temia. Meu terno perfeitamente embalado.
Agradeço Penélope e a dispenso. Olha para nota em minha mão como se fosse uma bomba prestes a explodir em meu rosto. Pareço um
adolescente cuja ex-namorada devolve os presentes.
Sr. Herrera,
Eu estou extremamente agradecida pela sua gentileza na outra noite. Manteve-me protegida e aquecida ao me emprestar seu terno.
No entanto, não posso ficar com ele. Tive o cuidado de mandar lavar e passar. Espero eu que tenha feito de forma correta
Anahi Portilla.
Não posso negar que estou extremamente desapontado. Passei horas imaginando-a vestindo meu terno. Muitas vezes imaginei-a
completamente nua dentro dele. Queria que tivesse algo para se lembrar de mim, que tivesse meu cheiro. Deixo a embalagem pendurada no
meu cabide de ternos perto da minha mesa e saio da sala.
— Penélope?
— Sim, Sr. Herrera— ela levanta e me encara prestativa.
— Ligue para a melhor floricultura da cidade — ordeno enquanto pego um pedaço de papel para anotar o endereço — Encomende uma
dúzia de rosas amarelas.
Poderia mandar rosas vermelhas, mas são muito comuns, as rosas amarelas têm outro significado para mim. Significam amor, respeito,
alegria, amizade e desejo. Além disso, essa cor indica certa malícia. Se a pessoa a oferece a outra que não é muito próxima, indica que tem
segundas intenções. Ademais, as rosas trarão perfume e luz.
Entrego o endereço e ela parece surpresa. Nunca mandei rosas para ninguém antes, nem mesmo para minha teórica esposa. Nem
mesmo em datas comemorativas como seu aniversário, aniversário de casamento ou dia dos namorados. Definitivamente são datas que não
tenho a menor pretensão de comemorar. Bem, a não ser que fosse com Anahi. Viro-me para retornar a minha sala e antes que eu possa entrar
Penélope me chama eufórica.
— Sr. Herrera! Algum cartão ou alguma nota? — ela questiona apreensiva.
— Apenas as rosas — digo e fecho a porta da sala.
Estou em frente ao prédio dela observando. Fico com carro estacionado olhando para ver se a sorte está comigo e eu possa vê-la entrar
ou sair. Após quase uma hora vejo o quão ridículo estou sendo e resolvo ir embora. Não sem antes ter aquela sensação de que perdi algo.
Como já havia decidido mais cedo, dispensei Dylan por hoje e também durante esse fim de semana, pois quero que ele fique perto da
filha doente. Parece que não é nada grave, mas acho importante a presença paterna em momentos como esse. Talvez porque meu pai tenha
sido um pai “presente-ausente” ou por eu ser uma espécie de “pai solteiro”. Meu pai sempre estava em casa, viajava pouco, mas não quer dizer
que ele estivesse disponível. Bem, não para mim, pelo menos. Ele tinha verdadeira adoração por Paul, meu irmão gêmeo. Quem não tinha?
Paul sabia como ninguém tornar-se adorável quando pretendia. Eu o odiava e admirava ao mesmo tempo. Paul era ótimo em manipular as
pessoas. Mas aos poucos fui descobrindo seu verdadeiro eu, na verdade acho que sempre soube, mas assim como meus pais me deixei
enganar por algum tempo. .
O Paul real era frio, dissimulado e perverso. Fazia mal pelo simples prazer de magoar alguém. Despois fazia com que as pessoas
acreditassem que a culpa fosse delas. Se eu parar para pensar em todas as coisas terríveis que ele fez passaria dias fazendo isso. Como duas
pessoas, nascidas no mesmo ventre, praticamente na mesma hora, criadas pelos mesmos pais, podem ser completamente diferentes?